quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

A epidemia dos indicadores econômicos quase irrelevantes

A epidemia dos indicadores econômicos quase irrelevantes
Na semana passada, analistas de mercado consultados pela pesquisa Focus, do Banco Central, previam um crescimento do PIB de 1,99% para 2014. Uma semana antes, a previsão era de 1,95%. Qual a relevância dessa variação? Nenhuma.
O Índice de Confiança da Indústria subiu 1,1% em relação a novembro, enquanto o Índice de Confiança do Empresário Industrial caiu 0,2%. Otimismo ou pessimismo? Lá sei eu. A indústria está otimista mas o industrial pessimista?
Em contrapartida, o PMI da indústria subiu 0,8 ponto em relação a novembro, mas a produção de veículos caiu 5%, enquanto as vendas de veículos subiram 4%.
Já o fluxo de veículos pesados nas estradas caiu 4% em dezembro, em relação a novembro, o que não quer dizer nada pois é em novembro que os caminhões transportam os estoques das lojas para as vendas de Natal. Já o Índice de Confiança do Consumidor caiu 1,2%, menos que o Índice Nacional de Expectativa do Consumidor, que caiu 0,5%. E vai-se saber a diferença entre confiança e expectativa.
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A análise de conjuntura brasileira transformou-se em uma procissão de indicadores, cada qual gerando discussões apaixonadas e sendo utilizados ao bel prazer do analista. Se quer espalhar pessimismo, força a manchete em cima de qualquer índice com sinal menos – mesmo que, estatisticamente falando, não tenha ocorrido mudanças significativas em relação ao índice anterior. E vice-versa, explorar o crescimento, mesmo que tímido e restrito ao mês em curso.
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É evidente que os departamentos econômicos mais refinados montam painéis juntando todos os indicadores, definindo linhas de longo prazo e relativizando variações inexpressivas.
Mas a discussão midiática se aferra a cada número como se ele fosse suficiente por si, tirando conclusões taxativas a partir de variações mínimas das partes. Lembra, em muito, a fábula do elefante e dos sete cegos – cada cego entendendo o elefante de acordo com a parte do bicho que é apalpada.
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Nada contra a proliferação de indicadores. Mas a discussão sobre cenários econômicos e sobre futuro de país é muito mais complexa e intuitiva do que a mera acumulação de indicadores conjunturais.
Mais relevantes são o indicadores de desempenho estrutural da economia, aqueles que indicam o nível de competitividade do produto brasileiro vis-à-vis os importados, os indicadores de vulnerabilidade externa, os indicadores fiscais, e, mais que isso, os indicadores sociais – o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), os indicadores de mortalidade infantil, de desempenho escolar, de desenvolvimento regional, de eficiência do serviço público, de qualidade das concessões públicas.
O avanço da Lei de Transparência permitirá cada vez mais um controle inédito sobre as ações públicas. É chegada a hora dos economistas que ousem além do curto prazismo do mercado, que entendam o país de forma ampla e sistêmica, que formulem diagnósticos setoriais, que saibam medir os avanços em inovação.
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 Antes da crise de 2008, os cabeças de planilha julgavam decifrar a economia nacional e internacional meramente estabelecendo correlações mecânicas entre câmbio, preços de commodities, taxas de juros.
Precisou uma crise global para entender que a economia é muito mais complexa do que os modelitos que cabem em uma planilha.

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