Na viagem de final de ano, fiquei especulando sobre a etimologia de “pedágio” – por razõs que não preciso explicar. Imaginava que ped- tivesse a ver com “pé”, já que outras palavras de origem latina têm esta relação. Mas não atinava com o sentido de “ágio”, porque, por mais caros que sejam, um sobrepreço parecia não se aplicar ao caso.
 
Chegado em casa, fui ao Houaiss, que dá informações precárias sobre a palavra. Informa apenas que deriva de pedaticum. Segue-se uma explicação (“é termo jurídico”) e o sentido: ‘direito de passagem retribuído por taxa cobrada pelo poder público ou por uma concessionária outorgada para ressarcir-se dos investimentos feitos na construção ou conservação da respectiva via de transporte terrestre’.
 
Em suma, é o preço que se paga para passar por certo lugar. Nas estradas, os postos de cobrança de pedágio (também chamados de “pedágio”, por metonímia) estão situados a certa quantidade de quilômetros entre eles, conforme o contrato. Um sinônimo de “pedágio” é “peagem”, de uso raro, informa alguma fonte que localizei no Google.
 
Houaiss diz que “peagem” deriva do francês péage (c1150), e define a palavra como 'direito ou taxa de passagem cobrada para se atravessar um caminho, uma estrada, uma ponte etc., der. ant. de pied 'pé'.
 
Então fui ao Petit Robert, segundo o qual “péage” é o “droit que l´on paye pour emprunter une voie de communication (d´abord droit féodal) ». O termo é antigo, assim como a cobrança, óbvio. O sentido mais literal de pedaticum, “direito de colocar os pés”, isto é, de passar, eu o encontrei neste dicionário.
 
Eu poderia estar escrevendo sobre esta palavra movido pelo noticiário sobre os pedágios cobrados por indígenas na Amazônia, e, claro, combatidos por Kátia Abreu e seus representados. Mas não é por esta razão. É porque paguei muito caro pelo direito de “colocar os pés”, e também porque quero dar uma informação ou duas.
Passei pelo Paraná. Entrei no estado logo depois de Ourinhos, indo para Cascavel, passando por Londrina, Maringá e Campo Mourão, para citar as cidades maiores.
 
Raros são os trechos de pistas duplas. São estradas em bom estado, com terceira pista em muitas subidas, mas, insisto, quase não há trechos com pistas duplas. Mas os preços dos pedágios, céus, como são altos!
 
A distância média entre os postos, a contar de Campinas até Cascavel, é de cerca de setenta quilômetros, em média. O custo total chegou a cerca de R$ 120,00. Os mais caros ficam no Paraná. Os pedágios de S. Paulo (Bandeirantes e Anhanguera, por exemplo) ficam parecendo baratíssimos! Queria saber quais foram os critérios de Jaime Lerner, que segundo soube, foi o governador que mais “privatizou” e assinou contratos com empresas que “cuidam” das rodovias.
 
A volta a Campinas foi pela Regis Bittencourt, de Santa Cecília a S. Paulo. O valor dos pedágios? De Santa Cecília até Curitiba, passa-se por três postos de cobrança. O preço é R$ 3,80 cada um. De Curitiba a S. Paulo, passa-se por mais três. O preço? R$ 1,80 cada!
 
O leitor poderia imaginar que as estradas do Paraná estão em muito melhor estado que a Régis Bittencourt. Mas não é verdade. Esta rodovia, concedida há alguns anos, está em excelente estado, com exceção de uns poucos quilômetros. E o trecho entre Curitiba e S. Paulo está duplicado há tempo, exceto a serra do Cafezal, perto de S. Paulo, que, no entanto, conta com terceira pista nas subidas. Como voltei na segunda feira, dia 30/12, o movimento era fraco. Não fosse assim, escolheria outro caminho, como faço eventualmente, saindo em Juquiá na direção de Sorocaba, pela serra, uma linda viagem, diga-se, especialmente nesta época de quaresmeiras floridas.
 
Pode-se simplesmente fazer comparações entre os preços dos pedágios ou ir mais fundo e comparar dois modelos de concessão, que por economia, representam pontos de vista tucanos e petistas (Lerner era do condomínio tucano). O segundo é mais barato, muito mais barato. E, como disse, a diferença de preço não se deve à diferença do estado das rodovias. A diferença do valor das duas cobranças vai para algum lugar, é claro.
 
Outra observação intuitiva colhida na viagem: como mudou a situação econômica da região, isto é, das cidades, das casas, das pessoas! A lamentar, apenas, dois fatos, que, no entanto, são gerais. Como se bebe! E como se ouve música ruim!