A imagem serena da efígie que simboliza a República deu lugar, nas
notas do real brasileiro, ao olhar debochado e ao bigode afiado do
pintor surrealista Salvador Dalí. A nova moeda brasileira que circula
pelas redes sociais é o Surreal e deveria, na opinião dos consumidores
do país, ser usada para substituir o real diante dos preços abusivos
cobrados por aí.
Em uma simples barraca de praia carioca, uma reles batata frita pode
custar 28 reais, valor suficiente para comprar 16 quilos do tubérculo em
um supermercado. Um misto quente chega a 20 reais, com os quais é
possível comprar quase meio quilo de presunto e meio quilo de queijo. E
em um bar badalado, uma porção de picanha pode atingir, facilmente, os
100 reais.
“É um mundo imaginário e fictício esse em que estamos vivendo, com
esses preços exorbitantes”, indigna-se a jornalista Patrícia Kalil, 35
anos, as mãos por trás da moeda Surreal. Ela diz que teve a ideia de
fazer a montagem depois de ler uma entrevista do webdesigner Toinho Castro, em que ele sugeria a criação de uma moeda própria para os preços do Rio, chamada Surreal. “Foi
irresistível criar a nota, foi como se eu tivesse visto a imagem do
Dalí na minha frente”, diverte-se. Em 5 horas, a moeda já tinha sido
compartilhada no Facebook mais de 1.000 vezes e atingido 50 mil pessoas.
No final da mesma tarde, ela foi procurada por um grupo de pessoas que criou uma página no Facebook com base na moeda, a Rio $urreal – Não Pague.
“Isso é resultado de um sentimento coletivo”, diz ela, que ressalta que
os preços altos estão mudando a rotina dos cariocas, um povo que vive
muito mais fora de casa do que dentro. “Muita gente deixou de comer
fora. Tem preferido cozinhar em casa. Isso contraria a essência do
carioca, que gosta de ir a bares, restaurantes, que vive fora de casa.
Só quem consegue pagar esses preços são as pessoas que fazem parte dos
5% do topo”, afirma, referindo-se a uma pesquisa Datafolha divulgada em novembro de 2013
que mostrou que apenas 4% da população brasileira têm renda familiar
entre 6.780 reais e 13.560 reais e só 1% tem rendimentos superiores a
isso. A imensa maioria das famílias, 66%, ganha até 2.034 reais.
A marca Surreal fez sucesso e, menos de dez dias após a criação da
página do Facebook, em 17 de janeiro, 105.000 indignados já faziam parte
da rede, onde são propostos boicotes aos estabelecimentos que cometem
abusos e relatados casos pessoais. Os exemplos coletados vão dos 6,80
reais pagos por um cafezinho expresso, passam pela cerveja de garrafa a
12 reais, e chegam a quase 55 reais a porção com dez bolinhos de
bacalhau. A página ganhou ainda um “irmão” carioca, o Rio Surreal, que também conta com a imagem de Dalí e tem mais 13.000 likes.
Lá, uma internauta conta que um café que ela costuma frequentar passou a
cobrar 96 reais por um prato de filé. “Levantei e fui embora me
sentindo agredida. Olhei o restaurante cheio e me deu vontade de cantar
‘Quanto riso, oh, quanta alegria, mais de mil palhaços no salão….’”, diz
ela, em referência a uma popular marchinha de Carnaval escrita pelo sambista Zé Keti.
São Paulo, que já contava com duas iniciativas parecidas, o SP Honesta e o Boicota SP, que também denunciavam os preços altos e promoviam os estabelecimentos mais baratos, entrou na onda e ganhou o Sampa $urreal. Consumidores de Brasília discutem na internet a criação de uma página similar.
Entre 2012 e 2013, a variação dos preços dos alimentos e das bebidas foi de 8,48% no país, a maior elevação registrada pelo IPCA, índice que mede o aumento de preços dos produtos feito pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Mas o descontentamento nas páginas das redes sociais se estende também
aos preços dos imóveis. “Hoje, na zona sul carioca, é quase impossível
alugar um apartamento. Os proprietários preferem alugar por temporada
para os turistas, pois ganham mais, e os preços estão altíssimos”, diz
Patrícia.
As moeda com o rosto de Dalí já começam a aparecer pelas ruas
cariocas e alguns internautas já relatam que os preços das barracas
cariocas começaram a baixar. Uma escola de samba já procurou Patrícia
para pedir autorização para usar as cédulas do Surreal em fantasias no
desfile deste ano e um internauta enviou para ela uma nova marchinha
para ser entoada pelas ruas cariocas: "O Rio tá Surreal, Surreal,
Surreal, na praia a água é 5, imagina no Carnaval!"
notas do real brasileiro, ao olhar debochado e ao bigode afiado do
pintor surrealista Salvador Dalí. A nova moeda brasileira que circula
pelas redes sociais é o Surreal e deveria, na opinião dos consumidores
do país, ser usada para substituir o real diante dos preços abusivos
cobrados por aí.
Em uma simples barraca de praia carioca, uma reles batata frita pode
custar 28 reais, valor suficiente para comprar 16 quilos do tubérculo em
um supermercado. Um misto quente chega a 20 reais, com os quais é
possível comprar quase meio quilo de presunto e meio quilo de queijo. E
em um bar badalado, uma porção de picanha pode atingir, facilmente, os
100 reais.
“É um mundo imaginário e fictício esse em que estamos vivendo, com
esses preços exorbitantes”, indigna-se a jornalista Patrícia Kalil, 35
anos, as mãos por trás da moeda Surreal. Ela diz que teve a ideia de
fazer a montagem depois de ler uma entrevista do webdesigner Toinho Castro, em que ele sugeria a criação de uma moeda própria para os preços do Rio, chamada Surreal. “Foi
irresistível criar a nota, foi como se eu tivesse visto a imagem do
Dalí na minha frente”, diverte-se. Em 5 horas, a moeda já tinha sido
compartilhada no Facebook mais de 1.000 vezes e atingido 50 mil pessoas.
No final da mesma tarde, ela foi procurada por um grupo de pessoas que criou uma página no Facebook com base na moeda, a Rio $urreal – Não Pague.
“Isso é resultado de um sentimento coletivo”, diz ela, que ressalta que
os preços altos estão mudando a rotina dos cariocas, um povo que vive
muito mais fora de casa do que dentro. “Muita gente deixou de comer
fora. Tem preferido cozinhar em casa. Isso contraria a essência do
carioca, que gosta de ir a bares, restaurantes, que vive fora de casa.
Só quem consegue pagar esses preços são as pessoas que fazem parte dos
5% do topo”, afirma, referindo-se a uma pesquisa Datafolha divulgada em novembro de 2013
que mostrou que apenas 4% da população brasileira têm renda familiar
entre 6.780 reais e 13.560 reais e só 1% tem rendimentos superiores a
isso. A imensa maioria das famílias, 66%, ganha até 2.034 reais.
A marca Surreal fez sucesso e, menos de dez dias após a criação da
página do Facebook, em 17 de janeiro, 105.000 indignados já faziam parte
da rede, onde são propostos boicotes aos estabelecimentos que cometem
abusos e relatados casos pessoais. Os exemplos coletados vão dos 6,80
reais pagos por um cafezinho expresso, passam pela cerveja de garrafa a
12 reais, e chegam a quase 55 reais a porção com dez bolinhos de
bacalhau. A página ganhou ainda um “irmão” carioca, o Rio Surreal, que também conta com a imagem de Dalí e tem mais 13.000 likes.
Lá, uma internauta conta que um café que ela costuma frequentar passou a
cobrar 96 reais por um prato de filé. “Levantei e fui embora me
sentindo agredida. Olhei o restaurante cheio e me deu vontade de cantar
‘Quanto riso, oh, quanta alegria, mais de mil palhaços no salão….’”, diz
ela, em referência a uma popular marchinha de Carnaval escrita pelo sambista Zé Keti.
São Paulo, que já contava com duas iniciativas parecidas, o SP Honesta e o Boicota SP, que também denunciavam os preços altos e promoviam os estabelecimentos mais baratos, entrou na onda e ganhou o Sampa $urreal. Consumidores de Brasília discutem na internet a criação de uma página similar.
Entre 2012 e 2013, a variação dos preços dos alimentos e das bebidas foi de 8,48% no país, a maior elevação registrada pelo IPCA, índice que mede o aumento de preços dos produtos feito pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Mas o descontentamento nas páginas das redes sociais se estende também
aos preços dos imóveis. “Hoje, na zona sul carioca, é quase impossível
alugar um apartamento. Os proprietários preferem alugar por temporada
para os turistas, pois ganham mais, e os preços estão altíssimos”, diz
Patrícia.
As moeda com o rosto de Dalí já começam a aparecer pelas ruas
cariocas e alguns internautas já relatam que os preços das barracas
cariocas começaram a baixar. Uma escola de samba já procurou Patrícia
para pedir autorização para usar as cédulas do Surreal em fantasias no
desfile deste ano e um internauta enviou para ela uma nova marchinha
para ser entoada pelas ruas cariocas: "O Rio tá Surreal, Surreal,
Surreal, na praia a água é 5, imagina no Carnaval!"
Nenhum comentário:
Postar um comentário