sábado, 18 de outubro de 2014

As bases da nova direita, por Antônio Flávio Pierucci

As bases da nova direita, por Antônio Flávio Pierucci

As bases da nova direita, por Antônio Flávio Pierucci

Publicado pela revista Novos Estudos em 1987, As bases da nova direita
do professor Antônio Flávio Pierucci é um texto que captou muito bem, a
meu ver, um comportamento que talvez pela primeira vez na história
eleitoral do país tenha tomado dimensão tão expressiva.


A seguir, um trecho do texto (grifos meus).


Seus medos, seu dedo





Seu tique mais evidente é sentirem-se ameaçados pelos outros. Pelos
delinqüentes e criminosos, pelas crianças abandonadas, pelos migrantes
mais recentes, em especial os nordestinos (às vezes, dependendo do
bairro, por certos imigrados asiáticos também recentes, como é o caso
dos coreanos), pelas mulheres liberadas, pelos homossexuais
(particularmente os travestis), pela droga, pela indústria da
pornografia mas também pela permissividade "geral", pelos jovens, cujo
comportamento e estilo de pôr-se não estão suficientemente contidos nas
convenções nem são conformes com o seu lugar na hierarquia das idades,
pela legião de subproletários e mendigos que, tal como a revolução
socialista no imaginário de tempos idos, enfrenta-se a eles em cada
esquina da metrópole, e assim vai.





Eles têm medo. Abandonados e desorientados em meio a uma crise
complexa, geral, persistente, que além de econômica e política é
cultural, eles se crispam sobre o que resta de sua identidade em
perdição, e tudo se passa como



se tivessem decidido jogar todos os trunfos na autodefesa.
"Legítima defesa" é, assim, um termo-chave em seu vocabulário. Esta
autodefesa, que é prima facie a proteção de suas vidas, de suas casas e
bens, da vida e dahonra de seus filhos (suas filhas!), sua família, é
também a defesa de seus valores enquanto defesa de si. (Mas isto é ser
de direita?) Eles não apenas votaram nas candidaturas mais à direita nas
duas últimas eleições políticas realizadas no município de São Paulo;
eles trabalharam por essas candidaturas. São ativistas da direita; não
necessariamentemilitantes partidários, mas ativistas voluntários de pelo
menos uma das campanhas, a de Jânio Quadros em 1985 e a de Paulo Maluf
em 1986. A maioria deles o foi das duas. Não se trata, portanto, de
simples eleitores, nem chegam a ser militantes partidários propriamente
ditos. O nome ativistas sazonais, ou ativistas de campanha, denota com
mais precisão o grau de envolvimento político-eleitoral dos
entrevistados, assim como seu nível de informação política e de
estruturação ideológica.
  


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