A bizarra situação do ministro Levy na Operação Zelotes
Dias atrás, este foi um título de uma reportagem da BBC Brasil.
Tinham acabado de sair balanços bilionários de bancos brasileiros
relativos a uma temporada particularmente dura na economia nacional,
2015.
Bem, como deixa claro a Operação Zelotes, um dos motivos – aliás não citado pela BBC – é que os bancos sonegam muito.
Todo mundo sempre soube disso – exceto, aparentemente, a Receita Federal.
Algum tempo atrás, perguntei a um amigo meu que pertencia ao comitê
executivo da Abril por que a empresa contratara Fabio Barbosa, egresso
do setor financeiro.
“Para fazer planejamento fiscal”, ele imediatamente me respondeu.
Quer dizer: para sonegar. Planejamento fiscal é a versão empolada para o velho ato de sonegar.
A OZ é um embaraço geral. Mas particularmente, e ninguém parece ter
notado, é um enorme constrangimento para o ministro Joaquim Levy e o
governo Dilma.
Levy era diretor do Bradesco, pesadamente implicado no escândalo.
Bala perdida, você poderia alegar. Mas não. Pouco antes da OZ, o
Bradesco apareceu numa história milionária de evasão de impostos por
meio de um paraíso fiscal.
Isso não foi suficiente para evitar o convite nem a ele e nem, antes dele, a seu chefe, Trabuco, presidente do Bradesco.
Sabido que não há país que floresça com uma cultura de sonegação, o gesto de Dilma foi uma aberração.
Em todo o mundo, os governos estão publicamente agindo – e falando –
contra a sonegação das grandes companhias. Obama, Merkel, Cameron,
Hollande – todos eles se manifestaram.
Ninguém ouviu, até aqui, uma palavra de Dilma a esse respeito. É uma
pequena tragédia, sobretudo quando o governo tem a obrigação moral de
provar que o ajuste não vai ser feito apenas nas costas dos 99%.
E Levy, o que ele tem a dizer?
Quem conhece o universo corporativo sabe que decisões na área fiscal
que mexem com milhões ou bilhões de reais são tomadas na mais alta
esfera.
Como ministro, Levy tem que combater energicamente o que a companhia
da qual era um dos principais dirigentes fazia – ou faz – intensamente.
Terá Dilma conversado com ele sobre o assunto? Terá ela consciência
da ameaça à economia nacional representada pela cultura da sonegação que
vigora nas grandes empresas?
A OZ projeta luzes, também, sobre o pífio papel de fiscalização da Receita Federal.
Nos últimos tempos, me incomodava sempre o silêncio indefensável da Receita a respeito da sonegação da Globo.
Ninguém tem nada a dizer?
Agora, compreendo o mutismo. Altos funcionários da Receita estão
também sendo investigados pela OZ. Entre eles está o antigo secretário
geral – principal chefe – Otacílio Cartaxo.
A Receita precisa de um choque de tudo – a começar por transparência e eficácia.
Num país como o Brasil, o cargo de chefe da Receita pode ser mais importante do que o de ministro da Economia.
Esta é uma das lições da OZ.
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