domingo, 8 de março de 2015

FHC organiza a tocaia

FHC organiza a tocaia — CartaCapital



FHC organiza a tocaia

Os tucanos estão por trás da manifestação do próximo dia 15, mas cuidam, ardilosos, de não mostrar a cara

por Mauricio Dias



publicado
07/03/2015 07:46










Fernando Henrique Cardoso foi o anfitrião de
uma das reuniões mais reveladoras e constrangedoras dos últimos dias.
Exatamente a 27 de fevereiro, durante almoço no Instituto FHC, o
ex-presidente enrolou-se mais uma vez numa proposta de ação política a
respeito da passeata pelo
impeachment de Dilma Rousseff.
Estavam presentes os mais influentes
tucanos, como o senador Aécio Neves (MG), presidente da legenda, os
senadores Tasso Jereissati (CE), Aloysio Nunes Ferreira (SP) e José
Serra (SP), além do senador Cássio Cunha Lima (PB).
“Tem de ficar claro que nós apoiamos, mas não somos promotores”, orientou FHC.
Por outro lado, Aécio Neves, já sem a
brandura mineira nos olhos, usou o mesmo disfarce: “Temos de estabelecer
esse limite, ter esse cuidado. Não será iniciativa partidária”.
Os tucanos vão para a tocaia.
Empoleirados numa árvore seca, sem folhas e sem frutos, torcendo, porém,
pelo sucesso das manifestações de 15 de março, batizadas de
“Impeachment Já”.
A passeata visa a desestabilização do
governo. Para os tucanos, Dilma não pode superar a crise conjuntural nem
sobreviver no poder até a eleição presidencial de 2018, que poderá ter
Lula na disputa.
O senador Aloysio Nunes Ferreira
ofereceu-se para representar o PSDB. Estará nas ruas de olho grande no
contingente antipetista da capital paulista, na tentativa de se
habilitar eleitoralmente para a disputa da prefeitura no próximo ano.
Ele mostra-se disposto a sombrear a própria biografia. Golpeado em 1964,
o tucano agora, contrariamente, ensaia os primeiros passos do andante
golpista.
Não há uma linha tênue entre o sentimento
traiçoeiro do PSDB e a democracia. Surgiu, entretanto, uma dissidência
importante. O governador paulista, Geraldo Alckmin, não vê “razões para o
impeachment”. Por que ele não terá ido ao almoço de FHC? Faltou
convite ou terá recusado para cuidar de coisas mais importantes da
administração, como, por exemplo, a crise hídrica?
O ex-presidente FHC é recalcitrante. 
Recentemente saiu do escritório dele uma consulta ao advogado Ives
Gandra Martins sobre a possibilidade de propor o impeachment de Dilma.
Em 2005, com
o episódio do caixa 2, denominado pela mídia de “mensalão do PT”, ele
foi o primeiro a reagir com oportunismo. Propôs publicamente a Lula que
desistisse do segundo mandato.  Cara de pau! Lembra o senador Aécio
Neves, agora apoiando o impeachment após ser derrotado nas urnas por Dilma Rousseff.
Proposta ainda mais indecorosa FHC fez,
em 1988, ao então presidente José Sarney, em torno dos debates da
Constituinte sobre a duração do mandato presidencial. Quem conta é o
advogado Saulo Ramos (1929-2013), consultor-geral da República e
ministro da Justiça do governo Sarney, no livro Código da Vida.
O então senador FHC levou ao presidente a
proposta, aprovada na Comissão de Sistematização, pela implantação do
sistema parlamentarista.
Sarney objetou e Saulo Ramos deu uma aula
de direito constitucional ao senador, e ouviu dele o que chama de “a
espantosa frase textual”: “Eu não entendo nada de direito
constitucional, mas entendo de política”.
Com a bola na marca do pênalti, Sarney
fez o gol: “Eu entendo dos dois (...) o que vocês querem é
desestabilizar o atual governo, sem pensar no Brasil e nas consequências
desse gesto”.
Sarney saiu da tocaia. FHC não mudou.

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