Qual a diferença entre os 13% de aprovação de Dilma e os 13% de FHC?
Postado em 18 mar 2015
E eis FHC palpitando sobre os 13% de aprovação de Dilma segundo o Datafolha.
Como tem acontecido sempre, FHC jogou mais sombras onde já as havia em quantidade copiosa.
Dilma estaria perdendo as condições de governar, afirmou, ao melhor
estilo de Carlos Lacerda, o Corvo. (Aliás, o C de Cardoso poderia, já
faz algum tempo, pelo C de Corvo.)
No caso em questão, FHC traria alguma luz ao debate se lembrasse que ele também passou exatamente pelos 13% de aprovação.
Foi em setembro de 1999, segundo o mesmo Datafolha. Para quem gosta
de comparações, foi uma queda de cerca de 70% em relação ao mesmo mês do
ano anterior.
Acabou o mundo? Acabou o governo FHC?
Não, tanto que, quinze anos depois, ei-lo pontificando.
Comparemos as circunstâncias. Dilma bate em 13% numa pesquisa
realizada logo depois de um protesto orquestrado descaradamente pela
Globo, e em meio a um noticiário manipulador que tenta associá-la ao
caso Petrobras e à palavra “corrupção”.
FHC chegou aos 13% com a blindagem monumental da mesma mídia que massacra agora Dilma.
FHC jamais foi cobrado, por exemplo, sobre a compra de votos, em 1997, para a emenda da reeleição.
Ao longo dos tempos, ele tem oscilado entre negar e distorcer a realidade.
Às vezes, FHC nega a compra. (Recentemente, o único repórter que
contou a história, Fernando Rodrigues, disse que colheu não evidências,
mas “provas cabais”.)
Outras, ele tergiversa. Em determinada ocasião, admitiu que
“provavelmente” votos foram comprados. Mas não pelo PSDB. Era coisa,
segundo ele, de governadores, também beneficiados com a emenda.
Invoco Wellington aqui. Quem acredita nisso acredita em tudo.
FHC também jamais foi apertado pelo nepotismo. Genro, filha, a lista de parentes empregados é longa.
Mas, claro, quando se trata de FHC, assim como acontece com Aécio, nomeações na família obedecem à mais estrita meritocracia.
Qual teria sido a aprovação de FHC se ele tivesse, diante de si, uma
mídia tão empenhada em jogar para baixo quanto a enfrentada por Dilma?
Melhor: qual seria o índice de popularidade dele se a imprensa fosse, simplesmente, honesta?
Tudo isso posto, qualquer presidente oscila nas avaliações. Em
momentos em que a economia cresce, o prestígio sobe. Em tempos de crise,
é o oposto.
O Brasil passa por uma crise, e então é natural que baixe a aprovação.
O ponto é que a queda, agora, é amplamente estimulada por uma mídia
que tenta enganar o público com a versão de que a crise é exclusividade
do Brasil.
Estamos diante de um abjeto estelionato editorial.
Até a BBC do Brasil mostrar a queda geral das moedas mundo afora
diante do dólar, nossos “especialistas” econômicos empurravam para as
pessoas a versão de que o problema acontecia só no Brasil.
Acresce a tudo um fato que me intriga, e para o qual já chamei a
atenção. Também a esquerda parece intoxicada pelo catastrofismo maroto e
calculado dos conservadores.
Ora, há uma crise global. Até a China reduziu pela metade a expectativa de crescimento.
Nenhuma grande economia do mundo – nenhuma – está imune à crise.
O governo está tentando enfrentar as dificuldades, concretamente.
Mas o maior obstáculo não é econômico, e sim mental. É
imperioso um choque positivo, algo que devolva a sanidade a pessoas – de
direita, centro e esquerda — que parecem prestes a cortar os pulsos.
O que está ocorrendo, hoje, é a síndrome do desastre anunciado.
Não ocorreu nada, mas de tanto falar em desastre vão se criando as condições para que ele se materialize.
Quanto a FHC, recomendo uma frase de Sêneca: “Quanto penso nas coisas que disse, sinto inveja dos mudos.”
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