segunda-feira, 30 de março de 2015

Podemos tirar se achar melhor

Podemos tirar se achar melhor Juremir Machado da Silva - Correio do Povo | O portal de notícias dos gaúchos



Podemos tirar se achar melhor

Postado por Juremir em 28 de março de 2015 - Uncategorized
Nada como uma frase infeliz para fazer a
felicidade dos que esperam um pouquinho de verdade. Um lapso também
ajuda. As melhores frases dos últimos tempos foram do deputado gaúcho
Jorge Pozzobom (PSDB) e de um editor da agência de notícias Reuters.
Numa matéria sobre a corrupção no Brasil, baseada em entrevista com o
ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o jornalista referiu-se à
declaração do delator Pedro Barusco de que a roubalheira na Petrobras
começou na época do governo de FHC. O editor anotou, ao pé da frase,
para ser submetida ao entrevistado: “Podemos tirar se achar melhor”. Por
esquecimento, a zelosa observação foi publicada. A Reuters pagou mico.
Revelou o jornalismo sabujo que blinda alguns e detona outros. Quando se
trata de tucanos, esbravejam os petistas, predomina o “podemos tirar se
achar melhor”. Nada como ser rei ou amigo dele.


O sempre intenso deputado Jorge Pozzobom envolveu-se num bate-boca,
pelo twitter, com petistas. Lá pelas tentas, disse esperar que “alguém
que não seja ameaçado de morte ou morto como o Celso Daniel possa trazer
por delação a mega lista do PT”. Tomou uma dura. Respondeu assim ao
ex-secretário do governo Tarso Genro, Vinicius Wu: “Me processa. Eu
entro no Poder judiciário e por não ser petista não corro o risco de ser
preso”. Faz sentido. Muito sentido. O mensalão mineiro não foi julgado
até hoje. Manchete da Folha de S. Paulo diz: “Mensalão tucano está
parada em MG há um ano”. Falta juiz. A titular se aposentou. Fala sério,
Judiciário. A primeira denúncia contra o cartel do metrô de São Paulo,
envolvendo governos tucanos, foi recusada. Só a segunda foi aceita. Na
internet, circula um vídeo com um dos delatores citando Aécio Neves como
beneficiário de esquema irregular de financiamento de campanha. O
assunto não parece comover a justiça nem a mídia. Será uma invenção? Um
fake? Quem sabe! As frases da Reuters e do Pozzobom são legítimas. As
intenções, claro, são sempre outras.


A primeira impressão, porém, é que fica valendo.


Fico imaginando que Pozzobom poderia, depois de sua afirmação
controvertida, ter dito no twitter: “Falei a verdade, mas podemos tirar
se achar melhor”. Virou bordão. Serve para tudo, do noivo arrependido –
“colocamos as alianças, mas podemos tirar se achar melhor” – ao
treinador que escalou mal um jogador. Serve principalmente para os que
querem derrubar a presidente da República com um golpe nos moldes do que
foi executado em 1964: “O povo colocou Dilma lá no Planalto pelo voto,
mas podemos tirar se achar melhor”. A montagem do golpe é a mesma de
1964: toma a parte, que se manifesta, pelo todo, usa-se a mídia como
alavanca, pega-se a corrupção por pretexto e, como meio século atrás,
enfrenta-se a ameaça comunista.


Até a teoria do contragolpe voltou. As viúvas da ditadura dizem que
não houve golpe em 1964, mas um contragolpe. Essa aberração está sendo
disseminada agora. O golpe já teria acontecido, dado pelo PT. A
derrubada da presidente seria um contragolpe redentor. Uma moça me
explicou: “Dilma é muito ruim, mas podemos tirar se achar melhor”.


Disse que sou contra golpes. Ela me tirou da sua agenda golpista.


Curiosamente essas frases não chamaram a atenção da mídia que não tinha passar qualquer deslize dos agentes públicos.


Por que será?


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