terça-feira, 17 de março de 2015

Eles não cabem em Miami, por Nílson Lage

Eles não cabem em Miami, por Nílson Lage | TIJOLAÇO | 

 









Eles não cabem em Miami, por Nílson Lage

16 de março de 2015 | 08:41 Autor: Fernando Brito
miamiburg


De Nílson Lage, no Facebook:


Certa vez ouvi de Leonel Brizola que a revolução cubana seria
impossível no Brasil. Argumentava que Fidel Castro pôde se livrar da
fração mais ativa da burguesia – algumas dezenas de milhares de pessoas
-, expulsando-a para Miami, e isso seria impossível aqui.
(Nota do Tijolaço: “não cabe”, explicava)


A burguesia de São Paulo – a de verdade e a pequena – é muito
maior do que a cubana e foi convencida por propaganda insistente de que
não tem saída senão a rua, no caso,a Avenida Paulista. Polarizada e
acuada, defende, como era de se esperar,
um programa protofascista, que inclui repressão e segregação da
população pobre e de tudo que a faz lembrar, inclusive o governo
trabalhista.



Descendentes da elite colonial do café ou oriundos de imigração
relativamente recente, os formadores de opinião de São Paulo Imaginam
uma vida confortável integrados na grande comunidade latino-americana
com capital cultural em Miami e financeira em paraísos fiscais. O
Brasil, para eles, é como uma espécie de clube social que os diferencia e
uma vaca com enorme teta em que mamam, jamais uma pátria independente.



O que mobiliza os medos e ódios da massa de gente que se reuniu
em São Paulo é um sistema de dominação montado ao longo de décadas em
que se esmagou a cultura popular e se impôs, para substituí-la, o
simulacro globalizante.



Os quadros jornalísticos foram filtrados, com a exclusão quase
total do pensamento inconveniente No entanto, os meios de comunicação – a
mídia globalizada – são parte da fragilização institucional do Brasil,
mas não a única. 



O trabalho da inteligência dos
Estados Unidos que coordena a agitação com objetivos econômicos e
políticos evidentes foi muito facilitado pela modernização deformante
das estruturas legais e das normas jurídicas, pela formação viciada nas
escolas militares e pela desorientação do ensino em todos os níveis.



A combinação desses fatores, a
despolitização e a falta de informação sobre o mundo manifestam-se em
teses simplistas sobre a “culpa da Dilma”, a “corrupção” ( 61 anos
depois, o “mar de lama”), a ameaça comunista (a “conspiração
bolivariana”),a indolência (“vivem do bolsa família”), o ódio à
inteligência (“abaixo Paulo Freire”, “prisão para Karl Marx”) etc. .



É uma vitória que nenhuma
violência tenha ocorrido. Um milhão de pessoas- se foram tantas – é um
duzentos avos da população do Brasil, reunida em fração mínima de seu
território. Mas um fagulha pode, agora, causar explosão, como já tem
acontecido em outros lugares.



PS do Tijolaço. E a nossa pequeno-burguesia, aqui, com seus
“ideais maiâmicos”, com seu complexo de vira-latas, dá-lhes ouvidos e
faz-lhes modelo. Mesmo que seja para limpar a sujeira dos ricos de
verdade. Imagino o prazer da Veja ao tuitar a foto acima, ontem.

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