terça-feira, 10 de março de 2015

Panelaço: Quando o ódio caminha lado a lado com o analfabetismo político

Panelaço: Quando o ódio caminha lado a lado com o analfabetismo político | Viomundo - O que você não vê na mídia



Panelaço: Quando o ódio caminha lado a lado com o analfabetismo político

publicado em 09 de março de 2015 às 20:24

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Charge de Marco Jacobsen para a Folha de Londrina





por Luiz Carlos Azenha




Nunca a classe média militou tanto politicamente quanto em tempos
recentes. Nas eleições de 2014, atuou diuturnamente nas redes sociais e,
mesmo sem ser convocada, saiu voluntariamente por aí com reproduções da
Veja para buscar votos.


Tudo isso deve ser saudado como um passo positivo. O processo de
criação de novas lideranças é prolongado e atuar em defesa de seus
interesses de classe é não só legítimo, como pode servir de escola.


Porém, as eleições acabaram. Não está previsto um terceiro turno. E a classe média, agora, quer ganhar no grito. Literalmente.


Ela confunde o desabafo apaixonado do torcedor que grita gol de seu
clube na sacada com o “fazer política” através de panelas e buzinas. É o
barulho que cala o adversário e impede o diálogo. “Vaca”, “vadia” e
“filha da puta” fazem parte do repertório de quem, no grito, quer negar
ao outro o direito de se expressar.


A classe média, neste sentido, consegue ser ainda pior que o Jornal Nacional,
que também cerceia a liberdade de expressão alheia, enquanto privilegia
os seus — mas pelo menos o faz de maneira politicamente correta.


Existe um cordão umbilical entre ambos. Há quase 50 anos o JN, com
suas mentiras, distorções, omissões e meias verdades, é o principal
instrumento para moldar o analfabetismo político no Brasil.


Os governos do PT, como sabemos, quase nada fizeram para mudar isso.
José Dirceu, lembrem-se, foi aquele ministro que acreditou que a Globo
“era nossa”.


A classe média não quer saber de criar sindicatos, partidos,
associações de moradores e movimentos sociais, nos quais um integrante
pode tudo, menos ganhar no grito.


Até mesmo na reunião de condomínio é preciso argumentar, perder uma,
ganhar outra e seguir a vida, do jeitinho que é na Política com pê
maiúsculo.


Porém, os analfabetos políticos não conseguem alcançar
intelectualmente a ideia de que conviver com o diferente está no cerne
de qualquer democracia. Perder faz parte do jogo.


O GAFE — Globo, Abril, Folha e Estadão — faz o trabalho inverso daquelas máquinas de diálise e cada vez mais envenena o sangue dos desvairados.


O veneno é potencializado pelo organismo do analfabeto político.
Lembrem-se, ele é um ser a-histórico, alimentado por doses diárias de
informação descontextualizada.


Justamente por isso, vicejam neste ambiente as teorias conspiratórias
mais desconexas. A acreditar nelas, o filho do Lula é dono de uma
fazenda cuja sede é a Escola de Agronomia Luís de Queiroz (ESALQ), de
Piracicaba. Tropas estrangeiras, vindas da Venezuela, já teriam invadido
o Brasil com o objetivo de apoiar um golpe de esquerda de um governo
cujo ministro da Fazenda é Joaquim Levy. Os médicos cubanos, devidamente
infiltrados, estariam apenas esperando um sinal de Dilma para espalhar o
vírus vermelho da comunização.


Estes absurdos não parecem absurdos a uma parcela considerável dos
analfabetos políticos. Eles acreditam em tudo o que de alguma forma se
encaixa em seus preconceitos.


Nesta manhã um colega narrou a seguinte experiência. Ele estava em
casa quando ouviu a gritaria e o panelaço vindos, especialmente, de um
prédio luxuoso, cujo condomínio custa 5 mil reais mensais. Saiu de casa e
manifestou sua opinião contrária. Recolheu-se e foi dormir. Ao acordar,
os vidros da porta principal de seu prédio estavam quase todos
destruídos.


Este é o nível ao qual chegou o ódio irracional, capaz de fazer muito
mais danos à democracia quando se espalha feito fogo pelas redes
sociais. Marx talvez nunca tenha imaginado que chegaríamos a tal ponto: a
guerra de classes instantânea.


No twitter, chamou minha atenção a mensagem de um internauta dizendo
que a classe média brasileira tem sorte de não morar na Venezuela, onde
falar mal do governo leva à cadeia. Eu o corrigi. Não é verdade. Pelo
menos não enquanto Nicolas Maduro conseguir contemporizar com os
militares à esquerda, que podem dar, sim, um golpe preventivo, caso a
decisão de Obama de considerar Caracas uma ameaça à segurança nacional
dos Estados Unidos resulte no isolamento da Venezuela.


Lá, o maior legado de Hugo Chávez foi ter politizado como nunca a
população do país. Tendo vivido uma guerra cruenta de Independência, ao
contrário de nosso arranjo à brasileira nas margens do Ipiranga, os
venezuelanos tem uma relação com a História muito diferente da dos
brasileiros. O problema, lá, é que a elite militar que sobreviveu à
guerra de extermínio dos espanhóis estabeleceu uma tutela sobre o poder
civil, que ainda se manifesta nos dias de hoje.


Nosso problema, pelo menos o mais evidente, é que a famosa
“modernização conservadora” nos impõe um pacto muito parecido com o de
Punto Fijo, através do qual as elites venezuelanas fizeram um arranjo
pelo qual se sucederiam no poder. Tal pacto, lá como aqui, é
incompatível com a democracia. Lá, foi detonado por Hugo Chávez. Aqui,
persiste, agora em crise profunda.


Se o PT não mexeu nos fundamentos dele, por outro lado ameaça ganhar
outra eleição em 2018, impondo aos tucanos uma secura de 20 anos!


Em junho de 2013, a explosão difusa nas ruas chegou a ameaçar o nosso
pacto. O analfabetismo político ficou explícito na incapacidade dos
atores daquele movimento de tirar um saldo das manifestações de rua. A
reação conservadora não tardou, na forma da criminalização dos
protestos. Avança, com um Congresso mais conservador que o anterior,
liderado por gente como Renan Calheiros e Eduardo Cunha.


Mas, a tensão continua no ar. A verdadeira elite, não a dos batedores
de caçarola, parece dividida: “Ruim com Dilma, pior sem Dilma?” ou
“Podemos dispensar a Dilma, fatiar a Petrobras e viver de rendas”.


Hoje, duas conhecidas — uma votou na Dilma e a outra em Aécio —
falavam sobre seu desconsolo com a situação do Brasil. Reclamaram do
preço do dólar, do possível desemprego, do petrolão e da inflação.
Concordei com tudo. Acrescentei minhas próprias críticas ao aparente
isolamento de Dilma, à sua inépcia política, ao discurso distante no Dia
Internacional das Mulheres, ao ministério medíocre, às medidas
econômicas que primeiro punem os trabalhadores.


Não disse, mas deveria ter dito, que se o Brasil tivesse uma
Constituição como a da Venezuela, que prevê o recall, Dilma poderia ser
submetida a um referendo na metade do mandato, cumpridas as exigências
de assinaturas, etc. Chávez enfrentou um e venceu por 60% a 40%.


Ainda que tão desgostoso quanto elas com o quadro atual, propus um exercício.


“Ok, vamos derrubar a Dilma. Mas, o que virá em seguida? Temer?
Cunha? Novas eleições? Intervenção militar? É possível consertar a
economia com passes de mágica? Não seria melhor esperar por novas
eleições, já que Dilma acaba de ser reeleita?”


Ambas me pareceram confusas depois de todas as minhas perguntas. É
como se tivessem escolhido Dilma para desabafar, o que pode ser positivo
do ponto-de-vista psicanalítico, mas não é recomendável quando estamos
falando do futuro do Brasil.


Fiz as perguntas só para provocar. Fui embora intrigado: como pessoas
inteligentes e bem informadas podem se deixar cegar por sua própria
inconsequência política? Como é possível dar um passo de tal
envergadura, como contribuir com o impeachment de um presidente, sem
sequer avaliar as consequências que tal passo terá amanhã?


Tenho comigo que é o poder do ódio provocando uma epidemia de cegueira, equivalente àquela que o Saramago inventou.


Leia também:


PCO diz que política do “nem, nem” é apoio ao golpe













anac


09/03/2015 - 23:01
Tenho comigo que é o poder do ódio provocando uma epidemia de cegueira, equivalente àquela que o Saramago inventou.


Cegos guiados por malandros, sabichões, Globo e cia ltda.

Se não conseguem enfrentar e superar crises, melhor desistir da
democracia. A Europa está passando por uma das suas maiores crises. A
Espanha com 60% dos jovens desempregados. E ninguém defende o GOLPE.
Triste país o Brasil, incompatível com a democracia.

Votei em Dilma, discordo de algumas de suas escolhas para ministro. Não
teria escolhido a Katia Abreu por exemplo. Se desgastou
desnecessariamente. Comprou briga por nada. Levy concordo que é um
mal necessário, mas Katia foi demais.

Mesmo assim, discordando em muitos pontos, apoio Dilma. Votei nela por
confiar e não para pautá-la. Até porque não sei qual a solução. E quem
tem a solução – 100% de certeza – para o problema? Na Grécia o primeiro
ministro Alex Tsípras teve que ceder a troica. Eu vou defender a
democracia até o fim. E reagirei aos golpistas.


As duas senhoras serão as maiores vitimas. A classe merdia que bate
panela vai ver o diabo se tudo cair por terra.Pode dar adeus a um
futuro digno para seus filhos . O inferno será aqui.



Responder




PAULO ROBERTO LULA DA SILVA ROUSSEF


09/03/2015 - 22:26
Azenha, o frescuraço , feito por quem paga uma fortuna de
condomínio reflete o que tenho dito e ontem a Presidenta repetiu ” A
eleição acabou são dois turnos, não há terceiro turno, os derrotados
na eleição querem terceiro turno , então qualquer brasileiro sabe que
isto é ruptura democrática (Golpe), e isso não vamos aceitar”.



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Bacellar


09/03/2015 - 22:17
Dilma é um para-raio de recalques.


Anti-petismo, anti-comunismo (absurdo, óbvio, porém…Aaah porém…),
anti-bolivarianismo (mais delirante ainda), machismo, vira-latismo, etc.



Lula também sofre preconceitos, xenofobia e ranço classista, mas
possuí o escudo do carisma e do poder de oratória. Dilma com sua notória
desarticulação e sem outras lideranças políticas que lhe deem escora
está entregue aos lobos. Esperar de alguém como, por exemplo, o
Mercadante algum tipo de papel congregador é complicado.


Se alguma força pode segurar os avanços do capital grosso
internacional e de seus respectivos jagunços tupiniquins, que ditam as
atitudes dessa horda imbecilizada que assistimos grunhir cotidianamente,
é o conjunto da esquerda progressista: Eleitores, militantes,
sindicatos, partidos, veículos de comunicação, movimentos sociais,
ativistas e trabalhadores conscientes da importância desse projeto
capenga capitaneado pelo PT para o desenvolvimento nacional e bem-estar
do povo brasileiro.


Pode soar contraditório chamar um projeto de manco e ao mesmo tempo
defende-lo; mas esse avançar claudicante é infinitamente melhor do que a
paralisia total que viria no bojo do projeto oposicionista ou de uma
eventual desestabilização geral do Brasil.


Não da pra esperar que a cúpula do PT tire algo da cartola, a defesa está por nossa conta mesmo.


O panelaço de whatsap foi uma vergonha. Querem armar a primavera latino-americana. Cabe a nós desarma-la.


Dia 13 toda a esquerda, todos os nacionalistas e democratas nas ruas.
Não pela Dilma, nem pelo PT ou pela Petrobrás, mas pelo nosso povo que
merece seguir caminhando pra frente.



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rita


09/03/2015 - 22:09
eu queria um apê igual ao da foto… na praia de
preferencia.. ia fazer um panelaço todos os dias para as ondas do mar
que não me deixam mentir.. pois nunca envelhecem.



Responder


    anac
    09/03/2015 - 23:07
    A gorducha ( não tenho preconceito, gente) da varanda gourmet deveria estar malhando o copo e não batendo panela. Panelaço na Argentina é protesto por COMIDA na panela. Panelaço significa panela VAZIA de comida. A gorducha da varanda gourmet não precisa de mais comida. Muito pelo contrario, está com a forma de barril devido a fartura de comida na panela.



rita


09/03/2015 - 22:06
aqui na minha cidade vivemos o caos. ruas esburacadas,
falta de médicos, hospitais lotados e com a epidemia de dengue tudo
ficou gravíssimo. o boato corre e já conta 55 mil vitimas…. 2015 começou
bem mal…



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Edgar Rocha


09/03/2015 - 21:35
Saramago criou uma ficção absolutamente aplicável sobre os
desafios de uma modernidade cada vez mais alienante. Porém, nela, os
cegos iam se amontoando numa espécie de sanatório, controlado por gente
que enxergava muito bem. Uma única personagem (da minha ídola Juliane
Moore) tinha de passar-se por cega para proteger sua família da lógica
social construída a partir da cegueira. Aí é que vejo uma certa
diferença em relação à tua análise, Azenha. Quem está cego? Quem
enxerga? Quem se faz de cego por sobrevivência??? Em terra de cego quem
tem olho é, de fato, rei? A solução para o impasse, se me lembro bem, é a
postura interna bem consolidada. É ela que nos torna imunes à cegueira
coletiva. Tal cegueira é adquirida quando imunidade moral cai.

De minha parte, tenho de admitir com certo grau de autocondescendência
de que já estou ficando míope. Não dá mais. O que é que a Dilma está
enxergando que eu não estou?! Não sei, sinceramente, não-sei! Ou ela é
cega ou você, suas amigas, muitos aqui e eu já estamos na completa
escuridão.


Talvez minha miopia me obrigue a ver as coisas com contornos meio
estranhos, com linhas cinzas e mais grossas, que quase encobrem a
conjuntura política por completo. Quando vejo o nível de violência
social (a cotidiana, interpessoal mesmo) já rotineiro e refratário a
qualquer indignação, só posso pensar que tal comportamento venha a gerar
consequências terríveis um dia. Caso contrário, não seria sequer
perceptível, que dirá questionável. Muito se fala da truculência da
classe média e alta em relação ao Governo Dilma, aos petistas, aos
trabalhadores… Enfim, talvez doa porque seja conosco. Isto atinge a
todos que enxergam as injustiças cometidas. Mas, não dá pra poupar as
outras classes quanto a este quesito. A diferença é que o alvo é restiro
e o tiro é de curta distância. Não se trata da violência dirigida ao
macro-social, ao Governo, a coisas com as quais nos identificamos nos
causando indignação. Trata-se de violência pessoal, da violência ao
próximo, da violência a si mesmo, do fim do afeto, do respeito, das
relações sociais estabelecidas pelo princípio da dignidade humana do
outro. Isto quase não existe mais. Não é só a violência física. É a
simbólica, sobretudo. E constante. É o prazer de ferir alguém, ajudando a
sublimar a dor por suas próprias feridas. Um passar adiante em que os
mais cultos como suas amigas, os bonitões de Higienópolis, os
“bem-nascidos” da classe média ainda não vivenciaram totalmente. Eles
tem formação suficiente pra sublimar seus ódios sobre a Dilma, o Governo
o PT, ou qualquer figura direcionável por alguma racionalização
capenga. Fossem realmente desprovidos da formação mínima que receberam e
sobraria para mães, pais, irmãos, vizinhos. A classe média/alta já dá
sinais desta descompensação emocional, é fato.

O que vemos é a canalização de uma gama de sentimentos gerados por um
modo de vida e uma estratégia de controle social destinada a isto mesmo.
Esta desestruturação social é o maior pilar de sustentação de um
sistema que não beneficia a quase ninguém. Não somos apenas feitos pra
consumir. Os governos do PT são a prova cabal que barriga cheia não é
suficiente pra sustentar a sensação de bem estar social. Todo o restante
que garante a qualidade de vida de um ser humano (inclusive a
participação social) foi negligenciado pela esquerda e sabotado pela
direita com o único propósito de cegar os que melhoraram de vida,
impedindo-os de vivenciar plenamente a melhora que obtiveram. Não dá pra
ser feliz com medo, com ódio, com obrigação social de consumir pra ser
aceito, com sua pessoa reduzida a condição de consumidor, sem direito a
lazer, educação de qualidade, amparo das instituições de segurança. E as
pressões do cangaço político ao qual eu sempre me refiro são uma
verdadeira catarata nublando qualquer linha de um futuro melhor.
Entende?


Chega uma hora que por mais que queiramos ser racionais, o jeito é
aceitar que o caminho é sem volta e tentarmos suportar, de uma forma ou
de outra. Ouvi uma frase interessante, certa vez, não sei de quem: quem
reclama demais, acaba se tornando irrelevante.



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