A guerra dos tronos no Brasil
18 de julho de 2017 às 10h15por Marco Aurélio Mello
A notícia não é nova. Tem quase um ano.
Mas é tão assombrosa, tão assombrosa, que deveríamos ensinar na escola para todas as nossas crianças.
Apesar do Brasil ter uma população estimada em mais de 200 milhões de
pessoas, quinze famílias, apenas quinze, detêm 5% de toda riqueza
nacional.
Isso mesmo, cinco por cento de toda riqueza de um dos 10 países mais
ricos do planeta está nas mãos de quinze famílias, um escândalo!
A informação é de fonte que rico nenhum questiona, a revista Exame, e
se baseia num levantamento feito por outra revista que eles tanto
reverenciam, a americana Forbes.
É tanto poder econômico, tanto poder econômico, que políticos – de
qualquer partido – e funcionários públicos facilmente se curvam aos
interesses deles.
Esta é a verdadeira guerra dos tronos do Brasil.
Em que setores estes grupos atuam? Duas famílias estão ligadas às
comunicações: Marinho (número um da lista) e Civita (décima-primeira).
Outras cinco famílias estão ligadas aos bancos: Safra, Itaú-Unibanco e Bradesco.
Duas famílias operam em construção civil: Camargo Corrêa e Odebrecht.
Uma no cartel do cimento: Ermírio de Morais; uma na monocultura da
soja: Maggi; uma no cartel da carne: Batista; uma em papel e celulose:
Feffer (que também atua em petróleo) e duas em petróleo e derivados:
Igel e Penido.
Portanto, somos controlados por conglomerados que disputam espaço, não entre si, mas na política.
Neste intincado jogo de interesses duas famílias caíram em desgraça recentemente: os Odebrecht e os Batista.
A família Odebrecht por causa do escândalo de corrupção na Petrobras e
os Batista, primeiro por denúncias de adulteração de carne bovina e, em
seguida, pela divulgação de áudios que denunciam políticos em crimes de
corrupção, entre eles, o presidente em exercício, Michel Temer.
Mas o que existe por trás desta disputa vai além, muito além de quem vai governar ou não o Brasil.
O que há de realmente importante é: quem pode influenciar o Estado a
transferir recursos públicos para estes grandes conglomerados?
São estes os grupos que mais nos exploram e que, em vez de tomar o
país de assalto, como sempre fizeram, teriam que devolver aos mais
pobres bens e serviços na forma de impostos.
Vejamos os bancos. Faça ou não crise seu faturamento é recorde a cada novo balanço trimestral.
Eles operam com juros da dívida pública e spread bancário (o risco dos clientes darem calote).
Eles odeiam pagar impostos.
À beira das crises apelam para o “risco sistêmico” e para o colapso
no “balanço de pagamentos” e são sempre socorridos imediatamente.
Os bancos não perdem nunca!
Reparem que cinco das quinze famílias da lista são banqueiras: os Safra, os Moreira Salles, os Villela, os Aguiar e os Setubal.
Estes você não vê reclamar, não é?
Claro, não precisam, eles têm um exército de economistas e consultores que fazem isso por eles, sutilmente.
Afinal, são os bancos que controlam “os mercados”, o Banco Central e, claro, o noticiário econômico.
Vale lembrar também que são os bancos que operam transferências em
paraísos fiscais e que, portanto, podem ter ligações com o crime
organizado.
Estruturalmente o que estava acontecendo no Brasil?
O poder econômico estava migrando das mãos desses grupos para outros.
Vejamos:
Os programas de transferência de renda tiram poder dos bancos ao aumentar o poder de compra da população por vias diretas.
A construção foi muito beneficiada pelos programas de infra-estrutura apoiados pelo BNDES.
A ponto de a construção civil brasileira passar a operar em vários países da América do Sul, Caribe, África e Oriente Médio.
O agronegócio – que navegou em mar calmo nos tempos de boom das commodities – internamente passou a disputar crédito com pequenos e médios produtores.
Já a mídia estava deixando de concentrar publicidade oficial em seus
veículos, depois de uma política de diversificação que ampliou os atores
no mercado de informação, notícias e entretenimento.
Apesar de não ter havido coragem de impor uma reforma tributária
capaz de taxar as grandes fortunas, uma transferência de renda
silenciosa estava modificando a estrutura econômica da nossa sociedade.
E foi isso que os o poder econômico percebeu antes de todo mundo.
E foi contra isso que eles se uniram, ainda que tivessem que jogar dois de seus “marujos” ao mar: os Odebrecht e os Batista.
Agora a famiglia da Vez pode ser os Marinho.
É difícil.
Seu exército é numeroso e sua tática de “assassinato de reputação” é sutil e muito eficiente.
Ao que parece trata-se de mais uma tormenta que, cedo ou tarde, vai passar.
E quando isso acontecer os ricos vão continuar mais ou menos no mesmo lugar.
Quem perderá com o descrédito que a mídia propaga dia e noite, sem dó?
1. A classe política;
2. Os aparelhos de Estado, incluindo a Justiça;
3. A classe média;
4. O povão em geral.
E se o poder econômico tomar o lugar do poder político, sem intermediários, caminhamos para a barbárie.
Se o viés for fundamentalista religioso então vai ficar ainda pior…
Por isso, minha gente, se nos intervalos desta luta der para fazer um pouco de amor, aproveitem!
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