Maurício Abdalla: O poder econômico constrói ou destrói de acordo com sua conveniência
08 de junho de 2017 às 18h02Foto do Culturamix
13 PONTOS PARA EMBASAR QUALQUER ANÁLISE DE CONJUNTURA
O complexo financeiro-empresarial não tem opção partidária, não
veste nenhuma camisa na política, nem defende pessoas. Sua intenção é
tornar as leis e a administração do país totalmente favoráveis para suas
metas de maximização dos lucros
por Maurício Abdalla, no Le Monde Diplomatique
1 – O foco do poder não está na política, mas na economia. Quem
comanda a sociedade é o complexo financeiro-empresarial com dimensões
globais e conformações específicas locais.
2 – Os donos do poder não são os políticos. Estes são apenas instrumentos dos verdadeiros donos do poder.
3 – O verdadeiro exercício do poder é invisível. O que vemos, na
verdade, é a construção planejada de uma narrativa fantasiosa com
aparência de realidade para criar a sensação de participação consciente e
cidadã dos que se informam pelos meios de comunicação tradicionais.
4 – Os grandes meios de comunicação não se constituem mais em órgãos
de “imprensa”, ou seja, instituições autônomas, cujo objeto é a notícia,
e que podem ser independentes ou, eventualmente, compradas ou cooptadas
por interesses. Eles são, atualmente, grandes conglomerados econômicos
que também compõem o complexo financeiro-empresarial que comanda o poder
invisível. Portanto, participam do exercício invisível do poder
utilizando seus recursos de formação de consciência e opinião.
5 – Os donos do poder não apoiam partidos ou políticos específicos.
Sua tática é apoiar quem lhes convém e destruir quem lhes estorva. Isso
muda de acordo com a conjuntura. O exercício real do poder não tem
partido e sua única ideologia é a supremacia do mercado e do lucro.
6 – O complexo financeiro-empresarial global pode apostar ora em
Lula, ora em um político do PSDB, ora em Temer, ora em um aventureiro
qualquer da política. E pode destruir qualquer um desses de acordo com
sua conveniência.
7 – Por isso, o exercício do poder no campo subjetivo,
responsabilidade da mídia corporativa, em um momento demoniza Lula, em
outro Dilma, e logo depois Cunha, Temer, Aécio, etc. Tudo faz parte de
um grande jogo estratégico com cuidadosas análises das condições
objetivas e subjetivas da conjuntura.
8 – O complexo financeiro-empresarial não tem opção partidária, não
veste nenhuma camisa na política, nem defende pessoas. Sua intenção é
tornar as leis e a administração do país totalmente favoráveis para suas
metas de maximização dos lucros.
9 – Assim, os donos do poder não querem um governo ou outro à toa:
eles querem, na conjuntura atual, a reforma na previdência, o fim das
leis trabalhistas, a manutenção do congelamento do orçamento primário,
os cortes de gastos sociais para o serviço da dívida, as privatizações e
o alívio dos tributos para os mais ricos.
10 – Se a conjuntura indicar que Temer não é o melhor para isso, não
hesitarão em rifá-lo. A única coisa que não querem é que o povo
brasileiro decida sobre o destino de seu país.
11 – Portanto, cada notícia é um lance no jogo. Cada escândalo é um
movimento tático. Analisar a conjuntura não é ler notícia. É especular
sobre a estratégia que justifica cada movimento tático do complexo
financeiro-empresarial (do qual a mídia faz parte), para poder reagir
também de maneira estratégica.
12 – A queda de Temer pode ser uma coisa boa. Mas é um movimento
tático em uma estratégia mais ampla de quem comanda o poder. O que
realmente importa é o que virá depois.
13 – Lembremo-nos: eles são mais espertos. Por isso estão no poder.
*Maurício Abdalla é professor de filosofia na Universidade Federal do Espírito Santo
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