domingo, 16 de julho de 2017

O mercadismo

O mercadismo que quer operar acima das tensões sociais e políticas, por André Araújo | GGN



Por André Araújo
 
 
Samuel Pêssoa virou uma espécie de
guru intelectual do mercadismo radical que pretende operar acima das
tensões sociais e políticas, algo hoje inteiramente fora de moda nas
grandes nações pós-crise de 2008.
 
Nos EUA, catedral mundial do
pensamento econômico aplicado à realidade, foi o ESTADO de corpo e alma
quem salvou o mercado em 2008, salvou da crise PROVOCADA PELOS EXCESSOS
DO MERCADO. 
 
Se não fosse o Tesouro dos EUA, a
crise de 2008 seria infinitamente maior. Foi o Tesouro dos EUA,
autorizado pelo Presidente Obama, quem sacou dinheiro de seu caixa no
importe nada desprezível de US$778 bilhões dentro da autorização do
programa TARP para salvar o Citigroup, a General Motors, a seguradora
AIG e mais 200 outras corporações e bancos, decisão tomada de forma
ultrarrápida, engenhosa, eficiente e sem pruridos ideológicos, no
incêndio não se pergunta de onde vem a água e SALVOU O MERCADO. 
 
Depois disso as teses do
neoliberalismo puro FORAM ENTERRADAS nos EUA, o "mercado" perdeu tanto
prestígio político que Trump, um aventureiro anti-mercado, no qual deu
muitos tombos a ponto de não ter mais crédito nos EUA desde o começo da
última década e ter que se financiar em paraísos fiscais com dinheiro de
origem suspeita, seu maior financiador são bancos de Chipre, que operam
100% com dinheiro russo, a entidade "Wall Street" não é mais o farol do
mundo, as universidades do "mainstream" monetarista já não pregam mais o
credo de Friedman mas esqueceram de avisar os "economistas de mercado"
do Brasil e seus apoiadores intelectuais como Samuel Pessoa e Mansueto
Almeida, que continuam com a velha e desmoralizada cartilha do
"ajustismo", mas sempre esquecendo de sequer mencionar a incongruência
dos super-juros que se paga aos credores do Estado, isso não consideram
despesa porque do outro lado dela está a receita dos bancos e
rentistas. 
 
O ajuste então tem que ser feito em
cima de remédios e merenda, prebendas de pobres folgados. Acho estranho
intelectuais que acredito não serem bilionários defenderem banqueiros e
financistas. Deixe que eles se defendam, quem está do outro lado da
cerca deve defender o povo e suas carências e não o financismo. 
 
Nada mais natural que Armínio Fraga,
que vendeu sua gestora para o Morgan por 700 milhões de dólares ou
Roberto Setúbal, que preside um banco que vale na bolsa US$ 72 bilhões
ou Henrique Meirelles, que tem apartamento luxuoso e aposentadoria
garantida em Nova York, defendam o financismo com legitimidade, mas acho
incrível professores de universidade defenderem nababos do
neoliberalismo, não fica bem. 
 
Lembremos que bilionários americanos,
muitos deles, se dedicaram a causas sociais como resgate de uma dívida
pela sua riqueza, o símbolo deles são os Rockefeller, que doaram a boas
causas o grosso de sua fortuna, incluindo-se aí o prédio da Faculdade de
Medicina da USP e a sede das Nações Unidas em Nova York.
 
A filha de David Rockefeller, Peggy,
morou dois anos na favela da Rocinha trabalhando em assistência social, e
ia ao centro do Rio de ônibus coletivo, herdeira de uma fortuna símbolo
da história do capitalismo, aqui no Brasil há pobres que prestam
homenagem a banqueiros com apartamento em Paris e torcem o nariz para as
periferias carentes.
 
A defesa do neoliberalismo no Brasil é
incompatível com a situação política e social atual do Brasil, nosso
estágio exige a presença do Estado em larga escala, assim como na Índia,
na China e na Rússia, o mega capitalismo só funciona em outro estágio
da organização social de um País, com mais de 100 milhões de pobres e
miseráveis nas periferias das grandes e médias cidades, com desemprego
de 30% entre os jovens, o neoliberalismo não vai resolver graves
problemas nem em cem anos, a economia é parte do tecido social, não está
fora dele, o neoliberalismo pode ser eficiente para si mesmo mas não é
eficiente se na sua escalada produz um imenso exército de miseráveis sem
futuro. 
 
Economista desligado da realidade
social, além de ser uma anomalia por definição, é um perigo para a
política e para a definição de políticas com verniz intelectual.

Nenhum comentário:

Postar um comentário