sexta-feira, 4 de março de 2011

O Descurvo: A PUC-SP e a Pedagogia do Trogloditismo

O Descurvo: A PUC-SP e a Pedagogia do Trogloditismo: "A PUC-SP e a Pedagogia do Trogloditismo
A PUC de São Paulo foi uma das casas do Professor Paulo Freire. Para quem não o conhece, eu falo de um dos maiores expoentes da história da Pedagogia: Freire teve o mérito inconstestável de ter posicionado tal ramo enquanto instrumento da emancipação humana - em suma, na sua obra, a finalidade de aprender era, nada menos, do que libertar-se. Infelizmente, sua obra é profundamente mal lida, seja nos corredores acadêmicos brasileiros ou mesmo puquianos: O ensino bancário, disciplinador e autoritário sempre grassou pelas salas da Gloriosa, embora a PUC nunca tenha aberto mão de associar seu nome ao do velho mestre. Hoje, em um momento no qual a crise eterna da PUC - movida, vejam só a ironia, por uma dívida infinita - chega em níveis gravíssimos, essa situação piora cada vez mais. O que dizer dos cortes arbitrários de cursos e matérias na Faculdade de Psicologia e de Economia e Administração? Ou melhor, o que dizer do fato disso ter sido (mais) uma medida imposta pela Igreja, a despeito dos órgãos competentes da Comunidade?

A gravidade da crise atual é tão grande que chega até mesmo a antes intocável Faculdade de Direito onde este humilde redator estuda. A primeira medida é administrativa e autoritária, haverá cortes de docentes que dão poucas aulas por semana, independentemente do seu mérito acadêmico, a outra é o resultado da degradação pela qual o curso passa nos últimos anos: O Conselho da Faculdade de Direito pretende aumentar a nota média de aprovação de 5,0 para 7,0 como forma de fazer os 'alunos estudarem mais' - dado os maus resultados da Faculdade no último exame da OAB. O primeiro problema está em perfeita harmonia com a política insana que a PUC adotou desde a crise de 2004: Resolver os problemas da PUC por meio de cortes de gastos e não pela geração sustentável de receita, algo cuja consequência prática é ter professores sobrecarregados e afastar bons nomes. O segundo problema se enquadra na pedagogia obtusa que, infelizmente, não é incomum à Faculdade de Direito: focar o ensino em exames e concursos e tentar resolver o que dá errado punindo os estudantes - como se numa relação educacional, só uma parte pudesse ser o problema ou mesmo se o fim ao qual está sendo a FD não seja completamente indesejado.

Ademais, os doutos juristas (e eventuais acadêmicos) também se esquecem que tais 'maus resultados' são, inclusive, efeito inercial da própria degradação do mecanismo de seleção puquiano somado, ainda, ao aumento de vagas na Faculdade: Se por um lado massificou-se o curso, por outro, isso foi acompanhado de sua elitização por meio de um aumento massivo das mensalidades como visto nos últimos anos. O problema, claro, não está em aumentar vagas, mas sim fazê-lo de maneira desordenada e desastrosa. Infelizmente, existe muito pouca gente disposta em atacar frontalmente essa causa, afinal, há quem veja com bons olhos essa elitização (em um sentido social não intelectual) do curso, embora até mesmo os resultados nos concursos e exames da vida caiam - o que é sintomático, essa estruturação sequer sustenta uma excelência meramente técnica. Aumentar a nota de aprovação para melhorar a a qualidade do ensino é algo tão irreal quanto congelar preços para acabar com a inflação, em suma, um reles cavalo de pau acadêmico para tentar melhorar a aprovação na OAB - como se isso quisesse dizer alguma coisa academicamente no fim das contas. Onde está a discussão sobre o plano pedagógico? Será que ninguém percebe que a combinação de fatores da 'solução' encontrada não fecha? Que algo sempre vai ser sacrificado (normalmente, a excelência acadêmica)? Ou melhor, será que ninguém percebe o impacto disso sobre o próprio rendimento, produzindo dependências e, inclusive, a evasão de bolsistas carentes (sobretudo, os prounistas)?

A sequência do movimento foi uma revolta dos estudantes e dos mais variados grupos políticos locais, afinal, até o mais decidido chapa-branquismo tem limites. As manifestações contrárias e o abaixo-assinado batendo de frente com as mudanças receberam, inclusive, uma resposta mal-educada da Diretoria da Faculdade via e-mail, que preferiu tentar bater na chapa derrotada das últimas eleições do Centro Acadêmico para tentar dividir um movimento que é de todos os estudantes - em um dos maiores atos de infantilidade que eu já vi em toda a minha vida. O verdadeiro clima de guerra das últimas semanas é assustador, enquanto lutamos cá do nosso lado contra isso - e isso explica a ausência deste blogueiro de seus afazeres -, mais parece que toca ao fundo da confusão toda o réquiem para a nossa Faculdade de Direito, uma Casa que nasceu, vejam só, para superar o tradicionalismo tacanho do ensino jurídico paulista e durante anos, de fato, conseguiu levar isso adiante.

Voltando à PUC, não existe outra saída para toda a Universidade senão a estatização neste momento, mas existe um pequeno fator de desequilíbrio nessa conversa toda (e não é só o Estado): A Igreja, sempre mais preocupada em garantir seu domínio sobre a produção de conhecimento do que em qualquer saída acadêmica. E é fato que desde a explosão da crise de 2004, a Igreja sempre se usou habilmente da situação para aumentar seu grau de influência sobre a PUC - vejam bem, universidades são autônomas no Brasil e instituições confessionais não se confundem com apêndices acadêmicos de nenhuma religião -, o que levanta dúvidas sobre os reais motivos da falta de ânimo em buscar soluções para essa crise financeira mal-explicada. Hoje, a ingerência do Conselho Administrativo - composto pelo Reitor e dois padres que representam a mantenedora - sobre assuntos acadêmicos não é apenas absurda como também é assustadora. Na Faculdade de Direito, as ações impensadas da burocracia local são desesperadoras e decepcionantes. Estamos diante de uma verdadeira pedagogia do trogloditismo.

– Enviado usando a Barra de Ferramentas Google"

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