terça-feira, 13 de setembro de 2016

Ex-ministro e economistas defendem taxa Selic real de 2% ao ano já em 2017

Ex-ministro e economistas defendem taxa Selic real de 2% ao ano já em 2017

Para entrevistados, juro elevado
atrapalha retomada econômica, aumenta dívida do setor público e
prejudica setores produtivo no País; entretanto, há projeções de que não
haverá cortes até 2017
São Paulo - O ex-ministro da Fazenda Luiz
Carlos Bresser-Pereira e economistas entrevistados pelo DCI defenderam
que a Selic seja reduzida já nos próximos meses. Para eles, a taxa de
juros real, hoje próxima dos 7% ao ano, deveria cair para 2% ao ano em
2017.



Temos países no hemisfério norte com taxas reais zeradas ou no negativo.
Para a nossa realidade, 2% ao ano seria mais que o suficiente , afirmou
Bresser-Pereira.





Segundo o ex-ministro, a Selic elevada atrai capital estrangeiro, causando uma apreciação cambial que acaba por controlar a inflação. É um sistema perverso, porque permite uma política fiscal frouxa avaliou.





Ele disse ainda que o interesse de rentistas impede que a taxa de juros
seja reduzida. Enquanto algumas pessoas ganham muito dinheiro com isso,
o povo brasileiro e a indústria são prejudicados.





Professor de economia da Fundação Getulio Vargas (FGV), Nelson Marconi
seguiu a mesma linha. Para ele, uma taxa de juros nominal de 9% ao ano
seria razoável para uma economia com problemas fiscais como a
brasileira .





O especialista afirmou que a Selic tem efeito apenas parcial para
controlar o avanço dos preços. Ele disse também que é muito alto o custo
do combate à inflação com o uso da taxa de
juros. Isso porque há grande indexação com outras variáveis econômicas
[como a dívida pública] , explicou.





Marconi destacou o impacto negativo para a indústria. De acordo com o
entrevistado, o setor seria a principal vítima da valorização cambial
decorrente da Selic elevada.





Já José Luis Oreiro, professor de economia da Universidade Federal do
Rio de Janeiro (UFRJ), defendeu que a taxa de juros atual poderia levar a
economia brasileira a um ponto de ruptura . As empresas estão
endividadas e sem caixa para pagar encargos financeiros. Em algum
momento, pode haver uma onda de falências, que prejudicaria o próprio
sistema financeiro , indicou.





Com a Selic alta, os juros de outras operações também são ampliados.
Segundo nota divulgada ontem pela Associação Nacional dos Executivos de
Finanças Administração e Contabilidade (Anefac), os juros no cartão de
crédito já superam 451% ao ano.





Para Oreiro, o Banco Central (BC) deveria atrasar o objetivo de reduzir a inflação ao centro da meta no ano que vem. Esse alvo poderia ficar para 2018, com início imediato da redução na Selic , afirmou.





O economista também disse não haver dúvida de que a taxa de juros
precisa ser reduzida. Temos uma recessão que deve chegar a 7% em dois
anos, com uma taxa de juros real de quase 7%. Não há nenhuma
justificativa para isso , avaliou o especialista.





Nova tentativa





Entre 2011 e 2012, o BC promoveu seguidos cortes na Selic, que chegou a
alcançar 7,25% ao ano. Para muitos economistas, esse teria sido um dos
motivos para o avanço dos preços e o início da recessão.





Entretanto, Edgard Pereira, professor de economia da Unicamp, afirmou
que outros pontos, como a falta de concorrência e a alta indexação,
estão por trás dos problemas econômicos. O especialista defendeu, ainda,
a redução da Selic, para estimular a atividade econômica e impedir um
maior avanço do endividamento público.





Mas as estimativas de analistas financeiros indicam que a taxa de juros
deve seguir alta neste ano. De acordo com o último relatório Focus, a
Selic encerrará 2016 em 13,75% ao ano. Para 2017, a expectativa está em
11% ao ano.





Se as previsões se concretizarem, a taxa real cresceria ainda mais. De acordo com os analistas, a inflação oficial deve terminar 2016 em 7,36% e 2017 em 5,12%.





Os entrevistados participaram, ontem, do 13º Fórum de Economia da FGV.





Renato Ghelf

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