sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Ex-Ministro mostra o poder de Roberto Marinho no governo Sarney - Edição 40 - (Novembro/2010) - Revista Brasileiros

Ex-Ministro mostra o poder de Roberto Marinho no governo Sarney - Edição 40 - (Novembro/2010) - Revista Brasileiros: "Ex-Ministro mostra o poder de Roberto Marinho no governo Sarney

Em livro autobiográfico, Maílson da Nóbrega diz que, antes de nomeá-lo, o Presidente da República consultou o dono da Rede Globo. Mas isso foi só o começo da ópera. No apagar das luzes, Sarney submeteu a dez ministros a proposta de renunciar

Alex Solnik
Tamanho do texto: A A A
Enviar por e-mail Fale com a gente
A madrugada não prometia nada. O salão principal do Palácio da Liberdade estava abarrotado. Todos queriam se despedir, em silêncio, de Tancredo Neves. Aos murmúrios e cochichos, políticos trocavam impressões do que viria. De 15 de março até 21 de abril de 1985, ainda havia esperanças de que ele voltasse. Agora se cristalizava a certeza de que o governo seria regido pela batuta de quem, até anteontem, esteve a serviço da ditadura.

Atrás de uma coluna, o senador Fernando Henrique segredou ao Ministro da Justiça, Fernando Lyra: 'Sarney não fará nem 2% do que Tancredo faria.'

Memorizei a frase. Era digna de qualquer 'melhores da semana' de qualquer publicação. Mas meu editor não a publicou. E ainda me questionou: 'Ele não poderia ter dito aquilo, você quer intrigar a Nova República quando mal começou?'.

Muitos anos depois, o editor se desculpou. Lamentou não ter publicado a frase. Achou-a factível. Agora, com a publicação de Além do Feijão com Arroz - autobiografia de Maílson da Nóbrega, com Louisie Sottomaior (Editora Civilização Brasileira, 591 páginas) -, a afirmação ganha mais força ainda.

Quando Maílson chega ao Planalto pela segunda vez, o governo Sarney é um exército em frangalhos. Ele é o quarto ministro da Fazenda, depois dos fracassos de Francisco Dornelles, Dilson Funaro e Bresser Pereira em deter a inflação. Ministros caem, a inflação não.

Às vésperas do Natal de 1987, quando a maioria dos brasileiros se perguntava o que ganharia de presente, Maílson já era o Ministro da Fazenda interino, faltava ser efetivado. A convite de Sarney, ele viaja ao Maranhão sem saber o motivo exato:

A revelação de Curupu
No dia 28 de dezembro de 1987, Sarney telefonou pedindo que eu fosse à casa de praia da família na Ilha do Curupu, em São Luís. (...) Aquela era a primeira ocasião em que conversávamos longamente por umas três horas, inclusive amenidades. (...) Finalmente Sarney externou seu desejo de me efetivar como ministro. Apenas precisaria de uns dias antes de anunciar a decisão. Havia 'arestas a aparar'. Ao ser perguntado sobre elas tentou desconversar. 'Tenho algumas dificuldades. É necessário conversar com líderes políticos e algumas outras pessoas.' E então revelou: 'Quero antes conversar com o doutor Roberto Marinho'.

A sabatina do Cidadão Kane
Apenas no dia 5 de janeiro recebi novas notícias. Naquela manhã, por telefone, Sarney perguntou se haveria problema em conversar com Roberto Marinho. (...) A reunião seria naquela mesma tarde, no escritório da Globo, que ficava no Setor Comercial Sul. (...) Desde então, passei a enxergar muitas semelhanças entre o empresário e William Hearst (...) que inspirou o filme Cidadão Kane, de Orson Welles, de 1941.

(...) Durante nossa conversa cordial discorri sobre os temas de que já tratara com Sarney e muitos outros. (...) Depois da explanação, me questionou sobre tudo. Parecia me sabatinar. Depois de quase duas horas revelou: 'Gostei muito.'

Saindo da sala, dei lugar a Antonio Carlos Magalhães, Ministro das Comunicações e amigo tanto de Marinho quanto de Sarney. Pediu para que eu o esperasse. (...) Depois de alguns minutos, ACM deixou doutor Roberto, confirmando que o empresário ficara com uma impressão muito boa sobre mim. (...)

De volta ao Ministério, ali pelas 6 da tarde, apenas 10 minutos depois de sair do escritório da Globo, fui surpreendido pela secretária. 'Parabéns.' Não entendi. (..) 'O senhor é o novo ministro da Fazenda. Deu no plantão do Jornal Nacional.' Logo tocou o telefone. O presidente me convocava ao Palácio do Planalto. Quando cheguei, ele estava com o ato de nomeação em mãos, pronto.

Maílson percebeu, aos poucos, que Roberto Marinho se comportava como cabeça de um poder paralelo. Ele podia muita coisa, inclusive convidá-lo para almoçar na Vênus Platinada.

– Enviado usando a Barra de Ferramentas Google"

Nenhum comentário:

Postar um comentário