Afinal, quem tem medo de José Dirceu?
Foto: Arquivo/247
Uma nova tese se espalha: a de que a condenação do ex-ministro da Casa Civil fará bem ao governo, impedindo que ele assuma o comando do PT e infernize a vida da presidente Dilma Rousseff. Ou seja: se faltarem provas, que o condenem por patriotismo
A tese é a seguinte: numa eventual absolvição, Dirceu se transformaria na principal força do PT, retomaria o controle absoluto do partido e faria com que sua corrente, chamada Construindo um Novo Brasil, passasse a ter um peso decisivo na administração da presidente Dilma. Há quem diga até que Dirceu exigiria um ministério influente, como a própria Casa Civil.
Esta linha de argumentação tem um propósito. Como José Dirceu foi convertido no lobo mau das esquerdas nos últimos anos, enquanto Antonio Palocci era o bom cordeiro, o ex-ministro terá que ser condenado. Se não pelas provas, ao menos por patriotismo e espírito público dos ministros do Supremo Tribunal Federal.
Eliane Cantanhêde, por exemplo, já afirmou que isso tiraria um “peso dos ombros” dos 11 ministros do STF, como se juízes decidissem em função do que lhes pesa nas costas. Merval Pereira é mais explícito. “Para a presidente Dilma, a condenação do grupo petista que comandou o mensalão significará reforço na sua capacidade de intermediação dentro do partido, hoje dependente do grupo majoritário Construindo um Novo Brasil, liderado por Dirceu”, diz ele. “Naturalmente, esse grupo sairia enfraquecido na luta partidária, abrindo caminho para os petistas ligados à presidente, que hoje não têm influência decisiva no partido.”
A tese é que o pós-mensalão fará brotar um novo PT, livre do “lobo mau”.
Wishful thinking.
O PT, que Tarso Genro e José Eduardo Cardozo falaram em “refundar” no ano de 2005, à época do escândalo, continuou sendo o mesmo partido de sempre – e que se confunde com José Dirceu. Se ele vier a ser condenado, preso e vitimizado, a tendência é que essa liderança até se reforce.
O que não significa que o PT terá mais ou menos influência no governo Dilma, uma presidente forte, que não se dobra a pressões. Até agora, por exemplo, ela já demitiu dois aliados próximos de Dirceu: o ex-ministro Luiz Sérgio, da Articulação Política, e o presidente da Petrobras, José Sergio Gabrielli.
Com Dirceu condenado ou absolvido, a relação entre ele e Dilma não mudará em nada. Continuará fria e distante.
No livro “A outra tese do mensalão”, de Raimundo Rodrigues Pereira, Lia Imanishi e Antônio Carlos Queiroz, coloca-se uma questão interessante: por que os opositores do PT aceitaram trocar o eventual impeachment de Lula pela queda de José Dirceu? Afinal, Delúbio Soares, ex-tesoureiro da CUT e do PT, sempre foi mais Lula do que Dirceu.
A resposta é simples: Dirceu e o PT são a mesma coisa. A condenação de um é também a condenação do outro.
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