Blog do Ricardo Kotscho - R7
Juro que me empenhei ao máximo para falar com meu amigo ministro José  Antonio Toffoli para saber dele se vai ou não participar do julgamento  do processo do mensalão, que começa dentro de 24 horas no Supremo  Tribunal Federal, mas até o momento em que comecei a escrever o post, no  início da tarde desta quarta-feira, não tive retorno.
Ou ando sem prestígio ou Toffoli, pressionado por todos os lados,  ainda não decidiu o que vai fazer. E por que é tão importante ter uma  definição do ministro mais jovem do STF, às vésperas do início dos  trabalhos que vão decidir o destino de 38 réus?
Por tudo que consegui apurar até agora, o tribunal está dividido ao  meio e qualquer voto pode ser decisivo. Pelo mesmo motivo, especula-se  tanto se haverá tempo do ministro Cezar Peluso dar seu voto antes da  aposentadoria compulsória marcada para 3 de setembro, em meio ao  julgamento.
Ligado profissionalmente e por laços de amizade ao ex-presidente Lula  e ao PT, o voto de Toffoli é dado como certo pela absolvição do  ex-ministro José Dirceu, de quem foi assessor jurídico na Casa Civil.
Da mesma forma, o voto de Peluso já é contado pelos que querem a  condenação dos réus, se possível às penas máximas previstas em lei.
Meu palpite, pelo que conheço de Toffoli, 45 anos, paulista de  Marília, irmão de padre e sobrinho de monsenhor, com quem trabalhei no  Palácio do Planalto nos dois primeiros anos do governo Lula, um jovem à  moda antiga que não perde missa aos domingos, é que ele não vai se  declarar impedido de participar do julgamento.
Só há um jeito disto acontecer: o procurador-geral da República,  Roberto Gurgel, levantar suspeição sobre a participação do ministro por  suas ligações com o PT e vários dos réus, mas é improvável que ele tome  esta iniciativa para não atrasar e tumultuar o julgamento. Além do mais,  a decisão sobre a participação ou não de Toffoli teria que ser votada  pelos demais ministros.
Antes do início do julgamento propriamente dito, o plenário também  poderá ser convocado para decidir sobre uma questão de ordem que será  levantada pelo advogado Márcio Tomás Bastos, que pedirá o desmembramento  do processo.
Defensor de José Roberto Salgado, ex-diretor do banco Rural, Bastos  alegará que apenas três dos réus têm prerrogativa de fôro (os deputados  federais João Paulo Cunha, do PT, Valdemar Costa Neto, do PR, e Pedro  Henry, do PP), devendo o processo dos demais ser remetido à Justiça de  primeira instância.
É muito pouco provável que a maioria dos ministros aceite o pedido do  ex-ministro da Justiça Márcio Tomás Bastos, até porque seria necessário  desmontar o circo e começar tudo de novo. De qualquer forma, esta  discussão poderá atrasar os trabalhos e dividir mais ainda o plenário.
Conversei na terça-feira com Bastos, que não encontrou novidades no  novo relatório entregue esta semana aos ministros pelo procurador-geral  Roberto Gurgel, do qual ele recebeu uma cópia. "É só um índice dos  principais pontos da acusação, mas o processo todo é artificial. Nada  existe de concreto contra o meu cliente".
Se tudo correr conforme o planejado pelo presidente do STF, ministro  Ayres Brito, este primeiro dia do julgamento deverá ser todo ocupado  pela acusação, que terá cinco horas para apresentar as provas produzidas  para pedir a condenação dos réus.
Para o advogado Arnaldo Malheiros Filho, defensor de Delúbio Soares,  que fará a sustentação oral na sexta-feira, com quem também conversei  esta semana sobre as suas expectativas para o julgamento, "provas não  tem" nas mais de 50 mil páginas do processo. Segundo o advogado, Delúbio  é a principal testemunha a favor de José Dirceu no processo.
Os dois primeiros dias podem ser decisivos para os rumos do  julgamento. Ainda na sexta-feira, além de Malheiros, falará o advogado  José Luiz Oliveira Lima, defensor de José Dirceu, que também sustentará a  falta de provas no processo. Cada advogado terá uma hora para  apresentar sua defesa.
A questão central para os ministros será decidir se houve ou não  compra de votos de parlamentares com o uso de dinheiro público, como  sustenta a acusação, mas está claro, pelo clima bélico criado nos  últimos dias, que o julgamento será essencialmente político e não apenas  técnico baseado nas provas do processo.
O que está em jogo, na verdade, é uma espécie de terceiro turno  promovido pelos partidos de oposição e por amplos setores da velha  imprensa, até hoje inconformados com as derrotas sofridas nas eleições  presidenciais de 2002, 2006 e 2010, e a total falta de perspectivas para  2014.
Por isso, transformaram o julgamento do processo do mensalão numa  questão de vida ou morte, de tudo ou nada, em que o único resultado  admitido é a condenação dos réus.
Nos editoriais, nas colunas, nas "reportagens especiais" e nas cartas  dos leitores, só faltou alguém pedir a pena de morte, como se os  destinos nacionais, e não apenas uma decisão jurídica, estivessem nas  mãos dos 11 ministros do STF.
 
 
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