A direita que não mostra a cara contra a esquerda que ficava muda
2 de setembro de 2013 | 09:08
Cumprindo seu papel de “Facebook” da direita, o site da Folha assume a campanha de convocação da agora enfraquecida “Operação Sete de Setembro”, a tal “onda” de manifestações que se planeja para o próximo sábado.
Em boa parte porque a mídia, que as promovia, está dividida agora.
Mas que ninguém se iluda, elas vão ocorrer, porque a esta altura há grupos com ousadia e meios para fazê-lo e vão encontrar um ambiente onde não recebem enfrentamento político-ideológico e se valem da mais que justa insatisfação da população com o atraso e as distorções da vida política brasileira para levar água ao moinho da direita brasileira.
Até porque estes grupos não a direita real, mas apenas seus instrumentos – incientes, muitas vezes – de desestabilização de um governo progressista, no lugar do qual pretendem colocar não sabem bem o que, embora os acontecimentos no Egito devessem ter mostrado que as roupas pretas e toucas ninja que sobem ao poder não são exatamente os black blocs.
Mas, se os “anonymous” não são a direita real, o contrário é real: procure um reacionário no Brasil e encontrará um simpatizante dos “anonymous”, gostem disso eles ou não.
O apolítico, há tempos é assim, é sempre de direita, porque a ausência de polêmica é a manutenção do status quo.
Não se exija tanta lucidez, porém, de uma juventude à qual deixamos de dar referências políticas e ideológicas, à qual desacostumamos de manifestações públicas, a quem legamos a ideia de que a associação – sindical, estudantil, partidária – se resume na obtenção de favores e posições. Exceções raras e honrosas, como o MST, quem pode honestamente dizer que isso não se passou?
Quantas vezes nos iludimos achando que uma gestão técnica e republicana (jamais pensei que ia ter problemas em ouvir essa palavra, que tanto amo) e que o simples e inegável sucesso da administração do país bastaria para manter a hegemonia conquistada depois de quase 40 anos de governos de direita?
Deixamos de nos identificar, de revelar o que somos, de apontar-lhes o dedo e acusá-los pelo atraso, pela pobreza e pela dependência deste país.
Encaixotamo-nos no discurso da eficiência, da governabilidade, e deixamos de lado o do desejo, do sonho, da busca, esquecido que somos matéria e sonho, barriga e mente, presente e futuro.
O tempo faz a vida pender para os primeiros e a e tender a abandonar os segundos.
Essa força é a morte e a morte só não nos alcança se a desafiamos.
Na política, isso é tão verdade quanto na existência individual. Passamos por isso ao final do primeiro governo Lula, quando achamos que a imensa empatia que se construiu com a sua eleição bastaria para reconduzi-lo. Fomos às pressas, correndo, buscar no amor ao progresso do Brasil e no horror às privatizações criminosas de Fernando Henrique a tábua que nos salvou do naufrágio eleitoral.
De alguma forma, no Governo Dilma, este erro repetiu-se.
Gerente, faxina, gestão…Bonito, caímos nas “graças” de uma mídia “simpática”, que exaltava a figura presidencial enquanto minava as forças que lhe davam sustentação política. Não fosse o caráter e a solidez ideológica de Dilma Rousseff, quão perto estaríamos de uma traição política, não é?
Mesmo assim, deixamo-nos cair na rotina e fugimos da polêmica. A comunicação do governo não é política, é “institucional e republicana” (estão vendo porque a palavra me arrepia?).
Mas, vejam que maravilha é a força do povo, basta um pequeno episódio, uma situação que marque claramente onde estamos e o que queremos para que ela se acenda e ilumine os caminhos.
Este episódio dos médicos, num instante, repartiu os campos com uma clareza que todos puderam, sem dificuldade, entender. O conservadorismo elitista, excludente, que pensa este país para si e não para o seu povo desnudou-se, estrilou e, afinal, submergiu em gaguejos e desculpas “éticas e técnicas” e foi varrido com todos os seus senões para o lugar desprezível que merece.
Porque a direita brasileira, quando se lhe mostra a cara, vemo-la como ela é: monstruosa, disforme, encarquilhada, mesmo quando se exime de roupas brancas e personagens jovens.
Sua face é horrenda e sua causa, desumana.
Natural, portanto, que se mascare.
Mas nós voltaremos à mudez?
Ilustração: Vitor Teixeira
Por: Fernando Brito
Em boa parte porque a mídia, que as promovia, está dividida agora.
Mas que ninguém se iluda, elas vão ocorrer, porque a esta altura há grupos com ousadia e meios para fazê-lo e vão encontrar um ambiente onde não recebem enfrentamento político-ideológico e se valem da mais que justa insatisfação da população com o atraso e as distorções da vida política brasileira para levar água ao moinho da direita brasileira.
Até porque estes grupos não a direita real, mas apenas seus instrumentos – incientes, muitas vezes – de desestabilização de um governo progressista, no lugar do qual pretendem colocar não sabem bem o que, embora os acontecimentos no Egito devessem ter mostrado que as roupas pretas e toucas ninja que sobem ao poder não são exatamente os black blocs.
Mas, se os “anonymous” não são a direita real, o contrário é real: procure um reacionário no Brasil e encontrará um simpatizante dos “anonymous”, gostem disso eles ou não.
O apolítico, há tempos é assim, é sempre de direita, porque a ausência de polêmica é a manutenção do status quo.
Não se exija tanta lucidez, porém, de uma juventude à qual deixamos de dar referências políticas e ideológicas, à qual desacostumamos de manifestações públicas, a quem legamos a ideia de que a associação – sindical, estudantil, partidária – se resume na obtenção de favores e posições. Exceções raras e honrosas, como o MST, quem pode honestamente dizer que isso não se passou?
Quantas vezes nos iludimos achando que uma gestão técnica e republicana (jamais pensei que ia ter problemas em ouvir essa palavra, que tanto amo) e que o simples e inegável sucesso da administração do país bastaria para manter a hegemonia conquistada depois de quase 40 anos de governos de direita?
Deixamos de nos identificar, de revelar o que somos, de apontar-lhes o dedo e acusá-los pelo atraso, pela pobreza e pela dependência deste país.
Encaixotamo-nos no discurso da eficiência, da governabilidade, e deixamos de lado o do desejo, do sonho, da busca, esquecido que somos matéria e sonho, barriga e mente, presente e futuro.
O tempo faz a vida pender para os primeiros e a e tender a abandonar os segundos.
Essa força é a morte e a morte só não nos alcança se a desafiamos.
Na política, isso é tão verdade quanto na existência individual. Passamos por isso ao final do primeiro governo Lula, quando achamos que a imensa empatia que se construiu com a sua eleição bastaria para reconduzi-lo. Fomos às pressas, correndo, buscar no amor ao progresso do Brasil e no horror às privatizações criminosas de Fernando Henrique a tábua que nos salvou do naufrágio eleitoral.
De alguma forma, no Governo Dilma, este erro repetiu-se.
Gerente, faxina, gestão…Bonito, caímos nas “graças” de uma mídia “simpática”, que exaltava a figura presidencial enquanto minava as forças que lhe davam sustentação política. Não fosse o caráter e a solidez ideológica de Dilma Rousseff, quão perto estaríamos de uma traição política, não é?
Mesmo assim, deixamo-nos cair na rotina e fugimos da polêmica. A comunicação do governo não é política, é “institucional e republicana” (estão vendo porque a palavra me arrepia?).
Mas, vejam que maravilha é a força do povo, basta um pequeno episódio, uma situação que marque claramente onde estamos e o que queremos para que ela se acenda e ilumine os caminhos.
Este episódio dos médicos, num instante, repartiu os campos com uma clareza que todos puderam, sem dificuldade, entender. O conservadorismo elitista, excludente, que pensa este país para si e não para o seu povo desnudou-se, estrilou e, afinal, submergiu em gaguejos e desculpas “éticas e técnicas” e foi varrido com todos os seus senões para o lugar desprezível que merece.
Porque a direita brasileira, quando se lhe mostra a cara, vemo-la como ela é: monstruosa, disforme, encarquilhada, mesmo quando se exime de roupas brancas e personagens jovens.
Sua face é horrenda e sua causa, desumana.
Natural, portanto, que se mascare.
Mas nós voltaremos à mudez?
Ilustração: Vitor Teixeira
Por: Fernando Brito
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