sábado, 11 de março de 2017

BR 163 no centro da meta ou a economia política da circunstância

BR 163 no centro da meta ou a economia política da circunstância, por André Araujo




A maior contribuição de Lord Keynes para o pensamento econômico foi
expor a noção de que a regência da economia não se pode dar por receitas
prontas e sim por ferramentas adaptadas às circunstancias. Acusado de
inconsistente  é famosa a frase  de Keynes “When the events change, I
change my mind, what do you do sir?


“”Quando os fatos mudam eu mudo meu pensar, o que o senhor faria ?””
disse ao interlocutor que o acusava de inconsistente. Keynes era um
economista ortodoxo quando trabalhava no Tesouro inglês e já na
assessoria da delegação britânica à Conferencia de Versalhes em 1919
mostrava seu gênio ao derivar para analises de circunstancias fora dos
modelos-padrão dos economistas burocraticos. De sua observação na
Conferencia escreveu seu primeiro clássico “


“As Consequencias Economicas da Paz” onde via muito mais longe que
seus colegas convencionais que se limitavam ao papel simplista de punir a
Alemanha e ponto.


Albert Hirschman, o grande economista do desenvolvimento do pós
guerra, judeu alemão de formação cultural  francesa e que depois  seria
um dos pais do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de
Princeton tinha a mesma logica “ Sempre o mesmo remédio quando as
doenças são diferentes, a mesma receita pare males distintos, os
economistas precisam se ajustar `à realidade e não a realidade se
ajustar a eles”.


No instituto de Princeton conviviam Albert Einstein, George Kennan e
Albert Hirschman, entre muitos outros pensadores excepcionais de nossos
tempos. Sua teoria do “possibilismo” era uma variante da economia
politica das circunstancias de Keynes “Não há padrões, a economia deve
dançar conforme a realidade , esta não deve se adaptar a uma formula
pronta”.


F.Scott Fitzgerald tem uma frase para esse requisito da flexibilidade
mental, raríssimo entre economistas em geral e impossível entre os
“economistas de mercado”


“”O melhor teste para um cérebro de primeira ordem é poder trabalhar
com duas ideias opostas ao mesmo tempo e ainda assim manter a capacidade
de funcionar””


Hjalmar Schacht, outro dos grandes economistas do Seculo XX, formado
em filosofia, um tanto demonizado pelos seus serviços à Hitler, foi o 
artífice do fim da hiperinflação alemã de 1923, como Comissario da Moeda
da Republica de Weimar e depois presidente do banco central alemão, o
Reichsbank.  Sei plano conhecido universalmente como Plano Schacht,
debelou em seis meses uma hiperinflação de 100.000% ao ano e o modelo
foi exatamente repetido pelo Plano Real que é uma copia carbono do Plano
Schacht, lembrando que o plano alemão foi a tese de doutorado do
economista Gustavo Franco nos EUA,  todo o mecanismo alemão foi aqui
reproduzido pelo Plano Real, incluindo a moeda de transição  URV.


O mesmo Hjalmar Schacht que zerou a inflação alemão criou dez anos
depois o mais heterodoxo plano monetário para financiar o rearmamento
alemão sob Hitler, que incluía uma moeda gráfica, os MARCOS DE
COMPENSAÇÃO e um bônus rotativo para pagar os fabricantes de material
bélico, os MEFO BONDS,  ferramentas que os economistas de manual de hoje
achariam uma trapaça completa na visão ortodoxa.  Para combater o
desemprego que estava em 40% na Alemanha quando Hitler chegou ao poder,
Schahct conseguiu financiar com divida publica não só o rearmamento mas
também a implantação de uma rede de super estradas, as AUTOBAHNS e
grandes projetos de construção civil que em DOIS ANOS acabaram com o
desemprego na Alemanha, nesse sentido Schacht foi mais bem sucedido do
que Roosevelt nos EUA, que levou muito mais tempo para terminar com a
recessão.


Os MARCOS DE COMPENSAÇÃO foram um instrumento tão engenhoso e
eficiente que os estatutos do FMI proíbem EXPRESSAMENTE  o uso dssse
tipo de instrumento porque ele desafia o controle centralizado da moeda
mundial pelo Federal Reserve americano e pelos organismos de Bretton
Woods.


Essa é a grande questão dentro da qual se vê o modelo de METAS DE
INFLAÇÃO, um remédio fixo para situações mutáveis que necessitam de
FLEXIBILIDADE MONETARIA para terem seus problemas enfrentados com o uso
de todas as ferramentas que um Estado dispõe.


Ficar amarrado a um grilhão fixo como as METAS DE INFLAÇÃO em um
mundo em constante e cada vez mais rápida mutação geopolítica que se
reflexa na reorganização permanente dos fluxos monetários e comerciais é
optar pela prisão quando se pode ser livre.


Um Estado não pode operar dentro de camisas de força monetárias como
METAS DE INFLAÇÃO. Um mecanismo que faz da estabilidade monetária o
único eixo da politica econômica, quando esta deve ser compatível também
com a prosperidade e o pleno emprego, como é aliás o mandato
estatutário do Sistema de Reserva Federal americano. Fazer toda a
politica  econômica girar apenas em função de meta de inflação é um
objetivo muito pobre, medíocre, não exige muito trabalho e nem esforço
mental, é tarefa de um banco central preguiçoso, improdutivo e
descompromissado de obrigações  para toda a população.


E agora uma derivação das METAS , o ORÇAMENTO com teto regido pela
inflação, outra anomalia que vai na contramão da flexibilidade de uma
politica monetária que tem que atender mais do que um objetivo apenas, a
politica econômica é um conjunto de objetivos.


O modelo de METAS atende hoje exclusivamente aos interesses do
mercado financeiro às custas da  economia produtiva, aquela que dá os
empregos e o abasteciemento.


A recessão brasileira, HOJE JÁ DEPRESSÃO, só acabará com LARGA
EXPANSÃO MONETARIA, o que exige o fim do regime de METAS DE INFLAÇÃO,
 um aprisionamento incompatível com as circunstancias atuais da economia
brasileira que requer o uso de instrumentos monetários  e cambiais
pro-crescimento, prioridade maior que uma mera estatística de inflação.


A depressão só acabará com GRANDE INVESTIMENTO PUBLICO que só pode
ser pago com emissão de moeda. Pelo nível de ociosidade do aparelho
produtivo do Pais e da imensa massa de desempregados, uma injeção de
DOIS TRILHÕES DE REAIS na economia poderá causar alguma inflação 
perfeitamente administrável.. É um preço barato a pagar para o pais
voltar a andar.  A moeda é um instrumento da prosperidade, não é um fim
em si mesmo, não é um totem ou um fetiche, a moeda serve para as pessoas
viverem de forma razoável, uma moeda estável que não está no bolso da
população de nada adianta, é a paz do cemitério.


O CUSTO DA ESTAGNAÇÃO é infinitamente maior do que  dois trilhões de
reais a injetar na economia. Cada dia com fabricas paradas e mão de obra
ociosa de milhões de homens aptos a trabalhar CUSTA MUITO MAIS EM
TERMOS DE PERDA ECONOMICA REAL do que qualquer risco de inflação,
perfeitamente suportável no curto prazo, até sair da estagnação.


Se a inflação sair do controle é muito mais fácil traze-la de volta à
estabilidade do que suportar por mais uma década a ESTAGNAÇÃO atual. Um
novo plano alemão acaba com a inflação em seis meses e pode ser
executado em clima de economia funcionando e baixo desemprego.


A massa de desempregados por uma década VAI DESTRUIR O TECIDO SOCIAL
DO PAIS por uma geração. Não são só os 13 milhõs de desempregados, são
mais 20 milhões de jovens em idade de procurar o primeiro emprego e que
não o encontrarão em um ambiente de estagnação. Um caldo de cultura
semelhante produziu o nazismo na Aleamanha e pode colocar abaixo
governos e sistemas políticos em grandes países.


Medidas paliativas modestas sequer fazem cocegas no desemprego ,
produzem micro ou nenhum efeito, liberação de FGTS, concessões e
privatizações, nada disso  terá qualquer impacto na escala do atual
nível de desemprego e de estagnação da atividade econômica.


Enquanto isso o Pais sofre com uma ABSURDA CARENCIA DE INVESTIMENTO
PUBLICO, tendo todos os meios físicos para realizar grandes obras, temos
fabricas de cimento trabalhando com 70% de ociosidade, usinas de
asfalto, portos de areia, pedreiras, fabricas de tubos, temos todo o
CAPITAL FISICO para um grande plano de obras, falta apenas a POLITICA
ECONOMICA para por em funcionamento um grande plano de infraestrutura,
 NÃO FALTAM MEIOS FISICOS.


A tragédias de milhares de caminhões atolados na rodovia BR-163 e em
outras rodovias amazônica, demonstra o absurdo da PERDA REAL DE VALOR na
economia brasileira, por falta de investimento físico para o qual o
Pais dispõe de amplos meios de realizar. Temos um imenso parque de
maquinas para construção rodoviária e todo o material necessário para
consolidar uma essencial rede de rodovias federais, sem as quais a
produção não sai do lugar.


E porque não se faz ? Porque se fizer pode afetar o atingimento das METAS DE INFLAÇÃO.


No momento em que o Pais afunda no lodaçal das rodovias, uma equipe
econômica de anões se congratula porque a inflação atingiu o CENTRO DA
META, ao fundo o Brasil se desintegra.

Nenhum comentário:

Postar um comentário