E se Gilmar Mendes estiver se capitalizando para ser candidato? - 26/03/2017 - Janio de Freitas - Colunistas - Folha de S.Paulo
Tudo o que o ministro Gilmar Mendes tem defendido, na aceleração da
sua atividade de político, corresponde aos interesses do grupo que tem
dominado a política brasileira, liderado pelos expoentes do PMDB e seus
seguidores em vários partidos. O repúdio ao recato próprio de um
ministro do STF não se faria sem motivo. Qual poderia ser o de Gilmar?
Dois traços marcantes de sua personalidade explicam alguma coisa. Um,
sua identificação com a direita, evidente desde que se aproximou da vida
pública. Talvez bastasse dizer que teve a nada invejável função de
assistente jurídico de Collor na Presidência. Mas Gilmar Mendes quis
consolidar a primeira evidência com seu desempenho como advogado-geral
da União no governo Fernando Henrique.
À época se disse que selecionado por Sérgio Motta entre os possíveis
dispostos a fazer uma barragem contra incômodos ao governo, não há
dúvida de Gilmar Mendes se saiu bem na missão. O outro traço marcante é a
atração pelo poder.
São, porém, características que Gilmar poderia arrefecer, ao menos o
suficiente para ter conduta adequada a juiz, a ministro do STF e a
presidente do Tribunal Superior Eleitoral. Não o fez. Muito ao
contrário. A um só tempo crítico e colaborador de Sérgio Moro e dos
procuradores da Lava Jato, foi como ansioso militante que comprometeu o
STF com o apoio ao vazamento ilegal de gravações ilegais, feito pelo
juiz de Curitiba. Um vazamento a que não atacou "como crime", porque
servia à sua e à causa da corrente conservadora no Congresso.
Com a mesma motivação, Gilmar Mendes reteve por ano e meio a proibição
de doações "eleitorais" por empresas, na tentativa de impedi-la. Para
encurtar: entre outros desempenhos, tem batalhado pela admissão do caixa
2, o "por fora" nas eleições; prega a anulação dos inquéritos e
processos que tiveram vazamentos; apoia a anistia aos doadores e
recebedores do "por fora"; e propagandeia a volta das doações
"eleitorais" de empresas. Estranhas, a militância e as posições?
E se Gilmar estiver se capitalizando para ser visto, na contabilidade
política do PMDB & sócios, como potencial candidato à Presidência? O
PMDB controla o jogo político, por sua dimensão e por meios escusos,
mas não tem como alcançar o poder de fato: em seus numerosos quadros não
há quem mostre condições de disputa real da Presidência.
Um quarto de século de eleições diretas para presidente – e o gigante
PMDB só na figuração. Seus sócios, atuais ou possíveis, não passam de
reboques. Um candidato confundindo-se com o Supremo e oferecendo à
direita um candidato sem as botas militares de Bolsonaro, pode
imaginar-se como um presente para o PMDB, DEM, PP e cia. Gilmar tem
feito a alegria de Renan Calheiros, Romero Jucá, Eliseu Padilha, Michel
Temer, e por aí. À toa, não é.
BRASILEIRINHAS
1- Alexandrino Alencar, um dos delatores da Odebrecht, diz que comprou o
horário gratuito do PCdoB, do Pros e do PRB para a campanha de
Dilma/Temer. Só se o PCdoB vendeu o que já dera à campanha, na aliança
pública com o PT.
2- O blogueiro Eduardo Guimarães não tinha obrigação e talvez nem
tivesse meios de saber que Moro considerava sigilosa a sua ordem de
detenção de Lula, naquele tal "depoimento coercitivo". Teve a informação
e divulgou-a, sem razão alguma para fazer dela um segredo. Fez um
vazamento. Prática jamais condenada, sequer criticada, por Moro. A
detenção de Guimarães, o arresto de seu equipamento e a coerção para dar
o nome do informante foram arbitrariedades em hora apropriada: o
projeto do Senado contra abuso de autoridade deve ser votado dentro de
duas semanas.
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