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Palavra Livre - quinta-feira, 24 de julho de 2014
Naufrágio
da Plataforma 36 (P-36) da
Petrobras no governo entreguista de FHC — o Neoliberal I — e
recuperação total da estatal mais brasileira nos governos trabalhistas.
Entenderam, coxinhas, somente um dos motivos pelos quais os tucanos
vão perder em outubro?
Por Davis Sena Filho
A plataforma inclinada na ilustração (lado dos tucanos) era a P-36, a
maior plataforma de produção de petróleo do mundo, que afundou no
(des)governo de FHC — o Neoliberal I, em março de 2001. A P-36, volto a
comentar, era a maior plataforma do mundo. Só isso. E os
tucanos, além de venderem o Brasil, propositalmente não investiam nas
estatais
brasileiras para que fossem sucateadas e, consequentemente, vendidas a
preços
mais baratos.
Só
em pensar em PSDB no poder novamente, sinto calafrios, porque sei o que
eles são, o que representam e do que são capazes para prejudicar o
Brasil e
fazer o povo brasileiro sofrer, pois, no tempo do PSDB, nem acesso ao
emprego o trabalhador brasileiro tinha, quanto mais ser consumidor.
A falta de investimentos era tanta,
que o Brasil ficou no escuro durante 18 meses, ou seja, um ano e meio. Foi o
maior e o mais longo apagão da história do Brasil, em um País
repleto de rios e de quedas de águas. No decorrer dos governos dos
trabalhistas, o Pré-sal se encontra em pleno funcionamento, a dar
resultados expressivos, o que vai levar, em pouco tempo, a Petrobras ser
uma das cinco maiores petroleiras do mundo.
Os governos tucanos são e foram uma lástima.
O que eu falo não são palavras ao vento, porque os acontecimentos são fatos
verdadeiros e por isso reais. Para se ter uma ideia da incompetência e da falta
de zelo do PSDB e de seus dirigentes, o Brasil teve de ir ao FMI três vezes,
humilhado e com o pires nas mãos, porque quebrou três vezes. FHC levou um pito,
um "carão" de Bill Clinton, que chamou seu governo de incompetente.
Uma humilhação sem precedentes.
No
governo Lula, a dívida com o FMI
foi paga, os diretores desse banco de rapina e de exploração sumiram do
nosso
Brasil. Por sua vez, o País hoje é credor do FMI, que pediu dinheiro ao
País para poder emprestar, por exemplo, a países como Portugal, Espanha,
Grécia,
Irlanda etc., que hoje provam o fel amargo de ter o FMI a fiscalizar
suas
contas e a dar opiniões sobre como os dirigentes e as autoridades dessas
nações
devem proceder. Uma lástima e humilhação. E o PSDB no Brasil representa
isso tudo, porque
foi no (des)governo do PSDB, o de FHC, o Entreguista, que o Brasil e seu
povo
tiveram que cortar um dobrado.
Tenho
horror ao PSDB. Realmente, na
década de 1990 até o início da primeira década deste século o Brasil e
os brasileiros foram verdadeiramente humilhados. O povo e a classe média
coxinha não tinham
acesso à nada. Mas, nada mesmo. Até para comprar uma simples passagem de
avião
era complicado porque não cabia no orçamento das pessoas quanto mais
comprar a casa própria ou um carro zero, sem falar nos
eletro-eletrônicos.
O
PSDB é a pior coisa que eu, nos
meus quase 55 anos e com 30 anos de jornalismo político, vi e presenciei
na
minha vida depois da redemocratização do Brasil. Considero inominável o
processo draconiano de privatizações e a política externa de dependência
e submissão efetivados pelos neoliberais do PSDB. Um absurdo, pois
crimes de lesa-pátria e traição na veia.
Os mais novos, inclusive os que são
coxinhas, não sabem disso, porque não viram o Brasil dos tucanos, porque eram
crianças ou jovens. Além disso, ser universitário ou ter se formado em alguma profissão ou atividade não quer dizer que a pessoa
seja politizada e compreenda, com maior precisão e discernimento, os bastidores
e as entrelinhas da política e da imprensa de mercado.
Os
tucanos no poder significam
retrocesso, atraso e falta de compromisso com a sociedade brasileira.
Ponto! Bato na madeira três vezes só de pensar que essa
gente descompromissada e de caráter alienígena possa um dia voltar para
governar o Brasil e submetê-lo novamente à servidão perante os países
imperialistas e colonialistas.
Quero e desejo um Brasil para os brasileiros
e para os estrangeiros que aqui querem morar e cooperar para que possamos nos
transformar em uma sociedade civilizada e de bem-estar social. O PSDB significa retrocesso, desleixo e
sofrimento. É isso aí.
BANCOS FAZEM TERRORISMO PARA NÃO DEVOLVEREM O QUE FOI SURRUPIADO DAS POUPANÇAS.
Sempre
tive a humildade de reconhecer que não me é possível ser experto em
todos os assuntos. Ainda mais agora que, impedido de atuar
profissionalmente por preconceitos em relação a minhas idade e
convicções, não tenho mais acesso às fontes de alto nível que tanto
facilitam o trabalho da imprensa.
Então, para informar bem os meus leitores, só me resta recorrer, em alguns casos, a textos alheios --quando são daqueles que pegam no breu.
P.
ex., o assunto principal da coluna do Elio Gaspari (foto acima) neste
domingo, 27: o terrorismo praticado pelos bancos, por meio dos
economistas e escribas que gravitam em sua órbita, com o deplorável
apoio do BC, para evitar que os trabalhadores recebam o que lhes foi surrupiado no passado.
VEXAME, A BANCA NÃO SABE CONTAR
No final do ano passado, o Supremo Tribunal Federal esteve prestes a
julgar o litígio dos poupadores das cadernetas de poupança que se
sentiram lesados com a correção monetária de seus depósitos durante os
planos econômicos fracassados do fim do século passado.
Com o apoio do Banco Central, a banca desencadeou uma operação de
terrorismo político-financeiro, argumentando que se os depositantes
prevalecessem, provocariam um desastre bíblico na economia nacional.
Seriam R$ 150 bilhões, talvez R$ 180 bilhões, quem sabe, R$ 441 bilhões.
Uma empresa de consultoria falou em R$ 600 bilhões.
Um manifesto assinado por Guido Mantega e cinco ex-ministros da Fazenda,
inclusive aqueles que ajudaram a produzir a ruína da hiperinflação,
foram na mesma linha.
Um dos advogados da banca chegou a mandar uma carta ao ministro Ricardo
Lewandowski prevendo que uma decisão a favor dos poupadores "lançará o
país numa coorte de horrores que, sem exagero, irão do desemprego em
massa à fome da população mergulhada nos sortilégios de uma crise
econômica que afetará toda a nação." Os ilustres causídicos da banca,
que já haviam tentado tenebrosas tentativas no escurinho de dois
recessos do STF, conseguiram adiar para este ano o julgamento do caso.
Está difícil de ler? Clique no quadro para ampliar.
O Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor sustentava que isso era
um exagero e argumentava que esses mesmos bancos haviam provisionado
apenas R$ 11 bilhões. Na conta do Credit Suisse o litígio custaria R$
26,5 bilhões.
A Procuradoria-Geral da República informou que as contas catastrofistas
estavam erradas. A cifra certa, para a PGR, está em R$ 21,9 bilhões. Em
vez de aterrorizar o país com uma conta doida para não pagar coisa
alguma, os bancos poderiam ter feito a conta certa, como fez o Credit
Suisse. Afinal, eles a conheciam.
Ficará na história da banca brasileira o fato de terem inventado um
apocalipse para ganhar um dinheirinho à custa da boa-fé do público e da
sua capacidade de atemorizar os ministros do Supremo.
Tudo indica que o Supremo decide a questão ainda neste ano. (por Elio Gaspari, em artigo para a Folha de S. Paulo, O Globo e outros jornais)
A denúncia do aeroporto construído na fazenda que pertencia ao tio de
Aécio Neves, com dinheiro público, fez um estrago maior do que o
esperado pelo candidato e sua coordenação de campanha.
A equipe responsável pela campanha já tem sinais claros de que a
denúncia "pegou" - ou seja, ganhou grande repercussão entre os eleitores
mais informados sobre política e já virou o assunto principal associado
ao candidato.
Os sinais foram colhidos em pesquisas internas, tanto telefônicas quanto de análise da repercussão em redes sociais.
A péssima notícia virou um grande problema para a campanha oposicionista
e deixou seu comando, a começar do próprio Aécio, indeciso sobre o que
fazer, de agora em diante.
Até o momento, a tática era a de fugir do assunto o máximo possível.
Pensava-se, de início, que o ideal seria não comentá-la para não dar
mais "asas" ao assunto, e diminuir o risco de "o aeroporto do tio de
Aécio" - que é como o assunto tem se popularizado - colar ainda mais na
imagem do candidato.
Os dados colhidos da percepção dos eleitores mostram que isso já não
funciona mais. Pior: pode já estar surtindo efeito contrário.
Quando foi pego de surpresa, Aécio deu declarações que, logo em seguida, foram desmentidas por outras reportagens.
Nos dias seguintes, se calou sobre o caso. Ontem, ao ser perguntado por
jornalistas a respeito, Aécio simplesmente recusou-se a responder.
De agora em diante, a postura só ajuda a consolidar a convicção, entre
muitos eleitores, de que o candidato está "metido em corrupção" - para
usar uma frase comum surgida nas respostas da pesquisa telefônica.
A postura de criticar as investigações da Agência Nacional de Aviação
Civil (Anac) e do Ministério Público pode piorar o quadro ainda mais,
pois deve reforçar a crítica de que se tenta esconder sujeira debaixo do
tapete.
Pesquisas internas, como as telefônicas, servem apenas como um recurso
rápido para analisar o tamanho da repercussão que um assunto ganha na
campanha e calibrar a dose da resposta a ser dada.
Quando se responde a algo com baixo interesse na opinião pública,
comete-se o erro de dar importância maior do que se deve, patrocinando
notícia negativa.
Por outro lado, minimizar ou fugir de um assunto considerado muito grave
por uma grande parcela da opinião pública acarreta um prejuízo bem
maior. É o que, entre os profissionais da comunicação, se conhece como
tática do avestruz.
A campanha de Aécio já espera por uma queda em suas intenções de voto, a ser aferida nas próximas rodadas, a partir de agosto.
Agora começa a fase na qual a divulgação do escândalo começa a chegar no boca a boca da campanha com mais força.
Doravante, se Aécio for pousar na pista do seu agora muito conhecido
aeroporto, escondidinho na cidade de Cláudio, interior de Minas Gerais, é
bom pedir ao comandante para avisar: "atenção, torre de controle. Temos
um problema!"
Uma pergunta se alastrou pela internet depois que a Folha publicou a
informação de que Aécio mandara construir – ou reformar, segundo ele –
um aeroporto numa fazenda de um tio. (Ele afirma que a fazenda já não
era do tio quando recebeu a obra.)
Quem vazou?
É um caso antigo, de alguns anos. Não é um fato novo, propriamente. Por que isso não apareceu antes?
A informação não foi fruto de um trabalho de investigação jornalística da Folha.
Alguém passou ao jornal a informação. É assim que as coisas
funcionam. Ao contrário do que as mentes ingênuas e românticas
acreditam, os maiores furos jornalísticos quase não envolvem repórteres,
editores, subeditores, fotógrafos e quem mais for.
Tudo se resume na entrega, para o veículo certo, de um dossiê que comprometa alguém.
Carlinhos Cachoeira é um símbolo disso, com os escândalos que
forneceu à Veja. Pode-se dizer que nenhum repórter da Veja, nos últimos
anos, foi tão produtivo quanto Cachoeira.
Quem viu House of Cards conhece o mecanismo que leva alguns políticos ao topo, e muitos ao abismo.
Na série, furioso por não ter recebido o cargo prometido pelo novo
presidente americano, Francis Underwood vai passando informações
comprometedoras sobre desafetos até chegar à Casa Branca.
Alguém entregou Aécio, isto é fato.
Mas quem?
Os internautas se agitaram em torno dessa pergunta.
O primeiro suspeito, nas especulações, é o suspeito de sempre: Serra.
Em torno de Serra se construiu a lenda – ou a realidade, para muitos –
de que ele é um mestre em produzir dossiês antiadversários.
Mas há pontas soltas nesta hipótese.
Se Serra tinha a informação, por que ele não a vazou quando disputava
com Aécio a indicação do PSDB para as eleições presidenciais?
Alguns meses atrás, o aeroporto poderia ser fatal para as pretensões de Aécio de ser o candidato.
É de supor que, se Serra soubesse da história, se movimentaria na hora certa. É um homem inteligente.
Ou seria ele tão vingativo que, mesmo tendo acesso tardiamente a um
dado letal para seu rival, optaria por vazá-lo mesmo sem outro proveito
pessoal que não a desgraça alheia?
Muitos internautas apostam em Serra, com todas as ponderações que tornam seu nome fraco como suspeito.
A fama, a obra de Serra são maiores que a vulnerabilidade da hipótese de que foi ele o responsável pelo vazamento.
Pessoalmente, não acredito que tenha sido ele. A falta de um
benefício claro para Serra do vazamento o inviabiliza, em meus esforços
dedutivos, como suspeito.
Terá sido alguém do PT?
Não acredito. As relações entre o PT e as grandes empresas de mídia
são muito ruins para que alguém do partido confiasse que um jornal como a
Folha publicasse a denúncia.
Haveria o temor, imagino, de que a Folha não apenas rejeitasse o
dossiê como o usasse contra o autor. E se Folha dissesse numa manchete
que o PT tentara incriminar Aécio?
Toda a mídia cairia matando em cima do PT. Logo surgiria a velha
pergunta: “Lula sabia?” O Jornal Nacional encontraria motivos para dar o
assunto dias, semanas seguidas.
Haveria, em suma, a movimentação em massa que não existiu no caso do
aeroporto. A mídia dá – esconde é um verbo melhor — o mínimo necessário
para não passar vergonha.
Alguém viu uma matéria decente sobre a fazenda em si, por exemplo? Ou algum perfil sobre o tio de Aécio?
Se foi Serra – repito: acho que não foi – ele deve estar frustrado com a repercussão.
Seja quem for que tenha vazado, ele pôde comprovar uma máxima do
jornalismo brasileiro destes tempos: denúncia só é boa quando é contra
um petista.
Por Luciano Martins Costa em 23/07/2014 na edição 808
Comentário para o programa radiofônico do Observatório, 23/7/2014
Os principais jornais do país publicam nas edições de quarta-feira
(23/7) a mais recente pesquisa Ibope de intenções de voto para
presidente da República. Segundo as análises disponíveis na imprensa, os
números indicam que a Copa do Mundo não alterou o quadro eleitoral: a
situação é de relativa estabilidade, com a presidente Dilma Rousseff
(PT) mantendo suas chances de reeleição, com 38% dos votos contra 22% de
Aécio Neves (PSDB) e 8% de Eduardo Campos (PSB).
Num eventual segundo turno, a presidente seria reeleita com uma
vantagem de pelo menos 8 pontos porcentuais sobre o adversário mais bem
colocado.
O quadro pintado pelos analistas representa exatamente o oposto do
cenário ideal imaginado pelos coordenadores de campanha de Neves e
Campos: a atual presidente se aproxima do início da propaganda oficial,
quando terá o dobro do tempo de televisão e rádio de seu principal
oponente, em situação de estabilidade e com claras possibilidades de
consolidar sua base de votos.
Por outro lado, o senador tucano se atrapalha ao se defender da
acusação de que teria mandado construir com dinheiro público, quando era
governador de Minas Gerais, um aeroporto que serve apenas à sua
família.
Já o ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos, que vinha navegando em
águas serenas com seu discurso da mudança de hábitos na política, se vê
obrigado e enfrentar a primeira turbulência: a manchete da Folha de S.Paulo de quarta-feira (23) traz a acusação de que seu partido ofereceu propina para obter o apoio do Pros no Estado.
Enquanto Eduardo Campos se mobiliza para desfazer a crise nascida em
Pernambuco, Aécio Neves escorrega ao se negar a admitir que o aeroporto
construído com verbas públicas funciona irregularmente para uso privado.
O colunista Elio Gaspari afirma, na Folha, que “A explicação de Aécio não decola”.
Nesse cenário, as análises sobre os números das pesquisas eleitorais
mais recentes ganham outra dimensão, pois, como se sabe, a candidatura
que conta com mais tempo de propaganda nos meios massivos de comunicação
tem potencialmente mais probabilidade de ampliar a coleta de votos.
Serão quase dois meses de intenso bombardeio até serem ligadas as urnas
eletrônicas para o primeiro turno.
Os títulos trigêmeos
Voltemos, então, às pesquisas eleitorais e ao protagonismo partidário
da mídia tradicional. No dia 18 de julho, uma sexta-feira, a Folha de S. Paulo
anunciava o resultado da primeira pesquisa Datafolha feita após a Copa
do Mundo. A manchete do jornal paulista dizia o seguinte: “Dilma mantém
liderança, mas empata com Aécio no 2º turno”.
Curiosamente, na mesma data, o Estado de S. Paulo publicava também na primeira página o seguinte título: “Dilma lidera, mas empata com Aécio no 2º turno”. Já o Globo,
para não ser diferente, também publicou, no alto de sua primeira
página, ao lado da manchete: “Dilma lidera, mas empata com Aécio no 2º
turno”.
O fenômeno dos títulos trigêmeos demonstra o funcionamento da mídia
tradicional como um cartel e, mais do que isso, escancara a manipulação
de informações que marca a rotina dos três diários de circulação
nacional.
Na semana passada, os jornais apostavam numa virada das expectativas
eleitorais e embarcavam alegremente na versão do instituto Datafolha,
que forçou a margem de erros em nada menos do que 4 pontos porcentuais,
puxando para cima as chances de Aécio Neves e empurrando para baixo o
potencial de votos de Dilma Rousseff – para afirmar que eles estariam
“tecnicamente empatados”.
Na quarta-feira (23), quando o Ibope desmente frontalmente o Datafolha, o Globo e o Estado de S. Paulo, que encomendaram a pesquisa, dão detalhes do resultado, porque, afinal, são os patrocinadores. Mas só o Estado publica os dados em manchete.
Desprezando a solidariedade demonstrada pelos outros dois jornais na semana anterior, a Folha
ignora a pesquisa Ibope na primeira página e publica apenas um texto
curto no interior do caderno, sem explicar a enorme defasagem entre os
dois levantamentos.
Jornalistas sabem, ou deviam saber, que pesquisas de intenção de voto
são afetadas pelo contexto social e econômico – que pode ser
influenciado pela mídia. As escolhas dos editores têm sido orientadas,
incessantemente, para criar um clima pessimista em torno do governo
federal. Ainda assim, o Ibope revela que nada menos do que 54% dos
eleitores acreditam que Dilma Rousseff será reeleita.
Ibope repete Datafolha, mas desmonta “empate no 2° turno”. Preparando-se para o pouso?
23 de julho de 2014 | 10:54 Autor: Fernando Brito
Escrevi, há uma semana, que a pesquisa Datafolha registrava um quadro eleitoral sem mudanças,
exceto em uma: o acenar com possível empate em segundo turno, que se
construiria com uma inacreditável transferência dos votos de todos os
candidatos (de esquerda, de direita e até de nenhuma identidade) para
Aécio Neves.
A espequisa Ibope divulgada ontem repete, basicamente, os mesmo
números de 1° turno – Dilma teria 38%, Aécio 22% e Eduardo Campos, 8% –
mas uma diferença muito mais expressiva (e natural) no segundo turno,
dando 41% a Dilma e 33% a Aécio.
O resultado, que segundo dizem não assegura a vitória da Presidenta
no 1° turno - a soma de todos os demais candidatos daria 37%, um a
menos que os 38% de Dilma – , mostra, ao contrário, que existe uma
estabilidade que leva o início da campanha de televisão e rádio, onde a
candidata petista tem incrivel vantagem, tanto em tempo quanto em
realizações a mostrar – para um terreno onde a decisão sem novas
eleições não é só possível como, ao menos até agora, provável.
Ainda mais agora, quando a candidatura Aécio vai ter de passar da
ofensiva à defensiva, a partir do aeroporto construído e sem outro uso
senão o de servir de acesso à sua fazenda.
(Veja nos próximos posts como, pior ainda, os sinais de superfaturamento da obra são incontestáveis)
A batalha eleitoral está na mídia, como sempre esteve. Mas existem
indicações que a “unanimidade” pró-Aécio do conservadorismo possa estar
sendo quebrada por sua estagnação nas pesquisas.
Um análise, bem humorada, do meu amigo Hayle Gadelha, veterano em
eleições e análises de pesquisa e mídia, publicada em seu blog, mostra
que andam se apertando os cintos nos vôos tucanos.
Em 2010, no Ibope de julho, Dilma tinha 39%, Serra 34%, Marina 7% e os outros 1%.
Dilma, portanto, tinha 39 contra 42 da soma dos outros. Ou seja, não vencia no 1º turno.
Mas vencia no 2º turno por 46 a 40 de Serra.
Qual seria a manchete natural? “Dilma lidera e hoje venceria 2º turno”, certo? Errado.
Essa manchete voou no tempo e veio pousar na primeira página do Globo de hoje.
Você vai pensar que os números das pesquisas ocuparam os mesmos assentos em 2010 e 2014, mas perdeu o voo mais uma vez.
O Ibope divulgado ontem aponta Dilma com 38, Aécio com 22, Campos com 8 e todos os outros com 7.
Ou seja, Dilma vence no 1º turno de 38 a 37.
Essa poderia ser a manchete natural, mas parece que caiu no vácuo.
O que será que explica essa acrobacia aérea?
Na minha opinião, o Globo ficou com peninha dos tucanos e resolveu dar um empurrãozinho para ver se pega no tranco.
Um pouco de gás, digamos assim.
A oposição precisa acreditar que o seu plano de voo para vencer
esta eleição não tem nuvens pesadas pela frente. Mas está difícil
encontrar o tão sonhado céu de brigadeiro.
Talvez seja melhor tratar de pedir logo permissão para aterrissagem no aeroporto de Cláudio, MG… e boa viagem!
Além dos advogados que já o atendem, Aécio Neves contratou também mais
dois que foram ex-ministros do STF, para reforçar sua defesa em
possíveis processos civis e criminais, pela construção e uso do
aeroporto de Cláudio (MG), quando governador.
O advogado Ayres Britto e Carlos Velloso foram contatados para emitir
parecer sobre a legalidade da desapropriação da terra do tio, e só.
Mesmo assim, ambos fizeram ressalvas. Veloso estava em Portugal e
ressalvou que "enviava uma breve opinião legal" sobre o caso, dizendo
uma coisa genérica, praticamente descrevendo como é lei, e dizendo que
se a desapropriação foi feita, então a construção do aeroporto não
haveria ilegalidade quanto a esta questão, sem entrar em outros
questionamentos. Britto foi na mesma linha, citando a cronologia dos
documento de desapropriação e licitação para construção.
A coisa está tão feia que Aécio convocou entrevista coletiva, mas se
recusou a responder perguntas, se limitando a ler um texto preparado
como aval de seus advogados e marqueteiros. Nem isso o Jornal Nacional
da TV Globo levou ao ar, numa clara manobra de blindar o tucano no
noticiário. O telejornal nem tocou no assunto do dia a dia dos
candidatos para não expor Aécio, apostando no esquecimento do eleitor.
Uma pergunta muito simples Aécio se recusou a responder: Usou o não o
aeroporto? A reportagem do jornal Folha de São Paulo apurou com
testemunho de parentes de Aécio em Cláudio que ele usou sim, e várias
vezes. Isso pode complicar bastante a situação jurídica do tucano. Por
isso é compreensível que ele não responda aos repórteres e só fale em
juízo, mas não pega bem para sua imagem perante os eleitores.
Pelas declarações do senador tucano, a estratégia de defesa é focar só
na questão da legalidade da desapropriação do terreno do tio, sem entrar
em outros detalhes.
Porém a linha de investigação do Ministério Público vai bem além disso.
Começa em avaliar se a decisão de investir um valor tão alto do dinheiro
público em uma localidade sem movimento aéreo que justifique atendeu ao
interesse privado em vez de atender ao interesse público,
principalmente porque há um aeroporto regional ao lado na cidade de
Divinópolis, que atende perfeitamente a cidade de Cláudio.
Outra questão a ser investigada é se a escolha da terra do tio era a
mais adequada. O laudo ambiental da obra, mostra que a pista cascalhada
antiga não foi aproveitada, havendo aterros para nivelar a inclinação do
terreno, mudança do traçado, em área de plantação de cana e de
vegetação, sendo totalmente reconstruída. Diz que há uma linha de
distribuição de eletricidade em um extremo do terreno. No outro extremo
fica a curva da rodovia, o que coloca em dúvida se a localização foi
tecnicamente a mais acertada para desapropriar. Qualquer outro terreno
de cultivo ou de pasto meio plano e livre por ali serviria,
principalmente mais distante da linha de transmissão e da curva da
rodovia.
Ainda há o preço da obra. Aeroportos mais amplos e mais complexos
ficaram com o custo muito mais baixo. Houve ou não superfaturamento? E
além disso, a empreiteira que construiu o aeroporto foi doadora da
campanha dos tucanos.
Outro mistério é apurar porque está pronto há quase quatro anos sem
regularizar junto ao Comando da Aeronáutica e a ANAC. Sem isso o
aeroporto não pode ser aberto ao público para uso. Se o aeroporto fosse
necessário para atender a cidade, haveria interesse em abrir logo. É
mais indício de que a construção pode ter sido mais para atender o
interesse privado do senador.
É preciso apurar também porque deixar a posse de um bem público nas mãos
privadas de seus parentes, detentores das chaves, como apurou o jornal.
Também há a necessidade de apurar o uso do aeroporto sem licença para
pouso, como se fosse uma propriedade particular para uso exclusivo do
senador e de sua família.
A tentativa de retorno da velha direita brasileira
MARILZA DE MELO FOUCHER
Existe no Brasil uma estratégia muito bem
articulada com os setores conservadores da sociedade que contam com o
apoio da grande imprensa para preparar o retorno dos neoliberais ao
poder
Existe no Brasil uma estratégia muito bem articulada com os
setores conservadores da sociedade que contam com o apoio da grande
imprensa para preparar o retorno dos neoliberais ao poder. Entretanto, o
discurso utilizado contra a Presidente Dilma Rousseff e seu partido -
PT - parece não encontrar o eco necessário junto à maioria da população,
hoje muito mais politizada e menos manipulável.
O desespero se ampara dos conservadores brasileiros que esperavam a
derrota da seleção brasileira e apostavam no fracasso total do evento da
Copa mundial de futebol. O movimento "Não Vai Ter Copa" saiu de campo
com a bola furada! A campanha orquestrada no plano internacional para
desacreditar o Brasil foi logo desmascarada. O principal motor do
aquecimento da campanha presidencial da oposição falhou. Todavia, ela
não desarmou sua fortaleza e tudo já está preparado para a guerra
política. No momento que se aproxima a data da abertura oficial da
campanha presidencial o debate político vai se intensificar, todavia, a
tendência é de denegrir a política. Pelo visto, esta campanha se anuncia
como a mais violenta da historia da política brasileira. Possuídos pelo
sentimento de ódio, os representantes da direita, da elite
conservadora, perderam a capacidade do raciocínio político. Dificilmente
forjarão argumentos para entender por que perderam três eleições
presidenciais. Dificilmente esta ala reacionária da direita entenderá
por que um partido político como o PT chega ao poder liderado por um
operário metalúrgico que sem maioria para governar, chega a compor com
partidos ditos de direita e do centro e cria uma aliança estratégica com
o poder econômico e financeiro simplesmente para salvar o país da
bancarrota. Patriotismo econômico? Diriam alguns... Como este pequeno
operário e sua equipe conseguiram governar um país de dimensão
continental dentro das normas republicanas, sem grandes conflitos que
pudessem paralisar o funcionamento da democracia?
Como negar que o Brasil saiu da periferia para ser um ator influente
na cena internacional graças aos governos de Lula e Dilma? Na certa, os
artesãos de um mundo para todos estão conscientes do papel que o Brasil
pode jogar diante de um mundo multipolar. Todos esses avanços perturbam a
estratégia política dos conservadores de direita no Brasil.
Dar respostas coerentes com instrumentos pertinentes de análises
política e econômica será quase impossível para aqueles que não se
renovaram politicamente. Isto é fácil de observar, tendo em vista que no
plano ideológico o discurso dos adversários de direita é retrógrado e
não corresponde mais à evolução do pensamento político face ao desafio
de um mundo multipolar.
Talvez o melhor fosse dizer que existem hoje no Brasil velhas
direitas e esquerdas inovadoras que buscam alternativas num modo de
governar face à predominância do modelo neoliberal mundial. Esse tipo de
"esquerda tropical", por exemplo, a que governa o Brasil nesses últimos
dez anos, foge de todos os critérios de enquadramento ideológico que
lhe quer impor o campo da velha direita herdeira da Casa Grande e
Senzala. Os reacionários desta direita rançosa que defendeu a ditadura
no Brasil contra o perigo vermelho até hoje continua a promover um
anticomunismo primário que integram suas mentes afetadas por uma visão
simplista, reducionista que eles têm do Bem e do Mal.
A esquerda na América Latina, com rara exceção, é uma esquerda que
renunciou a transformar a sociedade pela via revolucionária, preferindo
transformá-la pela via democrática que incentiva a participação social.
Ao mesmo tempo em que tenta conciliar um modelo de desenvolvimento mais
igualitário respeitoso dos direitos humanos. Trata-se de uma esquerda
que não é contra a economia de mercado, todavia, tenta criar uma
economia mais solidária. Incentiva as empresas privadas a investir em
obras públicas optando por parcerias com o Estado.
O Estado sob os governos de Lula e Dilma se definiu como um Estado
regulador e promotor da inclusão social. Vale ressaltar que, apesar de a
maioria de brasileiros ter dado preferência aos candidatos do PT nesses
últimos anos, isto não quer dizer que as forças reacionárias e
conservadoras tenham diminuído no Brasil. Ao contrário, a ala
conservadora se revigora, surge hoje muito mais articulada e muito mais
perigosa. Eles serão capazes de investir todos os meios necessários para
impedir um novo mandato para a Presidente Dilma. Hoje a direita busca
aliados até no campo da esquerda da esquerda, nos extremos. Uma direita
que sem argumentos e sem proposta alternativa aposta no desgaste dos dez
anos de governos do Partido dos Trabalhadores. Repetem em bloco que o
PT e Dilma são responsáveis por tudo de mal que aconteceu no Brasil,
inclusive do vírus da corrupção que contaminou todas as instâncias do
poder e que persiste há séculos no Brasil!
Dotados de amnésia política, esquecem que eles estiveram ocupando
todos os poderes durante varias décadas, eles não somente compraram
votos para a reeleição do FHC, mas, assaltaram as riquezas nacionais
vendendo as grandes empresas publicas, privatizando as riquezas do solo e
subsolo a preços abaixo do mercado. Eles praticaram uma política de
depreciação do patrimônio nacional. Se eles tivessem permanecido por
mais um mandato a Petrobras seria privatizada como foi a Vale do Rio
Doce!
Apesar do bombardeamento mediático vai ser difícil suprimir da
memória de um povo a crise econômica, a agravação das desigualdades
sociais, da miséria urbana e rural vivida por milhões de brasileiro nos
períodos fastos da ideologia neoliberal defendida pelo PSDB e aliados.
Levar uma discussão a fundo sobre os resultados dos programas tanto
econômico como social dos governos do PT e aliados é uma tarefa difícil
para uma oposição rancorosa e movida pelo ódio.
A direita no Brasil tem um magro balanço apesar de quase um século
controlando as rédeas de todos os poderes no Brasil. Esta nunca se deu
conta que uma sociedade desigual engendra violência e acumula problemas
sociais. Daí o descaso que sempre tiveram no tratamento da exclusão
social. Basta ler e escutar o que diziam a respeito da bolsa família...
Para eles a Bolsa família era a "Bolsa Esmola", era um programa
puramente clientelista. Depois que a ONU considerou o programa como o
melhor exemplo a ser seguido de política publica de distribuição de
renda no mundo, eles passaram o formatar um novo discurso.
Nesse contexto, parece oportuno destacar a importância de políticas
públicas voltadas ao combate à pobreza e às iniqüidades durante os
governos de Lula e Dilma. Apesar de todos os investimentos, o atraso
acumulado durante séculos fazem que os índices de desigualdades no
Brasil ainda continuam elevados Sabe-se que as desigualdades geram uma
sociedade enferma, sem auto-estima, inclusive depressiva. Um dos
indicadores do sucesso dos programas de inclusão social realizados pelos
governos de Lula e Dilma é justamente o aumento da auto-estima nas
camadas pobres.
O dilema da velha direita será de argumentar com velhas receitas que o
neoliberalismo continua sendo a melhor via para governar o Brasil.
A Presidente Dilma, mesmo sendo criticada pela oposição de esquerda,
talvez tenha mais capacidade para propor mudanças para seu segundo
mandato do que a velha direita e seus aliados. Estes conservadores têm
um passado e um presente comprometido com a filosofia e ideologia
neoliberal.
Para os adeptos do neoliberalismo o Estado deveria ser privatizado
perdendo seu papel de regulador econômico e social. Como denunciar a
falta de serviços públicos quando eles sempre defenderam a privatização?
O que está em jogo hoje é um projeto de sociedade baseado numa nova
concepção de desenvolvimento que leve em conta a dimensão humana e os
desafios ambientais. A crise econômica re-legitimou o papel do estado,
todavia, urge agora uma redefinição no modo de intervir no
desenvolvimento territorial brasileiro levando em conta o potencial
sócio-econômico-cultural e a diversidade de nossos ecossistemas. A
referência "desenvolvimentista" baseada numa concepção puramente
economicista não é suficiente para reduzir os desequilíbrios regionais,
diminuir as desigualdades no meio rural, ou melhorar as condições de
vida em nossas cidades.
Diante da tristeza e vexame causados pelas duas últimas derrotas da seleção,
esta crônica de Drummond andou circulando bastante pelos blogs. Acabou que eu
só a reli ontem. De fato, é um texto primoroso, que permanece incrivelmente
atual. Por isso, reproduzo aqui para incentivar que mais pessoas possam ler.
*
Perder, Ganhar, Viver
Carlos Drummond de Andrade (JB, 7/7/1982)
Vi gente chorando na rua, quando o juiz apitou o final do jogo perdido; vi
homens e mulheres pisando com ódio os plásticos verde-amarelos que até minutos
antes eram sagrados; vi bêbados inconsoláveis que já não sabiam por que não
achavam consolo na bebida; vi rapazes e moças festejando a derrota para não
deixarem de festejar qualquer coisa, pois seus corações estavam programados
para a alegria; vi o técnico incansável e teimoso da Seleção xingado de bandido
e queimado vivo sob a aparência de um boneco, enquanto o jogador que errara
muitas vezes ao chutar em gol era declarado o último dos traidores da pátria;
vi a notícia do suicida do Ceará e dos mortos do coração por motivo do fracasso
esportivo; vi a dor dissolvida em uísque escocês da classe média alta e o surdo
clamor de desespero dos pequeninos, pela mesma causa; vi o garotão mudar o
gênero das palavras, acusando a mina de pé-fria; vi a decepção controlada do presidente,
que se preparava, como torcedor número um do país, para viver o seu grande
momento de euforia pessoal e nacional, depois de curtir tantas desilusões de
governo; vi os candidatos do partido da situação aturdidos por um malogro que
lhes roubava um trunfo poderoso para a campanha eleitoral; vi as oposições
divididas, unificadas na mesma perplexidade diante da catástrofe que levará
talvez o povo a se desencantar de tudo, inclusive das eleições; vi a aflição
dos produtores e vendedores de bandeirinhas, flâmuIas e símbolos diversos do
esperado e exigido título de campeões do mundo pela quarta vez, e já agora
destinados à ironia do lixo; vi a tristeza dos varredores da limpeza pública e
dos faxineiros de edifícios, removendo os destroços da esperança; vi tanta
coisa, senti tanta coisa nas almas…
Chego à conclusão de que a derrota, para a qual nunca estamos preparados, de
tanto não a desejarmos nem a admitirmos previamente, é afinal instrumento de
renovação da vida. Tanto quanto a vitória estabelece o jogo dialético que
constitui o próprio modo de estar no mundo. Se uma sucessão de derrotas é
arrasadora, também a sucessão constante de vitórias traz consigo o germe de
apodrecimento das vontades, a languidez dos estados pós-voluptuosos, que
inutiliza o indivíduo e a comunidade atuantes. Perder implica remoção de
detritos: começar de novo.
Certamente, fizemos tudo para ganhar esta caprichosa Copa do Mundo. Mas será
suficiente fazer tudo, e exigir da sorte um resultado infalível? Não é mais
sensato atribuir ao acaso, ao imponderável, até mesmo ao absurdo, um poder de
transformação das coisas, capaz de anular os cálculos mais científicos? Se a
Seleção fosse à Espanha, terra de castelos míticos, apenas para pegar o caneco
e trazê-lo na mala, como propriedade exclusiva e inalienável do Brasil, que
mérito haveria nisso? Na realidade, nós fomos lá pelo gosto do incerto, do
difícil, da fantasia e do risco, e não para recolher um objeto roubado. A
verdade é que não voltamos de mãos vazias porque não trouxemos a taça. Trouxemos
alguma coisa boa e palpável, conquista do espírito de competição. Suplantamos
quatro seleções igualmente ambiciosas e perdemos para a quinta. A Itália não
tinha obrigação de perder para o nosso gênio futebolístico. Em peleja de igual
para igual, a sorte não nos contemplou. Paciência, não vamos transformar em
desastre nacional o que foi apenas uma experiência, como tantas outras, da
volubilidade das coisas.
Perdendo, após o emocionalismo das lágrimas, readquirimos ou adquirimos, na
maioria das cabeças, o senso da moderação, do real contraditório, mas rico de
possibilidades, a verdadeira dimensão da vida. Não somos invencíveis. Também
não somos uns pobres diabos que jamais atingirão a grandeza, este valor tão
relativo, com tendência a evaporar-se. Eu gostaria de passar a mão na cabeça de
Telê Santana e de seus jogadores, reservas e reservas de reservas, como Roberto
Dinamite, o viajante não utilizado, e dizer-lhes, com esse gesto, o que em
palavras seria enfático e meio bobo. Mas o gesto vale por tudo, e bem o
compreendemos em sua doçura solidária. Ora, o Telê! Ora, os atletas! Ora, a
sorte! A Copa do Mundo de 82 acabou para nós, mas o mundo não acabou. Nem o
Brasil, com suas dores e bens. E há um lindo sol lá fora, o sol de nós todos.
E agora, amigos torcedores, que tal a gente começar a trabalhar, que o ano
já está na segunda metade?
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PAC 2 está no fim e metade das obras no Paraná nem foi licitada
De 2.381 obras programadas para o estado, 1.004 ainda não haviam sido iniciadas, de acordo com último relatório do programa
Publicado em 13/07/2014 | Fernanda Trisotto
Entrando
na reta final, a segunda edição do Programa de Aceleração do
Crescimento (PAC 2) concluiu pouco mais da metade das obras previstas
para os seis eixos do programa no Paraná. Cerca de 42% ainda nem saíram
do papel, especialmente as que foram propostas por municípios pequenos.
Os dados estão no último balanço do programa divulgado pelo governo
federal e representam o que foi feito até dezembro do ano passado.
Para críticos, PAC 3 em ano eleitoral teria motivação política
Com lançamento anunciado para agosto, o PAC 3 é alvo de críticas dos
especialistas ouvidos pela reportagem. Para Rodrigo Kanayama, professor
de Direito Financeiro da Universidade Federal do Paraná, a demonstração é
de que há uma carga política muito forte, já que obras remanescentes da
primeira versão do programa foram transferidas para a segunda edição,
que ainda nem terminou. “Não há problema em lançar o PAC 3 sem concluir o
2, desde que as obras estejam sendo executadas”, avalia.
Já para o professor de Administração Pública da UnB (Universidade de
Brasília) José Matias-Pereira, o cenário dos PACs é o retrato da
situação a que chegamos, de travamento da máquina pública, que é grave
para a sociedade. “Quando você vê uma gestão pública travada, isso quer
dizer que nada do que você precisa fazer vai avançar, porque ela é
incapaz de fazer as coisas movimentarem”, pondera.
Para ele, quando o governo lançou o PAC 1, uma das intenções era
vender a imagem da atual presidente como de uma pessoa empreendedora,
que teve continuidade com a segunda edição do programa. “Quando
examinamos o PAC, especialmente o 2, tem uma questão básica: o grande
motor é o Minha Casa, Minha Vida e isso não é realização do governo, é
concessão de empréstimo”, critica.
Matias-Pereira avalia que a soma dos PACs, daquilo que era importante
par a sociedade e serviria como alavanca para o desenvolvimento do país
não aconteceu, e agora ainda há um processo de estagnação na economia.
“Nós temos um problema muito sério de planejamento. O Brasil não sabe
para onde quer ir e quando isso acontece, qualquer caminho é válido”,
pondera.
Controle
Fiscalização de obras deve ser firme, alerta professor de Direito
Embora o governo federal faça relatórios periódicos sobre o andamento
das obras do PAC, uma fiscalização mais forte poderia ajudar esses
projetos a saírem do papel. Para o professor de Direito Financeiro da
UFPR, Rodrigo Kanayama, o peso de uma fiscalização local seria maior que
a da União, que pode ser feita até por amostragem.
“Acredito que junto com a liberação dos recursos, seria interessante
que as câmaras fizessem a fiscalização de recursos recebidos pelo
município”, defende. Para ele, uma hipótese seria a verificação da
liberação e aplicação desses recursos por um conselho popular do
município, mas esse tipo de mecanismo não existe.
Levantamento feito pela Gazeta do Povo com base no relatório
mostra que dos 2.381 projetos que constam, 1.004 ainda estão com o
status de ação preparatória ou em licitação. Muitos desses não têm
previsão de custo no documento, já que há uma ressalva de que podem ser
realizados por meio do Regime Diferenciado de Contratação (RDC). No
Paraná, outras 478 obras estão concluídas e 899 em andamento.
O panorama do relatório é limitado. Apesar de faltar seis meses para
que o PAC 2 seja ‘encerrado’ e de que uma terceira edição já tenha sido
sinalizada, novos projetos foram adicionados ao programa. Esse é o caso
de três grandes obras de mobilidade propostas por Curitiba (remodelação
do Inter 2, eixo Leste-Oeste do BRT e conclusão da Linha Verde), que
ainda não foram licitadas.
O alcance do programa é pior em dois eixos: Cidade Melhor, que reúne
obras de saneamento, pavimentação a mobilidade urbana; e o Comunidade
Cidadã, que tem os projetos de unidades de saúde, creches e quadras
esportivas. Nesses casos, a maior parte dos projetos foi proposto pelos
próprios municípios. Alguns desses foram selecionados ainda em 2010, mas
não avançaram e constam como em ação preparatória. Esse quadro se
repete mais nas pequenas cidades do interior.
Para o professor de Administração Pública da Universidade de
Brasília (UnB) José Matias-Pereira, esse problema não é exclusivo do
Paraná e se repete em todo o Brasil. “Os municípios têm um problema
básico de falta de estrutura e falta de competência, tanto no aspecto
técnico quanto no de gestão”, aponta. Para ele, mesmo recebendo algum
tipo de benefício ou recurso, esses municípios perdem a oportunidade de
aplicá-los porque o tempo passa e eles não são capazes de desenvolver ou
avançar esses projetos.
A falta de uma boa gestão para os recursos também é apontada como
problemática pelo professor de Direito Financeiro da Universidade
Federal do Paraná, Rodrigo Kanayama. “Falta planejamento nos municípios
pequenos, mas também falta integração desse ponto entre União, estados e
municípios”, pondera.
Outro fenômeno que prejudica a execução desses projetos tem a ver com
localização, no ponto de vista de Matias-Pereira. Para ele, as empresas
de maior porte muitas vezes não se interessam pelas cidades pequenas.
“Determinadas obras de infraestrutura exigem deslocamento de máquinas e
pessoas. Quando é alocado o recurso, isso não é levado em consideração e
pequenas obras em pequenos municípios acabam ficando muito caras”,
avalia.
Regime Diferenciado de Contratação requer mais atenção pelo sobrepreço
Com um grande número de obras que estão em fases de ação preparatória
ou em licitação no PAC 2, não há previsão de dotação orçamentária, em
partes porque o empreendimento pode ser realizado em Regime Diferenciado
de Contratação (RDC). Para Rodrigo Kanayama, professor de Direito
Financeiro da Universidade Federal do Paraná, o RDC não é um problema,
mas é necessário ficar atento aos contratos que serão firmados e em sua
previsão orçamentária.
O
professor de administração pública da Universidade de Brasília José
Matias-Pereira, pondera que a tendência nesse sistema é de as obras
saírem mais caras, porque as empresas têm vantagem para fazer o reajuste
de preço nessa modalidade. “Se essas diferenças de repasse de
contratação ficarem por conta dos municípios pequenos, a tendência é que
as obras não se concretizem”, analisa.
Com a volta do Principe da Privataria ao palanque presidencial e do chefe do clã da Privataria Tucana à disputa do Senado por São Paulo (só podia ser em São Paulo, berço do malufismo, janismo, ademarismo …) …
Por tudo isso, o Conversa Afiada resolveu oferecer aos amigos navegantes o artigo de Seumas Milne, no The Guardian inglês, em 9 de julho de 2014.
É uma singela homenagem aos colonizados que esperam do Hemisfério Norte as Tábuas da Lei:
A maré se volta contra o embuste da privatização
O renascimento
internacional da propriedade pública é anátema ao mundo da elite. Mas, é
vital para a recuperação genuína da Economia.
A privatização não
está funcionando. Nos prometeram democracia acionária, competição,
custos reduzidos e serviços melhores. Após uma geração, a experiência
da maior parte das pessoas tem mostrado o oposto. De energia a água,
ferrovias a serviços públicos, a realidade tem sido monopólios privados,
subsídios perversos, preços exorbitantes, sub-investimentos
lastimáveis, exploração e aprisionamento corporativo.
Os cartéis
privados ditam as regras aos reguladores. Consumidores e políticos são
ludibriados pelo sigilo comercial e complexidade contratual. A massa
trabalhadora tem seu salário e condições de trabalho reduzidos. O
controle de serviços essenciais passou para gigantes corporativos com
base em outros países e frequentemente de propriedade do Estado. Dessa
forma, as empresas e serviços privatizados apenas passam para as mãos
destes outros Estados.
Relatórios e mais relatórios tem mostrado
que serviços privatizados são mais caros e ineficientes do que a
contrapartida de propriedade pública. Não é surpresa que a maior parte
das pessoas que nunca apoiaram uma única privatização, não acredite nos
privatizadores e nem queiram seus serviços administrados por eles.
Mas,
independente das evidências, a caravana continua. O governo de David
Cameron (Primeiro-Ministro do Reino Unido) está dirigindo a
privatização, agora, para o coração da Educação e Saúde, terceirizando o
Serviço de Provação (instituto para tratamento de delinquentes jovens) e
vendendo uma parte do Royal Mail (o serviço postal nacional do Reino
Unido) por mais de um bilhão a menos do que o preço de mercado, com
membros do próprio governo manipulando a situação para que seja
antecipada.
Nenhuma soma de falhas desastrosas e malfeitos
fraudulentos parece impedir empresas como G4S, Atos e Serco de firmarem
contratos que já somam 80 bilhões de libras em negócios. Tal grupo de
empresas ainda exerce enorme influência sobre Westminster e Whitehall
(centro administrativo do Reino Unido)
Pode-se pensar que isso é
um prato cheio para a Oposição – e não há melhor exemplo do que o ralo
de dinheiro que é o sistema ferroviário britânico privatizado, que tem
sido o maior exemplo de disfunção da privatização. Forçar mercados
privados a um monopólio natural tem causado fragmentação, investimentos
baixíssimos, custo anual de 1.2 bilhões de libras, as tarifas de trem
mais caras da Europa, e mais do que o dobro do subsídio público
necessário antes da privatização.
A linha East Coast de
propriedade pública, em contraste, tem provido serviço muito melhor e
entregue 800 milhões de libras para o Tesouro público (não
diferentemente da Scottish Water, também de propriedade pública).
Então, naturalmente, a aliança que governa a venderá, enquanto o partido
trabalhista, o Labour agita-se para apoiar a demanda altamente popular
de renacionalização.
O deputado trabalhista Ed Balls, ministro na
“sombra” da Fazenda, agora defensor da chama oscilante do New Labour (o
Labour vestido com uma nova marca, que vigorou de meados dos anos 90
até o início dos anos 2 000 para reganhar a confiança do público no
partido), insiste em que “propriedade pública” seria “ideológica”. Os
aproveitadores do sistema ferroviário e os barões das corporações,
alarmados pelos planos de Ed Miliband – líder da Oposição trabalhista no
Parlamento - de congelar os preços da energia privatizada, concordam.
Então, o Labour está jogando com uma casa dividida, onde franquias
continuam, mas o setor público tem o direito de concorrer, bem como os
privatizadores, ao direito de administrar empresas e serviços.
É
um preço alto que se paga por essa confusão. A nacionalização do
sistema ferroviário tem a vantagem de não apenas ser popular, mas
inteiramente livre, ao passo que cada franquia pode ser trazida de volta
ao controle público à medida em que expira. Resistir a tais
circunstâncias só é possível a custa dos lobbies corporativos e
ideologia de mercado.
Mas, a necessidade de quebrar 30 anos do
dogma lastreado em dinheiro contra propriedade pública vai muito além
dos trilhos. As indústrias privatizadas não apenas falharam em servir
com eficiência, valor pelo dinheiro investido, responsabilidade e
trabalhos seguros. Elas também sugaram riquezas e o estilo rentista de
monopólios incumbentes concentraram a tomada de decisão sobre Economia
cada vez em menos mãos, aprofundaram a desigualdade de renda, e falharam
em realizar investimentos essenciais para o crescimento sustentável.
Numa
hora em que o setor corporativo inteiro se senta sobre uma montanha de
dinheiro não investido e sobre uma produtividade reduzida, a falta de um
motor econômico de propriedade pública para guiar a recuperação é
essencial. No caso da Energia, o sistema privatizado está falhando em
prover a mais básica meta de investimento – manter as luzes acesas.
A
alternativa de regulação mais severa, vista como a alternativa política
aceitável, significa tentar fazer por controle remoto, o que é muito
melhor feito diretamente e não resolverá o problema por conta própria. A
experiência tem mostrado que não se pode controlar o que não se possui.
Como
Andrew Cumber, acadêmico de Glasgow, argumenta num relatório para o
think-tank Class, não é apenas através de enormes incentivos e subsídios
perversos – bem como os pagos a empresas de propriedade do Governo
dinamarquês e sueco para atingir objetivos – que o Governo é capaz de
persuadir monólitos privados a fazer o que o setor público poderia ter
feito com custos muito mais baixos.
A necessidade de novas formas
de propriedade pública no setor bancário e de utilidades –
infraestrutura em energia, transporte e comunicações – é irrefutável.
Um grupo seleto de empresas de propriedade social e democraticamente
controladas poderia estabelecer o andamento dos investimentos,
reconstrução e mudança para uma “economia mais verde”.
É uma
política que tem o apoio da maioria do público, mas a elite
empresarial considera inaceitável. Seria proibitivamente cara, eles
alegam, e também um retrocesso. Na realidade, não há necessidade de
haver um custo líquido para os bolsos públicos. Mesmo que uma
compensação total a custos de mercado seja paga, seria em forma de troca
de ações por títulos governamentais. Os juros sobre os títulos teriam
que ser pagos, mas poderiam ser financiados com uma fatia do lucro
dessas empresas.
Mas, a classe governante do Reino Unido também
falhou em perceber o que está acontecendo no resto do mundo. Dos
Estados Unidos e América Latina ao Oeste Europeu e ao redor do mundo,
serviços públicos privatizados, utilidades e recursos tem sido trazidos
de volta à propriedade pública. Na última década, em 86 cidades, a água
voltou a ser propriedade pública. Apenas na Alemanha, mais de 100
concessionárias de energia retornaram à posse pública, desde a crise de
2007 e 2008.
Mesmo que austeridade econômica esteja sendo usada
para dar fôlego às privatizações, a maré tem começado a fluir em outra
direção. Uma nova onda em favor das propriedades públicas está tomando
formas inovadoras e as vezes híbridas, superando a fraqueza que outrora
assolava as indústrias nacionalizadas.
Mas, no Reino Unido, o
poder da “City” e os interesses instalados nos lucros das privatizações
são um grande obstáculo a essa mudança essencial. A pressão por uma
economia genuinamente mista – algo antes considerado a tendência de bom
senso – está fadada a crescer, à medida em que os custos e fracassos do
Capitalismo se acumulam. As ferrovias podem ser apenas o primeiro
passo.
“Ocupe-se de pouco para ser feliz”. Foi essa a primeira frase de um
livro de Demócrito, filósofo grego do século 5 a.C. O livro se chama
sobre o Prazer, e não chegou à posteridade senão por citações de outros
pensadores.
A palavra grega para tranquilidade da alma é euthymia, e sobre ela se
debruçaram intensamente os sábios. A recomendação básica de Demócrito,
sob diferentes enunciados, é encontrada sempre. Sobrecarregar a agenda
eqüivale a sobrecarregar o espírito, e traz inevitavelmente angústia.
Ninguém que tenha muitas tarefas, ou que se atribua muitas, pode ser
feliz.
Um homem sábio da Antiguidade não abria nenhuma correspondência
depois das quatro horas da tarde. Era uma forma de não encontrar mais
nenhum motivo de inquietação no resto do dia, que ele dedicava a
recuperar a calma que perdera ao entregar-se ao seu trabalho.
Se olharmos para nós, nos veremos com frequência abrindo mensagens no
computador alta noite, e não raro nos perturbando por seu conteúdo. O
único resultado disso é uma noite maldormida.
O fato é que fazemos muitas coisas desnecessárias. Coloque num papel
as atividades de um dia. Depois veja o que realmente era preciso fazer e
o que não era. Já fiz isto. A lista das inutilidades suplantou sempre a
das ações imperiosas.
O imperador filósofo Marco Aurélio, do começo da Era Cristã, louvou a
frase de Demócrito em suas clássicas Meditações. Acrescentou, com
sagacidade, que devemos evitar não apenas os gestos inúteis, mas também
os pensamentos desnecessários.
Marco Aurélio recomendava o formidável exercício de conduzir a mente,
quando desviada, para pensamentos relevantes. Isso conseguido, à base
de perseverança, controlamos a mente, esse cavalo selvagem, em vez de
sermos controlados por ela.
Ninguém escreveu com tanta graça sobre o tema como Sêneca, pensador
romano também dos primórdios da Era Cristã. Sêneca usou as expressões
“agitação estéril” e “preguiça agitada” ao tratar dos atos que nos
trazem apenas desassossego.
“É preciso livrar-se da agitação desregrada, à qual se entrega a
maioria dos homens”, escreveu Sêneca. “Eles vagam ao acaso, mendigando
ocupações. Suas saídas absurdas e inúteis lembram as idas e vindas das
formigas ao longo das árvores, quando elas sobem até o alto do tronco e
tornam a descer até embaixo, para nada. Quantas pessoas levam uma
existência semelhante, que se chamaria com justiça de preguiça agitada?”
Agimos como formigas quase sempre, subindo e descendo sem razão o
tronco das árvores, e pagamos um preço alto por isso: ansiedade,
aflição, fadiga física e mental. Nossa agenda costuma estar repleta. É
uma forma de fugir de nós mesmos, como escreveu sublimemente um poeta
romano. O resultado é inquietação.
Eliminar ao menos algumas das tantas tarefas inúteis que nos impomos a
cada dia é vital para a euthymia da qual falavam os sábios gregos. Quem
busca a paz fará bem em refletir na frase com a qual Demócrito iniciou
um livro que, tamanha era sua força, sobreviveu aos séculos, ainda que
com base apenas em citações.
Em uma manobra que gerou novo, e talvez o último, embate com seu sucessor na
presidência do Supremo Tribunal Federal, o ministro Joaquim Barbosa tenta
manter 46 funcionários de seu gabinete em cargos de confiança e funções
gratificadas mesmo após sua aposentadoria.
A tentativa de mantê-los é o motivo pelo qual Barbosa adiou
pela segunda vez seu pedido de aposentadoria, segundo a Folha apurou.
Ele anunciou
sua saída da corte no fim de maio, 11 anos antes do limite legal e a 5 meses do
término de sua presidência.
Será sucedido por Ricardo Lewandowski –que, como revisor do processo do
mensalão, relatado por Barbosa, tornou-se seu maior adversário no curso do
julgamento.
O novo atrito com Lewandowski começou na segunda, quando o presidente ligou
para o vice e pediu a manutenção dos assessores no gabinete da presidência do
STF. Lewandowski argumentou que não poderia se comprometer, já que precisará de
uma equipe de sua confiança.
Diante da resistência, e usando sua prerrogativa como presidente do STF,
Barbosa mandou às 20h do mesmo dia ofício a Lewandowski comunicando que os 46
servidores "deverão retornar" ao seu gabinete de ministro assim que
ele deixar a corte. Na prática, Barbosa determinou que Lewandowski transfira os
assessores da presidência para seu gabinete em posições similares às que
exercem hoje.
Com isso, a intenção de Barbosa é que a questão seja discutida com os demais
ministros do tribunal numa sessão administrativa em agosto, quando todos
voltarem das férias de julho. Barbosa adiou a aposentadoria para poder comandar
a discussão.
Isso causou desconforto no gabinete de Lewandowski. Pelas regras do tribunal,
os assessores dos ministros ocupam cargos de "livre exoneração, a qualquer
tempo". As regras permitem que, se não forem dispensados, eles continuem
no cargo até a véspera da posse do substituto do antigo chefe ou por mais 120
dias, no máximo, se a escolha do novo ministro demorar. Ou seja, eles poderão
ficar até quatro meses empregados no antigo gabinete de Barbosa.
Quatro ministros do STF ouvidos pela Folha dizem que o ofício de
Barbosa, apesar de legal, não é comum. A praxe é o presidente que deixa o cargo
entregar um pedido de exoneração de todos os funcionários. Os concursados são
realocados, e os que não são, deixam o Supremo.
O gabinete sem o novo ministro tem de ficar aberto para consultas a
processos existentes. Para esse serviço, bastam quatro ou cinco funcionários,
10% dos 46 que Barbosa deseja manter empregados. Cada gabinete tem, em média,
30 funcionários.
Em nota, Barbosa disse que não irá comentar o teor da "conversa
confidencial" que manteve com Lewandowski e que está fazendo tudo de
acordo com as normas de transição do STF e com base nas "tradições da
casa".
Disse ainda que as normas visam "conferir funcionalidade mínima
desejável ao gabinete do ministro que ingressará". Ele saiu de férias
segunda e retorna fim do mês.
Entre os funcionários em questão está o chefe de gabinete de Barbosa e sete
assessores diretos, dos quais seis não têm vínculo com o tribunal –quatro não
são concursados e os demais são cedidos ao STF por outros órgãos.
Se a manobra do ministro vingar, esses seis servidores sem concurso
continuarão empregados recebendo salário de R$ 10.352,52, mais auxílios moradia
e alimentação que ultrapassam R$ 3 mil. Outros 9 em funções comissionadas
recebem gratificações.
Em banners nas bancas, Veja “chuta” Dilma e sugere que ela é pé frio
publicado em 12 de julho de 2014 às 13:07
por Luiz Carlos Azenha
Rodrigo Vianna, um dos dois grandes jornalistas que assinam com este
nome, costuma dizer que as manchetes de jornais expostas em milhares de
bancas são uma forma de propaganda eleitoral. Frequentemente, aquelas
manchetes acabam na propaganda eleitoral. Quantas foram feitas
especificamente para aparecer na propaganda eleitoral? Não sabemos. As
manchetes, afinal, permitem a um partido confirmar uma tese ou teoria de
sua plataforma, endossada pela suposta isenção da imprensa. “Viu, não
somos nós, são eles que estão dizendo”.
Diante das bancas, muita gente só lê a manchete — tristemente, no Facebook do Viomundo, descobri que alguns poucos internautas também fazem o mesmo.
No mundo jurídico, as manchetes também importam.
Manchetes de jornal e reportagens encomendadas serviram a um certo
banqueiro, por exemplo, para embasar ações na Justiça. Via imprensa,
você provoca ou justifica ações de autoridades. É um conluio sobre o
qual alguém, algum dia, precisa escrever um livro.
Esta é uma capa clássica de Veja. Quando saiu, Roseana Sarney, do PFL, ameaçava a candidatura de José Serra ao Planalto, em 2002.
Ela veio logo depois de a Polícia Federal apreender, no Maranhão, R$
1,3 milhão em dinheiro vivo num escritório de Jorge Murad, então marido
de Roseana. O senador José Sarney atribuiu a ação a uma armação federal.
Um conluio entre uma banda do Ministério Público, da PF e da imprensa.
Depois da ação, o então presidente Fernando Henrique teria recebido um
fax no Planalto confirmando que a ação tinha sido bem sucedida.
Mas o que nos interessa, neste caso, é a capa da Veja.
Notem a foto de Roseana encolhida, sob o título.
Notem a denúncia contra o PFL, antigo aliado do PSDB, no topo: O partido sai do governo, mas negocia tudo nos bastidores com FHC, ou seja, traia a candidata Roseana.
Roseana caiu 5 pontos em uma pesquisa de intenção de voto, é outra manchete, para provar a tese de que a candidata havia de fato encolhido.
Nenhuma das 100 maiores empresas brasileiras guarda 1,3 milhão de reais no cofre, dizia mais uma, caracterizando a apreensão como algo de realmente extraordinário.
Documentos no escritório da governadora ligam sua empresa a suspeitos de fraudes na Sudam, foi o texto de outra chamada.
Usimar: o megaescândalo teve o dedo de Murad e a bênção de Roseana, denuncia mais uma.
É o que a gente pode chamar de overkill.
Não tenho dados para confirmar ou negar qualquer das denúncias. Mas,
considerando que o PFL era um aliado de oito anos do PSDB, é de
estranhar que tenham sido feitas justamente quando o PSDB se sentia
ameaçado…
Veja e Época, coincidentemente,
saíram com capas vermelhas, cor utilizada por editores de arte quando
querem chamar muita atenção, fazer estardalhaço. O tom dos dois
semanários também é muito semelhante: enquanto Veja abre 19 páginas para a candidata que encolheu, conforme a sua capa, Época dedica
15 aos segredos revelados — uma reportagem apresentando o conteúdo de
pacotes numerados que estão em poder da Justiça e cujo teor deveria ser
sigiloso. Tanto Época como Veja mostraram a seus leitores
a já famosa foto do R$ 1,3 milhão em notas de R$ 50, apreendidas na
busca na empresa da governadora. Os outdoors de Veja,
espalhados por quase todas as capitais do País, foram mais longe e
afirmaram em letras garrafais: Está sobrando dinheiro no Maranhão.
Ah, sim, obviamente as mesmas fotos que sairam nas revistas Veja e Época estrelaram reportagem do Jornal Nacional.
Não é muita coincidência?
Quanto eu era repórter da TV Globo, em São Paulo, durante a campanha eleitoral de 2006, notei a mesma coincidência: capa de Veja repercutida acriticamente no Jornal Nacional de sábado e a partir de domingo pelos grandes jornalões.
Agora, a “campanha antecipada” de Veja foi turbinada. A Abril, editora da revista, também pendura grandes cartazes nas bancas. Por exemplo, este:
Agora, dá pra ver bem à distância.
O que diz? Dilma pós-Copa. Alguém arrisca um chute?
Não é uma ideia original de Veja a
de chutar alguém — Lula teria tomado um chute no traseiro, como “bobo da
corte” de Hugo Chávez, “que tramou o roubo de patrimônio brasileiro na
Bolívia”, por conta da justa nacionalização do gás e do petróleo
promovida por Evo Morales, seguindo uma tendência internacional que vai
da Noruega à Arábia Saudita:
A foto que acompanha a reportagem é a que
Dilma postou em uma rede social na véspera do Alemanha 7 x 1 Brasil, o
que me parece sugerir que a presidente é pé-frio, não sabe o que diz ou é
incompetente por não prever o desastre.
Mas, além de Dilma não figurar na zaga do Felipão, quem previu Alemanha 7 x 1?
Aécio Neves, o candidato do PSDB, certamente
não o fez. Ele foi ao Mineirão e saiu antes de o jogo terminar. Ele
esperava a goleada? Uma vez confirmada, não deveria ter assistido o jogo
até o fim em solidariedade aos jogadores brasileiros? Não deveria ter
dado uma declaração de apoio aos atletas pós-jogo? Se alguém é pé-frio,
seria Dilma longe do estádio ou Aécio nele?
O curioso é que, logo depois dos 5 a 0, o estádio irrompeu no canto de “Ei, Dilma, VTNC”.
Qual é a lógica:? A presidente jogou mal? Não comprou o resultado? Escalou o time?
Ou será que os puxadores dos gritos estavam ensaiados para tal eventualidade?
Durante o período dos protestos nas ruas
brasileiras, durante a Copa das Confederações, a Globo tratou de
separar claramente: o governo Dilma era uma coisa, a seleção era outra. O
primeiro ia fracassar na Copa, a segunda seria bem sucedida na
conquista do hexa.
Agora, claramente, o objetivo é confundir os
dois. Dilma não fez os gols necessários, não serviu Neymar, não armou as
jogadas, deixou um buraco no meio do campo e teve um verdadeiro apagão
contra a Alemanha.
Diante do sucesso da Copa e da tragédia
antecipada que não aconteceu — nos aeroportos, nas comunicações e nos
estádios –, o discurso mudou 360 graus.
E a revista Veja, especialmente, com seus critérios “matemáticos”, tem um bom motivo para lançar uma cortina de fumaça:
Pode ser, também, apenas um estímulo para que os leitores de Veja,
majoritários entre os brasileiros que ocuparão as arquibancadas do
Maracanã, “chutem” Dilma diante de milhões de telespectadores durante a
final Alemanha x Argentina.