terça-feira, 1 de julho de 2014

Reforma Política:

Reforma Política: só com Lula na rua - Carta Maior

Reforma Política: só com Lula na rua

A
pouco mais de cem dias das eleições a rotatividade na política
brasileira é tão intensa que fica difícil acompanhar o sopão das siglas
que se misturam.

por: Saul Leblon




A pouco mais de cem dias das
eleições de outubro a rotatividade na política brasileira é tão intensa
que fica difícil acompanhar o sopão das siglas se misturam pela manhã
para se dissociarem à noite.

O ziguezague forma um caldeirão
desprovido de qualquer  coerência retrospectiva ou prospectiva, para não
falar de referencias de somenos importância, como história, ideologia,
programas ou projetos de nação.

O cenário político estilhaçado é
um dos gargalos à continuidade do desenvolvimento brasileiro, que requer
o lastro de amplas maiorias para seguir em frente.

Hoje, é essa lava de interesses incandescentes que modela a composição e a lógica do Congresso brasileiro.

Vinte
siglas se digladiam ali num jorro desordenado a equiparar a coerência
programática de qualquer governante ao desafio de conduzir um trem longe
dos trilhos.

Todos os governantes e todos os partidos são reféns dessa montanha russa desengonçada que compõe o sistema político brasileiro.

O sobe e desce abrupto nos dias que correm tem provocado  sugestivas manifestações de enjoo e indigestão.

O Prefeito do Rio, Eduardo Paes, por exemplo.

Ex-demo,
ele  classificou de ‘bacanal’ a possível junção entre PMDB, seu atual
partido, e o PSDB,  na disputa pelo governo do Estado.

Dias
antes, fora a vez de a palavra ‘suruba’ dar o ar da graça no noticiário,
para classificar o apoio do PSB ao PT na mesma disputa fluminense. O
desabafo veio então do deputado federal pelo PSB, ex-verde, Alfredo
Sirkis.

Beirando o despudor em relação ao eleitorado, ao
contribuinte e à democracia, o  presidenciável Aécio Neves esponjou-se
nesse ambiente carregado de cenas explícitas de promiscuidade.

O
tucano exortou os convivas a um comportamento que ilustra o seu conceito
de retidão republicana e respeito ao país e ao povo: ‘Suguem mais um
pouquinho e depois venham para o nosso lado’, disse esse que se anuncia
um cruzado mudancista na vida política nacional.

A sucção tem
funcionado bem no seu nariz, mais precisamente em São Paulo, onde
Alckmin apunhala Serra e ‘aspira’ Kassab, do PDS --que apoia Dilma-- 
para candidato a senador, na vaga do PSDB.

Foi no âmbito desse
corso financiado pelo dinheiro privado  –com todos os complementos daí
decorrentes--  que a discussão sobre a ‘corrupção petista’, catalisada
pelo julgamento da AP 470, assumiu contornos de um imenso biombo.

Savonarolas
de biografias inflamáveis e togas coléricas cerraram fileiras para
fazer desse episódio  uma nuvem de fumaça capaz de desviar a atenção
daquilo que o circunstanciava e decifrava: a urgência de uma reforma
política para  libertar a democracia da subordinação a interesses que se
impõem à revelia das urnas.

Alertas como os feitos atualmente
por dirigentes do PT e membros do governo  --que advertem para a
disseminação do estigma conservador, que colou no PT  o carimbo de
corrupção --   são benvindos.

Mas correm o risco de perder a
força renovadora que carregam, sempre que cederem lugar ao lamento
reiterativo, em detrimento da mobilização por uma Constituinte destinada
a promover uma mudança efetiva na política do país.

Lula, em vídeo recente em defesa dessa bandeira (https://www.youtube.com/watch?v=q1X66PR3KZ), foi eloquente em evocar a sua importância como um divisor na história brasileira.

“Para
o Brasil continuar mudando, é preciso garantir a legitimidade das
instituições e acabar com a interferência do poder econômico nas
eleições”, afirmou reiterando que ela é ‘cada vez mais necessária e
urgente; um clamor, que nasce das ruas, que vem da sociedade’.

O
ex-presidente que deixou o governo com 80% de apoio popular pede adesão a
um manifesto que pretende reunir 1,5 milhão de assinaturas para propor
ao Congresso Nacional a convocação de uma Constituinte, exclusiva e
soberana, com essa finalidade.

 A manifestação é convincente e
ilustrativa da centralidade que a radicalização da democracia passou a
ocupar na visão petista do que é prioritário – indispensável-- para
destravar o passo seguinte desenvolvimento brasileiro.

Mas carece, ainda, de um lastro mobilizador efetivo.

A
ausência desse requisito reflete certa prostração do campo
progressista, que hesita em transformar o  aggiornamento histórico de
suas reflexões em mobilizações de massa, necessárias para alterar, de
fato, a correlação de forças que está na origem dos impasses
brasileiros.

Intervenções como a de Lula terão a força requerida
pelo objetivo a que se propõem, quando forem parte de um engajamento
prático.

Uma determinação feita de agendas, comícios e
caminhadas, claramente traduzidos em locais e datas que ofereçam
alternativas à participação organizada de amplas esferas da sociedade,
para além da franja dos iniciados.

Não apenas isso.

É indispensável  explicitar o vínculo entre democracia e superação da encruzilhada do desenvolvimento do país.

Portanto, entre reforma política e retomada do crescimento brasileiro.

Trata-se
de rejeitar a mística conservadora de uma estabilidade em si da
economia, fruto da terceirização dos destinos da sociedade aos impulsos
dos ‘livres’ mercados.

Em primeiro lugar, a ideia de um capitalismo em equilíbrio é uma contradição nos seus próprios termos.

No
capitalismo, a estabilidade reivindicada pela ortodoxia equivale, na
verdade, à paz salazarista dos cemitérios, na qual o povo faz o papel de
defunto e o dinheiro grosso, o de coveiro.

A retomada do
crescimento por aí tem outro nome: concentração de renda; expropriação
de direitos trabalhistas; regressão social e alienação do patrimônio
público.

É o oposto do compromisso com a melhoria efetiva da qualidade de vida das amplas massas brasileiras.

 Só
há uma receita econômica compatível com esse pacto: aquela que entende o
desenvolvimento como um processo histórico de transformação da
sociedade, o que implica superar estruturas existentes e criar outras
novas.

Isso não se faz a frio.

 Ao contrário do que
sugerem os dogmas neoliberais apregoados pelo jornalismo isento, quem
determina a coerência macroeconômica nesse processo é a correlação de
forças de cada época.

Dito de forma muito clara: para romper os
torniquetes do dinheiro grosso é necessário poder; e poder hoje no
Brasil implica subtrair espaços do mercado em favor da democracia.

Quem
pode propiciar isso  é uma reforma política que amplie os canais de
participação popular e assegure maior legitimidade à representação da
sociedade.
Lula disse em recente encontro de blogueiros, em maio, que ela virá das ruas.
E ela só virá das ruas se Lula estiver nas ruas.

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