Vidas paralelas
Postado em 03 jul 2014
As fotos falam sozinhas.
É um Joaquim Barbosa reluzente, com ares de estrela de Hollywood, que você vê se despedindo do STF.
Jornalistas se apressaram em tirar selfies ao lado de JB. Seu futuro é
previsível. Fora a pensão vitalícia de quase 30 mil reais, a
possibilidade de fazer palestras em série com cachês milionários.
Quanto tempo vai demorar até que JB se torne colunista do Globo ou da
Folha, comentarista da CBN e da Globonews – todas aquelas coisas,
enfim, que alavancam você para a vida de palestrante?
A direita cuida dos seus.
Mas antes de tudo o ócio esplêndido, gasto em parte provavelmente no
apartamento de Miami comprado com um expediente para evitar imposto.
A foto do segundo homem é bem diferente. É um Zé Dirceu muito mais
magro e claramente abatido que é fotografado a caminho do seu emprego.
Foram sete meses de prisão por um capricho de Joaquim Barbosa, que
contrariou uma jurisprudência consagrada para mantê-lo trancafiado.
Neste período de mais de meio ano, enquanto Barbosa fazia coisas como
dar um giro pela Europa e ver num camarote a abertura da Copa do Mundo,
Dirceu desfrutava o que a mídia chamava de “regalias” da Papuda.
O banheiro, por exemplo, não tem vaso sanitário, apenas um buraco.
Mas para a mídia era como se Dirceu estivesse no George 5 de Paris.
Ainda agora é este o tom. Leio no site do Globo que “especialistas
dizem que Dirceu debochou” dos brasileiros ao sair da prisão numa Hilux
com motorista.
Como ele deveria sair para satisfazer o Globo? Ele deveria ir a pé para o trabalho? Numa perua Brasília 1974? De quatro?
Vou ver quem é o “especialista”. É Bolívar Lamounier, apresentado
como “cientista político”, simplesmente. Pobres leitores do Globo.
Talvez eles imaginem que Lamounier seja um analista “isento” e não, como
é, um antigo militante do PSDB.
O que Lamounier tem a dizer sobre Robson Marinho, de seu partido,
mantido há tantos anos no Tribunal de Contas do Estado mesmo sob
evidências cabais de contas secretas na Suíça?
Então ficamos assim: o Globo quer que alguém bata em Dirceu e vai
procurar esta pessoa no PSDB. Diz que ela é “especialista”, para lhe
conferir autoridade. Só não avisa seu leitor de que o “especialista”
pertence ao PSDB.
Num certo momento, pouco mais de dez anos atrás, as vidas de Joaquim
Barbosa e José Dirceu se cruzaram. Estavam em situação diferente da
atual.
Barbosa batalhava, sôfrego, por uma vaga no STF, e Dirceu era um ministro poderoso.
Algum tempo depois, no Mensalão, os papeis tinham mudado. Barbosa era Deus e Dirceu o demônio.
Nos últimos meses, em mais um giro da roda, Barbosa era o homem que
podia fazer de Dirceu um presidiário em tempo integral, mesmo sob a
reprovação de quase todos os seus colegas de STF – e fez.
Agora, Barbosa parte para um futuro que promete trazer dinheiro e
status em grandes quantidades. Dirceu é uma incógnita: como a temporada
na prisão o afetou?
Como a posteridade tratará dois homens tão diferentes mas que compartilharam uma mesma história de forma tão intensa?
Representam visões tão opostas que um haverá de aparecer como vencedor e o outro como vencido nos livros de história.
Qual o vencedor, qual o vencido?
Façam suas apostas, amigos.
Tenho a minha.
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