quarta-feira, 23 de julho de 2014

Verdades, mentiras e manipulação -

Verdades, mentiras e manipulação - Comentário para o programa radiofônico do Observatório, 23/7/2014 | Observatório da Imprensa | Observatório da Imprensa - Você nunca mais vai ler jornal do mesmo jeito

Verdades, mentiras e manipulação


Por Luciano Martins Costa em 23/07/2014 na edição 808
Comentário para o programa radiofônico do Observatório, 23/7/2014















Os principais jornais do país publicam nas edições de quarta-feira
(23/7) a mais recente pesquisa Ibope de intenções de voto para
presidente da República. Segundo as análises disponíveis na imprensa, os
números indicam que a Copa do Mundo não alterou o quadro eleitoral: a
situação é de relativa estabilidade, com a presidente Dilma Rousseff
(PT) mantendo suas chances de reeleição, com 38% dos votos contra 22% de
Aécio Neves (PSDB) e 8% de Eduardo Campos (PSB).
Num eventual segundo turno, a presidente seria reeleita com uma
vantagem de pelo menos 8 pontos porcentuais sobre o adversário mais bem
colocado.
O quadro pintado pelos analistas representa exatamente o oposto do
cenário ideal imaginado pelos coordenadores de campanha de Neves e
Campos: a atual presidente se aproxima do início da propaganda oficial,
quando terá o dobro do tempo de televisão e rádio de seu principal
oponente, em situação de estabilidade e com claras possibilidades de
consolidar sua base de votos.
Por outro lado, o senador tucano se atrapalha ao se defender da
acusação de que teria mandado construir com dinheiro público, quando era
governador de Minas Gerais, um aeroporto que serve apenas à sua
família.
Já o ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos, que vinha navegando em
águas serenas com seu discurso da mudança de hábitos na política, se vê
obrigado e enfrentar a primeira turbulência: a manchete da Folha de S.Paulo de quarta-feira (23) traz a acusação de que seu partido ofereceu propina para obter o apoio do Pros no Estado.
Enquanto Eduardo Campos se mobiliza para desfazer a crise nascida em
Pernambuco, Aécio Neves escorrega ao se negar a admitir que o aeroporto
construído com verbas públicas funciona irregularmente para uso privado.
O colunista Elio Gaspari afirma, na Folha, que “A explicação de Aécio não decola”.
Nesse cenário, as análises sobre os números das pesquisas eleitorais
mais recentes ganham outra dimensão, pois, como se sabe, a candidatura
que conta com mais tempo de propaganda nos meios massivos de comunicação
tem potencialmente mais probabilidade de ampliar a coleta de votos.
Serão quase dois meses de intenso bombardeio até serem ligadas as urnas
eletrônicas para o primeiro turno.
Os títulos trigêmeos
Voltemos, então, às pesquisas eleitorais e ao protagonismo partidário
da mídia tradicional. No dia 18 de julho, uma sexta-feira, a Folha de S. Paulo
anunciava o resultado da primeira pesquisa Datafolha feita após a Copa
do Mundo. A manchete do jornal paulista dizia o seguinte: “Dilma mantém
liderança, mas empata com Aécio no 2º turno”.
Curiosamente, na mesma data, o Estado de S. Paulo publicava também na primeira página o seguinte título: “Dilma lidera, mas empata com Aécio no 2º turno”. Já o Globo,
para não ser diferente, também publicou, no alto de sua primeira
página, ao lado da manchete: “Dilma lidera, mas empata com Aécio no 2º
turno”.
O fenômeno dos títulos trigêmeos demonstra o funcionamento da mídia
tradicional como um cartel e, mais do que isso, escancara a manipulação
de informações que marca a rotina dos três diários de circulação
nacional.
Na semana passada, os jornais apostavam numa virada das expectativas
eleitorais e embarcavam alegremente na versão do instituto Datafolha,
que forçou a margem de erros em nada menos do que 4 pontos porcentuais,
puxando para cima as chances de Aécio Neves e empurrando para baixo o
potencial de votos de Dilma Rousseff – para afirmar que eles estariam
“tecnicamente empatados”.
Na quarta-feira (23), quando o Ibope desmente frontalmente o Datafolha, o Globo e o Estado de S. Paulo, que encomendaram a pesquisa, dão detalhes do resultado, porque, afinal, são os patrocinadores. Mas só o Estado publica os dados em manchete.
Desprezando a solidariedade demonstrada pelos outros dois jornais na semana anterior, a Folha
ignora a pesquisa Ibope na primeira página e publica apenas um texto
curto no interior do caderno, sem explicar a enorme defasagem entre os
dois levantamentos.
Jornalistas sabem, ou deviam saber, que pesquisas de intenção de voto
são afetadas pelo contexto social e econômico – que pode ser
influenciado pela mídia. As escolhas dos editores têm sido orientadas,
incessantemente, para criar um clima pessimista em torno do governo
federal. Ainda assim, o Ibope revela que nada menos do que 54% dos
eleitores acreditam que Dilma Rousseff será reeleita.

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