Da Folha
Declaração de não voto
Por Clóvis Rossi
Como diria Dilma Rousseff, estou estarrecido com a quantidade de
amor e ódio que vertem sem parar as redes sociais e alguns colunistas.
amor e ódio que vertem sem parar as redes sociais e alguns colunistas.
Não é apenas que não me comovem. É que não entendo como seres
racionais podem ter o cérebro dominado pelo fígado, em relação aos
adversários, ou pelo coração, em relação a seu próprio time.
racionais podem ter o cérebro dominado pelo fígado, em relação aos
adversários, ou pelo coração, em relação a seu próprio time.
Sou bicho raro a quem não assustava minimamente a possibilidade nem de reeleição de Dilma nem de vitória de Aécio Neves.
Antes de mais nada porque acho que os governos Fernando Henrique
Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva foram os melhores --ou, no mínimo,
os menos ruins-- de toda a minha vida adulta, os últimos 50 anos.
Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva foram os melhores --ou, no mínimo,
os menos ruins-- de toda a minha vida adulta, os últimos 50 anos.
Tiveram defeitos? Incontáveis. Espero tê-los apontado todos no
devido momento. Os méritos, estes sim deixei de apontar pela simples e
boa razão de que fazer bem as coisas é a obrigação de quem governa.
devido momento. Os méritos, estes sim deixei de apontar pela simples e
boa razão de que fazer bem as coisas é a obrigação de quem governa.
Elogiar o mero cumprimento da obrigação seria aceitar a mediocridade como regra. Não dá.
Por tudo isso, me estarrece que haja adultos, alguns deles
veteranos na observação da cena política, capazes de enrolar-se na
bandeira de um partido e de deixar que ela os cegue em relação aos seus
defeitos.
veteranos na observação da cena política, capazes de enrolar-se na
bandeira de um partido e de deixar que ela os cegue em relação aos seus
defeitos.
Como me estarrece que se tornem em uma espécie de "black-blogs",
empenhados em destruir o inimigo, que deveria ser só adversário, se o
combate político fosse civilizado.
empenhados em destruir o inimigo, que deveria ser só adversário, se o
combate político fosse civilizado.
Nada contra a paixão, fique claro. Mas quem ama não mata. Nem fica
cego. Ainda mais que paixão e ódio giram em torno de agendas vencidas.
cego. Ainda mais que paixão e ódio giram em torno de agendas vencidas.
Está vencida a agenda da estabilização econômica, a grande marca do
tucanato, conforme reconheceu Dilma, na carta em que cumprimentou FHC
pelo 80º aniversário.
tucanato, conforme reconheceu Dilma, na carta em que cumprimentou FHC
pelo 80º aniversário.
Está pelo menos iniciada a inclusão social, a grande marca de Lula, internacionalmente reconhecida.
O que deveria, agora, despertar paixões incontroláveis é a a agenda
das revoluções que o Brasil necessita. Não deixo por menos: revoluções,
sim, não meras reformas.
das revoluções que o Brasil necessita. Não deixo por menos: revoluções,
sim, não meras reformas.
Revolução política, porque não há um único país minimamente sério
que tenha 28 partidos representados na Câmara de Deputados, como
ocorrerá no Brasil em 2015.
que tenha 28 partidos representados na Câmara de Deputados, como
ocorrerá no Brasil em 2015.
Não é sério um país em que quase dois terços são pobres (24,5%) ou vulneráveis (37,5%).
Não é sério um país que passa tremenda vergonha em rankings internacionais de educação, de competitividade ou de corrupção.
Não é sério um país cujos habitantes sufocam no trânsito cada vez
que saem de casa. Não é sério um país em que a atenção à saúde é o que
todos sabemos.
que saem de casa. Não é sério um país em que a atenção à saúde é o que
todos sabemos.
Não é sério um país cujos habitantes são submetidos diariamente a
uma roleta russa, porque não sabem se a bala que lhes está destinada
chegará hoje ou amanhã.
uma roleta russa, porque não sabem se a bala que lhes está destinada
chegará hoje ou amanhã.
Há alguém aí que acredita de verdade que o PT ou o PSDB, os
partidos em que a maioria dos brasileiros depositou suas esperanças, é
capaz de resolver essa ampla agenda?
partidos em que a maioria dos brasileiros depositou suas esperanças, é
capaz de resolver essa ampla agenda?
Ou a sociedade se mobiliza para empurrá-la para a frente ou acabará se afogando em fel.
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