domingo, 23 de novembro de 2014

Não falta médico no Brasil

Não falta médico no Brasil, nem para estrangeiro, mas só quando se pode pagar bem | TIJOLAÇO 











Não falta médico no Brasil, nem para estrangeiro, mas só quando se pode pagar bem

21 de novembro de 2014 | 08:48 Autor: Fernando Brito
turismomedico


A agência de notícia das Alemanha, a Deutsche Welle,
publica que o Brasil recebeu 180 mil turistas em 2013 em busca da
realização de procedimentos de baixa, média e alta complexidade, nos
cálculos de uma instituição (que ironia…) chamada “Pacientes sem
Fronteiras”.


Diz a dirigente de uma empresa que se dedica a capitalizar este
“mercado”: “”Entre os diferenciais do Brasil estão a qualidade,
tecnologia, custos competitivos em algumas áreas, especialidades
técnicas e centenas de hospitais que possuem acreditações
internacionais.”


Muito bem. Ninguém pode ser contra termos  médicos de alta competência e ótimos hospitais privados.


Aliás, o Brasil sempre produziu ótimos médicos, desde os voltados
para a saúde pública, como Carlos Chagas e Oswaldo Cruz, como os de alta
especialização, como Ivo Pitanguy e Euryclides Zerbini, os dois aliás,
com uma carreira marcada pelo aprendizado ao longo de sua atuação em
hospitais públicos ou semi-públicos. O primeiro, no Hospital do Pronto
Socorro e na Santa Casa de Misericórdia e o segundo na USP.


Mas como é que podemos nos conformar com que neste país capaz de
 importar pacientes do exterior não haja médicos para atender os
brasileiros do interior (e da periferia das grandes cidades),
simplesmente porque a perspectiva da medicina é ganhar muito e rápido.


Pior, como é que se pode aceitar que importemos pacientes que querem
médicos brasileiros e não toleramos que se importe médicos para
brasileiros, que precisam de médicos e para os quais não os há
brasileiros?


No mundo globalizado, não há porque continuarmos a ser o velho “país
dos contrastes”, porque não somos “dois” países: um bem-sucedido, que
compete internacional de medicina (algo que clama aos céus como uma
aberração: mercado de medicina!) e outro, desastroso, onde as pessoas
morrem sem atendimento de saúde o mais básico imaginável.


Não há contradição entre medicina de alta tecnologia e especialização
e saúde pública. Ou melhor, parece só existir na mente de uma elite
médica que deixou de lado  a essência da medicina: os seres humanos são
iguais aos médicos e “em todas as casas em que entrar, fá-lo-ei apenas
para benefício dos doentes”, como jurou Hipócrates.


Morreu, há dias, um médico que não vivia este padecimento mental em
que parecemos  nos atolar. O Dr. Adib Jatene poderia viver apenas de
seus conhecimentos, de uma caríssima clínica particular. Foi à luta,
porém, pelo direito de todos, inclusive com a heresia de criar um
imposto, a CPMF, para financiar o atendimento público universal.


É triste ver que as entidades médicas, que deveriam ser um Norte
ético e humanitário para uma categorias de profissionais que dependem,
como poucos outros, de ética e humanidade em sua missão, transformadas
em defensoras de reservas de mercado e desprezo pelos seres humanos que
morrem por falta de atenção, seja de quem for.

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