domingo, 23 de novembro de 2014

Um passo atrás não é nada,

Um passo atrás não é nada, o problema é não mostrar para onde se vai | TIJOLAÇO | 











Um passo atrás não é nada, o problema é não mostrar para onde se vai

23 de novembro de 2014 | 07:37 Autor: Fernando Brito
re2


Dilma deve ter perdido as eleições.


Não porque tenha nomeado Kátia Abreu para o Ministério da Agricultura.


É algo muito mais aceitável do que o pais pagar os juros que pagamos aos especuladores.


Mas porque parece estar montando o ministério com um senhor: a mídia.


Voltou a falar aos brasileiros com a mesma avareza que fazia antes da campanha eleitoral.


Deixando que a mídia, ou o “super-fonte” palaciano Aloizio Mercadante
diga onde esteve, com quem esteve, a quem convidou  para ministro e de
quem levou um “não!”.


Mercadante é a Marta Suplicy remanescente: só pensa em São Paulo e, por isso, só cuida da mídia.


Foi espetacular o sentimento de fidelidade a um Brasil justo que o eleitor mostrou.


Dima não venceu “apertado”, venceu “com folga”, dada a campanha de
mídia que se desfechou sobre ela, num quadro de crise econômica.


Venceu com os que não lhe pediam nada.


Mas parece estar disposta a governar com os que lhe exigem tudo.


Confiando apenas no que ela própria é e do que nenhum de nós duvida que seja.


Só que este é o caminho da solidão.


E solidão não transforma.


Desemboca, no mínimo, em decepção. No máximo, em tragédia.


A presidenta ganhou aplausos no início do seu primeiro mandato.


Ia fazer a “faxina”.


Isso é permanente, não é performático.


Moralista performático só serve para pedir a ditadura na Avenida Paulista.


Ninguém  é cego ou imbecil ao ponto de  não entender que um governo tem de fazer concessões.


Mas um governo, antes de tudo, precisa expor convicções.


E, até agora, o que se expôs, parece, é a falta de convicção.


Leia o artigo de Janio de Freitas, hoje, ao qual ele, gentilmente, ele deixou de dar o título apropriado  de “Marcha a ré” .


O primeiro passo

Janio de Freitas
A escolha de Joaquim Levy para o Ministério da Fazenda, vista de
fora, é uma decisão política, não econômica. Faz supor uma escolha de
Dilma Rousseff por temor da voracidade com que os conservadores
ambicionam a retomada do Poder perdido. Presenteia-os, parece, na
suposição de aplacá-los.



De fora, ainda não há como saber –e muito menos crer– de algum
entendimento prévio sobre linha de política econômica que possa tornar a
escolha mais inteligível. Seja como for, coerente com o sentido da
campanha de Dilma, não é.



A escolha não tem coerência nem com o momento em que é feita. Na
manhã mesma em que fez uma reunião para definir a escolha, liberada não
oficialmente à tarde, o caderno “mercado2″ da Folha apresentava
como manchete: “Desemprego recua em outubro e atinge 4,7%; renda bate
recorde”. A seção “Economia” do “Globo”, com uma nota na primeira
página, também dava como manchete: “Emprego em alta, renda recorde”.



Aos dois jornais não faltaram, claro, o “mas” e o “apesar de”.
Ainda assim, das manchetes pode-se entender que a economia esteja mais
para o massacrado Guido Mantega do que para o Joaquim Levy que bem
poderia ser ministro em um governo de Aécio Neves.



O histórico de Joaquim Levy não deixa dúvida sobre o seu
conservadorismo, posto em prática evidente ao menos desde que foi
secretário de Assuntos Econômicos do Ministério do Planejamento no
governo Fernando Henrique. Conservadorismo confirmado no governo Lula,
quando foi um dos inspiradores da política econômica que consagrou
Antonio Palocci nos setores do domínio financeiro. E conservadorismo
consolidado como secretário do Tesouro, quando Levy foi o ponto de
resistência a gastos e outras medidas de linha social pretendidas no
governo Lula.



Caso o histórico não baste, o presente garante: se não fosse
adepto de concepções do conservadorismo neoliberal, Joaquim Levy não
seria diretor do Bradesco. O que prova não se tratar, até agora, de
pessoa incoerente.



Também sem comunicação oficial quando escrevo, a apontada
indicação da senadora Kátia Abreu para a Agricultura sugere, ou
confirma, uma disposição incomum de Dilma Rousseff para incrementar
problemas com as correntes não conservadoras. A senadora exerce com
muita competência a liderança do agronegócio e dos grandes proprietários
de terra. Mas nem todos os interesses que defende coincidem com o que
deveriam ser objetivos do governo, de todo governo.



Dilma Rousseff entra no segundo mandato devendo muito para
reparar os desempenhos deploráveis do seu governo em três capítulos da
desgraça nacional: o problema indígena, sem as demarcações territoriais
devidas e com o genocídio em progressão; a questão fundiária em geral,
com imensos territórios tomados e explorados; e, ainda e sempre, a
reforma agrária, pendente de correções e de avanços. Três assuntos em
que o responsável pela Agricultura tem deveres e poderes muito grandes.
Três assuntos em que os interesses representados pela senadora Kátia
Abreu conflitam, em todos os sentidos desta palavra, com as vítimas e
com as obrigações e as dívidas administrativas e sociais do governo
Dilma.



O primeiro movimento para o novo governo parece feito em marcha a ré.

Nenhum comentário:

Postar um comentário