domingo, 9 de novembro de 2014

Outras dívidas eleitorais -

Outras dívidas eleitorais - 09/11/2014 - Poder - Folha de S.Paulo

Janio de Freitas

Outras dívidas eleitorais



Se a investigação sobre as prisões no aeroporto de Brasília continuou, a PF deve à sociedade as informações
Pela quarta vez, o estímulo procedente da Polícia Federal para as
tendências do eleitorado não resultou. E as investigações desses
estímulos, também não.





Logo depois de definidos os disputantes do segundo turno, os três
passageiros de um táxi aéreo foram presos pela PF ao descerem no
aeroporto de Brasília. Revistados, dizia o primeiro noticiário que um
tinha R$ 80 mil, outro levava R$ 30 mil, e R$ 6 mil o terceiro. Esse
total de R$ 116 mil foi baixando nos dois ou três dias em que ainda
houve noticiário a respeito. Os três voltavam de Belo Horizonte, onde
haviam trabalhado na campanha de Fernando Pimentel.





Fernando Pimentel? Petista. Benedito Rodrigues de Oliveira Neto,
empresário gráfico que levava a maior quantia, havia produzido material
impresso para a campanha petista e em 2010 fora interrogado pela PF, a
pretexto de um tal dossiê que seria elaborado em Minas contra José
Serra.





E o crime de agora? Nenhum. Não é ilegal transitar com dinheiro de
procedência legítima, voltando os três de atividades remuneráveis. Bem,
um inquérito ia verificar se, por acaso, não se tratava de lavagem de
dinheiro. E, para isso, por que precisariam ir três, levando quantias
tão diferentes, e pagando um táxi aéreo para levar soma que não
justificaria a despesa? Sem resposta.





Mas a PF teve a gentileza de cometer uma imprudência sugestiva de
armação. Com as informações da prisão no aeroporto de Brasília, alguns
jornais e TVs exibiram uma foto do embarque de Benedito no avião em Belo
Horizonte. Autor, aquele nomezinho quase ilegível que os jornais grudam
nas fotos? Nenhum. A foto foi fornecida às redações para acompanhar a
notícia de prisão dos três petistas portadores de dinheiro dado como
suspeito. Não houve uma ação preventiva da PF em Brasília. Houve uma
armação começada em Belo Horizonte, passada à imprensa e à TV como um
fato bem sucedido da PF. E com implicações políticas e eleitorais.





Faz um mês que o assunto apareceu e desapareceu. Se a própria PF
interveio na PF e esvaziou o balão, não precisa fazer cerimônia. Pode
informar a população sobre o que foi aquilo e sobre o inquérito. Fará
bem à sua imagem e ninguém pedirá punição de policiais. Como não foi
pedida quando daquele dinheiro "achado" em São Luís. E do dinheiro
"achado" no caso dos "aloprados" (este, com a colaboração dramatúrgica
do Ministério Público Federal). E do "dinheiro cubano" também "achado",
antes de enriquecer a campanha de Lula, em caixa de bebidas dirigida a
um diplomata cubano.





Se a investigação continuou, hipótese pouco atraente, a PF deve à
sociedade as informações a respeito. Afinal de contas, foi da PF que
saíram as informações e a foto destinadas ao eleitorado que se voltava
para sua decisão do segundo turno. Já basta a dívida imensa da PF com o
seu silêncio antidemocrático sobre os epílogos daqueles três casos. A
população precisa e quer ter confiança na PF.





Por esse mesmo motivo, mas também por outros, a pesarosa morte de
Eduardo Campos não justifica que a Polícia Federal não esclareça as
zonas escuras de onde saiu, para a campanha eleitoral, o jato da
fatalidade. O começo da busca de explicação, nas primeiras semanas
depois do desastre, sustou-se deixando apenas estranhezas. Está aí a
direção do PSB enrolada com esse assunto, que prometeu deixar limpo em
sua prestação de contas à Justiça Eleitoral, e mais complicou ao
prestá-la sem dar conta do avião e seu uso. Diz que depende da Anac, mas
não é de quilômetros voados que se trata. E a Polícia Federal sabe
disso.





MUITO INTRIGANTE





Demétrio Magnoli escreveu que defini "a reportagem de Veja' (e talvez a confirmação da mesma Folha...)
como uma investida originada na imprensa para interferir na disputa
eleitoral', sugerindo paralelos entre a publicação da denúncia e o golpe
militar de 1964".





Não é verdade. Era uma nota sobre Alberto Youssef. Não citei a "Veja", o
próprio Magnoli transcreve a palavra imprensa. Não é verdade que haja
na nota qualquer sugestão, ainda que apenas insinuada, de "paralelos"
com o golpe de 64, que nada tinha com o assunto. O paralelo seria
simplesmente imbecil.





Não foi a mim que esse paralelo ocorreu.


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