segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Batalha perdida - Ricardo Noblat: O Globo

Batalha perdida - Ricardo Noblat: O Globo: "Batalha perdida

“Eu sou um piano de cauda. Não caibo num único ministério”, observou Ulysses Guimarães, então presidente do PMDB e da Câmara dos Deputados, em conversa com o presidente eleito Tancredo Neves no início de 1985. Ulysses emplacou três ministros de uma vez – Pedro Simon, Renato Archer e Waldyr Pires. Tancredo morreu em abril sem tomar posse.

Em agosto de 1961, quando Jânio Quadros renunciou à presidência da República, João Goulart, seu vice, só tomou posse depois que o Congresso trocou o regime presidencialista pelo parlamentarista. Foi a maneira encontrada pelos políticos para contornar o veto dos militares a Goulart. Tancredo elegeu-se primeiro ministro.

Tão logo encontrou Goulart, ouviu dele: “Você tem um longo parecer de sua assessoria que lhe garante todo o poder. Mas eu também tenho um da minha que me assegura todo o poder. Precisamos nos entender”. Não foi tão difícil. Tancredo respondeu: “O senhor me dá Minas e fica com o resto do país”.

Quer dizer: caberia a Tancredo indicar os ocupantes de todos os cargos federais que tivessem ligações com Minas, seu Estado natal. “É, mas também quero algumas coisas em Minas”, rebateu Goulart. Tancredo retrucou: “Então você me dá os ministérios dos Transportes e do Trabalho e fica com os demais”. E assim se fez.

Quando governou Minas nos anos 80, Tancredo foi procurado certo dia por seu secretário Ronaldo Costa Couto com a proposta de demitir 22 mil servidores para enxugar despesas. Tancredo hesitou. Não gostava de demitir. Cedeu, mas pediu ao secretário que contratasse cerca de mil pessoas com as quais tinha dívidas de gratidão.

No dia seguinte, ao ler na capa do jornal Estado de Minas que o governo dera a largada para um “novo trem da alegria”, Costa Couto reapresentou-se irritado a Tancredo. “Como a gente demite 22 mil servidores e a notícia que sai é sobre contratados?” Tancredo ensinou: “Mineiro gosta de nomeação. Fui eu que dei a notícia para o jornal”.

Tempos relativamente ingênuos, aqueles, onde os políticos competiam por cargos para empregar amigos, parentes e afilhados. Os empregados retribuíam com pequenos favores. Havia algum tipo de roubalheira, sim, sempre houve. Mas nada que se parecesse com o que ganharia corpo mais tarde. Com o que existe hoje.

A presidente Dilma Rousseff está empenhada em evitar que o loteamento de cargos entre partidos abra espaço em excesso para trambiques que resultem em futuros escândalos. Ao contrário de Lula, ela não parece ser muito tolerante com desvios de conduta. E, de resto, carece de lábia para enfrentar dificuldades só na base do gogó.

Determinadas áreas do governo foram reservadas por Dilma para ser entregues a técnicos de reconhecida competência. Ora, sem problemas. Os partidos dispõem de nomes para toda obra. Quer um técnico? Solta um técnico! E uns mais, outros menos, todos acabarão por servir a interesses nada republicanos dos seus patrocinadores.

Vem sendo assim. E nada sugere que deixará de ser assim.

Parlamentares fazem emendas ao Orçamento da União destinando recursos para entidades e prefeituras que os ajudaram a se eleger. Em seguida, precisam que os ministérios liberem a grana prevista nas emendas. Aí costumam ocorrer os pequenos e médios trambiques.

Os maiores, que dependem de pessoas bem situadas nos escalões mais elevados de ministérios, empresas estatais e bancos públicos, passam por licitações viciadas, isenções de tributos, pagamento de comissões – e sabe-se lá mais o quê. Os beneficiados contribuem para engordar o caixa de campanha dos partidos.

Um ministro do governo Lula, obrigado a lidar diretamente com deputados e senadores, decidiu escrever um diário. Por quase 30 dias, registrou tudo o que ouviu dos seus interlocutores. Imaginava manter o diário inédito até a sua morte. Por fim, achou mais seguro tocar fogo nas anotações. “Aquilo tudo era impublicável”, lamentou.

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domingo, 30 de janeiro de 2011

Empresas jornalísticas são cúmplices em vigarice de bilhões de reais

Empresas jornalísticas são cúmplices em vigarice de bilhões de reais: "As empresas jornalísticas da velha mídia, rápidas em divulgar “iniciativas cidadãs” como a bobagem descontextualizada do Impostômetro, não movem uma letra em favor do cidadão contra um crime de bilhões de reais: a exigência de provedor para acesso à internet por ADSL. O motivo do silêncio é muito simples: as empresas jornalísticas, através de seus portais, são cúmplices do golpe contra o consumidor porque ganham assinantes. Embora os portais tenham de pagar uma taxa às teles para participar da maracutaia, sua base de assinantes seria bem menor sem a obrigatoriedade ilegal.

As telecoms dizem que a assinatura de “provedor internet”, através de autenticação no momento em que se inicia a conexão, é necessária quando se contrata acesso à internet por ADSL.

Mentira.

Basta se usar o comando “router” dos sistemas operacionais para se verificar que o tráfego do usuário não passa em nenhum momento pelos “provedores”. Os números IP do modem ADSL também mostram que o IP designado aos usuários, o IP gateway (a porta de entrada à internet) e os servidores de nomes ((DNS) também não são dos “provedores”, são da própria telecom. Tecnicamente, os provedores são desnecessários. Tanto, que o acesso por cabo de TV não usa este golpe.

Eventualmente, as telecoms dizem que a Anatel exige o provedor. Outra mentira. Uma simples ligação ao telefone 133 da Anatel pode confirmar que a agência reguladora não exige nada de “autenticação” ou “provedor”. Anatel diz que não regula esta matéria e isto é uma exigência contratual das telecoms.

Temos aí várias violações à Lei 8.078 de 1990, o “Código do Consumidor”:

* Informação enganosa na hora da venda. As telecoms dão um preço pelos planos de acesso, mas não divulgam o preço total, incluindo a autenticação obrigatória pelo contrato, sem a qual não se poderá obter o acesso. Viola o artigo 31: “A oferta e apresentação de produtos ou serviços devem assegurar informações corretas, claras, precisas, ostensivas [...]“. A mentira de que a autenticação é necessária, quando não é, viola o artigo 39, inciso IV: “prevalecer-se da fraqueza ou ignorância do consumidor, tendo em vista sua idade, saúde, conhecimento ou condição social, para impingir-lhe seus produtos ou serviços”.
* Venda “casada”. Viola o artigo 39, inciso I: “condicionar o fornecimento de produto ou de serviço ao fornecimento de outro produto ou serviço [...]“.
* Venda de serviço desnecessário. Vender uma autenticação desnecessária viola, no meu entender, o artigo 6º: “São impróprios ao uso e consumo: [...] III. os produtos que, por qualquer motivo, se revelem inadequados ao fim a que se destinam”.

Ao longo dos anos, os consumidores têm sido obrigados a recorrer à Justiça para valerem seus direitos. Em 2008, uma liminar deu aos usuários do Paraná o direito de acesso à internet sem provedor, mas a liminar caiu em 2010.

Segundo a Teleco, existiam 8.641.000 assinaturas ADSL no Brasil, em 2010. O preço mais barato do “provedor” é de cerca de 10 reais por mês. Então, as telecoms estão subtraindo dos brasileiros, muito por baixo, 86 milhões de reais por mês, UM BILHÃO de reais por ano.

E os grandes portais de notícias são cúmplices deste saque. Mas isto nós nunca veremos nos noticiários da velha mídia.

* Mais informações na Sociedade Brasileira dos Usuários de Acesso Rápido.

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Blog do Sakamoto » Blog Archive » Parabéns, São Paulo! Você continua injusta

Blog do Sakamoto » Blog Archive » Parabéns, São Paulo! Você continua injusta: "De Washington – Amo São Paulo.

Gosto de viver nessa cidade. De acordar, insone, às quatro da amanhã e ter a certeza de que dá para ir a algum lugar. Assistir a filmes ou a peças de teatro que quiser sem ter que pegar uma ponte aérea. Rodar o mundo pelos diferentes gostos de seus restaurantes. Encontrar na diversidade de origens, cores e formas pessoas tão interessantes quantas posso imaginar. De saber que a informação e o conhecimento fluem rápidos, de fora ou de dentro, para a cidade.

Posso rodar o país e o mundo mas invariavelmente volto para aí, meu porto seguro, onde me identifico, onde as coisas fazem sentido. Onde meus amigos, emoldurados pela cidade, me lembram através do reflexo que vejo neles quem eu sou, de onde vim, para onde vou. Nasci aí, mas o mais importante é que adotei a cidade depois que aprendi a andar com as próprias pernas. Ser paulistano não tem a ver com o local onde você teve o cordão umbilical cortado, mas onde você amarrou seu burro.

Amo São Paulo e, por isso mesmo, sinto um aperto no peito. Como posso gostar de um lugar onde o povo não aprendeu a ser cidadão, onde os eleitos se furtam a cuidar da pólis; que pensa que só porque é maior e mais rico, é melhor do que o resto do país; que insiste em se afirmar como reserva moral e guia econômico dos outros estados; que acredita piamente ter sido incumbido de uma missão divina de guiar o Brasil para o seu futuro; que tem como lema que ostenta a sua bandeira “Non Ducor Duco” (Não sou conduzido, conduzo)? Uma cidade que joga para longe os pobres, traz para perto os endinheirados, bate na sua população de rua, espanca homossexuais e ainda reclama da selvageria que ocorre além de Queluz?

O “paulistanismo”, o nacionalismo paulista, funciona como uma espécie de seita radical para os seus adeptos. Mesmo as pessoas mais calmas viram feras, libertando uma fúria bandeirante que parecia, historicamente, reprimida dentro do peito. O pessoal que vira de nome de avenida, escola, praça, escultura, Palácio de Governo. Nossos heróis são Domingos Jorge Velho, Antônio Raposo Tavares, Fernão Dias Paes Leme, Manuel Preto, Bartolomeu Bueno. Repito o que aqui já disse, o fato de São Paulo ter escolhido os bandeirantes como heróis diz muito sobre o espírito do estado.

As pessoas não entendem como um neto de imigrantes, com cara de japonês, paulistano com sotaque carregado e que foi estudante da USP pode escrever coisas assim. Bem, se você gosta de algo e vê problemas nela, tem duas opções: a) ignora tudo e cria um mundo de fantasia na cabeça; b) critica e atua para construir alternativas. Mas, cuidado ao escolher “b”, pois quem chama para o enfrentamento de idéias e propõe mudança no status quo é taxado como baderneiro em São Paulo.

Logo após a fundação da vila de São Paulo de Piratininga, José de Anchieta, com a ajuda de índios catequizados, ergueu um muro de taipa e estacas para ajudar a mantê-la “segura de todo o embate”, como descreveu o próprio jesuíta. Os indesejados eram índios carijós e tupis, entre outros, que não haviam se convertido à fé cristã e, por diversas vezes, tentaram tomar o arraial, como na fracassada invasão de 10 de julho de 1562. Ao longo dos anos, a vila se expandiu para além da cerca de barro, que caiu de velha. Vieram os bandeirantes já supracitados, que caçaram, mataram e escravizaram milhares de índios sertão adentro. Da África foram trazidos negros, que tiveram de suportar árduos trabalhos nas fazendas do interior ou o açoite de comerciantes e artesãos na capital. No início do século 19, a cidade tornou-se reduto de estudantes de direito, que fizeram poemas sobre a morte e discursos pela liberdade. Depois cheirou a café torrado e a fumaça de chaminé, odores misturados ao suor de imigrantes, camponeses e operários.

Mas, apesar da frenética transformação do pequeno burgo quinhentista em uma das maiores e mais populosas metrópoles do mundo, centro financeiro e comercial da América do Sul, o muro ainda existe, agora invisível. Só quem não quer enxergar vê na capital paulista uma terra em que todos têm direitos e oportunidades iguais.

Eu disse no último 9 de julho e reafirmo que a esperança de São Paulo é que uma nova geração, liberal em costumes, progressista politicamente, consciente com relação ao meio ambiente e aos direitos sociais e civis, menos arrogante e com uma atuação realmente federalista, consiga emergir com força em meio à decadência quatrocentona, travestida de modernidade ao longo do século 20, que ainda reina.

Se houve melhora na maneira como a administração municipal trata os mais humildes, isso se deve à sua própria mobilização, pressão e luta e não a bondades de supostos iluminados ou da esmola das classes mais abastadas. Até porque nossos “grandes líderes” naufragam em tempos de chuva e são reduzidos a pó em tempos de seca.

Baseado nisso, eu que não sou pessimista, mas realista, neste 25 de janeiro me encho de forças não-sei-de-onde e peço para acreditarmos em São Paulo, uma vez que a semente da mudança que vai conduzi-la para um lugar melhor, mais justo, está dentro dela mesma. Tenho a certeza de que se a política higienista do município que arrota grandeza não acabar com aqueles que há mais de quatro séculos são “indesejados”, eles vão assumir essa mudança, tomando a rédea de suas vidas, e mudando as nossas para melhor. Pois enquanto a maior parte dos seus habitantes estiver do lado de fora do muro invisível que cerca a cidade, comemorar essa data significa um ato de memória e de luta e não um momento de festa.

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Governo Dilma começa mal na questão do acesso ao conhecimento « A2K Brasil

Governo Dilma começa mal na questão do acesso ao conhecimento « A2K Brasil: "Dentre outras ações que entram em desacordo com o Plano Nacional de Cultura, o Projeto de Lei que fortalece medidas de combate à pirataria também se fundamenta em conceitos bastante equivocados

Ao contrário do previsto, o governo da presidente Dilma Roussef, não teve um bom começo para os críticos da atual lei brasileira de direitos autorais e ativistas do movimento de acesso ao conhecimento, que ressaltam a importância de se estabelecer exceções e limitações aos direitos de propriedade intelectual, em especial aquelas já previstos em acordos internacionais.

As razões para essa consideração são claras: o primeiro projeto de lei enviado ao Congresso pelo Executivo trata do fortalecimento das medidas de combate aos chamados “crimes de pirataria” e surgiu logo após a nomeação de uma Ministra da Cultura bastante simpática aos interesses dos representantes Escritório Central de Arredação e Distribuição de Direitos Autorais (ECAD) – o principal opositor à reforma da lei de direitos autorais, que, dentre seus primeiros atos, retirou as licenças do Creative Commons do site do Ministério. Essa postura representa um possível retrocesso ao processo de reforma da lei de direitos autorais em curso há anos e que inclusive está prevista nos dispositivos do Plano Nacional de Cultura, que, dentre outros, estabelece como objetivos: ” adequar a regulação dos direitos autorais, suas limitações e exceções, ao uso das novas tecnologias de informação e comunicação”. Enquanto o fato da retirada das licenças CC do site do Ministério e a possibilitade de congelamento da reforma da lei de direitos autorais tem reverberado críticas pela Rede, pouco tem se discutido sobre o PL de pirataria, que traz conceitos equivocados e também deveria ser amplamente debatido pela sociedade. Proposto em 5 de janeiro, numerado como PL 8052/2011 , o projeto de lei altera o Código de Processo Criminal com o objetivo de acelerar o julgamento de crimes envolvendo violação de direitos autorais. As medidas propostas incluem a diminuição dos requisitos para reter e armazenar bens apreendidos e o direito de estabelecer perícia por amostragem, ao invés de uma avaliação completa dos itens apreendidos (uma questão relevante quando se trata de grandes quantidades de cds, por exemplo).

O texto foi escrito pelo Conselho Nacional para Combate à Pirataria e Delitos contra a Propriedade Intelectual (CNCP), comitê interministerial que é composto também por organizações da indústria. Criado em 2004 em resposta às demandas da indústria e às pressões de enforcement por parte do Special 301, publicado anualmente pelo Departamento de Comércio dos EUA (USTR), o CNCP logo se tornou o principal fórum de esforços antipirataria no Brasil e o principal fórum para o desenvolvimento de políticas de enforcemente de PI no nível federal, culminando com o lançamento do Plano Nacional para Combate à Pirataria em 2005 (e uma versão substancialmente revisada em 2009). Embora, em razão dessas medidas adotadas pelo governo, o Brasil tenha sido retirado da Priority Watch List do Special 301 desde 2007, as reclamações por parte da indústria não pararam.

Enquanto o governo brasileiro realizava consideráveis esforços na década passada para se adequar às demandas do governo norte-americano, continuamos sem qualquer evidência – no Brasil e em qualquer outro lugar – de que a pirataria esteja em declínio e provavelmente continuaremos assim. Ao contrário, a pirataria mostra sinais de crescimento na medida em que as tecnologias para cópia e compartilhamento de mídias se tornam mais baratas, mais disseminadas e mais variadas. Mas a indústria de conteúdo insiste em medidas de repressão como uma forma de retardar a onda de compartilhamentos, já que com essa postura são garantidos mais alguns anos de lucro com o uso dos mesmos modelos tradicionais de negócio. Como claramente apontado no relatório brasileiro do estudo “Media Piracy in Emerging Countries”, em breve disponível no site do Social Science Research Council, “no momento presenciamos um debate no qual a frente constituída por atores estatais e da indústria apresentam desentendimentos consideráveis sobre como avançar, com pouco entusiasmo público, com a expansão de medidas repressivas, além de que, existe pouco interesse da indústria por diálogos sobre novos modelos de negócio”.

A apresentação do PL 8052/11 como o primeiro projeto de lei enviado pela administração do governo Dilma ao Congresso reflete o enorme poder de pressão do lobby da indústria. Cabe mencionar que o projeto incorpora um velho projeto de lei (PL 2729/2003) que esteve no Congresso em 2003, mas não andou desde 2009.

As disposições do PL 2729/2003, que foram incorporadas à nova proposta, têm como foco o aumento das penalidades pelas violações de direitos autorais. Enquanto a atual lei estabelece uma pena que varia de 3 meses a 1 ano de prisão e multa pela violação a direito autoral, o projeto define penas de 2 anos e 2 meses a 4 anos, mais multa. Penalidades para a pirataria de software também foram majoradas para além do que prevê o Acordo TRIPs (“TRIPs plus”), bem como outras violações à propriedade industrial (marcas, patentes, etc.). Focaremos aqui apenas na breve análise das disposições sobre direitos autorais, uma vez que consideramos um erro tratar da cópia de bens culturais protegidos, marcas e patentes a partir do mesmo conceito enganoso de pirataria.

A primeira consequência é que o aumento das penas por infração a direitos autorais impossibilita a realização de transação penal. No Brasil, apenas crimes de baixo potencial ofensivo – aqueles com sentenças inferiores a 2 anos de prisão – podem ser submetidos a penas alternativas. Portanto, se a lei mudar, nenhum dos condenados por violação ao direito autoral será capaz de cumprir sua pena através de, por exemplo, prestação de serviço comunitário.

É importante mencionar que, embora muitos estudos tenham sido realizados em associações da indústria, não há nenhuma evidência clara de que as ditos “índices de pirataria” sejam proporcionais à diminuição do consumo de bens culturais. Não podemos considerar que esses bens culturais que violam o direito autoral seriam consumidos caso fossem vendidos pelo preço proposto pela indústria, aliás, parcela considerável da população que não é financeiramente capaz de comprar tais produtos pelo preço de mercado acessa esses bens “pirateados” (que são também forma de acesso ao conhecimento), parcela que não poderia ser computada numa potencial taxas de crescimento do consumo. Não obstante, tais penalidades serão, em sua maioria, focadas em trabalhadores informais que vendem CDs e DVDs num país em que a taxa de desemprego representa mais de 7% da força de trabalho. A respeito desses dois aspectos sociais relevantes, não parece razoável o aumento das penas com foco apenas numa incerta e não comprovada perda de mercado de uma indústria desinteressada em reprensar possibilidades de modelos de negócios no rico contexto das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC).

Diante desse quadro, ao invés de focar esforços para reforçar o argumento de enrrijecimento da criminalização da violação autoral pela circulação de bens culturais, uma parte substancial da sociedade civil brasileira, acadêmicos e artistas estão tentando promover uma Agenda Positiva para uma política de propriedade intelectual mais honesta, transparente e responsável, na qual a formulação de políticas atenda às necessidades – e realidades – das formas contemporâneas de produção e consumo, em equilíbrio com as demandas artísticas e de consumo. Nesse sentido, uma carta pública ao Ministério da Cultura está disponível para assinaturas. Mas, até agora, os desafios para se alcançar uma verdadeira mudança parecem apenas aumentar e as diretrizes aprovadas pelo governo Lula, infelizmente, já andam um tanto esquecidas.

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Fraudes virtuais contra bancos chegam a 2,4 mil por dia, diz PF - Brasil - iG

Fraudes virtuais contra bancos chegam a 2,4 mil por dia, diz PF - Brasil - iG: "O chefe da Unidade de Repressão a Crimes Cibernéticos da Polícia Federal, Carlos Eduardo Sobral, disse ao iG que cerca de 2,4 mil ações criminosas são realizadas por dia, em média, contra os bancos brasileiros através da internet. De acordo com ele, o prejuízo anunciado pelas instituições financeiras com esse tipo de delito chega à casa dos R$ 900 milhões. Como a maioria das fraudes desvia valores na casa dos R$ 1 mil, chega-se à marca de cerca de 900 mil golpes por ano no país.

O número é pequeno – cerca de 0,01% - no universo das transações financeiras virtuais, que está na casa de 10 bilhões ao ano, mas considerado grande do ponto de vista da prática criminal. Em 2010, devido ao projeto Tentáculos, que agrupa diversas ações criminosas num único inquérito e racionaliza as investigações, o número de operações saltou de duas (2009) para oito, com a prisão de 137 pessoas.

O Tentáculos, em conjunto com o projeto Oráculo, tentará, em 2011, identificar fraudadores e programadores que agindo em sintonia são responsáveis por invasões de computadores pessoais que, em seguida, se transformam em fraudes contra os bancos. Com os projetos, acredita Sobral, o número de crimes deve ser reduzido num breve espaço de tempo.

Em entrevista, o delegado também fala sobre a necessidade de se discutir a legislação existente no Brasil contra os crimes virtuais. Segundo ele, caso um réu primário seja pego furtando R$ 20 milhões de um banco através da internet, não há como enviá-lo à cadeia. Veja abaixo os principais trechos da entrevista:

iG: Como estão agindo as quadrilhas que roubam bancos pela internet?
Eduardo Sobral: Percebemos que não há quadrilha especializada em banco A, B, C ou D. Eles disseminam códigos maliciosos e capturam contas de clientes de todos os bancos. Tínhamos parceria com a Caixa Econômica Federal (CEF), que nos dava visão parcial do problema. Agora temos uma parceria com a Febraban (Federação Brasileira de Bancos) e os 10 dos maiores bancos aderiram à parceria, estamos montando um sistema online para que assim que a fraude for detectada pela instituição financeira nós recebamos os dados para cruzá-los e identificar as quadrilhas.

iG: Quantas ações criminosas acontecem em média no País?
Sobral: É uma quantidade grande, pois o criminoso tira quantidades pequenas em valores, mas de muitas contas diferentes. É grande a quantidade de atos criminosos vinculados a uma quantidade menor de quadrilhas. Precisamos agrupar um grande número de crimes para ter estratégia de ação. São cerca de nove mil notificações por mês somente da Caixa. No ano passado a Febraban disse que o prejuízo foi de R$ 900 milhões. Como a média é de R$ 900 a R$ 1 mil por transação dá para se ter idéia de quantas transações foram. É pouco perto do que os bancos movimentam, mas é quantidade alta para o crime.

iG: Então são cerca de 900 mil ações por ano?
Sobral: Isso.

iG: Como se investiga isso?
Sobral: Antes era uma investigação para cada ato criminoso, o que gerava milhares de inquéritos, consumindo toda nossa força de trabalho e com chance de sucesso próxima a zero. Hoje não instauramos milhares de inquéritos. Conseguimos ter inteligência, enxergar quadrilhas. No ano passado tivemos 137 prisões em 8 operações, contra duas operações em 2009. E lembrando que o sistema Tentáculos começou a funcionar em junho de 2010, que une esses dados. Agora, com informações de outros bancos chegando, vamos enxergar a atuação das quadrilhas e devemos ter queda no médio e longo prazo.

iG: Há também ataques diretos contra os bancos ou se busca atacar os usuários para obter dados e depois entrar no banco?
Sobral: A grande maioria é de ataques aos usuários. As condições de defesa do usuário são menores que a de um banco, que tem toda uma equipe de Tecnologia da Informação (TI). O criminoso tenta enganar, manda mensagens falsas. As vezes o antivírus alerta, e o usuário, achando que recebeu a foto de um amigo, aceita. Ou, às vezes, usando o computador e estando distraído, clica em aceitar algum arquivo ou autoriza o acesso ao link. Há casos em que usam o e-mail de um conhecido, falsificando o remetente, e você abre as fotos do churrasco, ou do fim de semana e fica exposto.

iG: Como pegar essas quadrilhas? Os criminosos estão no Brasil ou agem do exterior?
Sobral: Os criminosos estão no Brasil. Alguns entendem mais de tecnologia e têm usado técnicas para dificultar investigação. Mas crimes que envolvem transferência de recursos sempre deixam rastro. Há movimentação de dinheiro, pagamento de um título. Há indício a seguir, desde que reúna grande quantidade de ações. E quem faz o dinheiro normalmente não tem conhecimento em tecnologia. Ele compra o pacote pronto. Por isso estamos com outro projeto, o Oráculo, para chegar nessa pessoa, que entende de tecnologia e está desenvolvendo soluções.

iG: Em 2010 aconteceram prisões de quem faz o programa ou só de quem faz o dinheiro?
Sobral: Tiveram dois. Em Fortaleza e no Maranhão chegamos ao programador. As demais operações ficaram no primeiro nível (dinheiro).

iG: Há legislação para punir quem pratica esses crimes?
Sobral: Para a fraude sim, para o programador tem que provar que ele sabia que fez isso para fraude, que fazia parte da quadrilha.

iG: Qual o crime?
Sobral: Furto qualificado pela fraude.

iG: E se o programador diz que não sabia qual seria o uso do código que ele escreveu?
Sobral: Se ele provar que não sabia ele vai ser absolvido, pois não é crime no Brasil produzir programa espião. Acho, porém, que deveria ser criminalizada a produção e distribuição de código malicioso para fim de fraude. Por que eu iria desenvolver um código malicioso específico, que não é pesquisa, não é inovador, não é desenvolvedor? É alguém que está usando o conhecimento para a prática de crime. Nós criminalizamos a construção de máquina que falsifique moeda, por exemplo.

iG: Mas então, se ele mostrar na Justiça que não sabia para que seria usado seu programa ele fica livre?
Sobral: Cai no artigo 155 (furto qualificado pela fraude), mas como partícipe. Sua pena é menor. Se participa em grande escala é coautor.

iG: Se é participe vai para cadeia?
Sobral: Não.

iG: Mesmo se souber que fez para uma quadrilha roubar?
Sobral: A cadeia hoje no Brasil é voltada para crimes graves, violento s e para reincidentes. (Réu) Primário, se não tiver violência, é muito difícil ser condenado (a cadeia).

iG: Então, se os fraudadores forem réus primários, também não vão para cadeia?
Sobral: Ele acaba pegando pena substitutiva. Doar cestas básicas, prestação de serviços à comunidade. Qualquer pena até quatro anos é assim.

iG: Isso não estimula o crime? Pois, se der errado, não há cadeia...
Sobral: É uma discussão que tem tomado tempo de muitos especialistas não só no Brasil, mas em todo o mundo. Temos que garantir que haverá certeza da identificação, da responsabilização via processo e que a responsabilização seja adequada e compatível para que o criminoso não se sinta incentivado à prática de crime, pois a cesta básica não é pena adequada para quem desvia R$ 20 milhões ou R$ 25 milhões.

iG: Temos criminosos cibernéticos, digamos assim, de alto nível?
Sobral: Na fraude bancária, sim. O criminoso é avançado. Estuda. Mesmo porque o sistema bancário aqui investiu muito em virtualização. Migrou muito para internet e ampliou os alvos para os criminosos.

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A venda casada de banda larga da GVT | Brasilianas.Org

A venda casada de banda larga da GVT | Brasilianas.Org: "Piada de tucano contada por especialistas de gaveta e intelectuais de charutaria: 'Não podemos mudar as regras do jogo e oferecer insegurança juridica aos investidores do setor. O pais precisa cumprir os contratos senao vamos ficar mal vistos la fora e isso ninguem quer. Alem do mais, nos precisamos conter o crescimento da internet no Brasil. Senão as televisoes e o jornais vão quebrar. Temos de manter a Teles anunciando nos jornais, nas tvs e nas radios e tem que para com esse negocio delas quererem oferecer tv a cabo junto com telefone e banda 'larga'. Nos ja privatizamos o setor. O que mais elas querem?' O pior é que não é piada. Este é o nosso mundo....

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O Biscoito Fino e a Massa

O Biscoito Fino e a Massa: "Insustentável sustentabilidade, por Marjorie Rodrigues

Ano passado, fui a um evento em que várias bandas nacionais e internacionais se apresentaram numa fazenda no interior de São Paulo. Para assistir aos shows, era necessário comprar um ingresso que custava, se não me falha a memória, trezentos reais. Isso para ficar a vários metros de distância dos palcos. Quem quisesse ver as apresentações de perto, num cercadinho chamado de área VIP, teria de pagar o dobro. É mais do que o atual salário mínimo brasileiro, de R$510. Lá dentro, a água custava 6 reais, a cerveja uns oito. O evento foi patrocinado por quatro empresas: duas multinacionais do ramo de bebidas, uma multinacional do ramo de alimentos e uma nacional do setor de telefonia.

Tem toda a cara de um festival de música como outro qualquer, voltado para consumidores de classe média/alta, certo? Errado. Segundo os organizadores e os patrocinadores, o que estava acontecendo não era um show, bobinho, era um movimento social pela conscientização ambiental, chamado “starts with you” (começa com você). Oi? Movimento social. Tipo o feminista, o negro, o indígena e o sem-terra, sabe? Mesma coisa.

Uma das multinacionais do setor de bebidas que patrocinaram o evento foi multada em 47 milhões de dólares por poluir lençóis freáticos na Índia. Ela produz uma bebida com 18 colheres de açúcar a cada dois litros. Apenas uma de suas usinas de engarrafamento no Brasil é capaz de produzir 27 mil garrafas por hora. Outra das patrocinadoras engarrafa milhões de litros de água mineral, mesmo que muitos governos locais já tratem a água e a ofereçam gratuitamente aos cidadãos (e sem garrafa). Para competir com a água tratada e gratuita nos países onde ela é disponível, a propaganda classifica a água engarrafada como “mais confiável”, o que nem sempre é verdade.

Entretanto, nos telões do festival, ambas as empresas alardeavam sua preocupação em manter operações sustentáveis, na medida em que reciclam e/ou reutilizam parte das garrafas PET desnecessárias que produzem. A mensagem era clara: “já estamos fazendo a nossa parte, agora faça você a sua. Starts with you! Feche a torneira ao escovar os dentes, desligue os aparelhos eletrônicos da tomada quando sair de casa e seja um consumidor consciente”. E, com 'consumidor consciente', lá vem a mensagem subliminar: “ao comprar um refrigerante de uma empresa responsável como a nossa, você está ajudando o planeta. Não compre dos outros, compre da gente!”.

Nesta semana, em São Paulo, a maior editora de revistas do Brasil promove, pelo quarto ano consecutivo, um evento de sustentabilidade. A mensagem é a mesma do SWU: feche a torneira, faça xixi durante o banho, use os dois lados da folha sulfite, apague a luz. Decorando o evento, esculturas de papelão feitas com as bobinas que envolvem os rolos de papel utilizados na fabricação das revistas. E aí as pessoas vão passeando por ali e pensando “uau, que legal! Um material que normalmente seria jogado fora serviu para produzir algo belo!”. E eis que a editora de revistas se sai como uma puta empresa bacana. Mas ninguém pára para pensar, afinal, para quê todas aquelas bobinas de papel sequer foram produzidas. Ninguém se faz aquela perguntinha do Caetano: quem lê tanta notícia? A humanidade precisa mesmo de tanta revista? Pra quê tanto papel para falar dez mil vezes a mesma coisa? Não parece um contrassenso pagar de gatinho da sustentabilidade reciclando e reutilizando toneladas de papel que foram usados, principalmente, para estimular o consumo? Afinal, hábitos de consumo são a principal coisa vendida por esse tipo de veículo em particular, a revista.

Citei esses dois exemplos, mas poderia citar outros vários. Cada vez mais empresas, de todos os ramos do mercado, têm se apropriado do discurso da sustentabilidade ou patrocinado eventos de “conscientização”. E isso não é à toa. Nada mais insustentável do que o discurso da sustentabilidade. Trata-se de um discurso deliberado de alienação, que foca a resolução da questão ambiental sobre as nossas pequenas ações cotidianas e não sobre a raiz a ser extirpada: o modelo de produção e consumo vigente. É claro que nossas pequenas ações cotidianas têm sim seu peso (ninguém está dizendo que fechar a torneira enquanto escovamos os dentes é uma coisa ruim), mas vamos combinar: não somos nós que jogamos milhões de litros de óleo no Golfo do México. Não somos nós que poluímos ar e água com substâncias cancerígenas. Não somos nós os responsáveis por socar partículas de sacolinhas e garrafas PET no bucho dos animais marinhos. Então, não é à toa que tantas empresas que nunca deram a mínima para o meio-ambiente de repente tenham virado sustentáveis desde criancinha. Não é à toa que o nome do tal festival, ou melhor, do “movimento social”, é starts with you. Começa aí com você, seu trouxa. Afinal, enquanto a gente fica aqui criando consciência, as grandes empresas, responsáveis pelo grosso do problema, ganham tempo. Adia-se mais um pouco o debate sobre a sociedade de consumo que construímos.

Outro problema desse discurso da sustentabilidade, tão em voga, tão na moda, é que ele nos convida a ser benevolentes com o planeta, quase como se estivéssemos lhe fazendo um favor: “salve a planeta! Salve os ursos polares! Salve as florestas!”. Meu filho, a questão é salvar a nós mesmos. É o nosso que tá na reta. O planeta se vira sem a gente. Se isso aqui virar tudo uma grande sauna inabitável, o planeta continua existindo. Numa boa. Como todos os outros planetas inabitáveis universo afora. Não é a Terra que vai se foder (pode palavrão aqui, Idelber?), é você. Você.

O terceiro (e, muito provavelmente, não o último) problema desse discurso é que ele limita a nossa esfera de ação ao consumo. O único poder das pessoas de salvar o planeta (e não a si mesmas) é enquanto consumidoras, nunca enquanto cidadãs, nunca através do fazer político. Enfiamo-nos nessa enrascada consumindo e consumindo sairemos dela. É apenas uma questão de mudar o jeito como se consome, tornando-se um consumidor “responsável”. Mas o que é ser um consumidor responsável? Ora, é consumir na mesma quantidade e das mesmas empresas de sempre (como as patrocinadoras do SWU...), só que com a consciência tranquila porque as empresas estão reciclando uma coisinha aqui e ali, utilizando circuito fechado de água numa fábrica aqui, noutra ali. Ah, e enquanto você consome uma coisa e outra, apague a luz.

Mas devo chamar atenção para uma coisinha mais. É que muitas empresas inserem o pilar social no seu conceito de sustentabilidade. E aí, a meu ver, mora um grande, gigantesco perigo. Através de fundações e institutos associados ao terceiro setor, empresas privadas querem substituir o Estado, tomando para si atividades que devem ser de responsabilidade dele (como educação, saúde, combate à pobreza, etc). Ou então, sequestram o rótulo de sociedade civil e passam a dizer ao Estado quais são as necessidades das comunidades, o que deve ser feito e como. Essa do SWU assumir o rótulo de “movimento social”, por mais ridículo que pareça, é uma coisa que as fundações e institutos, associados ao terceiro setor, já têm feito há tempos. Aí, o próprio Estado passa a dar dinheiro a empresas privadas, para que o capital se encarregue de dar um tapa nas desigualdades que ele mesmo gera.

Por isso, desconfio de toda e qualquer empresa que vem com discurso sustentável para cima de moi. Não votei em Marina, por mais que simpatize com vários aspectos de sua biografia e atuação política, justamente por causa disso. Pode me chamar de comunista barbuda, mas a solução dos problemas gerados pelo capital não virá pelas mãos do próprio capital. Há uma óbvia incompatibilidade de interesses. A mobilização, querido, realmente starts with you: não são as empresas que têm de criar consciência na gente. É a gente que tem de criar consciência, coletivamente, sem mediação privada alguma. É a gente que tem de questionar o modo como se vive, a maneira como as coisas são produzidas e, a partir daí, peitar as empresas.

PS – Mais um obrigada gigante ao querido Idelber pelo convite para escrever aqui, mesmo que a minha escrita seja assim, tão mequetrefe.

PPS – Agora o merchan. Blog: www.marjorierodrigues.com

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A arte da gentileza | Brasilianas.Org

A arte da gentileza | Brasilianas.Org: "A arte da gentileza
Enviado por luisnassif, qui, 27/01/2011 - 19:23

De um release por email

Afinal, será que a vida moderna dificulta relações com gentileza, ou é possível ser uma pessoa ocupada, sem abrir mão da delicadeza no trato com o outro?

O professor Sam Bowles, do Instituto Santa Fé (EUA), chamada de 'sobrevivência do mais gentil', afirma que a espécie humana sobreviveu graças à gentileza. Segundo Bowles, os grupos altruístas cooperam e colaboram mais para o bem-estar do próximo e da comunidade, a fim de garantir a sobrevivência. Outro estudo, realizado pela professora Sonja Lyubomirsky, da Universidade da Califórnia, demonstrou também que a gentileza pode nos deixar mais felizes. Ela pediu a um grupo que praticasse atitudes gentis durante dez semanas, e verificou que a felicidade aumentou consideravelmente no período do estudo.

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A arte da gentileza | Brasilianas.Org

A arte da gentileza | Brasilianas.Org: "Penso cada vez mais nesse tema da gentileza como uma parte de algo bem maior - o ato de perdoar - e a bondade - esta também uma parte de algo maior - o ato de amar. E vale aqui uma digressão:

O conceito de amor é antigo e pouco debatido, mesmo hoje. Isso porque a sociedade atual só discute sexualidade, pornografia, questões muito distantes disso que é o amor. Minha opinião: cada civilização ou cultura enfatiza aquilo que a sua percepção coletiva percebe - ou enxerga - mais, e isso traduz-se também na linguagem: os esquimós (ou 'inooks', pertencentes ao povo Innuit) tem cerca de trezentas palavras para 'gelo' (gelo fino, gelo grosso, gelo molhado, gelo que queima ao toque); os havaianos tem muito mais para 'maré' (alta, baixa, sem ondas, com arrebentação próxima ou mais ao longe); mas os gregos (eles!) tinham três palavras para amor.

Eros, Philos e ágape.

Eros para algo como o que hoje sentimos como 'atração sexual' e sexualidade; Philos para outro sentimento (aproximado) com o atual de 'amizade' e companheirismo; e aí por último vem o Ágape.

Ele é o 'amor que devora' - mas não aquele tipo de sentimento que vem acompanhado do ciúmes e de Eros. Não. Algo mais intenso e misterioso, que eleva e purifica. Que transcende e arrebata. Não é fácil explicar, mas hoje associa-se Ágape ao sentimento dos santos por Deus, que tudo abandonavam e seguiam Seu caminho...

Por tudo isso, e depois de ler uma reportagem sobre os brasileiros serem o povo mais legal do mundo (link no http://www.cnngo.com/explorations/life/12-coolest-nationalities-earth-05...) e assistir ao filme 'Comer, Rezar, Amar' - a parte de Bali mostra como os estrangeiros nos vêem, verdadeiramente, e nossos hábitos (como se emocionar à toa e sermos carinhosos com os filhos, entre outras coisas) - eu começo a questionar a possibilidade das pessoas - em um ambiente estressante e concorrido como é o das grandes cidades - de estarem aptas a proceder com bondade e amor genuínos - o que requer abnegação, desprendimento e força de vontade. É verdade: há cada vez menos exemplos de gestos de bondade verdadeiramente altruístas, e somente em grandes calamidades (como a das enchentes no RJ) eu consigo ver essa faceta de nossa cultura, hoje tão mitigada e escondida. Mas tenho esperança. E fé. Abs.

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sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Uma economia viciada em juros elevados? - Terra - Antonio Corrêa de Lacerda

Uma economia viciada em juros elevados? - Terra - Antonio Corrêa de Lacerda: "Uma economia viciada em juros elevados?

Antonio Corrêa de Lacerda
De São Paulo

O governo terá que ter cuidado na calibragem do aumento de juros, por dois principais motivos. O primeiro é que o Brasil já pratica a maior taxa de juro real do mundo e é preciso avaliar corretamente qual a necessidade de elevá-las ainda mais. A taxa Selic, que acaba de ser aumentada para 11,25% ao ano, representa um juro real de 5,5%, quando descontada a inflação prevista para os próximos doze meses. Isso é mais do que o dobro da média dos países em desenvolvimento e é incompatível com a melhora de todos os indicadores macroeconômicos da economia brasileira nos últimos anos.

O segundo ponto é que é preciso caracterizar claramente a causalidade da inflação atual, que decorre muito mais de choques de oferta, do que de pressões de demanda. Grande parte da elevação de inflação decorre de fatores cuja influencia da taxa de juros é muito limitada, para não dizer nula, e os quais não controlamos diretamente. É o caso do aumento observado no mercado internacional de commodities, basicamente grãos, combustíveis, metais e outros, que decorrem não apenas do crescimento da demanda, mas também de especulação nos mercados financeiros internacionais.

As commodities se tornaram ativos disputados como alternativa de investimentos de grandes fundos, especialmente diante do quadro atual de baixíssimas taxas de juros na maioria dos países. Há ainda fatores sazonais internos, como o impacto da temporadas de chuvas, que geram uma inflação localizada e episódica, também descolada de um aumento da demanda que exigisse medidas de contenção.

Seria um erro de diagnóstico, a partir dessas pressões, concluir equivocadamente que seria necessário aumentar a taxa de juros para combatê-las. Depois de um crescimento próximo de 8% em 2010, a economia brasileira deverá se acomodar nos próximos anos, com um crescimento mais perto dos 5%. Naturalmente já está havendo uma desaceleração da taxa de crescimento, o que também vai ocorrer com a restrição de crédito decorrente de medidas que foram tomadas anteriormente pelo governo.

Por último, mas não menos importante, é preciso destacar que o aumento de juros não se trata de uma medida neutra, pois causa tanto efeitos deletérios para a economia produtiva, como promove a geração de lucros especulativos no mercado financeiro.

Há um verdadeiro lobby pró elevação de juros, orquestrado por parte daqueles que se beneficiam com a medida, como os credores da dívida pública, que são todos os que aplicam direta ou indiretamente em títulos da dívida pública e o próprio mercado financeiro, que é de intermediário do processo. Como parte destes títulos são pós-fixados, o aumento de juros representa diretamente uma elevação dos seus ganhos.

Não é por acaso que frequentemente assistimos a um aparente 'consenso' pela elevação dos juros, ou pela sua manutenção em níveis elevados. Há interesses fortíssimos envolvidos, que acaba influenciando a opinião pública. Muito pouco se questiona a respeito da real necessidade de manter taxas de juros tão elevadas e menos ainda de elevá-las ainda mais. Há um claro processo de acomodação, como se economia, outrora viciada em inflação, a tivesse substituído pelos juros altos.

Os dados são impressionantes. Como a dívida pública brasileira é da ordem de R$ 1,5 trilhão, o seu financiamento tem custado cerca de R$ 190 bilhões ao ano. São recursos que pagamos sob a forma de impostos, que o Estado arrecada e transfere aos seus credores. Cada ponto percentual de elevação da taxa de juros representa, potencialmente, um gasto adicional de R$ 15 bilhões a cada ano. Isto é mais do que o custo anual de todo o Programa Bolsa Família, para se ter uma ideia do estrago para as contas públicas.

É muito importante que o Banco Central tenha autonomia, relativamente ao Governo. Mas, é também fundamental que não se mantenha refém de movimentos especulativos, que privilegiam uma pequena camada da sociedade, em detrimento do interesse coletivo.

Por todos os motivos apontados, já passou da hora de uma mudança expressiva. Isso vale tanto para paradigmas que têm que ser questionados, como o piso para a redução dos juros no Brasil, quanto ao sistema de Metas de Inflação em si, que deve ser preservado, mas precisa ser aperfeiçoado. Há muito a ser feito, desde os indicadores e o prazo para o foco da meta, até a forma de captação das 'expectativas' dos agentes do mercado.

É também urgente rever o elevado grau de indexação da economia brasileira, especialmente das tarifas públicas. A correção automática de preços baseada em indicadores que tem pouca relação com a estrutura de custos dos setores, como é o caso do IGP e do IGP-M utilizados na maioria dos contratos, representa uma anomalia, incompatível com a nossa realidade atual.

Antonio Corrêa de Lacerda é professor-doutor do departamento de economia da PUC-SP e autor, entre outros livros, de 'Globalização e Investimento Estrangeiro no Brasil' (Saraiva). Foi presidente do Cofecon e da SOBEET.

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quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Ministério pode premiar estados e municípios que melhorarem gestão do SUS | Jornal Correio do Brasil

Ministério pode premiar estados e municípios que melhorarem gestão do SUS | Jornal Correio do Brasil: "Ministério pode premiar estados e municípios que melhorarem gestão do SUS

25/1/2011 11:05,

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25/01/2011Ministério pode premiar estados e municípios que melhorarem gestão do SUS

Carolina Pimentel
Repórter da Agência Brasil

Brasília – O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, sinalizou hoje (25) que pode adotar a política de premiar os estados e municípios que optarem por medidas que melhorem a gestão do Sistema Único de Saúde (SUS) e ampliar o atendimento à rede pública.

“Premiar quem faz mais e melhor para a população. Essa é a nossa estratégia em qualquer discussão de repasse para estados e municípios e na relação com o setor filantrópico”, disse ele.

Desde que assumiu a pasta, Padilha tem declarado que uma de suas prioridades é aprimorar o funcionamento do SUS e de outros órgãos ligados à saúde. Seguindo orientação da presidenta Dilma Rousseff, o ministro tem conversado, por exemplo, com empresários para elaborar um plano de gestão para a Fundação Nacional de Saúde (Funasa).

Na semana passada, ele se reuniu com integrantes do Instituto de Desenvolvimento Gerencial, de consultoria em gestão empresarial, que fará um diagnóstico da Funasa. A estimativa é que o levantamento seja concluído dentro de um mês. O instituto vai analisar ainda o sistema de compras de remédios e equipamentos do ministério. Padilha teve encontro também com o empresário Jorge Gerdau.

Sobre a definição da diretoria da Funasa, alvo de atritos entre o PT e o PMDB, o ministro evitou falar da disputa partidária e reafirmou que seu compromisso é reorganizar a estatal para o cumprimento das metas estabelecidas no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). A fundação é responsável por levar saneamento básico a cidades com menos de 50 mil habitantes.

Em relação à regulamentação da Emenda Constitucional 29, que fixa percentuais de repasse da União, estados e municípios para a saúde, Padilha disse que cabe ao Congresso Nacional “garantir um financiamento estável para a saúde, independente do governo” e definir a fonte de recurso.

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Porque o Contas Abertas não fiscaliza o desgoverno de São Paulo? « Festival de Besteiras na Imprensa

Porque o Contas Abertas não fiscaliza o desgoverno de São Paulo? « Festival de Besteiras na Imprensa: "O Contas Abertas não fiscaliza o desgoverno de São Paulo porque o Contas Abertas não é uma Organização Não Governamental (ONG) e sim uma Organização Governamental, a serviço da coligação PSDB-DEM-PPS e das Organizações Serra (Globo, Folha, Estadão e Veja, entre outros), o que é a mesma coisa.

Como todos e todas sabem, o Contas Abertas foi fundado pelo deputado do PPS Augusto de Carvalho.

Vocês já viram alguma matéria na imprensa em que o Contas Abertas critica a execução orçamentária e financeira do desgoverno de São Paulo?

Mas já leram inúmeras matérias em que o Contas Abertas subsidia as Organizações Serra contra o governo Lula e fará o mesmo contra o governo Dilma, certo?

Durante a gestão corrupta e catastrófica do Arruda (DEM), no Distrito Federal, o Contas Abertas não tossiu nem mugiu. Também, pudera, o deputado Augusto de Carvalho era o Secretário de Saúde do Arruda…

Entretanto, o Contas Abertas teria tudo para fiscalizar o segundo maior orçamento do país, que é o do desgoverno do Estado de São Paulo.

Em qualquer país sério, uma entidade que se diz não-governamental estaria fazendo isso e prestaria um grande serviço ao país.

Mas não, o Contas Abertas é uma entidade governamental, logo não faz o que deveria fazer.

Como se não bastasse, o Contas Abertas criou o Índice de Transparência e coloca o desgoverno de São Paulo em segundo lugar, com nota 6,96, atrás do portal do governo federal com nota 7,56. Um escândalo!

Compare o portal da transparência do governo federal com o inexistente portal da transparência do desgoverno de São Paulo. O governo federal tem portal da transparência (clique aqui). O desgoverno de São Paulo não tem portal da transparência mas sim algumas informações espalhadas nos sites das secretarias e alguma informação consolidada.

Mas só em nível macro. Se quiser detalhes, como os que o governo federal oferece em relação às suas obras e serviços, vá ralar perdendo horas de navegação e, mesmo assim, não encontrará o que pretende.

Exemplo: quero informações sobre a situação da ponte Santos-Guarujá. Onde encontro?

Tá bom, quero informação sobre a situação de qualquer grande obra do desgoverno de São Paulo. Onde encontro?

Clique aqui e veja como o Contas Abertas é tendencioso ao avaliar o nada transparente do desgoverno de São Paulo.

Clique aqui, onde o site de SP diz que o cidadão terá acesso ao quadro de funcionários do desgoverno.

Se você utiliza o browser Google Chrome, pode desistir pois não conseguirá fazer a coisa funcionar.

O site em segundo lugar no ranking de transparência, do Contas Abertas, não funciona com um dos browsers mais utilizados atualmente. Deu positivo para Safari (Mac), Firefox e IE.

Sendo assim, já que o Contas Abertas não cumpre a sua função estatutária, este humilde blog Festival de Besteiras na Imprensa tentará fazê-lo.

O maior problema é que a equipe do blog é constituída por mim e pela minha neta de quatro anos.

Estou treinando a menina, mas acho que ela só poderá atuar daqui a um ou dois anos. O que reduz a equipe a mim e olhe lá.

Mesmo assim, como tenho que ganhar duramente a vida, esta tarefa só contará com 10% de mim.

Quem quiser me ajudar a desvendar a caixa-cinza que é a execução orçamentária e financeira do desgoverno de São Paulo é só acessar o site da Secretaria da Fazenda do desgoverno de São Paulo, no link abaixo:

https://www.fazenda.sp.gov.br/SigeoLei131/Paginas/FlexConsDespesa.aspx

Postar as sugestões ou análises nos comentários deste blog, que eu farei a divulgação em post específico

Vamos ao trabalho, pois!

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Folha de S.Paulo - Lula defenderá a volta de Delúbio, diz dirigente do PT - 26/01/2011

Folha de S.Paulo - Lula defenderá a volta de Delúbio, diz dirigente do PT - 26/01/2011: "O secretário de Comunicação do PT, André Vargas, disse ontem à Folha que o ex-presidente Lula defenderá a volta ao partido do ex-tesoureiro Delúbio Soares, acusado de operar o mensalão.
Ele afirmou que o ex-companheiro 'foi injustiçado' e que a direção da sigla deve votar seu pedido de refiliação em março ou abril.
'Se for questionado, Lula vai dizer que é favorável', disse Vargas, que é deputado federal pelo Paraná e integra o Diretório Nacional do PT.
O ex-presidente evitava falar do escândalo, mas mudou o tom no fim do mandato, quando chamou o mensalão de 'tentativa de golpe' e prometeu reavaliá-lo depois de deixar o Planalto.
Ontem, Vargas disse que os petistas não têm condições morais para barrar a refiliação de Delúbio, que foi expulso da legenda em 2005 e é um dos réus no processo do mensalão no STF (Supremo Tribunal Federal).
'Como é que nós vamos dizer que ele não pode se filiar? Nenhum de nós tem condição moral ou política de dizer que ele não pode militar no PT', declarou o dirigente.
'Se qualquer evidência de caixa dois servir para excluir alguém do PT, tem que dar uma excluída boa, geral', afirmou. 'Do PT ou do PTB, do PMDB', acrescentou.

INJUSTIÇADO
Para Vargas, o ex-tesoureiro merece voltar ao partido porque estava em 'função política' quando, segundo a denúncia da Procuradoria-Geral da República, teria intermediado pagamentos para garantir apoio de parlamentares ao governo.
'Delúbio foi injustiçado. Ele estava numa função política. Se ele fez algo individualmente, foi tentar, talvez erradamente do ponto de vista legal e eleitoral, dar suporte político às campanhas', afirmou o deputado.
'Ele tem o direito de militar no PT. Outros companheiros que estão envolvidos naquele processo estão militando no partido, participando da direção. Ele quer se filiar ao partido, é só isso.'
O secretário de Comunicação do PT reafirmou a tese de que os operadores do mensalão não teriam usado dinheiro público no esquema. O Ministério Público Federal sustenta que houve desvio de recursos do Banco do Brasil.
'Foi uma crise política, não uma crise moral', disse Vargas. 'O julgamento será feito, mas nossa avaliação é que foi uma crise política. Havia a vontade de desestabilizar o governo.'
Nos bastidores, Delúbio faz campanha desde o fim de 2010 para ser readmitido no partido. No entanto, ele evita qualquer declaração pública sobre o assunto.
O ex-tesoureiro já havia tentado voltar em 2009, mas o movimento foi abortado pelo atual ministro Gilberto Carvalho (Secretaria-Geral da Presidência), então chefe de gabinete de Lula.
Os aliados de Delúbio defendem que seu caso pode voltar à pauta agora, após a saída do ex-presidente e a posse de Dilma Rousseff.
Questionado, Vargas disse não saber a posição da presidente sobre o tema. O líder do governo na Câmara, Candido Vaccarezza (PT-SP), já defendeu o retorno do ex-companheiro ao partido.
O pedido de refiliação de Delúbio deve ser discutido informalmente na semana do 31º aniversário do PT, no dia 10 de fevereiro.

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Site para médicos mostra interações entre remédios - vida - Estadao.com.br

Site para médicos mostra interações entre remédios - vida - Estadao.com.br: "Um site de acesso gratuito para médicos traz uma relação com 155 mil interações possíveis entre remédios e as consequências adversas que elas podem causar. Isso permite aos profissionais evitar que suas prescrições - somadas a outras que o doente já toma - causem complicações.

O software identifica também a combinação de drogas em que uma anula a outra. O endereço é www.saudedireta.com.br .

'É um sistema que evita erros', define o dermatologista Paulo Freire, coordenador do núcleo de Tecnologia da Informação do Departamento de Dermatologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). O software foi desenvolvido no Centro de Incubação de Empresas Tecnológicas da Universidade de São Paulo, em parceria com a empresa americana Lexi-Comp.

Segundo Freire, o site vai economizar tempo. 'Com o sistema, o médico tem o resultado pronto e mais tempo para conversar com o paciente.'

Ele explica que a interação medicamentosa é comum, principalmente em idosos e crianças. Estudos apontam que o risco de interação entre drogas atinge 13% dos pacientes que fazem uso de dois medicamentos. Quando esse número sobe para seis medicamentos, o risco aumenta para 85% e 100% para oito drogas. As interações podem ser leves e moderadas - como intoxicação -, mas também podem matar.

No Brasil, existem 11 mil remédios com 18 mil princípios ativos. Com o sistema, o profissional insere os nomes do medicamentos e recebe as possíveis interações e consequências. O programa alerta se é necessário modificar a terapia prescrita.

A ferramenta oferece um prontuário eletrônico que o médico pode acessar de qualquer lugar. As receitas são impressas, o que evita erros de prescrição e de interpretação dos farmacêuticos.

Cerca de 3 mil médicos no Brasil usam o site, assim como dentistas. O objetivo é, a partir dessas informações, montar um banco de dados que poderá ser usados também pelos serviços públicos.

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Demissão de Abramovay revela rigor seletivo do governo « João Bosco

Demissão de Abramovay revela rigor seletivo do governo « João Bosco: "O rigor aplicado ao ex-Secretário Nacional Antidrogas, Pedro Abramovay, a pretexto de quebra hierárquica, contrasta com a tolerância do governo para com outras personagens ministeriais de comportamento bem mais comprometedor.

Abramovay manifestou uma opinião que, embora polêmica, é absolutamente pertinente ao cargo que ocupava. E que merece debate: afinal, não defendeu a absolvição do pequeno traficante, aquele que vende a droga para bancar o seu próprio consumo.

Apenas defendeu penas alternativas, o que pode fazer sentido.

O “avião”, como é conhecido esse traficante, opera com quantidades mínimas da droga fornecendo-a a usuários igualmente viciados. Claro que comete crime, mas já sendo presa do tráfico, uma longa pena cumprida em presídio só aprofunda e consolida esse vínculo.

Daí a tese da pena alternativa que não se pode traduzir por absolvição.

Ao defendê-la, o ex-secretário imaginou-se fiel à linha preventiva que caracteriza a Senad em contraponto à linha repressiva da Polícia Federal, possívelmente movido pela idéia de que pudesse recuperar o viciado e eliminar um traficante de rua.

Por mais espaço que a tese dê para críticas, era apenas uma tese. Não havia nada que pudesse sugerir a Abramovay que sua manifestação fosse merecer a leitura de insurgência contra uma linha de governo, até porque se desconhece que exista uma em relação ao tema.

O próprio desenho da demissão, de iniciativa da presidente Dilma Rousseff, revela que o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, estava, no mínimo, distraído em relação ao seu subordinado. Nada indica que teria ele a iniciativa da demissão.

O pretexto da quebra hierárquica é mesmo apenas pretexto. Do contrário, Abramovay seria precedido pela demissão do ministro do Trabalho, Carlos Lupi (PDT), que sem qualquer cerimônia desdisse a presidente em relação ao valor do salário mínimo.

Enquanto Dilma limitava em R$ 545 o valor máximo que o governo pode bancar para o mínimo, Lupi disse que ele poderia ser maior e que é do Congresso Nacional a prerrogativa de fixá-lo.

A preservação do ministro do Turismo, Pedro Novais (PMDB), também contrasta com o tratamento dispensado ao ex-secretário. Novais mostrou qual seu conceito de gestão do dinheiro público ao cobrar da Câmara o pagamento de uma orgia de casais em um motel.

O que autoriza a leitura já feita em setores políticos de que o caso de Abramovay parece confirmar a máxima de que, em política, “a vingança é um prato que se come frio”.

Os que sustentam essa possibilidade lembram que em outubro do ano passado, quando se desenvolvia o segundo turno da campanha eleitoral, um “grampo” publicado pela revista Veja flagrava Abramovay, então Secretario Nacional de Justiça, se queixando da pressão para que produzisse dossiês contra a oposição.

Abramovay liga a suposta demanda à própria Dilma Rousseff que, à época, reagiu com justificada indignação que conservou até depois da posse como presidente da República.

A frase a ele atribuída, e por ele negada com ênfase, foi a seguinte: “Não agüento mais receber pedidos da Dilma e do Gilberto Carvalho para fazer dossiês. (…) Eu quase fui preso como um dos aloprados”.

A resposta da então candidata foi:

“Eu nego terminantemente este tipo de conversa na véspera da eleição. Nego terminantemente. Gostaria que houvesse da parte de quem acusou a comprovação de que alguma vez eu fiz isso, porque, me desculpe, é muito fácil na última semana da eleição criar uma acusação contra a pessoa sem nenhuma prova. Então, acho grave utilizar esses métodos nessa reta final”, disse a então candidata do PT.

Não se trata de defender Abramovay, mas nem o mais ingênuo dos seres acredita que sua demissão foi mesmo pela tese da pena alternativa aos pequenos traficantes.

Pode até haver outro motivo ainda ignorado para a decisão de exonerá-lo, mas enquanto não vier à tona, permanece forte a leitura do troco político pessoal da presidente da República.

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FHC apoia abrir arquivos, mas não crê em descobertas - brasil - Estadao.com.br

FHC apoia abrir arquivos, mas não crê em descobertas - brasil - Estadao.com.br: "O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso disse ontem ao Estado ser a favor da abertura de todos os arquivos da época do regime militar, mas adiantou que a dificuldade será encontrar os documentos. 'Eu mesmo falei com eles (os militares) quando presidente e eles insistem que não há documentos', afirmou. Ele disse também ser contra a ideia de prolongar por mais 50 anos o sigilo sobre os arquivos militares, definida no decreto 4.554/02. 'Eu fui acusado de ter proibido a abertura de arquivo por 50 anos. Aquilo ocorreu no meu último dia (no governo) e alguém colocou um papel para assinar lá', justificou-se. 'Eu sou contra isso. Temos sim de abrir os arquivos', disse.

Sobre a dificuldade de encontrar novos documentos, acredita que o Exército diz a verdade. 'Claro que havia, como não haveria. Mas foram jogados fora. Os responsáveis tiraram. Essa é que é a questão mais grave. Pode ser que descubram documentos. Mas, oficialmente, pode abrir à vontade que não vão achar nada', alertou FHC.

Ele se declarou favorável à criação de uma Comissão da Verdade, como sugere a presidente Dilma Rousseff - mas questiona a eficiência dessa iniciativa, quase 20 anos após o fim da ditadura. 'Talvez fosse mais eficiente se tivéssemos criado isso tudo mais lá atrás. Muitas pessoas já morreram. E morreram dos dois lados. Hoje, seria mais um trabalho de memória.'

O ex-presidente defende que essa memória seja respeitada e que as verdades sejam reveladas: 'Acho que ainda vale a pena a ideia da Comissão.'

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TERRA BRASILIS: Fernando Henrique Cardoso defende descriminalização das drogas

TERRA BRASILIS: Fernando Henrique Cardoso defende descriminalização das drogas: "Fernando Henrique Cardoso defende descriminalização das drogas
Depois de atestar o fracasso de políticas públicas de repressão às drogas, uma comissão de personalidades internacionais, da qual o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso faz parte, defendeu, nesta terça-feira, a discriminalização do uso de drogas. A reunião foi realizado em Genebra, Suíça.

O encontro reuniu também os ex-chefes de Estado da Colômbia César Gaviria (1990-1994) e do México Ernesto Zedillo (1994-2000), assim como o espanhol Javier Solana, ex-alto representante para a Política Externa e de Segurança da União Europeia. Além deles, participaram do encontro de fundação a ex-presidente suíça Ruth Dreifuss e o norueguês Thorvald Stoltenberg, ex-alto comissário da ONU para os Refugiados.

Fernando Henrique, que governou o País entre 1995 e 2002, é presidente da Comissão Global de Políticas sobre Drogas e presidiu os debates realizados durante dois dias em Genebra.

'É preciso descriminalizar o uso de todas as drogas, pois nenhuma política de combate às drogas vai funcionar se não houver também informação e educação. Somente assim as pessoas irão dispor de elementos para usar sua liberdade e para saber que as drogas causam danos', acrescentou.

Além disso, o ex-presidente afirma que os dependentes de drogas devem ser considerados doentes e, por essa razão, devem ter acesso a tratamento médico, bandeira levantada pela comissão, uma vez que tal ação reduziria os danos individuais e sociais.

O ex-presidente colombiano, César Gaviria, que também foi secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA) entre 1994 e 2004, pediu que as autoridades se 'concentrem na luta nos cartéis de droga, não nos consumidores', e ainda disse: 'Temos que abandonar essa ideia de que os consumidores de drogas são criminosos'.

A comissão, que deve se reunir novamente em junho, nos Estados Unidos, defende as drogas sejam regularizadas do mesmo modo que o tabaco e o álcool. Além disso, a entidade defende que o melhor caminho a ser seguido - evidenciado empiricamente e através de provas científicas - é o da prevenção e da redução da dependência das drogas, iniciativas que, a seu entender, não recebem a mesma atenção que a erradicação, a proibição e a punição.

'Não é preciso mais dinheiro, e sim usar melhor o dinheiro. O utilizado na chamada guerra contra as drogas dos americanos é enorme, (mas é) um dinheiro mal usado porque não tem resultado efetivo; se fosse utilizado para a saúde, para tratamentos médicos, educação, para campanhas de publicidade, seria muito melhor', considerou Fernando Henrique.

Também fazem parte da comissão, mas não compareceram à reunião de Genebra, os escritores Carlos Fuentes, do México, e o ganhador do Prêmio Nobel de Literatura 2010 Mario Vargas Llosa, do Peru. [JC Online - com informações de agências]

– Enviado usando a Barra de Ferramentas Google"

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Folha de S.Paulo - Estantes de livros viram decoração - 24/01/2011

Folha de S.Paulo - Estantes de livros viram decoração - 24/01/2011

O livro impresso teve sua execução sustada por uma fonte improvável: a comunidade do design. Jeffrey Collé, construtor de mansões enormes que imitam projetos da virada do século passado, não cogitaria em omitir uma biblioteca de suas criações. Uma casa de 1.562 metros quadrados em um terreno de 17 hectares em Water Mill, Nova York, vem com uma etiqueta de preço de US$ 29,9 milhões e uma biblioteca que Collé mandou construir com tábuas de toras de carvalho francês serradas longitudinalmente em quatro. Há espaço para mais de mil livros.
Collé colaborou com Bennett Weinstock, um decorador da Filadélfia conhecido por seus interiores ingleses, em algumas bibliotecas. Weinstock contou que faz compras em Londres para encontrar os livros encapados a couro que combinam perfeitamente com suas criações. "Algumas pessoas fazem questão de os livros serem em inglês, porque querem que tenham a aparência de algo que elas poderiam ler", disse.
"Outras não ligam para o idioma dos livros, desde que as capas sejam belas."
Mesmo um construtor modernista como Steve Hermann, de Los Angeles, que ergue casas de milhões de dólares para compradores como Christina Aguilera, inclui hectares de estantes de livros em suas casas. Hermann projetou uma casa Neuralike com muito vidro e um sistema de estantes de 18 por quatro metros com espaço para 4.000 livros, segundo contou.
"Mas quem é que tem 4.000 livros?", indagou. Ele encomendou 2.000 livros encapados em branco de Thatcher Wine, que cria coleções sob encomenda em seu armazém em Boulder, Colorado.
Wine cobra entre US$ 80 e US$ 350 cada 30 centímetros. O velino, um produto raro, é mais caro -cerca de US$ 750 cada 30 centímetros-; uma biblioteca que ele criou para o administrador de um fundo de participações acionárias custou cerca de US$ 80 mil.
"Poderia ter pendurado obras de arte", disse Hermann. "Mas gosto da textura das estantes de livros."
O artista conceitual colombiano Federico Uribe, que trabalha em Miami, encomendou milhares de livros em cores primárias para com eles criar esculturas de palmeiras e sucuris. "A maioria das pessoas destrói árvores para fazer livros", ele explicou. "Eu destruo livros para fazer árvores."
Alguns designers trabalham a partir de livros de seus clientes. O nova-iorquino Peter Pennoyer cria caixas de madeira que parecem livros para neles guardar uma coleção de clássicos da literatura, em mau estado, de um cliente. "Um livro é uma experiência que tem sentido e é sensorial."
Outros designers revelam que seus clientes andam pedindo conteúdos mais personalizados: histórias regionais coordenadas por cores ou títulos de faroeste.
A decoradora Alexa Hampton, de Nova York, disse: "As pessoas para as quais trabalho não querem mais ter livros simplesmente como teatro ou pano de fundo, como queriam 20 anos atrás. Agora elas querem livros que possam ler de fato."
Recentemente, Hampton e um cliente passaram uma manhã no Strand Bookstore, em Nova York, um enorme sebo de livros usados e raros. "Num momento em que as pessoas andam lendo menos, você poderia imaginar que elas diriam 'Encha tudo de livros e deixe bonitinho'. Em vez disso, elas estão envolvidas", disse a decoradora.
Jenny McKibben, gerente do setor de livros por metro da Strand, recebe pedidos principalmente pelo telefone e pela internet.
Designers que trabalham para o grupo Rockwell, ela contou, pediram "temas ligados a 'Sin City'" em mais de mil livros para serem espalhados pelo cassino de 10.200 metros quadrados e os 2.994 quartos do Cosmopolitan de Las Vegas, um novo cassino e resort.
No Wonder Book, de Maryland, o proprietário Chuck Roberts recebe pedidos de construtoras, designers de sets de filmagem, decoradores e até mesmo planejadores de casamentos. "Tivemos um ano ótimo -todos os recordes foram quebrados", contou.
A tendência do livro como relíquia foi prevista por marqueteiros. Ann Mack, da agência JWT New York, escreveu em seu relatório de tendências para 2012 que "a objetificação de objetos será uma tendência a ser observada".
Mack revelou ainda que ela própria estava trabalhando para renovar seu apartamento. Estava pensando em empilhar seus livros, convertendo-os em pernas de uma mesinha de centro "sobre a qual eu poderia colocar meu Kindle".

Folha de S.Paulo - EUA ficam para trás na corrida por biblioteca digital
- 24/01/2011

Folha de S.Paulo - EUA ficam para trás na corrida por biblioteca digital<br> - 24/01/2011

or NATASHA SINGER
Séculos depois de Benjamin Franklin ter elogiado o papel das bibliotecas públicas na democratização da sociedade americana, os EUA se veem atrasados em relação à Europa e ao Japão em termos da criação de um equivalente moderno: uma biblioteca nacional digital que sirva como repositório eletrônico do patrimônio cultural da nação.
A Biblioteca Nacional da Noruega foi uma das primeiras a aderir à ideia. Em 2005, ela anunciou a meta de digitalizar a íntegra de seu acervo; já foram escaneados cerca de 170 mil livros, 250 mil jornais, 610 mil horas de transmissões radiofônicas, 200 mil horas de televisão e 500 mil fotografias. Em 2010, a Biblioteca Nacional da Holanda anunciou a intenção de escanear todos os livros, jornais e periódicos publicados no país a partir de 1470.
Enquanto isso, as bibliotecas dos quase 50 países membros do Conselho Europeu se uniram em um único motor de buscas, o theeuropeanlibrary.org. E a Comissão Europeia patrocina o Europeana, um portal que dá acesso a cópias digitais de obras de arte, música, cinema e livros pertencentes a instituições culturais dos países membros. O portal contém cerca de 15 milhões de artefatos.
A criação de uma biblioteca nacional digital é um desafio maior para os EUA, com suas bibliotecas grandes e díspares. Mas na década de 1990 a Biblioteca do Congresso criou um acervo digital chamado "American Memory" (Memória Americana), que hoje contém 16 milhões de livros, mapas, filmes, manuscritos e peças de música.
Contudo, ainda restam mais de 100 milhões de obras que ainda não foram escaneadas, diz James H. Billington, presidente da Biblioteca do Congresso. E, embora o American Memory também carregue o nome de "biblioteca nacional digital", existem muitas bibliotecas públicas no país ao qual ele não está conectado.
"Não houve nenhuma coordenação nacional de todos os projetos maravilhosos e díspares lançados em todo o país", disse o presidente da Administração Nacional de Arquivos e Registros dos EUA, David S. Ferriero.
Mas o Centro Berkman para a Internet e a Sociedade, da Universidade Harvard, planeja ajudar grupos públicos e privados a criar uma "biblioteca pública digital da América".
A ideia, diz Robert Darnton, diretor da Biblioteca de Harvard, é disponibilizar os recursos eletrônicos de bibliotecas universitárias e instituições culturais como a Biblioteca do Congresso por meio de um portal único, "uma biblioteca digital gigantesca que colocará o patrimônio cultural do país à disposição de todos".
A ideia de uma biblioteca pública digital americana foi motivada em parte pelo Google, que desde 2004 já digitalizou mais de 15 milhões de livros. "O Google mostrou para o mundo o que é possível fazer em um período curto de tempo", disse Maura Marx, do Centro Berkman.
Para o professor Darnton, uma biblioteca pública digital americana servirá como alternativa institucional, sem fins lucrativos, ao Google Books. "Existe um conflito entre a razão de ser do Google, que é auferir lucros para seus acionistas, e as bibliotecas, cuja meta é colocar livros à disposição dos leitores", diz.
Jill Cousins, diretora executiva do Europeana, afirma que as grandes bibliotecas americanas de pesquisas poderiam fazer muito mais para aumentar o acesso a materiais de estudos e literários. "O que está faltando é a digitalização da literatura acessível", diz ela -coisas como os romances populares e as biografias que os leitores procuram em bibliotecas públicas físicas.

Folha de S.Paulo - Velocidade é dinheiro em Bolsas operadas por máquinas
- 24/01/2011

Folha de S.Paulo - Velocidade é dinheiro em Bolsas operadas por máquinas<br> - 24/01/2011


Explorando um dilúvio de dados

Velocidade é dinheiro em Bolsas operadas por máquinas

Por GRAHAM BOWLEY
Secaucus, Nova Jersey
Parte substancial de todo o mercado de ações nos EUA ocorre em um anódino galpão num parque empresarial de Nova Jersey.
Poucos humanos estão presentes neste vasto refúgio tecnológico, conhecido como Nova York Quatro. O edifício, que ocupa mais de um hectare, é cortado por longas avenidas com servidores iluminados por luzes azuis fosforescentes.
A Bolsa se chama Direct Edge, que tampouco é um nome familiar.
"Aqui", diz Steven Bonanno, diretor de tecnologia dessa Bolsa, "é onde todos fazem sua mágica".
Em muitos mercados mundiais, quase todas as transações acionárias atualmente são conduzidas por computadores que conversam entre si a altas velocidades.
As vantagens dessa nova ordem tecnológica são claras. Os custos das transações despencaram, e qualquer um pode comprar ações em qualquer lugar, em questão de segundos, com um simples clique no mouse ou toque na tela do celular.
Mas alguns especialistas se perguntam se a tecnologia não está ficando fora de controle. Questionam se esse novo mundo é mais justo -ou se os operadores com acesso às máquinas mais rápidas lucram à custa de investidores comuns.
Com o domínio das máquinas, o mercado migrou de ruidosos pregões, como o da Bolsa de Valores de Nova York (NYSE), para dezenas de Bolsas eletrônicas diferentes, rivais entre si. Elas usam "data centers" como este, muitos deles em subúrbios do norte de Nova Jersey.
"Nova Jersey é o novo coração de Wall Street", disse William O'Brien, executivo-chefe da Direct Edge. Embora esse cenário seja dominado pelos titãs de Wall Street, ele afeta praticamente qualquer um que possua ações. Ninguém sabe se esse é um mundo melhor, e isso inclui as autoridades reguladoras, que sofrem para acompanhar o ritmo da grande corrida armamentista tecnológica no mercado de ações.

Alta velocidade
A reviravolta começou no final dos anos 1990 e começo dos 2000, depois que a Comissão de Títulos e Câmbio (SEC) adotou regras para estimular a concorrência e reduzir as comissões pagas por investidores comuns. Isso forçou a NYSE e a Nasdaq a divulgarem as ordens de compra e venda eletronicamente e a executá-las imediatamente, ao melhor preço disponível nos EUA -o que repentinamente deu uma vantagem a novas operadoras, mais rápidas e baratas.
A Direct Edge hoje disputa o terceiro lugar entre as Bolsas dos EUA -atrás da NYSE e Nasdaq- com a BATS Exchange, de Kansas City (Missouri), e responde por cerca de 10% do mercado de ações do país, segundo essa Bolsa e o TABB Group, especialista em assuntos do mercado.
A Direct Edge e outros novos empreendimentos sugaram um grande volume para fora do "Big Board" (apelido da NYSE) e da Nasdaq. Há cinco anos, a NYSE respondia por mais de 70% das transações com ações listadas nessa Bolsa; hoje em dia, a proporção caiu a 36%.
Bryan Harkins, diretor de operações da Direct Edge, diz que o novo mundo é mais justo por ser mais competitivo. "Ajudamos a romper o domínio da NYSE", diz.
A Direct Edge e as demais Bolsas disputam uma corrida. Todas têm reduzido sua latência -termo elegante que designa o tempo, inferior a um piscar de olhos, que uma transação leva para ser concluída. A Nasdaq diz que o tempo médio para a conclusão das suas transações é de 98 milionésimos de segundo.
As Bolsas atingiram essas velocidades estonteantes porque o mercado exigiu. Mesmo bancos e fundos mútuos tradicionais abraçaram a mudança.
"Corretoras, fundos de hedge e gestores tradicionais de patrimônio foram forçados a acompanhar para continuar no jogo", escreveu Adam Honoré, diretor de pesquisas do Aite Group, num recente relatório. As Bolsas atendem principalmente um novo tipo de investidores, que atuam com alta frequência e fazem da velocidade uma forma de arte. Eles usam algoritmos para entrar e sair dos mercados com grande rapidez, muitas vezes alterando suas ordens e estratégias em segundos. Ganham a vida sendo os primeiros a reagirem aos fatos, tirando vantagem das diferenças nas cotações entre vários papéis ou entre as Bolsas.
Uma nova estratégia é usar computadores robustos para ler notícias -e até mensagens do Twitter- com grande rapidez, automaticamente, e permitir que as máquinas interpretem os fatos e façam negócios com base nisso.
Os operadores podem ganhar apenas frações de centavo em cada negócio. Mas, multiplicando isso muitas vezes por segundo ao longo de um dia, essas frações viram dinheiro de verdade. Kevin McPartland, do TABB Group, diz que os operadores de alta frequência já representam 56% do total de transações. Em vez de cobrar comissões desses investidores, algumas Bolsas agora até pagam para que os operadores de alta frequência usem suas máquinas.
Várias construções estão sendo feitas para atender a demanda. O CME Group, dono da Bolsa Mercantil de Chicago, inaugurou um "data center" de 40 mil metros quadrados num subúrbio de Chicago. O local abriga o Globex, plataforma eletrônica de mercado futuro e de opções da Bolsa, e tem espaço para que os operadores instalem computadores ao lado das máquinas do CME, uma prática conhecida como "co-locação" -ao custo de US$ 25 mil mensais por uma prateleira com computadores.
A Bolsa está fazendo esse investimento porque os derivativos, assim como as ações, estão sendo varridos pela revolução da alta frequência -autoridades reguladoras estimam que esse tipo de operação já represente cerca de um terço de todo o volume dos mercados futuros nos EUA.
Em agosto, a Spread Networks, de Ridgeland (Mississippi), concluiu uma rede de fibra óptica com 1.328 km, conectando o bairro do South Loop, em Chicago, a Cartaret, Nova Jersey, e reduzindo assim em 3 milissegundos o tempo de ida e volta nas transações, que ficou em 13,33 milissegundos.
Frações de segundo também estão sendo rotineiramente abatidas na movimentada rota Frankfurt-Londres. E em outubro uma companhia chamada Hibernia Atlantic anunciou planos para uma nova ligação por fibra óptica sob o Atlântico, entre Halifax (Canadá) e Somerset (Inglaterra), para que as ordens de compra e venda de ações possam ir e voltar entre Londres e Nova York em 60 milissegundos.
"Velocidade é dinheiro", disse um banqueiro.

Disparada tecnológica
O "crash relâmpago" que sacudiu o mercado de ações na tarde de 6 de maio do ano passado cristalizou temores de que a tecnologia estaria saltando à frente das autoridades reguladoras.
Na sua investigação, a SEC e a Comissão do Mercado Futuro de Commodities concluíram que a queda repentina no valor das ações foi desencadeada pela venda de um lote de contratos de US$ 4,1 bilhões na Bolsa Mercantil de Chicago, feita por uma companhia de fundo mútuo.
Esse fundo, chamado Waddell & Reed Financial, do Kansas, conduziu a venda por meio de um algoritmo de computador.
A transação pode ter ocorrido num momento inoportuno -os mercados já estavam nervosos com a crise da dívida na Europa. Mas não houve uma tentativa deliberada de perturbar o mercado, segundo autoridades reguladoras.
Mas houve, isso sim, participação de algumas máquinas de alta frequência, disseram os investigadores. Ao detectarem uma grande venda e as condições adversas, algumas delas se desligaram automaticamente. A queda no número de compradores se refletiu no índice Dow Jones Industrial Average, que perdeu mais de 700 pontos em questão de minutos, até que os computadores voltassem e os preços se recuperassem com a mesma rapidez. Mais de 20 mil transações foram anuladas.
O episódio pareceu demonstrar as vulnerabilidades do novo mercado, e o que poderá acontecer quando não houver seres humanos encarregados de corrigir as máquinas.
Depois do "crash relâmpago", a SEC e as Bolsas introduziram no mercado "circuit breakers" (mecanismos contra oscilações bruscas) para ações individuais, de modo a paralisar as transações se um preço cair 10% num período de cinco minutos.
Mas alguns analistas temem que aspectos do "crash relâmpago" prenunciem riscos maiores do que uma mera falha técnica. Eles dizem que algumas oscilações violentas nos preços podem indicar que um pequeno grupo de operadores de alta frequência seria capaz de manipular o mercado.
Discute-se se alguns operadores estariam disparando ordens falsas, milhares de vezes por segundo, para deixar as Bolsas lentas e confundir os outros. Michael Durbin, que ajudou a montar sistemas de transações de alta frequência para empresas como a Citadel, e que é autor de um manual sobre o assunto, diz que a maior parte do setor é legítima e beneficia os investidores. Mas, diz ele, as regras precisam ser fortalecidas para coibir práticas que perturbem o mercado.
"Os mercados estão aí para formar capital e para investimentos de longo prazo, e não para um jogo de apostas", diz ele.
A SEC iniciou há um ano a revisão de uma nova estrutura do mercado. Mary Schapiro, presidente da entidade, já propôs a criação de uma trilha consolidada de auditoria, e aventou a ideia de limitar a velocidade em que as máquinas podem operar transações.
A maioria das Bolsas já eliminou uma polêmica técnica de transações eletrônicas conhecida como "ordens-relâmpagos", que permite aos computadores espiarem as ordens de outro investidor uma fração de segundo antes do seu envio para o mercado como um todo. A Direct Edge ainda oferece uma versão desse serviço.
As agências reguladoras também estão examinando as implicações dos chamados "black pools", em que grandes lotes de ações são negociados eletronicamente e sem o escrutínio exercido sobre os mercados públicos. Cerca de 30% dos papéis domésticos são negociados nesses e em outros espaços "obscuros", segundo a SEC.

Semáforos
Na opinião de O'Brien, os benefícios da tecnologia são claros. "Agora se pode executar uma transação do seu celular, de qualquer lugar do planeta. Isso me parece um mercado que é mais justo."
Mas alguns analistas questionam se o benefício é geral.
"É uma corrida armamentista tecnológica nos mercados financeiros, e os reguladores estão sendo apanhados um pouco alheios à rapidez com que a tecnologia tem evoluído", diz Andrew Lo, diretor do Laboratório de Engenharia Financeira do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT).
"Às vezes, tecnologia demais sem a capacidade de geri-la efetivamente pode causar algumas consequências indesejadas. Finalmente, chega o ponto em que temos um enorme congestionamento e precisamos instalar semáforos."

domingo, 23 de janeiro de 2011

Folha de S.Paulo - Réplica: Inflexão distributiva - 23/01/2011

Folha de S.Paulo - Réplica: Inflexão distributiva - 23/01/2011: "RESUMO
Marcio Pochmann responde texto de Clóvis Rossi (Ilustríssima de 16/1), que aponta suposta mudança de opinião do economista após ser convidado a trabalhar no governo federal. Enquanto Pochmann enxerga aumento na distribuição de renda a partir de 2005, em seu artigo Rossi defende que a afirmação é 'lenda, pura lenda'.

MARCIO POCHMANN

Nada é permanente neste mundo cruel. Nem mesmo os nossos problemas.
Charles Chaplin

A QUESTÃO da distribuição da renda e riqueza continua centralizando a arena política. De forma simplificada, para o espectro político da direita, a redução da desigualdade na repartição da renda depende fundamentalmente das forças de mercado, do crescimento da produtividade e das iniciativas individuais, enquanto, para a esquerda, relaciona-se à força das lutais sociais coletivas e à efetividade e eficácia das políticas públicas.

Nesse sentido, a análise minuciosa dos mecanismos socioeconômicos que produzem a concentração da renda não deve ser desconsiderada por aqueles que se propõem a tratar de suas medidas e evolução. Tanto é assim, que o excelente jornalista Clóvis Rossi privilegiou em seu texto 'Os Livros Leem Lula' (Ilustríssima de 16/1) o tema da distribuição recente da renda, com enfoque especial na produção teórica de minha lavra.

TEMÁTICA LABORAL
Leitura atenta da publicação 'Desenvolvimento, Trabalho e Renda no Brasil: Avanços Recentes no Emprego e na Distribuição dos Rendimentos' (Fundação Perseu Abramo) permite entender que se trata de análise com enfoque na temática laboral, na qual persisto por quase três décadas na condição de estudioso, com 39 livros publicados, 99 capítulos de livros e mais de uma centena de artigos em publicações especializadas (Sistema Lattes).
Não me proponho a discutir, portanto, a complexidade da distribuição funcional da renda (relação entre rendimento do trabalho e da propriedade, como juros, lucros, renda da terra e aluguéis), mas tão somente o contexto e a evolução recente do emprego e da distribuição dos rendimentos do trabalho.
Dessa forma, considero inadequado relacionar comparativamente alguns parágrafos escritos sobre a situação da distribuição funcional da renda até a primeira metade da década de 2000 (artigo no 'Valor Econômico' de julho de 2007) com argumentos de referência à distribuição pessoal da renda (fundamentalmente o rendimento do trabalho) para a segunda metade da década atual encontrados no livro de 2010. Isso porque a realidade da distribuição da renda sofreu uma inflexão na segunda metade da década de 2000.

EVIDÊNCIAS
Os dados recentes a respeito da alteração na distribuição da renda parecem incontestáveis. Basta, por exemplo, conferir no gráfico 2, da pág. 24 do livro 'Desenvolvimento, Trabalho e Renda no Brasil' (veja em folha.com/ilustríssima), a trajetória da evolução do índice Gini, que mede o grau de desigualdade na distribuição pessoal da renda, especialmente no rendimento do trabalho, e da participação do rendimento do trabalho na renda nacional.
Parece evidente que a partir da segunda metade da década de 2000 há uma recuperação na participação do rendimento do trabalho na renda nacional, após um longo período de descenso inegável. No biênio 2005- 2006, por exemplo, o peso do rendimento do trabalho na renda nacional foi de 41,3%, um pouco maior que os 40% de 1999/2000, mas muito menor que os 56,6% de 1958/60.
Em síntese, o aumento relativo do rendimento do trabalho no total da renda nacional na segunda metade da década de 2000 terminou se somando à melhora na distribuição pessoal da renda já constatada desde os anos 1990, com queda no índice de Gini de 0,61, em 1989/90, para 0,54, em 2005/06. Mesmo assim, convém destacar que a redução na desigualdade pessoal da renda ocorrida na década atual difere daquela observada nos anos 1990, conforme o gráfico 4 da pág. 51 do mesmo livro permite observar (veja em folha.com/ilustríssima).

BASE DA PIRÂMIDE
Entre 1995 e 2002, por exemplo, a redução no índice de Gini deveu-se à queda no valor real do rendimento do trabalho dos 20% mais ricos combinada com contida elevação real nos demais estratos sociais. No período subsequente (2003 a 2008), o aumento real se deu em todos os decis da distribuição pessoal, porém concentrado na base da pirâmide social brasileira.
Além da inflexão recente na distribuição funcional da renda, cabe ressaltar seus principais fatores explicativos. Mesmo que sejam necessários mais estudos e informações estatísticas atualizadas, não se pode negar a importância de três razões da inflexão distributiva recente.
A primeira relaciona-se à redução na taxa real de juros, que respondeu por menor dispêndio público com juros da dívida governamental. Em 2005, por exemplo, o Brasil comprometeu 7,4% do Produto Interno Bruto (PIB) com o pagamento de juros, enquanto em 2002 foram gastos 7,5% do PIB e, em 2009, 5,4% do PIB.
Mesmo que os rentistas da dívida do Estado continuem ganhando muito dinheiro com o processo de financeirização da riqueza, nota-se a economia de dois pontos percentuais do PIB em relação a 2005 (R$ 70 bilhões só em 2009). Ainda há o que reduzir, uma vez que, em 1980, o Brasil comprometia 1,8% do PIB com serviços da dívida pública.

RECUPERAÇÃO
A segunda razão é o forte crescimento do rendimento do trabalho, levemente acima, em geral, do excedente bruto operacional do setor produtivo, em decorrência da maior elasticidade produto-emprego e da elevação real do salário mínimo acima do verificado até 2005. Também o resultado positivo das negociações coletivas realizadas pelos sindicatos e os aumentos reais de salários concedidos pelas empresas em função de certa escassez mais recente de mão de obra qualificada favoreceram a ampliação total do rendimento do trabalho vis-à-vis os da propriedade.
Por fim, a terceira razão assenta-se nos avanços gerados pelas políticas tributária e social. Por um lado, houve o alívio de impostos nos segmentos assalariados de menor renda devido ao reajuste da tabela e à ampliação da escala do Imposto de Renda e, ainda, às reduções e isenções tributárias em setores produtores da cesta básica e de bens-salários. Em contrapartida, o aumento dos impostos sobre o capital, como o IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) e outros, representou leve compensação à brutal concentração dos impostos sobre os pobres no Brasil.

DESPESAS PÚBLICAS
Por outro lado e na sequência da redução dos gastos com juros da dívida pública, constata-se o aumento e reorientação da despesa social. Em 2010, por exemplo, o gasto social chegou a 23,4% do PIB, o que significa 1,5% do PIB a mais do comprometido em 2005. Ademais da elevação considerável do salário mínimo que favoreceu tanto os ocupados de menor rendimento como os inativos da previdência e assistência social, destaca-se o acréscimo dos recursos públicos (1,4% do PIB) nos programas de transferências de renda às famílias pobres nos últimos cinco anos.
De tudo isso, sabe-se que o tema da distribuição de renda precisa ser continuamente aprofundado. O acesso às informações da Receita Federal, sobretudo do Imposto de Renda, conforme ocorre em outros países, permitiria conceder maior precisão ao sentido distributivo do período recente.
As indicações atuais apontam para a recuperação do terreno que o rendimento do trabalho vinha perdendo desde a ditadura militar e que durante as duas primeiras décadas do regime democrático - por vários e diferentes motivos - não se conseguiu estancar.
Ainda há muito que avançar. O Brasil precisa de uma verdadeira reforma tributária que alivie os pobres e tribute o grande capital, a extensa propriedade e as altas finanças, bem como reduza sensivelmente a taxa de juros e aperfeiçoe e amplie as políticas públicas redistributivas.
Independentemente disso, parece não haver como negar os novos acontecimentos constatados, sobretudo, com dados de realidade mais atuais a respeito da mudança na distribuição de renda no Brasil a partir de 2005.

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Folha de S.Paulo - Imaginação: Escorpião e Félix - 23/01/2011

Folha de S.Paulo - Imaginação: Escorpião e Félix - 23/01/2011: "– Enviado usando a Barra de Ferramentas Google"

O mundo reinventa a aposentadoria - economia - Estadao.com.br

O mundo reinventa a aposentadoria - economia - Estadao.com.br: "O mundo reinventa a aposentadoria
Recessão global acelerou esse processo que se intensificou com uma grande maioria dos baby boomers muito perto de se aposentar
23 de janeiro de 2011 | 0h 00


Mark Trumbull, The Christian Science Monitor - O Estado de S.Paulo

Quando as condições econômicas no Japão o obrigaram a fechar seu pequeno empório de venda de arroz, aos 63 anos, Yasunori Izumi não achou que chegara a hora de se aposentar. Em vez disso, preocupado com as despesas e como pagá-las, arranjou um novo emprego como motorista - e pretende continuar trabalhando nos próximos anos.

Na Grã-Bretanha, o carteiro Kevin Beazer tem apenas 45 anos, mas está inquieto com o seu futuro financeiro. Está vendo que a esperada aposentadoria será reduzida - refletindo o aperto fiscal que toma conta de toda Europa - e sabe que terá de arranjar um emprego em tempo parcial depois que se aposentar.

No Alabama, Donna Gainey, aos 64 anos ainda trabalha, mas não por necessidade financeira. Ela simplesmente gosta do seu emprego, na prefeitura, e da renda extra que ele proporciona.

Por todo o globo, da Europa desenvolvida à China em rápido crescimento, uma tendência comum vem surgindo: a mão de obra vai ficando mais velha à medida que a aposentadoria é retardada ou redefinida.

Uma recessão global contribuiu para acelerar essa tendência, impelindo muitas pessoas com mais de 55 anos a continuar trabalhando. Mas o real impulso por trás disso é demográfico. As pessoas estão vivendo mais e essa população mais idosa aumenta em grande número em muitos países, por causa da queda das taxas de natalidade e a redução do número de jovens.

Tudo isso é amplificado porque uma forte maioria dos 'baby boomers', os nascidos nos anos 50, está em vias de se aposentar. E o 'baby boom' após a 2ª Guerra não se verificou apenas nos Estados Unidos, mas também na Europa e na Austrália. E todos eles estão chegando aos 65 anos.

Reunidas essas forças, o resultado é um 'envelhecimento global', que já vem tendo uma grande influência na economia mundial - e promete transformar o significado de 'anos dourados'.

Antigamente, os trabalhadores nos países desenvolvidos quase sempre chegavam a um momento da vida em que havia uma nítida ruptura com o trabalho, quando a carreira chegava ao fim. O momento do infame 'relógio de ouro' (uma metáfora para a aposentadoria). Talvez uma mudança para um lugar ensolarado, como a Flórida.

Novos tempos. Mas a vida após os 60 está passando por uma mudança importante. Ainda pode ser uma boa época para jogar golfe, nadar, mas para milhões de pessoas é também a hora de se agarrar a um emprego em tempo integral, reingressar no mercado trabalhando em tempo parcial, ou até abrindo uma empresa própria.

As razões disso podem ser positivas, como a busca de uma realização pessoal. À medida que aumenta a longevidade, as pessoas encaram o trabalho como uma maneira importante de manter a vida ativa e com algum sentido. 'A real noção de aposentadoria - no sentido de lazer ininterrupto - não é nem de perto tão popular entre os baby boomers quanto foi nas gerações anteriores', diz Neil Howe, historiador que traçou as características particulares de gerações para a empresa de consultoria LifeCourse Associates. 'A ideia de permanecer contribuindo e não ser apenas um consumidor dependente é muito importante'.

Na verdade, algumas pessoas podem achar que a realização pessoal acontece depois da aposentadoria. Contudo, a razão mais nítida impelindo essa mão de obra já grisalha que se observa no mundo, tem a ver com os imperativos do bolso.

Em termos mais simples, se as pessoas vivem mais, alguém vai ter de sustentá-las. Mas para os especialistas, parte da resposta está no fato de que os idosos terão de arcar mais com a própria sobrevivência.

Os governos já estão sendo pressionados a aumentar a idade oficial de aposentadoria, se não quiserem sufocar suas economias com o peso da dívida pública. Os distúrbios na França, no ano passado, antes da votação pelo Parlamento do projeto de lei que aumentou a idade para as pessoas se aposentarem, são uma mostra das batalhas políticas que deverão ocorrer nos Estados Unidos e em outros lugares.

No final, do modo como as coisas avançam, isso terá grandes implicações em todos os aspectos, desde o padrão de vida das pessoas até o equilíbrio global de poder entre as nações.

E o mundo envelhece. Yang Jinrong é o retrato de como essa 'nova aposentadoria' já vem criando raízes em todo o mundo. Ela é contadora na cidade costeira de Tianjin, na China. Hoje com 50 anos, Yang pretende continuar se mantendo e a sua família até os 60 ou 70 anos, trabalhando na contabilidade de uma empresa de equipamentos médicos. Ela trabalha porque gosta, mas também por causa de um aperto financeiro na China chamado 'problema 4-2-1', que significa que, graças à política de um só filho, cada trabalhador jovem terá de sustentar os dois pais e os quatro avós.

Sob muitos aspectos, a Ásia representa o epicentro do envelhecimento global. Com certeza nenhum outro continente enfrenta desafios maiores do que o asiático para se adaptar a esse panorama demográfico que muda rapidamente.

A região também reflete um outro fato essencial nesse aspecto: não é apenas um fenômeno de países ricos. A teoria dominante até agora é de que as sociedades envelhecem apenas quando atingiram a prosperidade generalizada. Mas na China 'você envelhece antes de ficar rico'.

O fato de as pessoas viverem mais é uma causa, mas para os especialistas a maior razão é a queda na taxa de natalidade. À medida que o número de jovens diminui, as pessoas mais velhas vão formando uma camada maior da população em geral.

Mas a tendência varia muito - com alguns países com uma população que envelhece rapidamente e outros com uma população de jovens.

Num estudo divulgado pelo Centro de Estudos Internacionais e Estratégicos, em Washington, Neil Howe e o coautor Richard Jackson alertaram que essas diferenças demográficas podem ser uma fonte de instabilidade geopolítica nos anos 2020. (Entre os países com um número muito grande de jovens e com alto potencial para a ocorrência de rebeliões estão Afeganistão, Iraque, territórios palestinos, Somália, Sudão e Iêmen.)

Outras nações poderão enfrentar dificuldades financeiras e tensões políticas por causa da rápida redução de jovens. A Rússia já está se tornando um caso extremo de declínio da população. Mas há outros países que em breve estarão registrando esse declínio, como Coreia do Sul (em torno de 2020) e China (em torno de 2030).

Se a Ásia deverá registrar os maiores ganhos no número de pessoas com mais de 65 anos, a Europa pode reivindicar o título de mais avançada em termos de envelhecimento. Ela terá duas pessoas em idade ativa para cada uma com mais de 65 em meados do século, segundo previsão da ONU (comparado com a proporção de 4 para 1 na Ásia).

Os Estados Unidos também são um país que envelhece. Mas o que é importante distinguir, em comparação com a maior parte do mundo desenvolvido, o país deverá registrar um modesto crescimento da população que poderá tornar a transição menos complicada.

O lado bom. Mas esse envelhecimento observado globalmente não é necessariamente ruim. Embora o processo esteja repleto de desafios, os elementos centrais da tendência são positivos.

Poucos acham que viver mais é um 'problema', por exemplo. Além disso, não faz muito tempo quando os demógrafos se preocupavam com a perspectiva de uma 'bomba populacional' Malthusiana, que esgotaria os recursos do planeta. Embora os temores de uma catástrofe ambiental tenham se dissipado, a ONU hoje prevê que a população mundial pode se estabilizar dentro de 50 anos e depois começar a declinar.

Além do mais, se as pessoas se virem trabalhando com mais idade, isso não é automaticamente um fato frustrante. Carolyn May, da Grã-Bretanha, abraçou uma nova carreira aos 60 anos.

Ela trabalhou como professora de uma faculdade em Gales por dois anos, quando a instituição teve problemas financeiros. Aos 58 anos, Carolyn ficou de repente sem emprego. Mas ela usou esse revés como um catalisador para se lançar numa nova carreira na qual já vinha pensando há muito tempo. Ela usou o dinheiro de sua indenização para abrir uma empresa de consultoria chamada Still Much of Offer, cujo objetivo é fazer a conexão entre candidatos mais velhos em busca de um emprego com empregadores potenciais. Agora que ela encontrou um novo rumo, seu desejo é promover o valor de trabalhadores mais velhos como ela própria. /TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO


Pontos de vista

NEIL HOWE
HISTORIADOR
'A real noção de aposentadoria, no sentido de lazer absoluto, não é nem de perto tão popular entre os baby boomers quanto foi nas gerações anteriores.'

'A ideia de continuar contribuindo e não ser apenas um consumidor dependente é muito importante.'

YANG JINRON
CONTADORA CHINESA DE 50 ANOS
'Pretendo continuar trabalhando para me manter e manter a minha família até os 60 ou 70 anos.'

SUN QUANXIN
FILHO DE YANG, DE 26 ANOS
'Esse problema não tem solução (sustento da família). Vai além da minha capacidade financeira.'

CAROLYN MAY
APOSENTADA QUE VOLTOU AO MERCADO DE TRABALHO
'Muitas pessoas querem continuar trabalhando porque ainda têm muito a oferecer.'

J.B.WILEY
CAMINHONEIRO
'Tenho trabalhado a vida inteira com os olhos fixos no número 62 para eu me aposentar.'


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