Folha de S.Paulo - Vinicius Torres Freire: Refinamentos desnecessários - 02/01/2011: "Projeto petista de exploração do pré-sal defende alguns nacionalismos econômicos que podem ser ineficientes
EM 2010, o Brasil terá o segundo maior deficit na balança comercial de combustíveis desde 2000. Isto é, o valor das importações de combustíveis, basicamente petróleo e derivados, será maior que o das exportações. No ano de 2008, de bom crescimento econômico e de explosão do preço do barril de petróleo, o deficit foi maior.
Problema? Hoje em dia, não. Mas os governos petistas têm alguma implicância com deficit na balança de combustíveis e, mais importante, com o fato de o Brasil exportar combustíveis de 'baixo valor agregado' (petróleo bruto) e importar produtos refinados.
O deficit na balança de combustíveis já foi ameaça econômica grave no Brasil. Entre 1980 e 1982, o valor da importação de combustíveis equivalia a quase metade do valor de todas as exportações. Havia, pois, um risco claro de asfixia nas contas externas também devido ao custo do petróleo (e, claro, devido ao endividamento externo e à desordem econômica da época).
Desde meados dos anos 1990, a importação de combustíveis tem ficado entre 9% e 15% do valor total das exportações. As flutuações se devem, claro, ao preço do petróleo, ao consumo de combustíveis, ao ritmo do PIB, à quantidade e ao preço do total das exportações.
Mas o país produz cada vez mais petróleo e álcool combustível. Ainda pode recorrer a outras fontes renováveis de energia. Não houve drama 'macroeconômico' quando o barril chegou perto de absurdos US$ 150, em 2008. Nos anos 1970, a alta do petróleo ajudou a quebrar o Brasil.
Ainda assim, os governos petistas preocupam-se com a 'qualidade' da balança de combustíveis. Com a eventual abundância do pré-sal, querem fazer que o país não apenas seja grande produtor e, talvez, exportador líquido de petróleo como vendedor de produtos de 'maior valor agregado' (refinados).
Por isso, fizeram a Petrobras engolir um projeto de investimentos em refinarias que, nos corredores, o pessoal da empresa não considera econômico. E para o país, interessa?
Produzir bens de 'maior valor agregado' nem sempre é interessante. O capital despendido em refinarias poderia ter retorno maior em outro investimento. Tecnologicamente, não é um progresso fazer refinarias. Talvez em termos estratégicos, 'de segurança nacional', não depender muito de energia importada talvez fosse relevante, mas esse risco parece muito remoto. Enfim, não sabemos nem quando haverá petróleo bastante para exportar.
A Petrobras vai investir em pesquisa de materiais, métodos de exploração e equipamentos para fazer o pré-sal. Isso é um avanço. Vai encomendar serviços, equipamentos, navios, plataformas, sondas. Se não houver reserva de mercado improdutiva, isso será um avanço e vai impulsionar a indústria nacional.
Decerto, nem sempre o setor privado faz a melhor alocação de capital, 'investe melhor'. Basta ver os desastres das bolhas da década passada. Mas dirigir investimentos demais, via Estado, também dá em besteira, em uso menos produtivo de capital escasso.
Refinarias, trem-bala, estádios da Copa, nada disso deve melhorar a produtividade geral da economia brasileira, de resto faminta de investimentos em outras áreas e já enfrentando deficit externos devido à insuficiência de poupança.
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