Folha de S.Paulo - Estantes de livros viram decoração - 24/01/2011
O livro impresso teve sua execução sustada por uma fonte improvável: a comunidade do design. Jeffrey Collé, construtor de mansões enormes que imitam projetos da virada do século passado, não cogitaria em omitir uma biblioteca de suas criações. Uma casa de 1.562 metros quadrados em um terreno de 17 hectares em Water Mill, Nova York, vem com uma etiqueta de preço de US$ 29,9 milhões e uma biblioteca que Collé mandou construir com tábuas de toras de carvalho francês serradas longitudinalmente em quatro. Há espaço para mais de mil livros.
Collé colaborou com Bennett Weinstock, um decorador da Filadélfia conhecido por seus interiores ingleses, em algumas bibliotecas. Weinstock contou que faz compras em Londres para encontrar os livros encapados a couro que combinam perfeitamente com suas criações. "Algumas pessoas fazem questão de os livros serem em inglês, porque querem que tenham a aparência de algo que elas poderiam ler", disse.
"Outras não ligam para o idioma dos livros, desde que as capas sejam belas."
Mesmo um construtor modernista como Steve Hermann, de Los Angeles, que ergue casas de milhões de dólares para compradores como Christina Aguilera, inclui hectares de estantes de livros em suas casas. Hermann projetou uma casa Neuralike com muito vidro e um sistema de estantes de 18 por quatro metros com espaço para 4.000 livros, segundo contou.
"Mas quem é que tem 4.000 livros?", indagou. Ele encomendou 2.000 livros encapados em branco de Thatcher Wine, que cria coleções sob encomenda em seu armazém em Boulder, Colorado.
Wine cobra entre US$ 80 e US$ 350 cada 30 centímetros. O velino, um produto raro, é mais caro -cerca de US$ 750 cada 30 centímetros-; uma biblioteca que ele criou para o administrador de um fundo de participações acionárias custou cerca de US$ 80 mil.
"Poderia ter pendurado obras de arte", disse Hermann. "Mas gosto da textura das estantes de livros."
O artista conceitual colombiano Federico Uribe, que trabalha em Miami, encomendou milhares de livros em cores primárias para com eles criar esculturas de palmeiras e sucuris. "A maioria das pessoas destrói árvores para fazer livros", ele explicou. "Eu destruo livros para fazer árvores."
Alguns designers trabalham a partir de livros de seus clientes. O nova-iorquino Peter Pennoyer cria caixas de madeira que parecem livros para neles guardar uma coleção de clássicos da literatura, em mau estado, de um cliente. "Um livro é uma experiência que tem sentido e é sensorial."
Outros designers revelam que seus clientes andam pedindo conteúdos mais personalizados: histórias regionais coordenadas por cores ou títulos de faroeste.
A decoradora Alexa Hampton, de Nova York, disse: "As pessoas para as quais trabalho não querem mais ter livros simplesmente como teatro ou pano de fundo, como queriam 20 anos atrás. Agora elas querem livros que possam ler de fato."
Recentemente, Hampton e um cliente passaram uma manhã no Strand Bookstore, em Nova York, um enorme sebo de livros usados e raros. "Num momento em que as pessoas andam lendo menos, você poderia imaginar que elas diriam 'Encha tudo de livros e deixe bonitinho'. Em vez disso, elas estão envolvidas", disse a decoradora.
Jenny McKibben, gerente do setor de livros por metro da Strand, recebe pedidos principalmente pelo telefone e pela internet.
Designers que trabalham para o grupo Rockwell, ela contou, pediram "temas ligados a 'Sin City'" em mais de mil livros para serem espalhados pelo cassino de 10.200 metros quadrados e os 2.994 quartos do Cosmopolitan de Las Vegas, um novo cassino e resort.
No Wonder Book, de Maryland, o proprietário Chuck Roberts recebe pedidos de construtoras, designers de sets de filmagem, decoradores e até mesmo planejadores de casamentos. "Tivemos um ano ótimo -todos os recordes foram quebrados", contou.
A tendência do livro como relíquia foi prevista por marqueteiros. Ann Mack, da agência JWT New York, escreveu em seu relatório de tendências para 2012 que "a objetificação de objetos será uma tendência a ser observada".
Mack revelou ainda que ela própria estava trabalhando para renovar seu apartamento. Estava pensando em empilhar seus livros, convertendo-os em pernas de uma mesinha de centro "sobre a qual eu poderia colocar meu Kindle".
O livro impresso teve sua execução sustada por uma fonte improvável: a comunidade do design. Jeffrey Collé, construtor de mansões enormes que imitam projetos da virada do século passado, não cogitaria em omitir uma biblioteca de suas criações. Uma casa de 1.562 metros quadrados em um terreno de 17 hectares em Water Mill, Nova York, vem com uma etiqueta de preço de US$ 29,9 milhões e uma biblioteca que Collé mandou construir com tábuas de toras de carvalho francês serradas longitudinalmente em quatro. Há espaço para mais de mil livros.
Collé colaborou com Bennett Weinstock, um decorador da Filadélfia conhecido por seus interiores ingleses, em algumas bibliotecas. Weinstock contou que faz compras em Londres para encontrar os livros encapados a couro que combinam perfeitamente com suas criações. "Algumas pessoas fazem questão de os livros serem em inglês, porque querem que tenham a aparência de algo que elas poderiam ler", disse.
"Outras não ligam para o idioma dos livros, desde que as capas sejam belas."
Mesmo um construtor modernista como Steve Hermann, de Los Angeles, que ergue casas de milhões de dólares para compradores como Christina Aguilera, inclui hectares de estantes de livros em suas casas. Hermann projetou uma casa Neuralike com muito vidro e um sistema de estantes de 18 por quatro metros com espaço para 4.000 livros, segundo contou.
"Mas quem é que tem 4.000 livros?", indagou. Ele encomendou 2.000 livros encapados em branco de Thatcher Wine, que cria coleções sob encomenda em seu armazém em Boulder, Colorado.
Wine cobra entre US$ 80 e US$ 350 cada 30 centímetros. O velino, um produto raro, é mais caro -cerca de US$ 750 cada 30 centímetros-; uma biblioteca que ele criou para o administrador de um fundo de participações acionárias custou cerca de US$ 80 mil.
"Poderia ter pendurado obras de arte", disse Hermann. "Mas gosto da textura das estantes de livros."
O artista conceitual colombiano Federico Uribe, que trabalha em Miami, encomendou milhares de livros em cores primárias para com eles criar esculturas de palmeiras e sucuris. "A maioria das pessoas destrói árvores para fazer livros", ele explicou. "Eu destruo livros para fazer árvores."
Alguns designers trabalham a partir de livros de seus clientes. O nova-iorquino Peter Pennoyer cria caixas de madeira que parecem livros para neles guardar uma coleção de clássicos da literatura, em mau estado, de um cliente. "Um livro é uma experiência que tem sentido e é sensorial."
Outros designers revelam que seus clientes andam pedindo conteúdos mais personalizados: histórias regionais coordenadas por cores ou títulos de faroeste.
A decoradora Alexa Hampton, de Nova York, disse: "As pessoas para as quais trabalho não querem mais ter livros simplesmente como teatro ou pano de fundo, como queriam 20 anos atrás. Agora elas querem livros que possam ler de fato."
Recentemente, Hampton e um cliente passaram uma manhã no Strand Bookstore, em Nova York, um enorme sebo de livros usados e raros. "Num momento em que as pessoas andam lendo menos, você poderia imaginar que elas diriam 'Encha tudo de livros e deixe bonitinho'. Em vez disso, elas estão envolvidas", disse a decoradora.
Jenny McKibben, gerente do setor de livros por metro da Strand, recebe pedidos principalmente pelo telefone e pela internet.
Designers que trabalham para o grupo Rockwell, ela contou, pediram "temas ligados a 'Sin City'" em mais de mil livros para serem espalhados pelo cassino de 10.200 metros quadrados e os 2.994 quartos do Cosmopolitan de Las Vegas, um novo cassino e resort.
No Wonder Book, de Maryland, o proprietário Chuck Roberts recebe pedidos de construtoras, designers de sets de filmagem, decoradores e até mesmo planejadores de casamentos. "Tivemos um ano ótimo -todos os recordes foram quebrados", contou.
A tendência do livro como relíquia foi prevista por marqueteiros. Ann Mack, da agência JWT New York, escreveu em seu relatório de tendências para 2012 que "a objetificação de objetos será uma tendência a ser observada".
Mack revelou ainda que ela própria estava trabalhando para renovar seu apartamento. Estava pensando em empilhar seus livros, convertendo-os em pernas de uma mesinha de centro "sobre a qual eu poderia colocar meu Kindle".
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