ANÁLISE: Temer atacou o delator, mas não esclareceu suspeitas - 20/05/2017 - Poder - Folha de S.Paulo
A estratégia de Michel Temer é clara. Ao pedir a suspensão do inquérito no Supremo Tribunal Federal, ele tenta ganhar tempo para estancar a sangria política que ameaça sua sobrevivência no cargo.
Os sinais de anemia têm se multiplicado desde o início da crise. No sábado (20), o presidente foi abandonado pelo PSB,
que anunciou o rompimento com o governo. Se o movimento se alastrar,
ficará claro que ele perdeu as condições de se sustentar no Planalto.
Temer parecia abatido quando começou a ler seu segundo pronunciamento em
três dias. Aos poucos, elevou o tom e passou a atacar o empresário
Joesley Batista, dono da JBS e autor da delação-bomba à Lava Jato.
Acusado, o presidente buscou desqualificar o acusador. Disse que ele
praticou um "crime perfeito", "prejudicou o Brasil" e agora está "livre e
solto em Nova York".
Sem citar o nome de Rodrigo Janot, Temer também mirou o procurador-geral
da República ao se dizer alvo de uma "acusação pífia" de corrupção. O
ministro Edson Fachin parece discordar, já que autorizou a abertura do
inquérito no STF.
O presidente se agarrou à tese, levantada por peritos, de que o áudio da
conversa com Joesley teria sofrido edições. "Essa gravação clandestina
foi adulterada e manipulada com objetivos subterrâneos", acusou.
A polêmica é útil a Temer porque permite que ele direcione o foco para a
fita, deixando de esclarecer outras suspeitas graves. Sobre elas,
continuam a faltar explicações convincentes. O presidente disse que
indicou o deputado Rodrigo Rocha Loures para "ouvir as lamúrias" do dono
da JBS. No entanto, a PF o filmou fazendo outra coisa: recebendo uma
mala de dinheiro de um lobista enviado por Joesley.
Temer também disse que "não acreditou" quando o empresário contou ter
subornado dois juízes. A lei obriga o servidor que ouve o relato de um
crime a comunicá-lo às autoridades competentes. O presidente não poderia
silenciar sobre a confissão por considerar que seu autor é um
"falastrão".
Outras acusações de Joesley, como as cobranças de propina e mensalinho
para aliados, foram solenemente ignoradas no pronunciamento.
Por fim, Temer entrou em contradição com seu próprio discurso inicial.
Na quinta-feira, ele defendeu uma investigação "muito rápida" e disse
que o desfecho do caso "não poderia tardar". Agora, recorre ao STF para
tentar paralisar o inquérito em sua fase inicial.
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