Censura editorial: não há outro nome para a omissão da Globo no 28 de abril
A palavra censura está na maioria das vezes
associada a Estados autoritários. Mas a mídia hegemônica, liderada pela
Globo, conquistou um poder que se coloca acima dos poderes da República
associada a Estados autoritários. Mas a mídia hegemônica, liderada pela
Globo, conquistou um poder que se coloca acima dos poderes da República
por Lalo Leal
publicado
13/05/2017 18h37
Um dia antes da greve geral, TV Globo omite mobilização em seus programas de notícia
A censura praticada pela Rede Globo de Televisão à greve geral do dia 28 de
abril já tem um lugar garantido na história da comunicação brasileira.
Assim como ocorreu com o comício pelas eleições diretas para presidente
da República realizado em janeiro de 1984, na praça da Sé, em São Paulo,
transformado em festa de aniversário da cidade pela Globo ou com as
distorções cometidas na edição do debate Lula-Collor, realizado às
vésperas das eleições presidenciais de 1989.
Desta vez a linha editorial adotada foi a do silêncio total. Um fato
de abrangência nacional, com grande repercussão no exterior, foi
simplesmente omitido pelo telejornal de maior audiência da emissora. Não houve menção à greve nem sequer para alertar o telespectador da ausência de transporte público ou do fechamento das escolas no dia seguinte.
A situação torna-se mais grave sabendo-se da hegemonia da Globo no
país que faz dela, na maioria das vezes, a única fonte de informação
para a maior parte da população brasileira. A omissão transforma-se em
censura na medida em que sonega uma noticia que é, sob qualquer ponto de
vista, importante para a sociedade.
A palavra censura está na maioria das vezes associada à ação do
Estado ao coibir a circulação de informações, especialmente quando
tomado por ditaduras. No caso brasileiro salta logo à memória o período
vivido após o golpe de 1964 com a implantação explícita da censura.
Mas não são só os Estados que têm o poder de censurar. Em situações
como a brasileira, a mídia hegemônica, liderada pela Globo, conquistou
um poder que, em determinados momentos, se coloca acima dos poderes da
República. Com o agravante de não sofrer qualquer controle externo.
Executivo e Legislativo mal ou bem sofrem um escrutínio a cada quatro
anos, fato que não ocorre com os meios de comunicação, cujo controle
familiar passa de geração a geração sem que deem satisfação à sociedade.
Já na metade do século passado o sociólogo alemão Karl Mannheim
lembrava que "não devemos restringir o nosso conceito de poder ao poder
político. Trataremos do poder econômico e administrativo, assim como do
poder de persuasão que se manifesta através da religião, da educação e
dos meios de comunicação de massa, tais como a imprensa, o cinema e a
radiodifusão".
Esse poder é mascarado por uma aura liberal que coloca os meios de
comunicação como se fossem mediadores entre diferentes grupos sociais,
pairando acima dos conflitos existentes entre eles. Tentam esconder, na
verdade, que têm lado, sendo no caso brasileiro o lado historicamente
conservador, avesso às demandas populares.
A censura, portanto, ocorre em dois níveis. No noticiário em si,
escondendo aquilo que, embora importante para a sociedade, não atende
aos interesses dos controladores dos meios. E no seu papel social mais
amplo, apresentando-se como isentos quando na verdade estão sempre
defendendo um lado.
No Brasil não há reação a esse tipo de censura, muito menos prevenção
para que ela não ocorra. Em outras democracias, legislações específicas
e órgãos reguladores garantem a pluralidade de vozes circulando pela
mídia, permitindo que a omissão de um veículo de comunicação sobre
determinado fato seja corrigida pela divulgação por um meio concorrente.
Recentemente o governo do Equador, por meio da sua Superintendência
de Informação e Comunicação, foi obrigado a abrir um processo contra os
principais jornais e emissoras de televisão do país pela censura por
eles imposta a uma notícia divulgada pelo jornal argentino Página 12. Ela informava que o candidato oposicionista à presidência da República, Guillermo Lasso, possuía empresas off shores e
denunciava irregularidades financeiras por ele praticadas. Notícia que
não interessava à mídia comercial equatoriana, alinhada com a oposição.
No Brasil, a censura da Rede Globo à greve geral infringiu os artigos
221 e 222 da Constituição Federal. O primeiro veda "toda e qualquer
censura de natureza política, ideológica e artística" e o segundo
determina que as emissoras devem dar preferência, entre outras, a
finalidades informativas.
abril já tem um lugar garantido na história da comunicação brasileira.
Assim como ocorreu com o comício pelas eleições diretas para presidente
da República realizado em janeiro de 1984, na praça da Sé, em São Paulo,
transformado em festa de aniversário da cidade pela Globo ou com as
distorções cometidas na edição do debate Lula-Collor, realizado às
vésperas das eleições presidenciais de 1989.
Desta vez a linha editorial adotada foi a do silêncio total. Um fato
de abrangência nacional, com grande repercussão no exterior, foi
simplesmente omitido pelo telejornal de maior audiência da emissora. Não houve menção à greve nem sequer para alertar o telespectador da ausência de transporte público ou do fechamento das escolas no dia seguinte.
A situação torna-se mais grave sabendo-se da hegemonia da Globo no
país que faz dela, na maioria das vezes, a única fonte de informação
para a maior parte da população brasileira. A omissão transforma-se em
censura na medida em que sonega uma noticia que é, sob qualquer ponto de
vista, importante para a sociedade.
A palavra censura está na maioria das vezes associada à ação do
Estado ao coibir a circulação de informações, especialmente quando
tomado por ditaduras. No caso brasileiro salta logo à memória o período
vivido após o golpe de 1964 com a implantação explícita da censura.
Mas não são só os Estados que têm o poder de censurar. Em situações
como a brasileira, a mídia hegemônica, liderada pela Globo, conquistou
um poder que, em determinados momentos, se coloca acima dos poderes da
República. Com o agravante de não sofrer qualquer controle externo.
Executivo e Legislativo mal ou bem sofrem um escrutínio a cada quatro
anos, fato que não ocorre com os meios de comunicação, cujo controle
familiar passa de geração a geração sem que deem satisfação à sociedade.
Já na metade do século passado o sociólogo alemão Karl Mannheim
lembrava que "não devemos restringir o nosso conceito de poder ao poder
político. Trataremos do poder econômico e administrativo, assim como do
poder de persuasão que se manifesta através da religião, da educação e
dos meios de comunicação de massa, tais como a imprensa, o cinema e a
radiodifusão".
Esse poder é mascarado por uma aura liberal que coloca os meios de
comunicação como se fossem mediadores entre diferentes grupos sociais,
pairando acima dos conflitos existentes entre eles. Tentam esconder, na
verdade, que têm lado, sendo no caso brasileiro o lado historicamente
conservador, avesso às demandas populares.
A censura, portanto, ocorre em dois níveis. No noticiário em si,
escondendo aquilo que, embora importante para a sociedade, não atende
aos interesses dos controladores dos meios. E no seu papel social mais
amplo, apresentando-se como isentos quando na verdade estão sempre
defendendo um lado.
No Brasil não há reação a esse tipo de censura, muito menos prevenção
para que ela não ocorra. Em outras democracias, legislações específicas
e órgãos reguladores garantem a pluralidade de vozes circulando pela
mídia, permitindo que a omissão de um veículo de comunicação sobre
determinado fato seja corrigida pela divulgação por um meio concorrente.
Recentemente o governo do Equador, por meio da sua Superintendência
de Informação e Comunicação, foi obrigado a abrir um processo contra os
principais jornais e emissoras de televisão do país pela censura por
eles imposta a uma notícia divulgada pelo jornal argentino Página 12. Ela informava que o candidato oposicionista à presidência da República, Guillermo Lasso, possuía empresas off shores e
denunciava irregularidades financeiras por ele praticadas. Notícia que
não interessava à mídia comercial equatoriana, alinhada com a oposição.
No Brasil, a censura da Rede Globo à greve geral infringiu os artigos
221 e 222 da Constituição Federal. O primeiro veda "toda e qualquer
censura de natureza política, ideológica e artística" e o segundo
determina que as emissoras devem dar preferência, entre outras, a
finalidades informativas.
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