Delações da JBS deixam nu o jornalismo da Globo
Wilson Roberto Vieira Ferreira
quinta-feira, maio 18, 2017
Wilson Roberto Vieira Ferreira
Ao vivo repórteres e apresentadores nervosos,
consternados, engolindo seco em uma profusão exponencial de gafes e atos falhos
poucas vezes vista. Os jornalistas da Globo parece que foram pegos de surpresa:
depois de diariamente martelar a narrativa da governabilidade e do “ruim com
ele, pior sem ele”, de repente (como se fosse virada alguma chavinha seletora)
o discurso mudou radicalmente. Tudo após a explosão nuclear das delações
premiadas dos donos da JBS (terceiro maior anunciante da Globo) reveladas em suposto
“furo” do jornal “O Globo”. E ainda com direito a cobertura com imagens estilo
“black bloc” mostrando rolos de fumaça subindo diante do Palácio do Planalto em
noite de protestos. Por que a surpresa consternada dos jornalistas globais,
tidos como os mais bem informados e conhecedores dos bastidores do País, como diz marketing da emissora? Mais do que
provocar um terremoto político, as delações da JBS deixaram nu o jornalismo
global: revelou profissionais alheios à realidade e que apenas repetem
discursos ao sabor da mudança dos interesses corporativos da Globo. Mas isso
traz um custo psíquico aos incautos jornalistas da emissora.
consternados, engolindo seco em uma profusão exponencial de gafes e atos falhos
poucas vezes vista. Os jornalistas da Globo parece que foram pegos de surpresa:
depois de diariamente martelar a narrativa da governabilidade e do “ruim com
ele, pior sem ele”, de repente (como se fosse virada alguma chavinha seletora)
o discurso mudou radicalmente. Tudo após a explosão nuclear das delações
premiadas dos donos da JBS (terceiro maior anunciante da Globo) reveladas em suposto
“furo” do jornal “O Globo”. E ainda com direito a cobertura com imagens estilo
“black bloc” mostrando rolos de fumaça subindo diante do Palácio do Planalto em
noite de protestos. Por que a surpresa consternada dos jornalistas globais,
tidos como os mais bem informados e conhecedores dos bastidores do País, como diz marketing da emissora? Mais do que
provocar um terremoto político, as delações da JBS deixaram nu o jornalismo
global: revelou profissionais alheios à realidade e que apenas repetem
discursos ao sabor da mudança dos interesses corporativos da Globo. Mas isso
traz um custo psíquico aos incautos jornalistas da emissora.
Certa vez a fonoaudióloga Glorinha Beuttenmüller, responsável pelo
padrão discursivo de repórteres e âncoras do telejornalismo da Globo, disse de
forma dura:
padrão discursivo de repórteres e âncoras do telejornalismo da Globo, disse de
forma dura:
“O apresentador não pode representar as
palavras. Tem de ser parcial e exprimir as ideias da empresa em que trabalha.
(…) a essência [da palavra] empregada vem da casa. Por exemplo, a palavra
cadeira é dita da mesma forma por todo mundo, mas se ela é confortável ou
desconfortável, é a empresa que vai dizer. Em qualquer emissora, os
apresentadores são escravos, têm que parecer imparciais e, ao mesmo tempo, ser
parciais, de acordo com a vontade da empresa” – clique aqui.
Uma dramática demonstração que comprova a descrição dessa especialista
“insider” foi dada ontem, e continua no dia de hoje, com as “denúncias-bomba”
que explodiram nas telas da emissora dando conta das gravações que os donos do
frigorífico JBS entregaram à Polícia Federal mostrando como o desinterino
Michel Temer deu aval à compra do silêncio de Eduardo Cunha e como o senador
Aécio Neves pediu propina de R$ 2 milhões.
“insider” foi dada ontem, e continua no dia de hoje, com as “denúncias-bomba”
que explodiram nas telas da emissora dando conta das gravações que os donos do
frigorífico JBS entregaram à Polícia Federal mostrando como o desinterino
Michel Temer deu aval à compra do silêncio de Eduardo Cunha e como o senador
Aécio Neves pediu propina de R$ 2 milhões.
Apresentadores e repórteres gaguejando, engolindo seco, trocando nomes,
fazendo trocadilhos involuntários. Gafes e mais gafes em profusão.
fazendo trocadilhos involuntários. Gafes e mais gafes em profusão.
Em ato falho William Bonner chamando o desinterino de “ex-presidente” (hoje
a apresentadora Maria Beltrão do Estúdio i da GloboNews cometeu o mesmo
lapso) ; a apresentadora Renata Vasconcelos antecipando suas falas atropelando
Bonner; a apresentadora da GloboNews,
Cecília Flesch, perdendo a dicção, se enrolando em nomes e esquecendo, por
exemplo, o nome do bairro em BH onde a irmã do Aécio foi presa.
a apresentadora Maria Beltrão do Estúdio i da GloboNews cometeu o mesmo
lapso) ; a apresentadora Renata Vasconcelos antecipando suas falas atropelando
Bonner; a apresentadora da GloboNews,
Cecília Flesch, perdendo a dicção, se enrolando em nomes e esquecendo, por
exemplo, o nome do bairro em BH onde a irmã do Aécio foi presa.
Eliane Catanhêde (aquela da foto que viralizou na qual se mostra
relaxada e rindo ao lado de Temer) tentando manter a postura fleumática
enquanto as mãos mexiam nervosas; gaguejando, o comentarista Valdo Cruz, também
GloboNews, tentava manter a narrativa lamentando a crise num momento “positivo”
para a economia; a repórter Andréia Sadi, visivelmente nervosa e estressada ao
vivo diante do Palácio do Planalto, atropelando as palavras e dizendo, de
passagem, que já estava indo embora...
relaxada e rindo ao lado de Temer) tentando manter a postura fleumática
enquanto as mãos mexiam nervosas; gaguejando, o comentarista Valdo Cruz, também
GloboNews, tentava manter a narrativa lamentando a crise num momento “positivo”
para a economia; a repórter Andréia Sadi, visivelmente nervosa e estressada ao
vivo diante do Palácio do Planalto, atropelando as palavras e dizendo, de
passagem, que já estava indo embora...
Foi “furo” do
jornal O Globo?
O fato é que a cúpula da emissora já sabia dessas delações da JBS
há uma semana. E os jornalistas da emissora parece que foram os últimos a
saber, enquanto, até o último instante, mantinham a narrativa da continuidade
de Michel Temer em nome da governabilidade, a necessidade das reformas e da
recuperação da economia.
há uma semana. E os jornalistas da emissora parece que foram os últimos a
saber, enquanto, até o último instante, mantinham a narrativa da continuidade
de Michel Temer em nome da governabilidade, a necessidade das reformas e da
recuperação da economia.
Ao vivo, todos pegos de surpresa com a obrigação de repentinamente
terem de mudar o discurso martelado diariamente desde o impeachment da
presidenta Dilma.
terem de mudar o discurso martelado diariamente desde o impeachment da
presidenta Dilma.
Se na hora do almoço o “imortal” da Academia de Letras, Merval
Pereira, defendia nas telas a manutenção do presidente desinterino no
julgamento da chapa Dilma/Temer no TSE, mudou abruptamente o discurso à noite
com o rosto tão perplexo quanto no dia em que soube da vitória apertada de
Dilma nas eleições de 2014.
Pereira, defendia nas telas a manutenção do presidente desinterino no
julgamento da chapa Dilma/Temer no TSE, mudou abruptamente o discurso à noite
com o rosto tão perplexo quanto no dia em que soube da vitória apertada de
Dilma nas eleições de 2014.
O suposto “furo” na coluna de Lauro Jardim no jornal O Globo nada
mais foi do que o sinal verde da cúpula das Organizações Globo.
mais foi do que o sinal verde da cúpula das Organizações Globo.
Mais do que supostamente dar um “furo” e brincar de jornalismo
investigativo, mais do que noticiar uma grave crise política, a Globo
desvelou-se a si mesma: o seu jornalismo ficou nu como demonstrou a impagável
propagação exponencial de olhos perplexos, gafes, atos falhos e palavras
atropeladas no transcorrer dos telejornais.
investigativo, mais do que noticiar uma grave crise política, a Globo
desvelou-se a si mesma: o seu jornalismo ficou nu como demonstrou a impagável
propagação exponencial de olhos perplexos, gafes, atos falhos e palavras
atropeladas no transcorrer dos telejornais.
Instantânea
mudança de narrativa
Tudo pareceu como se alguma chavinha seletora fosse virada e,
automaticamente, a narrativa fosse mudada de um segundo para outro: da
necessidade imperiosa de manter Temer para o País sair da crise (o tom era
“ruim com ele, pior sem ele”), de repente tudo mudou para a urgente necessidade
de renúncia, impeachment ou mesmo cassação pelo TSE. Governabilidade e economia
agora que se danem!
automaticamente, a narrativa fosse mudada de um segundo para outro: da
necessidade imperiosa de manter Temer para o País sair da crise (o tom era
“ruim com ele, pior sem ele”), de repente tudo mudou para a urgente necessidade
de renúncia, impeachment ou mesmo cassação pelo TSE. Governabilidade e economia
agora que se danem!
Mas isso tem um custo psíquico para os pobres jornalistas globais:
stress, nervosismo e consternação.
stress, nervosismo e consternação.
E mais! A Globo chegou a ensaiar momentos black bloc mostrando grupos protestando diante do Palácio do
Planalto na noite de ontem, com sugestivos enquadramentos de câmera: o Palácio
ao fundo com rolos de fumaça preta começando a subir – uma sugestiva exortação
para protestos. Globo começa a conclamar o povo para as ruas? Globo virou black bloc mais uma vez?
Planalto na noite de ontem, com sugestivos enquadramentos de câmera: o Palácio
ao fundo com rolos de fumaça preta começando a subir – uma sugestiva exortação
para protestos. Globo começa a conclamar o povo para as ruas? Globo virou black bloc mais uma vez?
Assim como quando se
posicionou diante da surpreendente vitória de Donald Trump nos EUA? – clique aqui.
posicionou diante da surpreendente vitória de Donald Trump nos EUA? – clique aqui.
Os donos da JBS revelaram
mais do que os podres do desinterino Temer, Aécio Neves e próceres da
República.
mais do que os podres do desinterino Temer, Aécio Neves e próceres da
República.
O terceiro maior anunciante da Globo também ajudou a revelar uma
das fontes do tautismo (tautologia + autismo – sobre o conceito clique aqui) crônico em processo de
metástase na emissora: seus repórteres, comentaristas e âncoras nada mais são
do que bonecos ventríloquos que reproduzem irrefletidamente o discurso que
aponta a biruta (aquela do aeroporto) da cúpula da Globo.
das fontes do tautismo (tautologia + autismo – sobre o conceito clique aqui) crônico em processo de
metástase na emissora: seus repórteres, comentaristas e âncoras nada mais são
do que bonecos ventríloquos que reproduzem irrefletidamente o discurso que
aponta a biruta (aquela do aeroporto) da cúpula da Globo.
Como atividade que coleta, investiga e analisa informações, o
jornalismo da emissora deveria ser pelos menos a interface ou janela
privilegiada da Globo com o deserto do real. Mas, como ficou evidente nessa
hecatombe política, os jornalistas globais são meros reprodutores ou correias
de transmissão dos releases dos interesses corporativos e governamentais.
jornalismo da emissora deveria ser pelos menos a interface ou janela
privilegiada da Globo com o deserto do real. Mas, como ficou evidente nessa
hecatombe política, os jornalistas globais são meros reprodutores ou correias
de transmissão dos releases dos interesses corporativos e governamentais.
Jornalistas
“sentados” e “em pé”
O pesquisador Ciro Marcondes Filho apontava no seu livro A Saga dos Cães Perdidos (a metáfora do
Jornalismo que perdeu o faro e se perdeu), a rápida transformação tecnológica
dividiu o campo jornalístico em dois tipos de profissionais: aqueles que
trabalham sentados (limitando-se ao tratamento de releases de agências e
assessorias de comunicação) e os que trabalham em pé – a minoria que vai à
campo investigar.
Jornalismo que perdeu o faro e se perdeu), a rápida transformação tecnológica
dividiu o campo jornalístico em dois tipos de profissionais: aqueles que
trabalham sentados (limitando-se ao tratamento de releases de agências e
assessorias de comunicação) e os que trabalham em pé – a minoria que vai à
campo investigar.
No caso do telejornalismo de correia de transmissão da Globo,
parece que todos trabalham “sentados” – em redações e estúdios apenas transmitindo
as diretrizes dos “aquários” de reuniões E estes, por sua vez, conectados em
tempo real com os interesses corporativos dos donos das Organizações Globo. A
correia de transmissão que parece acionar o seletor de narrativas dos
obedientes e estressados “jornalistas” da emissora.
parece que todos trabalham “sentados” – em redações e estúdios apenas transmitindo
as diretrizes dos “aquários” de reuniões E estes, por sua vez, conectados em
tempo real com os interesses corporativos dos donos das Organizações Globo. A
correia de transmissão que parece acionar o seletor de narrativas dos
obedientes e estressados “jornalistas” da emissora.
Se não, como explicar o nervosismo e surpresa ao vivo de
repórteres e comentaristas, cujo marketing da Globo afirma serem os
profissionais mais bem informados do Jornalismo brasileiro – a emissora sempre
mostra repórteres e setoristas em Brasília orgulhosamente falando “estive com o
presidente...”, “estive com o ministro...”, “o senador falou comigo...” etc.
repórteres e comentaristas, cujo marketing da Globo afirma serem os
profissionais mais bem informados do Jornalismo brasileiro – a emissora sempre
mostra repórteres e setoristas em Brasília orgulhosamente falando “estive com o
presidente...”, “estive com o ministro...”, “o senador falou comigo...” etc.
Comerciais de empresas de investimentos: quem ganha com a crise? |
Mesmo nessa aguda crise política, a Globo tautologicamente se
auto-referencia: o suposto “furo” (na verdade, um “sinal verde” dos patrões)
foi dado pela coluna de Lauro Jardim do Jornal O Globo, enquanto o próprio jornal comemora o que chama “ibope alto
da crise”.
auto-referencia: o suposto “furo” (na verdade, um “sinal verde” dos patrões)
foi dado pela coluna de Lauro Jardim do Jornal O Globo, enquanto o próprio jornal comemora o que chama “ibope alto
da crise”.
O jornal O Globo comemora anunciando que o plantão da emissora sobre a
delação premiada da JBS interrompendo a programação da emissora às 19h37 rendeu
26 pontos em São Paulo e 29 ponto no Rio de Janeiro e o Jornal Nacional 33
pontos.
delação premiada da JBS interrompendo a programação da emissora às 19h37 rendeu
26 pontos em São Paulo e 29 ponto no Rio de Janeiro e o Jornal Nacional 33
pontos.
Sem falar as 23 milhões de visualizações da página do JN no
Facebook – segundo o jornal, “os maiores números desde o processo de impeachment
de Dilma Rousseff – clique aqui.
Facebook – segundo o jornal, “os maiores números desde o processo de impeachment
de Dilma Rousseff – clique aqui.
Enquanto isso, os intervalos comerciais desses plantões da Globo
estavam recheados de comerciais de empresas de investimento e grandes bancos de
varejo.
estavam recheados de comerciais de empresas de investimento e grandes bancos de
varejo.
grande mídia e a banca financeira. E os delatores da JBS que antes de jogar
tudo no ventilador, compraram “considerável quantia de dólares” sabendo que o
dia seguinte seria de pânico e disparada do dólar.
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