domingo, 14 de maio de 2017

Ato Falho de São Paulo

Ato Falho de São Paulo, por Sergio Saraiva | GGN



Ato Falho de São Paulo, por Sergio Saraiva

Freud poderia construir sua obra sobre o inconsciente apenas lendo as matérias dos jornais brasileiros sobre Lula.





Por Sergio Saraiva


Ato falho - também conhecido como lapso freudiano, é
um erro na fala, na memória, na escrita ou numa ação física que seria
supostamente causada pelo inconsciente. Freud evidenciou que o ato falho
era sintoma da constituição de compromisso entre o intuito consciente
da pessoa e o reprimido. Através do ato falho o desejo do inconsciente é
realizado.


Lula já está condenado há anos, em quilômetros de folhas de
papel-jornal e tonéis de tinta de impressão. As provas é que não têm
colaborado.


Assim, não deve estar sendo fácil a vida da ombudsman da Folha. Como
conciliar o engajamento do jornal no mais desbragado antipetismo com o
apego à verdade factual necessária a um jornalismo que se quer
analítico?


Sob pressão, é interessante notar o que atos falhos nos trazem à
tona. Vejamos extratos de sua coluna de 14 de maio de 2017 em que
comenta o depoimento de Lula ao juiz Moro:


“Os jornais têm evidentemente de cumprir o papel de noticiar logo os fatos mais importantes. Assim o leitor espera”.


“Leitores têm questionado o que há de provas materiais de
crimes na Lava Jato, além de declarações acusatórias nascidas de
delações premiadas. Incomoda a alguns a reprodução acrítica de
depoimentos”
.


A ombudsman busca, agora, na memória, um porto seguro onde ancorar
suas esperanças na prática pela Folha de um jornalismo analítico e
factual.


“Em 7 de maio, a Folha publicou reportagem que
indica um caminho a seguir. Nela, revelou que depoimentos de delatores
da Odebrecht e materiais entregues como prova ao Ministério Público
Federal contêm erros factuais, contradições e inconsistências, em casos
que envolvem governadores e parlamentares, entre outros acusados”.



Pois é, e aqui começam os atos falhos.


A Folha apontou contradições nas acusações feitas pelo MPF a governadores e parlamentares majoritariamente... do PSDB.


A ombudsman sabe que: “urge que trabalho semelhante venha a ser feito com os personagens principais da Lava Jato”.


Por que, então, a Folha não segue o mesmo caminho em relação à Lula e
ao PT. Não é o que espera a parte dos seus leitores que reclama a
apresentação de fatos?


Pronto, o subconsciente trai a ombudsman. E ela interpreta
inconscientemente a cobrança dos leitores não como se fosse por isenção,
mas como se fosse por mais empenho da Folha em condenar definitivamente
a Lula.


“Entendo a cobrança dos leitores sobre a publicação do
que existe de provas concretas. A Folha tem de ser cuidadosa em suas
afirmações, ao mesmo tempo em que precisa demonstrar que indícios
constroem circunstâncias que podem formar a convicção do juiz e daí
levarem à condenação de determinado acusado.



Não é necessário, como parte dos leitores acredita, que
existam provas materiais como extratos bancários, papéis assinados
irrefutáveis, confissões de culpa gravadas, vídeos de encontros etc. Não
se pode provar com probabilidades, como disse um ministro do STF, mas
um somatório de indícios pode se tornar prova cabal que permita atribuir
um crime a alguém”.



Interpretando o que salta do discurso da ombudsman: não é necessário
que existam provas materiais, mas um somatório de indícios pode se
tornar prova cabal que permita atribuir um crime a alguém.
A Folha precisa demonstrar que indícios constroem circunstâncias que
podem formar a convicção do juiz e daí levarem à condenação de
determinado acusado.


A confissão inconsciente não pôde ser controlada. Através do ato falho o desejo do inconsciente é realizado.


A inocência de Lula não é mais uma das duas possibilidades racionais
de um julgamento. Condenação ou absolvição conforme as provas
apresentadas. A inocência de Lula foi afastada pelo inconsciente da
ombudsman.


Lula é imperdoável.


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