Reforma cria uma guerra de classe
Ao assistir, quarta (26), à votação da reforma antitrabalhista,
ocorreu-me frase atribuída ao bilionário Warren Buffett. Em tradução
livre, a sentença do investidor seria a seguinte: "Existe, sim, guerra
de classe, mas é a minha classe, a classe dos ricos, que está fazendo
guerra, e estamos ganhando".
O ditado me voltou porque o debate que explodia no plenário fora pautada
cinco anos atrás pela Confederação Nacional da Indústria (CNI). O
documento intitulado "101 propostas para a modernização trabalhista",
para o qual chamei a atenção aqui à época, antecipava o duelo atual. Ali se dissolvia a coalização produtivista (industriais + sindicatos).
Incrédulo quanto ao que parecia uma lenda urbana, consultei a internet.
De fato, a citação do segundo homem da lista da Forbes aparecera em
reportagem do jornal "The New York Times" no dia 26 de novembro de 2006.
Incrível, mas verdadeira, portanto.
Depois, voltei aos deputados que protagonizavam o mais explícito
confronto classista de que me lembro em âmbito congressual no Brasil,
por iniciativa da direita, seguindo a previsão buffettiana. Em reação,
verificou-se a maior unidade popular de que tenho notícia.
Líderes de partidos oposicionistas usavam os microfones para afirmar
que, por trás da derrocada da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT),
estavam 200 parlamentares empresários, filiados às agremiações
governistas. O PT lembrou-se, em uníssono, de onde vem o T da sua sigla.
Cada um dos membros da bancada fazia questão de declarar, orgulhoso, o
voto contrário ao esbulho da legislação.
PSOL, PDT, Rede, PMN, Solidariedade, PSB, enfim, legendas que têm algum
vínculo com o mundo do trabalho, brandiam vistosos cartazes com uma
carteira de trabalho rasgada. Um parlamentar do PC do B, ele mesmo
operário metalúrgico, chegou a vestir um macacão para protestar contra a
retirada de antigos direitos dos trabalhadores.
No final de contas, contudo, 296 representantes do povo votaram a favor
do emprego sem horário fixo e para que não haja obrigatoriedade de
pagamento pelo piso da categoria ou pelo salário mínimo na remuneração
por produção, entre muitos outros retrocessos. Da outra parte, 177 se
manifestaram contra as propostas patronais. Ficara claro de que lado
estava, naquela noite, a maioria da Câmara.
A resposta veio na sexta (28). Na que talvez tenha sido a maior
paralisação nacional desde os anos 1980, se não me falha de novo a
lembrança, a base da sociedade mostrou que começa a reagir. Agora,
precisamos preservar a democracia para que, mesmo de maneira lenta e
paulatina, seja possível construir uma representação majoritária capaz
de reverter a batalha histórica perdida nesta semana.
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