domingo, 21 de maio de 2017

Carta ao meu amigo coxinha

Carta ao meu amigo coxinha, por Sergio Saraiva | GGN



Carta ao meu amigo coxinha


por Sergio Saraiva


Qual a solução para a atual crise política do Brasil?


Simples.


Primeiramente, Fora Temer. Depois, a Dilma volta e completa o mandato
interrompido. Eleições gerais em 2018 e a gente finge que nada
aconteceu. Vida que segue.


Você acha minha proposta absurda?


É, talvez seja mesmo.


Mas é pelo menos tão absurda quanto a de Michel Temer continuar no poder e a gente fingir que nada está acontecendo.


Que não houve as reuniões noturnas no Palácio do Jaburu, e não só com
Joesley da JBS, mas antes também com Odebrecht e com outros. Que não
houve as gravações e que não houve o “tem que manter isso aí” e que não
houve as malas de dinheiro entregues ao seu homem de confiança e
devidamente filmadas pela Polícia Federal.


Você também acha isso absurdo?


Então preste atenção: tem jornal importante alegando que “ainda é
cedo para dizer que a administração Temer acabou”. Dizendo que “não
surgiram evidências irrefutáveis de que o presidente Michel Temer
cometeu crime”. Quando não vão além e classificam as denúncias contra
Temer de “conspiração”.


Os movimentos pró-impeachment, que levaram centenas de milhares de
pessoas às ruas com camisas amarelas e palavras de ordem contra a
corrupção, talvez você entre elas, estão quietos nos seus cantos no
facebook fazendo cara de paisagem.


Quando eu era garoto, havia uma música que dizia que era preciso estar atento e forte.  Pois, os bons tempos voltaram.


Não sei de que lado do coquetel molotov ou da bomba de gás
lacrimogênio você estava em 2013, mas se você deseja viver um país, é
preciso estar atento e forte.


E a única solução para a crise política, e para a consequente e cruel
crise econômica, pela qual passa o país, desde então, é o respeito à
Constituição Federal de 1988, ao seu artigo primeiro que determina:
“todo poder emana do povo e em seu nome ou por ele deverá ser exercido”.


A solução para a atual crise política do Brasil é uma só: “Diretas Já”.


Espaço Colaborativo de Comentários





Caro Sérgio

Primeiro
não tive culpa, votei no Aécio. Fui apoiado pelos mais brilhantes
analistas do caráter dos políticos brasileiros, como o Madureira, o
Frota e outros, principalmente os colunistas da família Marinho. Depois
me transformei em Cunha, afinal, todos os bons homens de bens e Benz do
Brasil assim o fizeram. Quando a búlgara ficou enfraquecida fui às ruas
dar o golpe final. Vesti o sagrado manto amarelo CBF e ergui em adoração
o pato da Fiesp.


Com o sucesso global da vitória do Temer, embalado pela gente
diferenciada e pela massa cheirosa, senti-me redimido. Não admitia, como
não admito, ser governado por alguém eleito pelos pobres e pelos
nordestinos. Possuo méritos, não dependo da ajuda do Estado. Sempre
estudei nas melhores escolas particulares e o meu pai sempre pagou
outros cursos, inclusive comprou o gabarito do vestibular. Formei-me na
universidade, como pôde ver, graças ao meu esforço. Não é fácil copiar a
sequência correta de dezenas de questões.


Agora, dizem que Michel acabou. Está errado. Este governo é um
projeto que reúne as mais brilhantes mentes. Daqui e de fora. A sua
parte visível são as necessárias reformas para que o Brasil entre na era
do liberalismo econômico. Revogando todas as aberrações impostas aos
que geram riquezas. Devemos apagar as leis, que desde o Século XIX,
atentam contra a livre iniciativa e a propriedade privada.


Quando Isabel violou os legítimos interesses de quem produzia as
riquezas no Brasil, retirando sem qualquer indenização os braços da
lavoura resistimos e a enviamos com sua família para a Europa. Tivemos
quarenta anos de governos republicanos como devem ser. Prendendo e
arrebentando quem se opunha à ordem e a lei. Nós sabemos, desde os
inícios da história, que o social deve ser tratado pela polícia. Depois
de homens de grande valor como Artur Bernardes e Washington Luiz
esperamos mais de sessenta anos por um novo líder com as mesmas
preocupações. Somente com Fernando Henrique Cardoso o espírito liberal
retornou à presidência. Depois um terrível intervalo de atribulações com
o lulo-petismo, porém, finalmente a redenção. A coragem do novo governo
ultrapassou até mesmo a dos militares, sepultando a CLT e a
aposentadoria.


Seja o indicado Meirelles, FHC ou outro terá o apoio necessário para
sacramentar as mudanças que citei. A imprensa livre, que vocês chamam de
mídia, as entidades que reúnem os geradores de riqueza e todos os
demais que possuem propriedades. Precisamos estancar a sangria de
recursos dos detentores de riquezas. É preciso valer o princípio do
Direito que diz a cada um o que lhe pertence. Aos ricos à riqueza...


Esta conversa de diretas já é golpe dos comunistas. Sabemos que se os
pobres, os empregados e outros que dependem do nosso dinheiro para
sobreviverem escolherem não apoiarão a retirada do entulho autoritário
socialista, que foi pouco a pouco inserido na legislação. Isto desde a
tal lei áurea. Quremos não apenas a escolha pelo Congresso do indicado
da Rede Globo, mas a prorrogação dos mandatos. Não podemos permitir que o
mercado financeiro sofra abalos diários causados pelas pesquisas de
intenções de votos.


Não se preocupe com o nosso retraimento. Isto é momentâneo. Sei que o
dinheiro recebido pelo nossos foi por duas boas causas: afastar o
perigo vermelho e garantir o futuro dos seus. Coisa que todos nós
coxinhas entendemos perfeitamente, seja civil, fardado ou togado.


Não me escrevas mais,


Beócio Coxinha

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