quinta-feira, 21 de abril de 2016

A crise brasileira e a geopolítica mundial | Leonardo Boff

A crise brasileira e a geopolítica mundial | Leonardo Boff



A crise brasileira e a geopolítica mundial

20/04/2016

Seria errôneo pensar a crise do Brasil apenas a partir do
Brasil. Este está inserido no equilíbrio de forças mundiais do âmbito na
assim chamada nova guerra fria que envolve principalmente os EUA e a
China. A espionagem norte-americana, como revelou Snowden atingiu a
Petrobrás e as reservas do pre-sal e não poupou até a presidenta Dilma.
Isto é parte da estratégia do Pentágono de cobrir todos os espaços sob o
lema:”um só mundo e um só império”. Eis alguns pontos que nos fazem
refletir.


No contexto global há um ascensão visível da direita no mundo
inteiro, a partir dos próprios EUA e da Europa. Na América Latina está
se fechando um ciclo de governos progressistas que elevaram o nível
social dos mais pobres e firmaram a democracia. Agora estão sendo
assolados por uma onda direitista que já triunfou na Argentina e está se
pressionando todos os países sul-americanos. Falam, como entre nós, de
democracia mas, na verdade, querem torná-la insignificante para dar
lugar ao mercado e à internacionalização da economia.


O Brasil é o principal atingido e o impedimento da presidenta Dilma é
apenas um capítulo de uma estratégia global, especialmente das grandes
corporações e pelo sistema financeiro articulado com os governos
centrais. Os grandes empresários nacionais querem voltar ao nível de
ganho que tinham sob as políticas neo-liberais, anteriores a Lula. A
oposição à Dilma e o apoio ao seu impedimento possui um viés patronal. A
Fiesp com o Skaf, a Firjan, as Federações do Comércio de São Paulo, a
Associação Brasileira da Indústria Eletrônica e Eletrodomésticos
(Abinee), entidades empresariais do Paraná, Espírito Santo, Pará e
muitas redes empresariais estão já em campanha aberta pelo impedimento e
pelo fim do tipo de democracia social implantada por Lula-Dilma.


A estratégia ensaiada contra a “primavera árabe” e aplicada no
Oriente Médio e agora no Brasil e na América Latina em geral consiste em
desestabilizar os governos progressitas e alinhá-los às estratégias
globais como sócios agregados. É sintomático que em março de 2014 Emy
Shayo, analista do JB Morgan coordenou uma mesa redonda com
publicitários brasileiros ligados à macroeconomia neoliberal com o
tema:”como desestabilizar o governo Dilma”. Armínio Fraga, provável
ministro da fazenda num eventual governo pós-Dilma vem do JB Morgan (cf.blog de Juarez Guimarães,”Por que os patrões querem o golpe”).


Noam Chomski, Moniz Bandeira e outros advertiram que os EUA não
toleram uma potência como o Brasil no Atlântico Sul que tenha um projeto
de autonomia, vinculado aos BRICS. Causa grande a preocupação à
política externa norte-americana a presença crescente da China, seu
principal contendor, pelos vários países da América Latina,
especialmente e no Brasil. Fazer frente a outro anti-poder que
significam os BRICS implica atacar e enfraquecer o Brasil, um de seus
membros com uma riqueza ecológica sem igual.


Talvez o nosso melhor analista da política internacional. Luiz
Alberto Moniz Bandeira, autor de “A segunda Guerra Fria – geopolítica e
dimensão estratégica dos Estados Unidos” (Civilização Brasileira 2013) e
o deste ano “A desordem internacional”(da mesma editora) nos ajude a
entender os fatos. Ele trouxe detalhes de como agem os EUA: ”Não é só a
CIA… especialmente as ONGs financiadas pelo dinheiro oficial e
semi-oficial como a USAID, a National Endwoment for Democracy, atuam
comprando jornalistas e treinando ativistas”. O “The Pentagon´s New Map
for War & Peace” enuncia as formas de desestabilização econômica e
social através dos meios de comunicação, jornais, redes sociais,
empresários e infiltração de ativistas Moniz Bandeira chega a afirmar
que “não tenho dúvida de que no Brasil os jornais estão sendo
subsidiados…e que jornalistas estão na lista de pagamento dos órgãos
citados acima e muitos policiais e comissários recebem dinheiro da CIA
diretamente em suas contas”(cf. Jornal GGN de Luis Nassif de
09/03/2016). Podemos até imaginar quais seriam esses jornais e os nomes
de alguns jornalistas, totalmente alinhados à ideologia
desestabilizadora de seus patrões.


Especialmente o pré-sal, a segunda maior jazida de gás e de petroleo
do mundo, está na mira dos interesses globais. O sociólogo Adalberto
Cardoso da UERJ numa entrevista à Folha de São Paulo (26/04/2015) foi
explícito“Seria ingenuidade imaginar que não há interesses
internacionais e geopolíticos de norte-americanos, russos, venezuelanos,
árabes. Só haveria mudança na Petrobras se houvesse nova eleição e o
PSDB ganhasse de novo. Nesse caso, se acabaria o monopólio de
exploração, as regras mudariam. O empeachment interessa às forças que
querem mudanças na Petrobrás: grandes companhias de petróleo, agentes
internacionais que têm a ganhar com a saída da Petrobrás da exploração
de Petróleo. Parte desses agentes quer tirar Dilma “.


Não estamos diante de um pensamento conspiratóro, pois já sabemos
como agiram os norte-americanos no golpe militar em 1964, infiltrados
nos movimentos sociais e politicos. Não é sem razão que a quarta frota
norte-americana do Atlântico Sul está perto de nossas águas.


Devemos nos conscientizar de nossa importância no cenário mundial,
resistir e buscar o fortalecimento de nossa democracia que represente
menos os interesses das empresas e mais as demandas tão olvidadas de
nosso povo e na construção de nosso própro caminho rumo ao futuro.


Leonardo Boff é articulista do JB online e escritor.

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