terça-feira, 11 de junho de 2019

A briga pela verdade também enfrenta a Globo


A briga pela verdade também enfrenta a Globo


A captação irregular do diálogo entre a então Presidenta Dilma Rousseff com o ex-presdente Lula, em 2016, não foi obstáculo para que O Globo reproduzir as frases gravadas em letras garrafais, em sua primeira página.
Agora, porém, a forma com que se obteve o conjunto de mensagens trocada entre promotores e o então juiz Sérgio Moro é colocada  como invalidadora do conteúdo que traz.
Não é assim, e o prova o artigo escrito pelo jurista Gamil Föppel El Hireche – membro das comissões de Reforma do Código Penal e da Lei de Execução Penal – no Conjur:
Impõe-se dizer que, se hackeados forem, as provas são ilícitas para investigar os sujeitos processuais, mas não são, decididamente, ilícitas para anular os processos em que atuaram, máxime porque a prova ilícita pode repercutir para a anulação dos procedimentos investigativos. Ou seja, não é prova ilícita para condená-los, é prova ilícita pro reo, para anular os processos.
O grupo Globo, ainda não se sabe a razão, está envolvido até a medula neste caso. Pudesse, dariaa Moro o mesmo tratamento que deu a outros que lhe serviram de instrumentos.
Por lá, e por muita gente com o distintivo guardado e com a identidade funcional escondida, há uma operação “caça-furada”, buscando formas de tirar a credibilidade do material divulgado pelo The Intercept.
Tem toda a razão a prudência de Gleen Greenwald, que o ex-ministro Renato Janine Ribeiro definiu como “estratégia brilhante”:
Ele previu até o argumento que iam usar: a defesa da lei e da privacidade. E respondeu a isso domingo, antes mesmo da reação do grupo: vcs não fizeram isso com Dilma? Que moral têm? Assim, tirou deles o argumento moral, que era o principal da LavaJato e que esta conduziu para a ideia de que os fins justificam os meios.
Enquadrou a mídia pátria. A imprensa internacional caiu matando. A Folha de hoje tem um relato bom das reações no estrangeiro. E os jornais de fora que li chamam todos nosso governo de exceção de “extrema-direita”. Nenhum usa o eufemismo “direita” (direita é Merkel, cara-pálida!) ou “liberal” (liberal é o Economist, stupid!). Vai ser difícil passar pano por muito tempo.
 Ao dizer que não divulgaria as intimidades dos membros do grupo , mostrou-se superior a eles (que publicaram conversas privadas de dona Mariza – sem falar na subtração do iPad do pequeno, hoje falecido, Artur) – e deve ter causado medo de que divulgue. Acuou-os.
 Finalmente, anunciou que soltará mais dados a conta-gotas. Tornou-se senhor do tempo ou, se quiserem, é quem decide quais serão as próximas etapas, o desdobramento do assunto (até porque ninguém sabe o que ele sabe).
Há, para roubar a expressão do caro Luís Nassif, um xadrez. E xadrez requer paciência.

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