Moro de Tolo
Marcelo Zero afirma que "Moro Irá ao EUA articular-se melhor com os
norte-americanos, talvez buscando subsídios para sua nova cruzada
antidemocrática contra a liberdade de imprensa"
Marcelo Zero
Não obstante, o improvável herói, como soe acontecer no nosso meio jurídico, gosta de citações em latim, mesmo não tendo muita intimidade com sua última flor.
Nesse último dia 23, o Brasil amanheceu aquinhoado com profundo e sábio twitter do herói. A propósito da reportagem da Folha com novos diálogos da insopitável dupla Moro/Dallagnol, o herói citou Horácio: parturiunt montes, nascetur ridiculus mus. Em português aproximado, “as montanhas dão à luz, nascerá um rato ridículo”. Ou, mais popularmente, a montanha pariu um rato.
Como sempre, desde que as vísceras da Lava Jato começaram a ser expostas, Moro reafirma que os diálogos não têm nada de mais, embora possam ter sido fabricados por um tenebroso hacker. Porque esse tenebroso hacker se daria ao trabalho de invadir a sua conta e a do procurador para fabricar diálogos que “não têm nada de mais” escapa à compreensão dos que não consideram Moro um herói. O próprio Horácio, vivo fosse, não entenderia bem essa lógica tortuosa do semideus.
Aliás, para fabricar diálogos falsos, não precisa hackear a conta de ninguém, basta inventar informações. Basta fabricar e divulgar fake news, como fazem, em profusão, os seguidores do herói.
Pois bem, os últimos diálogos divulgados pela Folha são tudo, menos ratos ridículos.
A solidariedade do “bobinho”, para usar a pitoresca expressão do ministro Gilmar Mendes, embora exponha a promíscua relação de intimidade entre juiz e procurador, é o de menos, no caso.
O problema maior está na origem da “lambança”. .
Moro e seus “bobinhos” preferiram, porém, continuar a investigar como se montanhas majestosas fossem. Daí o receio de Moro com a “bola nas costas” da Polícia Federal que, sem querer, expôs a usurpação das prerrogativas do STF, ao revelar as planilhas.
Não há dúvida de que Moro e seus “bobinhos” desconfiavam do STF e queriam ocultar tudo de Teori Zavascki, para manter o domínio dos fatos, ou melhor, das versões.
Os donos do Power Point da moral achavam que eram os únicos capazes de investigar atos de corrupção. Acreditavam mesmo que eram heróis em meio a um “mar de lama” e instituições corruptas, inclusive o STF. Por isso, julgavam-se no direito de usurpar a competência alheia, de não respeitar as leis, de conspirar, de apresentar suas opiniões como se fatos fossem, de violar direitos humanos, de agredir o direito à defesa e o devido processo legal, etc.
Promoveram a corrupção da democracia e do Estado de Direito em nome do combate à corrupção. Promoveram o Moro de Tolo.
A fama e a adulação da mídia subiram-lhes às pequenas cabeças de mures metafóricos de primeira instância e às montanhas de egos monumentais.
Perderam-se e, pior, perderam o Brasil.
Nesse processo, o ridiculus mus de primeira instância, para usar a expressão de Horácio, e seus seguidores, enlouquecidos e açulados, pariram, ou ajudaram a parir, montanhas descomunais.
Pariram um golpe de Estado. Pariram a prisão, sem provas, do maior líder popular da nossa história. Pariram uma eleição fraudada. Pariram a destruição de vastos setores da nossa economia. Pariram desemprego. Pariram desesperança. Pariram nosso fascismo. Pariram a desconstrução da nossa soberania. Não é pouco.
O tempora! O mores! O mures! Cícero que me perdoe.
Como disse François de La Rochefoucauld, a virtude só vai longe quando não mantém a companhia da vaidade.
Resta ver o que a montanha do STF vai fazer, ante tal nova e gravíssima revelação. Dará razão àquele que o desprezou ou defenderá a Constituição? Defenderá a honra de Teori? Curvar-se-á ante o ridiculus mus? Temerá chutes de coturnos?
Não sabemos.
Sabemos que Moro continuará com sua soberba de semideus ungido no Olimpo das mídias. Irá ao EUA articular-se melhor com os norte-americanos, talvez buscando subsídios para sua nova cruzada antidemocrática contra a liberdade de imprensa. Talvez desça do Everest do DOJ com novos mandamentos para restringir ainda mais o que restou da democracia brasileira.
Pelo andar da carruagem, essa pode ser a estratégia política do governo Bolsonaro, um crescente desastre econômico e político que ruma célere ao Maelström do caos.
Também não sabemos, ao certo.
Sabemos, contudo, que Moro gosta muito de latim. Assim, aqui vai um provérbio para agregar ao seu enciclopédico conhecimento: verbum emissun non est revocabile.
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