O rato que o Brasil viu nascer da montanha de vazamentos da Lava Jato tem nome e sobrenome: Sérgio Fernando Moro.
O ex-juiz de Maringá, independentemente do que vier a ocorrer após
esse que é o maior escândalo da história do país, conseguiu um feito
inédito: jogou o Brasil no abismo, tramando contra a democracia,
quebrando empresas estratégicas na área de infraestrutura, minando a
confiança da população nas instituições e, especialmente, jogando na
lata do lixo a credibilidade da Justiça.
Em mais uma obviedade, Moro seguiu para os Estados Unidos, onde
espera se reunir com cúmplices no seu projeto de desmonte do Estado
brasileiro: os agentes da CIA, a agência de Inteligência responsável por
investigar e fornecer informações de segurança nacional para os Estados
Unidos.
Há tempos a interferência americana nos destinos do Brasil vem sendo
denunciada. Em entrevista aqui no DCM, em novembro do ano passado,
Fábio Konder Comparato já apontava.
“Tudo começou com o seminário internacional Illicit Financial
Crimes, que deu origem ao denominado Projeto Pontes”, disse o jurista.
“Esse seminário foi realizado no Rio de Janeiro, entre os dias 4 a 9 de
outubro de 2009, com a presença de membros seletos da Polícia Federal,
do Poder Judiciário e do Ministério Público da União Federal e dos
Estados, contando também com a participação de representantes do México,
Costa Rica, Panamá, Argentina, Uruguai e Paraguai”.
Naquela oportunidade, informa Comparato, o então juiz Sergio Moro e o
procurador Deltan Dallagnol solicitaram treinamento para combater os
chamados crimes de corrupção.
A estreita ligação de Moro com os Estados Unidos foi afinal revelada
quando, em 2016, os meios de comunicação de massa norte-americanos o
apresentaram como personalidade de destaque mundial, após receber a
Medalha do Pacificador, concedida pelo Exército Brasileiro como
reconhecimento pelos relevantes serviços prestados ao país.
A tática utilizada pelas autoridades americanas para se introduzirem
no funcionamento do Estado Brasileiro segue um script bem conhecido:
apostar na desmoralização dos principais representantes do Poder
Público, mediante a revelação de atos de corrupção, e estimulando sua
substituição por outros personagens ligados aos interesses
norte-americanos.
“Tal estratégia, que se saiba”, segundo Konder Comparato, “foi pela
primeira vez aplicada contra o presidente Getúlio Vargas, após a criação
da Petrobras em 1953; mas não deu resultado, em razão do suicídio do
Presidente no ano seguinte”.
Entre os incrédulos, a pergunta que se faz é: qual o interesse dos
Estados Unidos em aparelhar Sergio Moro e Deltan Dallagnol para
desestabilizar a democracia e levar o Brasil à bancarrota?
“Ela foi provocada, sem dúvida, pela descoberta em 2007 da camada do
pré-sal, revelando um dos maiores campos de petróleo de todos os
tempos”, diz Comparato.
No afã de se defender, Moro e os procuradores têm atacado a
publicação dos vazamentos. Dizem que não podem garantir que as
mensagens, que segundo eles foram obtidas por hackers, não foram
adulteradas.
Seja como for, a associação entre o Intercept e a Folha dá uma nova
voltagem ao material e debilita a estratégia de atacar a divulgação e a
própria reputação dos jornalistas.
A Folha diz que não encontrou indícios de que os diálogos tenham
sido adulterados, considerando, também, que a divulgação é de interesse
público.
A matéria deste domingo explora mensagens trocadas entre Moro e Dallagnol a partir de março de 2016.
Nelas, o então juiz se diz preocupado com a repercussão negativa das
gravações de Lula e Dilma e todo um pacote de interceptações envolvendo
a família do ex-presidente, algumas sem qualquer ligação com as
investigações.
Parte da opinião pública não aceitava a divulgação dos áudios
minutos após recebê-los, especialmente por causa de um trecho envolvendo
Dilma, que tinha foro privilegiado.
Outra crítica era o fato de que a captação ter sido feita fora do período legal autorizado.
Moro havia sido advertido pelo ministro Teori Zavascki, então
relator da Lava Jato no STF, e temia ser punido pelo Conselho Nacional
de Justiça.
Foi então que avaliou que a operação havia cometido uma “lambança”,
lembrando a Dallagnol que a Polícia tinha espalhado uma lista apreendida
em escritórios da Odebrecht envolvendo políticos com foro privilegiado
em doações ilegais, o que levaria o caso para o Supremo Tribunal
Federal.
“Não pode cometer esse tipo de erro agora”, escreveu o então chefe da Operação.
O procurador rapidamente agiu para animar o colega.
“Faremos o que for necessário para defender você de injustas acusações”, devolveu Dallagnol.
Em outro momento, Moro apontou suas críticas aos “tontos” do MBL por protestarem no condomínio do ministro Zavaski.
“Isso não ajuda “, disse.
Os próximos capítulos dessa novela vão se dar em duas frentes: uma política, outra jurídica.
Na primeira, a oposição vai manter a pressão por uma CPI sobre o
caso. A segunda é no Supremo Tribunal Federal, já que uma turma prevê
analisar na próxima terça-feira um pedido da defesa de Lula.
Ainda não é certo que haverá esse julgamento —os ministros do STF,
como já ocorreu em outras oportunidades, podem adiar a análise, apesar
de estarem conscientes do desgaste que a chicana iria provocar.
Nos Estados Unidos, onde está neste momento, Moro segue em busca de
apoio para se livrar da montanha de escândalos que desabou sobre sua
cabeça. O rato enfim saiu da toca. E está nu.
Nenhum comentário:
Postar um comentário