Carta de Berlim: A defesa de Moro, vista de longe: elogio da mediocridade
20/06/2019 12:36
O ex-juiz e atual ministro Sérgio Moro escolheu o pior caminho para se defender na audiência de ontem na Comissão do Senado que o recebeu: o de se dirigir à idiotice de quem o ouvia, fosse na plateia imediata, presente, fosse na virtual, televisiva ou internauta.
O argumento de Moro, cansativamente repetido ao longo das nove horas de seu depoimento, pode ser resumido assim:
1 - Eu nego a autenticidade das conversas apresentadas.
2 - Elas “podem” ter sido adulteradas.
3 - Não me lembro delas.
4 - Não existem mais os originais.
5 - Eu as deletei de meu celular.
6 - E assim elas foram automaticamente deletadas na nuvem de que faziam parte, no Telegram.
7 - Somos, eu e a Lava Jato, vítimas de uma ação persecutória.
8 - Quem me acusa de ilícitos quer proteger os corruptos que condenamos.
9 - Tudo o que fiz foi legal.
10 - Se provarem que fiz algo ilegal, eu renuncio.
Rebato, de trás pra diante:
1 - Moro não vai renunciar. Se largar o osso, perde o filé, que é sua virtual candidatura à presidência, ou desiste do contra-filé, que é sua nomeação para o Supremo. É um blefe, no melhor estilo de seu agora Guru protetor, Bolsonaro. Acontece que Bolsonaro é um craque da empulhação. Moro tenta imita-lo, mas é um craque da mediocridade. Até em empilhar ele é medíocre. Bolsonaro tenta imitar Trump: ora diz, ora desdiz, ora recua, ora repete as mesmas estratégias. Moro, agora, tenta imitar Bolsonaro. É a meta-imitação. Com pouco sucesso.
2 - Moro desconhece a lei sobre o comportamento de juízes. Seja por ignorância, seja por tentativa de esperteza, mostra sua incapacidade para o cargo, e para o de ministro. Eu diria até que para juiz de futebol de várzea.
3 - Ninguém que acusa Moro de ilegalidades está querendo proteger outras ilegalidades. Este é um argumento, da parte dele, destinado a desviar o foco da questão. É uma falácia clássica, atribuindo a outrem o que este não disse.
4 - A Lava-Jato não e vítima de uma açanã persecutória. Ela é objeto de uma devassa, sobre seus métodos, suas práticas, seus objetivos reais e seus resultados, sendo que um dos principais destes é a condenação de alguém sem provas para alija-lo de uma disputa política, visando favorecer uma corrente política, a direita, e obter benesses por parte do vencedor do pleito, combinadas de antemão.
5 – 6 – 7 - O procurador Dallagnol disse recentemente que também deletou tudo. Desculpem: juízes e procuradores que deletam conversas de um dos processos mais importantes de suas vidas e do país, parecem o quê? Anjos? Além disto, a afirmação de que que se elas, as conversas, foram deletadas dos respectivos celulares, então “não existem mais” , é, para dizer o mínimo, ingênua ou idiota. É confiar demais do mundo da Telegram, da inteligência e contra-inteligência informativa. Entre eles, com estas afirmações frívolas e tolas, e o The Intercept, só há uma possibilidade. Confiar neste último. As conversas devem estar armazenadas até na CIA. Ou na ex-KGB.
8 - Moro deferia ganhar o prêmio Alzheimer do ano. Ou o Esclerose Cerebral.
9 - São ínfimas as possibilidades. Os Lava-Jatos, os jornalistas e senadores lava-jateiros não têm a menor ideia de com quem estão lidando. Falam para a sua corte. Glenn Greenwald, prêmio Pulitzer e mais outros sete prêmios de relevância internacional, é citado como um dos 50 ou mesmo dos 25 colunistas mais influentes nos Estados Unidos.
10 - Se negam a autenticidade das conversas apresentadas, devem apresentar as “autênticas”. Eliminaram? Isto pode ser considerado eliminação de provas. Crime.
Algo que ficou evidente nas nove horas de depoimento é o medo que bajuladores e críticos sentem diante de Moro e da Lava Jato. Indevido? Sim, indevido. Mas dá para entender diante de uma equipe de juízes e procuradores que fizeram da chantagem seu principal estilo de atuação.
Moro se diz discípulo da Mani Puliti italiana. Esta foi um desastre, ajudando a produzir Berlusconi e agora, a longo prazo, o Movimento 5 Estrelas e Matteo Salvini, o homem forte da Lega, ex-Nord. Mas as poucos vai parecendo sua real linhagem: a de Carl Schmitt, o jurista teórico do nazismo, que dizia ser o verdadeiro jurista de tempos excepcionais aquele que faz suas próprias leis. E o DNA de seu comportamento de ser juiz de instrução e ao mesmo tempo de condenação é o dos juízes da Inquisição, de Roland Freisler, o favorito do nazismo, Andrey Vychinsky, o favorito de Stalin, e Joe Mcarthy, o ed-juiz e senador que condenou todo mundo.
De todo modo, o depoimento de Moro foi o elogio da sua mediocridade. E mostra o clima insalubre do corporativismo jurídico brasileiro.
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