O Moro que disse o que disseram que ele disse
por Mário Montanha Teixeira Filho
A cada dia que passa, a sustentação da Lava Jato fica mais difícil. Existe um processo de desmoronamento em curso, muito além do trocadilho que o verbo “desmoronar”, raiz dessa expressão, invoca quando se trata do ex-juiz Sérgio Moro, comandante supremo da violência institucional praticada sob o lema do combate à corrupção. As revelações do site The Intercept Brasil, desencadeadas no dia 9 de junho, foram – e seguem sendo – avassaladoras. Protagonistas da força-tarefa, outrora “heróis de um povo abandonado”, à Jânio Quadros e sua vassoura de decretar boas maneiras, Moro, Deltan Dallagnol e outros da mesma linhagem messiânica se transformaram em seres confusos, empenhados em explicar o que não pode ser explicado no âmbito da legalidade.
Um esquema de destruição dos mecanismos tradicionais da política foi desvendado pelo Intercept. A equipe que executou as articulações judiciárias que colocaram empresários e chefes de Estado na cadeia, confirma-se agora, sempre agiu em conluio ideológico com a extrema-direita. Para Moro, figura central da conspiração, sobrou a tarefa indigesta de elaborar o discurso de negação do descumprimento da “lei” – como era de se prever, as reações oficiais ao escândalo foram, todas elas, marcadas pela superficialidade e pela incoerência.
Moro disse que o que disseram que ele disse é o que ele disse, de fato, mas que o que ele disse, que é o que disseram que ele disse, não tem importância nenhuma. Superada a confissão inicial, veio a segunda versão: o que disseram que ele disse não é o que ele disse, pois as frases que disseram que ele disse ele pode ter dito, de fato, mas também podem ter sido – elas, as frases – adulteradas por seus inimigos, e, ainda que ele tenha dito o que disseram que ele disse, ele não quis dizer o que talvez tenha dito.
E por aí seguiram as desculpas, com pequenas variações temáticas, adaptadas à imagem todo-poderosa do homem que impôs castigos exemplares aos ladrões nacionais. O desespero tomou conta do morismo, e não é de surpreender que o conforto buscado ansiosamente pelo ex-juiz-que-nunca-foi-juiz-e-sempre-foi-político tenha sido encontrado no Programa do Ratinho, uma aberração jornalística contratada a peso de muitas moedas para bajular o governo a que serve o agora ministro da Justiça.
Para completar, o domingo (23/6) reservou dissabores ao bolsonarista de ocasião: uma nova reportagem do Intercept mostrou-o insatisfeito com as aventuras dos “tontos do MBL”, uma trupe dedicada a espalhar notícias falsas, preconceitos e teses absurdas pelas redes sociais. Mas, como o que ele disse pode ser que não tenha dito, eis que Moro, o justiceiro impoluto, decidiu gravar um áudio em que implora, com voz de pato arrependido, o perdão dos meninos reacionários, que lhe haviam declarado apoio antes e depois das conversas impróprias. Vencidos os contratempos, restou-lhe fugir para os EUA, onde membros da Lava Jato foram buscar conselhos de policiais hollywoodianos, poupando-se de prestar esclarecimentos a uma comissão da Câmara dos Deputados durante a semana, na conturbada Brasília.
Moro, Dallagnol e a Lava Jato perderam o que talvez lhes restasse de autoridade moral. Nos processos da força-tarefa, atuaram à margem das regras elementares do direito e feriram gravemente a democracia. No campo da política, se uniram ao rebotalho ideológico, à “famiglia” Bolsonaro e seus amigos milicianos que habitam áreas nobres do Rio de Janeiro. Por muito pouco, não embarcaram numa nave presidencial tripulada por homens fardados a transportar 39 quilos de cocaína para o estrangeiro. Tudo muito edificante, como se vê.
Não se sabe até quando o País será submetido a esse horror institucionalizado. Nem o que acontecerá com a Lava Jato. Sabe-se, apenas, que é preciso recuperar a dignidade nacional, tripudiada por um projeto de poder entreguista e desumano. Moro, o que disse o que disseram que ele disse, Bolsonaro, o presidente do elogio à morte e ao obscurantismo, e militares que se nutrem de devaneios autoritários são todos iguais, personagens que não cabem no Brasil que os brasileiros merecem. Fora com eles!
A cada dia que passa, a sustentação da Lava Jato fica mais difícil. Existe um processo de desmoronamento em curso, muito além do trocadilho que o verbo “desmoronar”, raiz dessa expressão, invoca quando se trata do ex-juiz Sérgio Moro, comandante supremo da violência institucional praticada sob o lema do combate à corrupção. As revelações do site The Intercept Brasil, desencadeadas no dia 9 de junho, foram – e seguem sendo – avassaladoras. Protagonistas da força-tarefa, outrora “heróis de um povo abandonado”, à Jânio Quadros e sua vassoura de decretar boas maneiras, Moro, Deltan Dallagnol e outros da mesma linhagem messiânica se transformaram em seres confusos, empenhados em explicar o que não pode ser explicado no âmbito da legalidade.
Um esquema de destruição dos mecanismos tradicionais da política foi desvendado pelo Intercept. A equipe que executou as articulações judiciárias que colocaram empresários e chefes de Estado na cadeia, confirma-se agora, sempre agiu em conluio ideológico com a extrema-direita. Para Moro, figura central da conspiração, sobrou a tarefa indigesta de elaborar o discurso de negação do descumprimento da “lei” – como era de se prever, as reações oficiais ao escândalo foram, todas elas, marcadas pela superficialidade e pela incoerência.
Moro disse que o que disseram que ele disse é o que ele disse, de fato, mas que o que ele disse, que é o que disseram que ele disse, não tem importância nenhuma. Superada a confissão inicial, veio a segunda versão: o que disseram que ele disse não é o que ele disse, pois as frases que disseram que ele disse ele pode ter dito, de fato, mas também podem ter sido – elas, as frases – adulteradas por seus inimigos, e, ainda que ele tenha dito o que disseram que ele disse, ele não quis dizer o que talvez tenha dito.
E por aí seguiram as desculpas, com pequenas variações temáticas, adaptadas à imagem todo-poderosa do homem que impôs castigos exemplares aos ladrões nacionais. O desespero tomou conta do morismo, e não é de surpreender que o conforto buscado ansiosamente pelo ex-juiz-que-nunca-foi-juiz-e-sempre-foi-político tenha sido encontrado no Programa do Ratinho, uma aberração jornalística contratada a peso de muitas moedas para bajular o governo a que serve o agora ministro da Justiça.
Para completar, o domingo (23/6) reservou dissabores ao bolsonarista de ocasião: uma nova reportagem do Intercept mostrou-o insatisfeito com as aventuras dos “tontos do MBL”, uma trupe dedicada a espalhar notícias falsas, preconceitos e teses absurdas pelas redes sociais. Mas, como o que ele disse pode ser que não tenha dito, eis que Moro, o justiceiro impoluto, decidiu gravar um áudio em que implora, com voz de pato arrependido, o perdão dos meninos reacionários, que lhe haviam declarado apoio antes e depois das conversas impróprias. Vencidos os contratempos, restou-lhe fugir para os EUA, onde membros da Lava Jato foram buscar conselhos de policiais hollywoodianos, poupando-se de prestar esclarecimentos a uma comissão da Câmara dos Deputados durante a semana, na conturbada Brasília.
Moro, Dallagnol e a Lava Jato perderam o que talvez lhes restasse de autoridade moral. Nos processos da força-tarefa, atuaram à margem das regras elementares do direito e feriram gravemente a democracia. No campo da política, se uniram ao rebotalho ideológico, à “famiglia” Bolsonaro e seus amigos milicianos que habitam áreas nobres do Rio de Janeiro. Por muito pouco, não embarcaram numa nave presidencial tripulada por homens fardados a transportar 39 quilos de cocaína para o estrangeiro. Tudo muito edificante, como se vê.
Não se sabe até quando o País será submetido a esse horror institucionalizado. Nem o que acontecerá com a Lava Jato. Sabe-se, apenas, que é preciso recuperar a dignidade nacional, tripudiada por um projeto de poder entreguista e desumano. Moro, o que disse o que disseram que ele disse, Bolsonaro, o presidente do elogio à morte e ao obscurantismo, e militares que se nutrem de devaneios autoritários são todos iguais, personagens que não cabem no Brasil que os brasileiros merecem. Fora com eles!
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