Relembre: A profecia de Jucá e a Farsa Jato ou Farinha do mesmo saco, por Armando Coelho Neto
Artigo
de agosto de 2017 explica a razão para Armando Coelho Neto chamar de
Farsa Jato as operações policiais desencadeadas pela Polícia Federal
Por Armando Rodrigues Coelho Neto
Não existe combate à corrupção no Brasil e sim uma caça a Lula e ao Partido dos Trabalhadores. Já o disse antes neste espaço e reafirmo até prova em contrário. O processo seletivo de alvos permanece e alguns atos pontuais diferenciados, com aparente cunho apartidário, são calculados e seus efeitos são minimizados com notícias contra Lula, Dilma, PT. Os oficiantes da Farsa Jato sabem disso, enquanto ajudam a alimentar o bordão de que “todos são farinha do mesmo saco”, na desqualificação e criminalização da política.
Ao que parece a farinha do mesmo saco carece de melhor reflexão. Um bom começo é explicar a razão porque chamo de Farsa Jato as operações policiais desencadeadas pela Polícia Federal. Operações essas aplaudidas pelos políticos a quem servem, como se fossem farinha de outro saco, sob ovação de fósseis da guerra fria, ignorantes raivosos e uma legião de desavisados. Permaneço em estado de reserva crítica com meu “desconfiômetro” ligado.
Não estranhem a linguagem. Os tons das falas e os termos se adequam à aura que o ambiente ou interlocutor merecem. O interlocutor ausente, no caso, não merece respeito, pois integra a horda dos que se julgavam mais brasileiro e mais honesto que eu. Por ignorância ou má fé, destituíram uma Presidenta honesta e içaram ao comando da Nação um gabinete de quadrilheiros. A corja de suspeitos e investigados que destituiu Dilma Rousseff é a mesma que diz sim a um traidor golpista. Ele fica e não será investigado.
Mais fina ou mais graúda, a farinha da Farsa Jato vem da mesma plantação. Nesse concurso de farinhas, ficou claro o suspeito e criminoso conluio entre a mídia golpista e a cozinha do golpe. Veio à tona o vicioso círculo de produção recíproca de fatos: a farsa alimentando a mídia e a mídia alimentando a farsa, enquanto o brasileiro consciente ou não ficou órfão da verdade. Ninguém da Farsa Jato esboçou nota crítica ou esclarecedora quanto às coincidências entre operações e fatos políticos, nem quanto à relação de causa e efeito entre ações e omissões. Algo assim: quinta-feira tem um boato, na sexta-feira uma matéria na Globo, no sábado a capa da Veja e suas assemelhadas, no domingo… bate cachimbo…
Neste espaço chegamos a documentar as estranhas declarações de ministros da ex-suprema corte (minúsculas de protesto), que alardeavam a necessidade de que as decisões da justiça precisavam estar de acordo com o anseio da sociedade. Como assim? Se a Farsa a Jato em conluio com a justiça é quem alimenta a mídia e esta, por sua vez, forma, cria e desenvolve o anseio popular, como esperar uma sentença isenta, republicana, em conformidade com o Direito e a Justiça? Noutras palavras, existe uma promíscua ligação entre a aparente coerência de uma sentença e um anseio popular fabricado. Tudo a revelar a degradante relação da imprensa com o judiciário ou um encontro de farinhas.
(E surtiu efeito. Como um meliante em bando – um rouba a carteira e joga pro outro, que passa para um terceiro que grita: perdeu playboy!)
Promiscuidade. Esse é o termo que com clareza substitui expressões eufemísticas como imparcialidade, ação republicana, liberdade de imprensa. A Farsa Jato vaza, a imprensa divulga, escandaliza, reverbera o sentimento de indignação social. Logo, a sentença precisa atender o indignado anseio social.
Essa relação de causa e efeito ficou clara no pouco escrúpulo da sentença condenatória do ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva, no caso triplex. Moro descartou a prova legalmente admissível em direito (escritura, posse, domínio, controle) e se entregou ao contorcionismo jurídico para justificar um injustificável. Reconhecer a falta de provas seria um preço muito alto, não só para a Farsa Jato, mas também para a dita grande mídia, que segundo más línguas, quando condenada, dobra indenizações às vítimas para não ter que se retratar. A Farsa Jato não faria isso com suas parceiras.
Em nome da liberdade de imprensa, a execração pública do sentenciado fez parte do moto continuo. Eis a imprensa legitimada pelo judiciário; eis o judiciário legitimado pela imprensa; eis a imprensa e o judiciário legitimado pela opinião pública que ambos se encarregaram de formar. Eis o retrato da profecia de sarjeta difundida na surdina por Romero Jucá: o grande acordo nacional para içar o impostor Michel Temer ao comando da Nação. O congresso corrupto que destituiu Dilma Rousseff com ajuda da Farsa Jato é o mesmo que impede o traidor de ser investigado. O silêncio do STF sobre tudo, inclusive quanto a anulação do golpe, é parte do acordo.
A farsa continua. Para garantia do beiju e do pirão a serem feitos com as farinhas do mesmo saco urge preservar o “grande acordo nacional com judiciário e tudo”. Lula ficou horas-mídia exposto ao ódio insuflado pela mídia, etapa na qual a TV Globo cumpriu criminoso papel e conseguiu inserir no imaginário popular do eleitor do Lula ou não, a idéia de que o triplex do Guarujá é do ex-Presidente. Hoje, a grande decepção é constatar que nesse mesmo imaginário há significativo resíduo da imagem do melhor presidente da história. Isso pode queimar o beiju ou encaroçar o pirão.
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