A hipocrisia das CPIs e do uso político dos escândalos
Provavelmente nenhuma das CPIs levará a nada: todas
tratam do modelo de financiamento de campanha, o mesmo que elegeu os
governantes
tratam do modelo de financiamento de campanha, o mesmo que elegeu os
governantes
Provavelmente nenhuma das CPIs (Comissão Parlamentar
de Inquérito) anunciadas levará a nada, por uma singela razão: todas
elas entram no coração do modelo de financiamento privado de campanha do
país, o mesmo que elegeu a maioria dos parlamentares e governadores.
Os personagens são os mesmos que fornecem para a Petrobras, para o
Metrô de São Paulo, para a Cemig de Minas, para o porto de Suape, em
Pernambuco.
A CPI de Cachoeira acabou quando bateu nas relações Veja-Cachoeira
e quando o diretor da empreiteira Delta ameaçou abrir suas listas. Em
dois segundos, a CPI virou fumaça, abortada tanto pela oposição quanto
pelo PT.
A CPI do Banestado teve o mesmo destino quando encontrou contas
externas de grupos relevantes. A dos Precatórios terminou em pizza, pois
envolvia quase todos os partidos. E só avançou parcialmente pelo desejo
de alguns integrantes em atingir adversários políticos.
Agora mesmo, se o doleiro Alberto Yousseff abrir suas contas e soltar
sua língua, não sobra um partido inteiro no país. Daqui a pouco estará
livre, leve e solto como Carlinhos Cachoeira, o bicheiro que, em
parceria com Veja, ameaçou a República e transformou uma figura apagada – o ex-senador Demóstenes Torres – no catão mais temido do país.
***
Esse modelo torto criou uma cadeia improdutiva da denúncia que visa
tudo, beneficia a muitos, menos à moralidade pública. É de uma
hipocrisia acachapante e oportunista.
Grandes grupos jornalísticos ou o jornalismo de Internet têm à sua
disposição escândalos a granel, verdadeiros ou falsos, que são
escolhidos como em gôndolas de supermercados. Quer atingir alguém, um
grupo político adversário, uma empresa recalcitrante? Vá até a gôndola e
escolha o que quiser. Se não houver grandes escândalos, basta dar um
tratamento escandaloso a um pequeno problema e imediatamente se abaterá
sobre a empresa ou o político a mancha da suspeita.
Confira-se o que foi o aumento das verbas publicitárias da Serasa, quando alvo de uma CPI.
Basta um relatório inconclusivo de Tribunal de Contas, uma manchete
de jornal, um procurador pautado pela mídia para atingir o mais probo
dos políticos ou administradores. Ou dobrar a mais recalcitrantes das
empresas. É um poder sem limites.
Por aqui, uma revista é desmascarada em jogadas políticas e
comerciais com uma organização criminosa e nada ocorre. O Congresso se
apequena, o Ministério Público tergiversa, o Ministério da Justiça se
cala. O STF acaba com o direito de resposta, o CNJ (Conselho Nacional de
Justiça) monta um grupo para garantir a total liberdade dos grupos de
mídia. E esquece-se das vítimas porque as vítimas, ah, deixe por conta
da defensoria pública.
Na Inglaterra, por muito menos, conservadores, liberais e
trabalhistas, polícia e Judiciário se uniram para colocar no pelourinho o
mais poderoso magnata da mídia da atualidade, Rupert Murdock.
Resistir, quem há de? É uma mixórdia que beneficia os picaretas, por
ficarem na companhia de inocentes; e estigmatiza para toda a vida os
sérios.
***
Qualquer fato – verdadeiro ou falso – é empunhado contra o adversário
político ou contra a empresa não colaborativa. E tudo é aceito porque o
modelo político atual torna verossímil toda sorte de malfeitos - que
existem às pencas sim. Mas pouco atingem os grandes grupos que se
blindam com escritórios de advocacia caros e controles sobre verbas
publicitárias robustas.
O que explicaria, por exemplo, os R$ 2 milhões gastos pelo Ministério
da Educação com assinaturas da revista Nova Escola da Editora Abril?
Meramente méritos da revista ou barganhas políticas em torno de
reportagens? E qual a reportagem que deixou de ser publicada?
Daí a dificuldade de uma reforma política, com o fim do financiamento
privado de campanha, que rompa com esse anacronismo. Ou de mudanças na
legislação que permitam a punição severa ao crime grave mas a não
criminalização de qualquer erro administrativo.
Aos atuais parlamentares não interessa o fim do financiamento privado
de campanha, porque a maior parte deles depende desse modelo para sua
sobrevivência política. Aos grupos de mídia e aos Tribunais de Conta não
interessa uma racionalização dos procedimentos, pois reduziria sua
capacidade de gerar escândalos.
***
E todo esse jogo de cena se dá em cima do manto cinzento das negociações espúrias.
de Inquérito) anunciadas levará a nada, por uma singela razão: todas
elas entram no coração do modelo de financiamento privado de campanha do
país, o mesmo que elegeu a maioria dos parlamentares e governadores.
Os personagens são os mesmos que fornecem para a Petrobras, para o
Metrô de São Paulo, para a Cemig de Minas, para o porto de Suape, em
Pernambuco.
A CPI de Cachoeira acabou quando bateu nas relações Veja-Cachoeira
e quando o diretor da empreiteira Delta ameaçou abrir suas listas. Em
dois segundos, a CPI virou fumaça, abortada tanto pela oposição quanto
pelo PT.
A CPI do Banestado teve o mesmo destino quando encontrou contas
externas de grupos relevantes. A dos Precatórios terminou em pizza, pois
envolvia quase todos os partidos. E só avançou parcialmente pelo desejo
de alguns integrantes em atingir adversários políticos.
Agora mesmo, se o doleiro Alberto Yousseff abrir suas contas e soltar
sua língua, não sobra um partido inteiro no país. Daqui a pouco estará
livre, leve e solto como Carlinhos Cachoeira, o bicheiro que, em
parceria com Veja, ameaçou a República e transformou uma figura apagada – o ex-senador Demóstenes Torres – no catão mais temido do país.
***
Esse modelo torto criou uma cadeia improdutiva da denúncia que visa
tudo, beneficia a muitos, menos à moralidade pública. É de uma
hipocrisia acachapante e oportunista.
Grandes grupos jornalísticos ou o jornalismo de Internet têm à sua
disposição escândalos a granel, verdadeiros ou falsos, que são
escolhidos como em gôndolas de supermercados. Quer atingir alguém, um
grupo político adversário, uma empresa recalcitrante? Vá até a gôndola e
escolha o que quiser. Se não houver grandes escândalos, basta dar um
tratamento escandaloso a um pequeno problema e imediatamente se abaterá
sobre a empresa ou o político a mancha da suspeita.
Confira-se o que foi o aumento das verbas publicitárias da Serasa, quando alvo de uma CPI.
Basta um relatório inconclusivo de Tribunal de Contas, uma manchete
de jornal, um procurador pautado pela mídia para atingir o mais probo
dos políticos ou administradores. Ou dobrar a mais recalcitrantes das
empresas. É um poder sem limites.
Por aqui, uma revista é desmascarada em jogadas políticas e
comerciais com uma organização criminosa e nada ocorre. O Congresso se
apequena, o Ministério Público tergiversa, o Ministério da Justiça se
cala. O STF acaba com o direito de resposta, o CNJ (Conselho Nacional de
Justiça) monta um grupo para garantir a total liberdade dos grupos de
mídia. E esquece-se das vítimas porque as vítimas, ah, deixe por conta
da defensoria pública.
Na Inglaterra, por muito menos, conservadores, liberais e
trabalhistas, polícia e Judiciário se uniram para colocar no pelourinho o
mais poderoso magnata da mídia da atualidade, Rupert Murdock.
Resistir, quem há de? É uma mixórdia que beneficia os picaretas, por
ficarem na companhia de inocentes; e estigmatiza para toda a vida os
sérios.
***
Qualquer fato – verdadeiro ou falso – é empunhado contra o adversário
político ou contra a empresa não colaborativa. E tudo é aceito porque o
modelo político atual torna verossímil toda sorte de malfeitos - que
existem às pencas sim. Mas pouco atingem os grandes grupos que se
blindam com escritórios de advocacia caros e controles sobre verbas
publicitárias robustas.
O que explicaria, por exemplo, os R$ 2 milhões gastos pelo Ministério
da Educação com assinaturas da revista Nova Escola da Editora Abril?
Meramente méritos da revista ou barganhas políticas em torno de
reportagens? E qual a reportagem que deixou de ser publicada?
Daí a dificuldade de uma reforma política, com o fim do financiamento
privado de campanha, que rompa com esse anacronismo. Ou de mudanças na
legislação que permitam a punição severa ao crime grave mas a não
criminalização de qualquer erro administrativo.
Aos atuais parlamentares não interessa o fim do financiamento privado
de campanha, porque a maior parte deles depende desse modelo para sua
sobrevivência política. Aos grupos de mídia e aos Tribunais de Conta não
interessa uma racionalização dos procedimentos, pois reduziria sua
capacidade de gerar escândalos.
***
E todo esse jogo de cena se dá em cima do manto cinzento das negociações espúrias.
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