“Denúncia” da Folha desmonta versão da compra de Pasadena por US$ 42 mi pela Astra
22 de abril de 2014 | 08:23 Autor: Fernando Brito
São só mesmo a falta de capacidade de raciocínio e a vontade de fazer
acusações escandalosas – não necessariamente nesta ordem – o que impede
o fim de toda a discussão em torno dos preços pagos pela Petrobras na
operação de compra da refinaria de Pasadena.
Bastaria que o repórter ou seu editor lessem com atenção o que eles
próprios escrevem sobre os documentos da arbitragem havida entre a
Petrobras e a Astra para entender a adequação dos valores, à época,
pagos à Astra, ex-dona da planta de refino.
Diz a matéria, textualmente:
Gilles Samyn, então presidente do Conselho de Administração da
Astra Transcor, acionista da Astra Oil, contou que, em conversa
telefônica com Gabrielli em agosto de 2007, ambos reconheceram as
dificuldades em chegar a um consenso sobre os investimentos para dobrar a
capacidade da refinaria, como queria a Petrobras.
O custo era de US$ 2,5 bilhões, considerado alto pela Astra. “Para
resolver a questão, eu ofereci comprarmos de volta a participação de 50%
da Petrobras, mas Gabrielli (José Sérgio, presidente da estatal)insistiu que isso deveria ser resolvido de outra maneira”, afirmou o executivo na arbitragem.
De fato, no mês seguinte, a Petrobras apresentou uma proposta para comprar a metade da Astra por US$ 550 milhões.
A Astra achou pouco:
“Ainda segundo o depoimento, ao fim de setembro, a Petrobras
enviou proposta de US$ 550 milhões pelo restante de Pasadena. Samyn,
então, teria dito que a Astra esperava receber US$ 1 bilhão.”
Passa pela cabeça de alguém que uma empresa que tenha comprado uma
refinaria inteira por US$ 42 milhões recuse-se a vender metade dela por
US$ 550 milhões, 13 vezes mais (e em dólar!) e bata pé em quem isso suba
para US$ 1 bi, ou 26 vezes mais?
O prezado amigo que me lê, o que faria se comprasse dois carros por
42 e lhe oferecessem 550 por um deles apenas? Será que ia em casa para
pensar ou correria para o cartório, louco para assinar a venda e receber
a grana?
É óbvio que não houve compra por US$ 42 milhões alguma, e que esse
valor se refere apenas ao que foi pago à Crown, antiga proprietária de
Pasadena, sem incluir o que a empresa devia ou tinha imobilizado.
Resta saber se a Petrobras negociou bem.
Insistiu em comprar uma refinaria porque havia demanda de refinados
no mercado interno brasileiro, que ela pretendeu – e pretende –
continuar a abastecer isoladamente.
Ofereceu US$ 550 milhões, a Astra queria US$ 1 bilhão e recusa a
oferta. A Petrobras sobe a proposta, para algo em torno de US$ 700
milhões e a Astra continua se
recusando a vender algo que no dizer de nossa “competentíssima” oposição
teria custado US$ 24 milhôes (a metade dos US$ 42 milhões com que se
tenta fazer crer que foi o valor da compra de Pasadena.
A Petrobras vai, então, à Justiça para fazer valer o seu direito de compra dos outros 50% por um preço razoável (claro
que para aquele momento), ou seja, para exercer a tal ”put option” do
contrato, e não o contrário, como muita gente boa andou repetindo.
Traduzindo: a Astra não queria vender a sua parte por US$ 700
milhões, certamente por achar que isso era menor que o valor de mercado.
Porque era um ativo muito mais valioso então do que agora, quando o mercado mudou.
Quem acionou a corte arbitral, como está aí ao lado, foi a Petrobras, não o contrário.
Mesmo assim, a Folha repete que “ a estatal brasileira desembolsou
US$ 1,25 bilhão por um negócio comprado pela Astra por apenas US$ 42,5
milhões em 2005.”
Repete, portanto, que a Petrobras precisou ir à Justiça para “obrigar” a Astra a ter um lucro de 30 vezes num negócio;
Será que uma pessoa com um mínimo de honestidade intelectual pode dar crédito a uma versão como esta?
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