quarta-feira, 16 de abril de 2014

Conceição Lemes, 33 anos de estrada: Resposta em público a O Globo -

Conceição Lemes, 33 anos de estrada: Resposta em público a O Globo - Viomundo - O que você não vê na mídia

Conceição Lemes, 33 anos de estrada: Resposta em público a O Globo

publicado em 16 de abril de 2014 às 0:38



por Conceição Lemes


Nessa segunda-feira 13, uma repórter de O Globo enviou-nos um e-mail:


“Estou fazendo uma matéria sobre a
entrevista que o ex-presidente Lula concedeu a blogueiros na semana
passada. Gostaria de conversar contigo por telefone”.
Pedi que enviasse as perguntas por e-mail. Hoje, às 12h27 elas foram encaminhadas:





Nada contra a repórter. Embora não a conheça, respeito-a profissionalmente como colega.


Já a empresa para a qual trabalha, não merece a nossa consideração.


Com essas perguntas aos blogueiros, O Globo parece estar com saudades da ditadura, quando apresentava como verdadeira a versão dos órgãos de repressão.  Exemplo disso foi a da prisão, tortura e assassinato de Raul Amaro Nin Ferreira, em 1971, no Rio de Janeiro.


Com essas perguntas, O Globo parece querer promover uma caça aos blogueiros progressistas. Um macartismo à brasileira.


O marcartismo, como todos sabem, consistiu num movimento que vigorou
nos EUA do final da década de 1940 até meados da década de 1950. 
Caracterizou-se por intensa patrulha anticomunista, perseguição política
e dersrespeito aos direitos civis.


O interrogatório emblemático daqueles tempos nos EUA:


Mr. Willis: Well, are you now, or
have you ever been, a member of the Communist Party? (Bem, você é agora
ou já foi membro do Partido Comunista?)
A sensação com as perguntas de O Globo é que
voltamos à ditadura. Agora, a ditadura midiática das Organizações Globo.
É como estivéssemos sendo colocados numa sala de interrogatório.


Afinal, qual o objetivo de saber se pertencemos a algum partido político?


Será que O Globo faria essa pergunta aos jornalistas de direita, travestidos de neutros, que rezam pela sua cartilha?


E se fossemos nós, blogueiros progressistas, que fizessemos essas perguntas aos jornalistas de O Globo?


Imediatamente, seríamos tachados de antidemocratas, cerceadores da liberdade de expressão, chavistas e outros mantras do gênero.


Como um grupo empresarial que cresceu graças aos bons serviços
prestados à ditadura civil-militar tem moral de questionar
ideologicamente os blogueiros que participaram da entrevista coletiva?


Liberdade de imprensa e de expressão vale só para direita e para a esquerda, não?


Como uma empresa que tem no seu histórico o colaboracionismo com a
ditadura, o caso pró-Consult, o debate editado do Collor vs Lula, ter
sido contra a campanha Pelas Diretas,  pode se arvorar em ditar normas
de bom Jornalismo e ética?


Como uma empresa que deve R$ 900 milhões ao fisco tem moral para questionar outros brasileiros?


Como um grupo empresarial que recebe, disparadamente, a maior fatia
da publicidade do governo federal pode criticar os poucos blogs que
recebem alguma propaganda governamental?


O Viomundo, repetimos, não aceita propaganda dos
governos federal, estaduais e municipais. É uma opção nossa. Mas
respeitamos quem recebe. É um direito.


No Viomundo, não temos nada a esconder.  Só não admitimos que as Organizações Globo, incluindo O Globo, com todo o seu histórico, se arvorem no direito de fiscalizar a blogosfera.


Por isso, eu Conceição Lemes, que representei o Viomundo na coletiva, não respondi a O Globo. Preferi responder aos nossos milhares de leitores.  Diretamente. E em público.


Seguem as perguntas de O Globo e as minhas respostas.


Qual a sua formação acadêmica?


Formada em Jornalismo pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP).


Qual a sua atuação profissional antes do blog? Já cobriu política por outros veículos?


Sou editora do Viomundo, onde faço política, direitos humanos, movimentos sociais. Toco ainda o nosso Blog da Saúde.


No início da carreira, fiz um pouco de tudo: economia, política, revistas femininas, rádio…


Há 33 anos atuo principalmente como jornalista especializada em
saúde, tendo ganho mais de 20 prêmios por reportagens nessa área. Entre
eles, o Esso de Informação Científica, o José Reis de Jornalismo Científico, concedido pelo Conselho Nacional de Pesquisa (CNPq), e o Sheila Cortopassi de Direitos Humanos na área de Comunicação, outorgado pela Associação para Prevenção e Tratamento da Aids e Saúde Preventiva (APTA) com apoio do Unicef.


Conquistei também vários prêmios Abril de Jornalismo, a maioria por matérias publicadas na revista Saúde!, da qual foi repórter, editora-assistente, editora e redatora-chefe.


Em 1995, fui  premiada pela reportagem “Aids — A Distância entre Intenção e Gesto”, publicada pela revista Playboy.
O projeto que desenvolvi para essa matéria foi selecionado para
apresentação oral na 10ª Conferência Internacional de Aids, realizada em
1994 no Japão.


Pela primeira vez um jornalista brasileiro teve o seu trabalho
aprovado para esse congresso. Concorri com cerca de 5 mil trabalhos
enviados por pesquisadores de todo o mundo. Aproximadamente 300 foram
escolhidos para apresentação oral, sendo apenas dez de investigadores
brasileiros. Entre eles, o meu. Em consequência, fui ao Japão como
consultora da Organização Mundial da Saúde.


Tenho oito livros publicados na área.


O mais recente, lançado em 2010, é Saúde – A hora é agora,
em parceria com o professor Mílton de Arruda Martins, titular
de Clínica Médica da Faculdade de Medicina da USP, e o médico Mario
Ferreira Júnior, coordenador de Centro de Promoção de Saúde do Hospital
das Clínicas de São Paulo.


Em 2003/2004, foi a vez da  coleção Urologia Sem Segredos, da Sociedade Brasileira de Urologia, destinada ao público em geral.


Os primeiros livros foram em 1995. Um deles, o Olha a pressão!, em parceira com o médico Artur Beltrame Ribeiro.


O outro foi a adaptação e texto da edição brasileira do livro Tratamento Clínico da Infecção pelo HIV, do
professor John G. Bartlett, da Universidade Johns Hopkins, nos EUA. A
tradução e supervisão científica são do médico Drauzio Varella.


Você é filiada a algum partido político?


Não sou nem nunca fui filiada a qualquer partido político.


Mas me estranha muito uma empresa que apoiou a ditadura, cresceu
devido a benesses do regime e hoje se alinhe com todos os espectros da
direita brasileira, questione a a filiação partidária de um jornalista.


Quer dizer de direita, tudo bem, e de esquerda, não?


Como você definiria os “blogueiros progressistas”? Existe uma linha política?


Somos de esquerda.


Defendemos:


Melhor distribuição da renda no país.


Reforma agrária.


Os movimentos sociais por melhores condições de moradia, trabalho, defesa do meio ambiente, saúde e educação.


Regulamentação dos meios de comunicação.


Valorização do salário mínimo.


Política de cotas raciais nas universidades.


Direitos reprodutivos e sexuais das mulheres brasileiras.


Combate à discriminação e promoção dos direitos de lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais


Imposto sobre grandes fortunas.


Financiamento público de campanha.


Reforma política.


Fortalecimento da Petrobras.


Sistema Único de Saúde.


Como você foi chamada para a entrevista? Recebeu alguma ajuda de custo do instituto?


Por e-mail. Nenhuma ajuda.


O que você achou da seleção de blogueiros para a entrevista?
Incluiria, por exemplo, representantes da mídia ninja ou blogueiros “de
oposição”, como Reinaldo Azevedo?



O Instituto Lula tem o direito de chamar para entrevistar o ex-presidente quem ele quiser.


Engraçado O Globo perguntar isso. De manhã à
madrugada, de domingo a domingo, todos os veículos das Organizações
Globo privilegiam, ostensivamente, sem o menor pundonor, vozes do
conservadorismo brasileiro e internacional. Pior é que travestido de uma
falsa neutralidade.


Por que O Globo pode chamar quem quiser e o ex-presidente Lula, não?


Por que as Organizações Globo não dão espaços iguais à esquerda e à direita, garantindo a pluralidade de opiniões?


No dia em que as Organizações Globo garantirem
efetivamente a pluralidade de opiniões, respeitando a verdade factual,
aí, sim, seus profissionais poderão questionar os nomes escolhidos por
Lula.


Qual foi o ponto mais relevante da entrevista para você?


Ter falado três horas e meia com os blogueiros. Uma conversa em que
nenhum assunto foi proibido. Tivemos liberdade plena de perguntar o que
queríamos. Uma lição de democracia.


O instituto arcou com os seus custos de deslocamento?


Não. Fui de táxi. Paguei do meu próprio bolso.


Por que você acredita ter sido escolhida para a entrevista?


Quantos jornalistas brasileiros têm o meu currículo profissional?
Quantos repórteres da mídia tradicional e da blogosfera produziram
tantos furos jornalísticos quanto nós no Viomundo nos últimos cinco anos?


Por isso, deixo essa pergunta para você e os leitores do Viomundo responder.


O que você acha do movimento “Volta Lula”?


Quem tem de achar é a população e os militantes dos partidos da base de apoio do governo.


Sou apenas repórter. Cabe a mim, portanto, retratar o que presencio.


Qual nota você daria ao governo Dilma? Por quê?


O Globo tem fetiche por nota. Quem tem de dar a nota
é o eleitorado. Sou repórter e minha opinião neste caso é irrelevante. A
não ser que O Globo pretenda usá-la para fazer o que
costuma fazer: manipular informação com objetivos políticos, em defesa
de interesses da direita brasileira.


PS do Viomundo: Todas as nossas batalhas são financiadas
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