Por que não medidas 'populares'?
Vamos tentar entender. Um Prêmio Nobel como Paul Krugman, também
colunista da Folha, considera que estamos bem longe do precipício, ao
contrário. "O Brasil passou por um momento difícil, mas provou não ser
vulnerável como se imaginava. Uma década e meia depois, o Brasil é ainda
menos vulnerável. Não há um déficit gigantesco em moeda estrangeira, a
situação fiscal é aceitável e a inflação não é significativamente alta",
disse à revista "Carta Capital".
Já por aqui o cenário predominante entre analistas é o de uma
bomba-relógio. Fez-se tanta burrada, afirmam eles, que não haverá outro
jeito: em 2015, o bicho vai pegar. O quadro fiscal está uma catástrofe, a
inflação decola, a indústria perde fôlego, a gasolina precisa de um
reajuste "para ontem" e os salários sobem rápido demais. A culpada? A
política "desenvolvimentista" baseada em aumentos de gastos públicos e
maior presença estatal.
Sabe-se que previsões de economistas, na maioria das vezes, valem tanto
quanto uma nota de três reais. Após o fiasco de 2008, então, a
desmoralização ganhou as alturas -ainda que exista gente séria neste
meio. O melhor caminho, de todo modo, é avaliar como o país está depois
do já feito.
Nem precisa lembrar o sucesso de programas sociais contra a miséria que
ajudaram a melhorar a vida de dezenas de milhões de brasileiros. Num
cenário mundial para lá de conturbado, o Brasil não apenas manteve, como
estendeu o emprego para muita gente. As taxas de desocupação estão
entre as mais baixas da história.
Para sentir o tamanho desta conquista, experimente ligar para alguém do
Primeiro Mundo. Pode ser um americano ou um francês. Ou um morador da
Espanha, onde a taxa média de desemprego ronda os 25% —40% ou mais no
caso dos jovens. Se a linha não cair, fale com a alta roda. Pergunte se
alguém perdeu dinheiro investindo no Brasil. A bem da verdade, para isso
nem precisa de DDI. Ou alguém duvida de que nossos banqueiros nunca
sorriram tanto?
Ah, mas indicadores macro estão horrorosos, insistem os sábios. Nem isso
soa verdadeiro, vide Paul Krugman. De resto, a situação parece coerente
com um país que, entre os gênios que lançaram o mundo numa recessão
brutal, e um programa voltado ao bem estar social, escolheu a segunda.
Ainda bem.
Problemas há, sem dúvida. E aos poucos a oposição desenha o que seria
seu governo. Esqueça o horário pago da TV e preste atenção no que os
cardeais pensam de fato. Para estes, é batata: a hora é de medidas
amargas e impopulares. O principal adversário, Aécio Neves, chegou a
fazer uma declaração espantosa: "Por mais que elas sejam impopulares
[...] Se o preço for ficar quatro anos com impopularidade, pagarei este
preço. Que venha outro presidente depois. Quero fazer o maior governo da
história do país"!
Claro, o tucano não estava num palanque. Sobra-lhe algum juízo para não
falar certas coisas em praça pública. A confissão ocorreu num jantar
coalhado de sobrenomes de bolso cheio. Aécio evitou descer a detalhes,
mas é o caso de informar o público, não? Ou seja, como vão ficar os
salários? Haverá tarifaço? A gasolina subirá quanto? O preço do pãozinho
vai disparar? O que vai acontecer com os juros? E os impostos e tarifas
de transporte? A CLT vai acabar? O que será da aposentadoria? Os
programas sociais estão com os dias contados? Enfim, onde o povo fica
nessa plataforma "amarga e impopular"?
É curioso imaginar um candidato destes num comício: "Gente, prometo
medidas amargas e impopulares. Mas fiquem tranquilos: será o maior
governo da história. Sinto muito, mas estou pouco me lixando em agradar
vocês. Só não esqueçam de votar em mim." Nem Odorico Paraguaçu seria
capaz. A semelhança e diferença ficam por conta do cemitério. Se em
Sucupira o drama era achar um cadáver inaugural, as tais políticas
amargas e impopulares costumam produzir vítimas aos montões, em vários
sentidos. Esse é o debate a fazer.
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