Globo, que não mostrou o DARF, tenta intimidar blogueiros por causa de Lula
publicada segunda-feira, 14/04/2014 às 23:00 e atualizada segunda-feira, 14/04/2014 às 23:21
“proponho à Redação de “O Globo” uma trocapor Rodrigo Vianna
singela: dou entrevista e respondo tudo o que quiserem saber, desde que a
família Marinho (que ficou bilionária graças a uma concessão pública)
apresente o famoso DARF e esclareça se pagou (ou não) a suposta dívida
com a Receita Federal.”
Não devo um tostão em impostos. Não sei se as “Organizações Globo” podem dizer o mesmo.
O fato é que os bilionários da família Marinho estão incomodados, e
querem intimidar os blogueiros. É uma batalha descomunal. Eu – que
batuco meus textos num escritório improvisado no fundo de casa – de
repente virei tema de “reportagem” de um império midiático com centenas
de jornalistas Brasil afora?
Vejam só. Na tarde de segunda-feira (14/abril), fui procurado por uma
suposta jornalista de “O Globo”, que me enviou a singela mensagem:
“Prezado Rodrigo, Sou repórter do jornal O Globo e estou fazendo uma
matéria sobre a entrevista coletiva do ex-presidente Lula com blogueiros
na semana passada. Nós poderíamos conversar por telefone?
Atenciosamente, Barbara Marcolini -Jornal O Globo”.
Curioso que o jornal conservador da zona sul carioca tenha levado uma semana para se interessar pelo tema, não? A entrevista de Lula aos blogueiros foi um sucesso enorme, gerando manchetes Brasil afora. A imprensa velha passou recibo. Ficou furiosa.
Editoriais, comentários na TV e rádio, colunistas conservadores:
muitos se mobilizaram para atacar os blogueiros “sujos”. Alguns ataques
vieram com acusações graves: fomos acusados de ser “financiados” pelo
governo federal. E os mais incomodados parecem ser os colunistas das
chamadas “Organizações Globo”.
Nada disso é por acaso. Trabalhei na
Globo. Sei como essas coisas são. Quando jornal, TV, internet e rádio da
família Marinho começam a bater na mesma tecla – ao mesmo tempo – é
porque há uma ordem superior, uma determinação do patrão (ou de seus
prepostos) para ir fundo naquele assunto.
Pedi que a repórter Barbara me enviasse as perguntas por escrito.
Tenho pela repórter (a quem não conheço) respeito profissional. Mas
considero “O Globo” e as “Organizações Globo” adversários. E sei que os
prepostos da família Marinho me tratam como inimigo. Pessoa de minha
família foi demitida da TV Globo, em 2010, depois que passei a assumir
um posicionamento político claro em meu blog. Eles chegam a esse nível.
São vingativos. Por isso, não há hipótese de responder nada a “O Globo” –
a não ser por escrito.
Até as 21h, as perguntas de Barbara não vieram. Mas eu soube que
outros blogueiros também foram procurados por jornalistas de “O Globo” –
com a mesma pauta: a entrevista de Lula. Pelo menos 3 repórteres
diferentes do jornal foram mobilizados na Operação. Objetivo era
estabelecer vinculações “comprometedoras” entre os blogueiros e
determinadas empresas, entidades e/ou governo (veja aqui a resposta do Fernando Brito, do Tijolaço, à tentativa de intimidação).
Mas não era só isso. Uma das repórteres globais chegou a perguntar a
um blogueiro (a entrevista está gravada) se ele tinha filiação
partidária. Sim, o macartismo da Globo avançou até esse ponto.
Trata-se de uma Operação para intimidar aqueles que nos últimos anos –
ainda que de forma limitada – criaram um contraponto ao poder da velha
mídia. Os barões da imprensa velhaca não se conformam com o fato de meia
dúzia de blogueiros “sujos” oferecerem uma outra narrativa ao Brasil. A
Globo, a Abril e a Folha seguem a ter imenso poder. Mas já não falam
sozinhas.
Seria bom que soubessem: com essa tentativa de cerco, em vez de intimidar, vão mobilizar ainda mais blogueiros e internautas.
A Globo não tem estatura moral para cobrar explicações de ninguém. Vamos relembrar alguns episódios recentes:
- a Globo foi acusada de sonegar impostos (mais de 1 bilhão em valores atualizados – clique aqui para saber mais), e até hoje não esclareceu o episódio;
- o processo fiscal em que a Globo era investigada por bilionária
sonegação “sumiu” (na verdade, teria sido roubado) de uma agência da
Receita Federal no Rio, e a Globo até hoje não explicou o caso;
- um diretor da Globo, Ali Kamel, processa pelos menos 6 blogueiros
(entre eles este escrevinhador), numa tentativa clara de intimidação
judicial, de calar as vozes que em 2006 e 2010 ajudaram a desmascarar a
tentativa da Globo de interferir no processo eleitoral;
- por fim, a Globo (estou falando só da TV) recebeu quase 6 bilhões do governo federal nos últimos anos – como mostra a tabela abaixo, publicada pelo VioMundo e pelo jornalista Fernando Rodrigues.
E essa mesma Globo de 6 bilhões em recursos públicos (recursos dos
seus, dos meus impostos!) quer acusar blogueiros de serem “financiados”
pelo governo?!
É piada.
De minha parte, sou jornalista profissional. Vivo do trabalho como
repórter de TV. Já vendi minha força de trabalho para a “Folha”, a “TV
Cultura”, a “TV Globo” – e hoje sou repórter na “TV Record”. Jamais
vendi meu cérebro para nenhum patrão. Tenho posições políticas claras.
Públicas. E por conta delas comprei briga com a Globo em 2006 – deixando
a emissora.
Não vejo nada de anormal em blogs e sites sem vinculação com a velha
mídia pleitearem publicidade. Mas, felizmente, não preciso disso para
seguir travando o bom combate. Nunca entrei na SECOM do governo federal
para tratar de dinheiro. E nem em qualquer outra secretaria de
Comunicação Brasil afora.
Minha questão é política. Encaro o debate de forma aberta – jamais de
braços dados com ditadores, ou beneficiado por acordos obscuros com
embaixadas e governos estrangeiros. O Escrevinhador
não tem em seu currículo: TimeLife, apoio a uma ditadura assassina,
escândalo Proconsult contra Brizola em 82, manipulação da cobertura
das Diretas-Já, edição criminosa do debate Lula/Collor em 89, combate ao
Bolsa-Família, oposição às quotas para negros, tentativa de transformar
bolinha de papel num míssil em 2010…
Os gastos mensais para manter meu blog hoje são de aproximadamente
2,5 mil reais. Conto com anúncios do Google (valores irrisórios) e com a
colaboração de leitores, e ainda tiro dinheiro do meu bolso para cobrir
as despesas. Em 6 anos, devo ter recebido 6 anúncios pontuais de
governos ou entidades sindicais. Nenhum deles por mais de um mês. Nenhum
deles superior a 2 mil reais (ou seja, no total os anúncios não
chegaram a 15 mil reais em quase 6 anos – contra despesas de
aproximadamente 150 mil no mesmo período).
Tenho lutado para que os blogueiros se organizem, façam parcerias com
empresas ou criem associações para disputar, sim, o direito a
participar do bolo publicitário – inclusive as verbas oficiais, que
ajudaram a família Marinho a ficar bilionária nos últimos anos.
Aliás, proponho à Redação de “O Globo” uma troca singela: dou
entrevista e respondo tudo o que quiserem saber, desde que a família
Marinho (que ficou bilionária graças a uma concessão pública) abra suas
contas e apresente o famoso DARF – esclarecendo se pagou (ou não) a
suposta dívida com a Receita Federal.
Que tal, Bárbara? Passa a sugestão pros seus chefes aí!
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